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Tese de doutorado estudou situação dos docentes da UFRJ e encontrou “carreira doente”

Processo de intensificação do trabalho é o grande culpado

Filipe Galvão. Estagiário e Redação

Trabalho é suplício. Etimológico e concreto. Enquanto o sofrimento da palavra (do latim “tripaliu”) vem de um instrumento de tortura romano, o sofrimento prático diz respeito às relações de opressão e dominação. Nem professor escapa. É o que conclui Alzira Guarany em sua tese de doutorado “Trabalho docente, carreira doente” que analisou os impactos na saúde dos docentes da UFRJ.

A tese, defendida na Escola de Serviço Social no dia 9 de dezembro sob a orientação do professor Eduardo Mourão Vasconcelos, analisa o histórico do avanço do capitalismo no campo da educação. Até meados do século passado, a carreira de professor ainda habitava outro espaço na dinâmica do trabalho, sendo considerada uma vocação, e não uma atividade laboral. Um lugar no qual o docente era valorizado por seu tempo de reflexão e análise. Em sua tese, a professora identifica as crises do capitalismo como o motivador que transformou os setores de produção imaterial como educação e saúde em fatias a serem devoradas pela burguesia internacional.

Muita cobrança, pouca saúde

A motivação para a pesquisa foi política. Da graduação ao doutorado, toda a formação de Alzira foi pela UFRJ. “Senti que era um momento em que eu deveria devolver alguma coisa para a universidade”, diz. A ideia surgiu em uma aula do então presidente da Adufrj-SSind, Mauro Iasi, professor da própria ESS. “Na aula, eu perguntei do que o movimento organizado dos docentes estava precisando e ele me disse que precisavam conhecer um pouco mais da saúde do professor”, relembra. 

A partir daí, Alzira entrevistou seis professores de três unidades diferentes — a ética da pesquisa garante o anonimato das fontes e dos lugares. E, depois de identificados os agentes desencadeadores de doença na carreira (processos de privatização e mercantilização da educação), a divisão foi feita entre unidades que concordavam, neutras e as que não concordavam com o processo de transfiguração da educação em mercadoria. Assim também foi possível comparar os efeitos (ao fim, iguais, todos estavam doentes) entre os que aceitavam e os que não aceitavam. Foram mais de cem folhas de transcrição de entrevista.

As histórias de vida chocam. Há a professora que trabalhava tanto a ponto de não ter tempo de perceber que já tinha quatro cânceres no corpo. Ou a do infarto que matou o professor que mal se alimentava ou dormia para dar conta do volume de trabalho. Fora depressão, patologias de pele, alteração da taxa de colesterol.

A fragilização da saúde física e mental dos docentes depois dos anos 90 é pura barbárie. “Essa intensificação irracional do ritmo de trabalho não respeita o sofrer e o prazer: é aí que surge a possibilidade do adoecimento”, diz Alzira.

Os elementos que deterioram a saúde dos docentes elencados na tese são: as parcerias público-privadas que não respeitam o ritmo das diferentes áreas de saber; a precarização das condições de trabalho que fazem coexistir na universidade setores de “primeiro e terceiro mundo”; um novo processo de trabalho que exige um profissional polivalente, adequado ao instrumental de novas mídias e ao novo perfil do aluno que se comporta como consumidor; a competição estrutural entre os pares; e os indicadores de produtividade estabelecidos por atores externos ao universo acadêmico. “Alguns elementos que geram o sofrimento já existiam, mas a maioria surge com o novo estilo de gestão da educação”, aponta Alzira. 

Projeto deve seguir

Por enquanto, a reitoria ainda não procurou Alzira para estudar de que maneira a tese pode ajudar a proteger a saúde de seus quadros. A expectativa é que a pró-reitoria de Pessoal (PR-4) convide a doutora para conversar já que a professora Silvia Jardim, que faz parte da pró-reitoria, participou da banca.

Alzira listou três caminhos possíveis e complementares para entender mais a fundo o impacto na saúde dos docentes da UFRJ. Os dois primeiros são promover debates sobre eixos temáticos para sensibilizar a comunidade acadêmica e criar grupos de encontro para os professores vulnerabilizados e deprimidos. O outro é mais ousado. Fazer um estudo epidemiológico quantitativo abordando toda a comunidade docente. Assim seria possível saber quantos são, exatamente, os professores doentes. Os problemas da última proposta são dois: o custo e a urgência. “O tempo de agora é o da denúncia, a situação é seríssima”, concluiu a doutora.

Documentário dirigido pela professora Anita Leandro, da Escola de Comunicação da UFRJ, discute ditadura a partir dos registros das polícias políticas

Busca-se um distribuidor para ampliar a audiência do filme

Filipe Galvão. Estagiário e Redação

De imagem em imagem, faz-se a memória. Ou a traz de volta ao jogo. É o que mostra “Retratos de Identificação”, uma espécie de narrativa dos limites. Limites da vida, dos corpos, da lembrança, da barbárie. O documentário de Anita Leandro é o único a ter como protagonistas, não os agentes, mas os arquivos da ditadura. “É o primeiro filme que faz do arquivo o personagem principal. Até então eles só foram usados como ilustração”, diz.

É um filme entrecortado de relâmpagos. Dos relatos, da listagem de assassinos e torturadores, dos negativos nos porões da ditadura. Não há um só movimento de câmera durante os 71 minutos de duração e, ainda assim, sobra eletricidade. Toda a dinâmica e violência vêm dos retratos de identificação dos ex-guerrilheiros dos grupos Var-Palmares e da Ação Libertadora Nacional (ALN).

O ritmo do documentário é o confrontamento. Dois sobreviventes, Antônio Roberto Espinosa da Var-Palmares e Reinaldo Guarany da ALN, encaram pela primeira vez os documentos que Anita garimpou no acervo das polícias políticas do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro e do Superior Tribunal Militar. Assim, o passado cru sem intermediação da memória ou do tempo. “Eles não conheciam as imagens que eu tinha. Eu levei as imagens pra filmagem no momento que eu ia entrevistar cada um deles e mostrei na ordem cronológica dos acontecimentos. Então eu filmei, não só a fala deles, mas a reação e a análise específica de cada documento”, conta Anita, que é professora da Escola de Comunicação Social da UFRJ e pesquisadora sobre os processos de montagem no cinema.

 O desafio foi trazer para o campo do documentário as micro-histórias perdidas dentro de um acervo imenso. “Quando encontrei esses arquivos eu descobri a diversidade. Achei que ia encontrar meia dúzia, mas lá existem milhares”, diz.  O volume retrata o quão prolíficos foram os aparelhos de guerra e controle do Estado no que se refere ao registro. “São os arquivos mais volumosos da América Latina”, aponta a diretora. 

DSC0089Anita Leandro, da ECO, sobre os registros da ditadura brasileira: “São os arquivos mais volumosos da América Latina”. Foto: Marco Fernandes - 06/12/2014

Meta agora é ampliar o alcance do filme

O movimento do filme pode ser entendido como um segundo passo na consolidação da verdade sobre a história recente do país. Com a conclusão dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade no final de 2014, o país tem um núcleo duro para produzir reflexões e cimentar a memória coletiva. O terceiro passo é chegar até o público.

O filme de Anita ainda está restrito a mostras e festivais. A diretora tem participado de exibições em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Fortaleza. O retorno é bom, mas o alcance é curto. A ideia é conseguir um distribuidor que potencialize a capacidade de pulverização do documentário.

Defesa vai levar o caso ao Superior Tribunal de Justiça 

Samantha Su. Estagiária e Redação


Proibidos de participar de quaisquer manifestações até o julgamento, Igor Mendes, Karlayne Moraes (“Moa”) e Elisa Quadros (“Sininho”) são integrantes de um grupo de 23 presos preventivamente, na véspera da final da Copa do Mundo no Brasil, acusados de associação criminosa, lesões corporais, posse de artefatos explosivos, entre outras denúncias. 

Como noticiado na edição anterior do Jornal da Adufrj, o juiz Flávio Itabaiana pediu prisão preventiva dos três, após participação deles em um ato cultural na Cinelândia, em 15 de outubro, pela educação e contra a violência policial. Apenas Igor foi encontrado e está preso na Penitenciária de Gericinó. Karlayne e Elisa são consideradas foragidas.


O Instituto de Defesa dos Direitos Humanos, com os advogados dos indiciados, entrou com pedido de habeas corpus dos ativistas por achar a decisão desproporcional. Segundo o DDH, a participação dos três não apresentou risco à ordem pública, como alegou o juiz. Porém, na terça-feira (16) o recurso foi negado pela 7ª Vara Criminal do Rio de Janeiro. Apenas o desembargador Siro Darlan votou a favor; os outros dois, Sidney Rosa e Maria Angélica Guedes, indeferiram o pedido.

Segundo Lucas Sada (do DDH), a alternativa será levar um pedido de habeas corpus substitutivo para o Superior Tribunal de Justiça, que deve demorar para emitir uma resolução. 

Nilo Batista entra na defesa dos acusados

Um dos maiores criminalistas do país, o advogado Nilo Batista vai interpor o recurso ao STJ para que os três réus possam responder ao processo em liberdade. Nilo, que em 1990 foi eleito vice-governador na chapa de Leonel Brizola, ganhou grande notoriedade ao defender presos políticos durante a ditadura militar. O advogado é professor aposentado de Direito Penal da UFRJ e, entre 1985 e 1986, presidiu a seção do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). 

 

Primeira audiência pública no caso dos 23 ativistas

No mesmo dia 16, ocorreu a primeira audiência pública dos 23 acusados por formação de quadrilha na 27ª Vara Criminal do Rio. Cinco testemunhas de acusação foram ouvidas. Entre elas, dois policiais que dizem ter encontrado mochilas com morteiros durante a prisão de Camila Jourdan e Igor Mendes; a delegada responsável pelo caso, Renata Araújo; e Felipe Brás, ex-integrante da Frente Independente Popular (FIP).   

No início de 2015, devem acontecer as audiências para ouvir a defesa e, logo após, os réus.

Dayse Oliveira, da rede estadual, sofre represálias por suas atividades político-partidárias e sindicais

Sindicato da categoria entrará com uma representação na Justiça

Silvana Sá. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Desde que voltou da licença para disputar o governo do Rio, pelo PSTU, Dayse Oliveira sofre perseguições onde leciona, na Escola Estadual Menezes Vieira, em Niterói. Entre os ataques, estão cartas anônimas que chamam a professora de racista, enviadas à Secretaria Estadual de Educação. Além disso, as notas de seus alunos foram lançadas sem a sua autorização durante o período de greve da categoria neste ano, interferindo frontalmente na autonomia da educadora.

Dayse responsabiliza o governo do estado pelos ataques. “Por sua política de plano de metas e meritocracia, pelo autoritarismo”. Para ela, que também é dirigente do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) de São Gonçalo, está claro que as perseguições ocorrem em represália às suas atividades político-partidárias e sindicais. “Eu tenho uma conduta de oposição à política do governo. Essa meritocracia está acabando com a vida do professor, com a qualidade da educação”, disse.

Dayse aplica em sala de aula a Lei 10.639/2003, que tornou obrigatório nas escolas o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. “O racismo são suporta fazer discussões de si próprio. Estão me chamando de racista, querendo dizer que eu sou uma professora negra que só falo sobre negros”.

O Sepe entrará com uma representação contra as arbitrariedades cometidas contra a docente e está acompanhando de perto o caso. “Esses ataques agridem a todo o conjunto de professores da rede. Há outros professores sofrendo retaliação após a greve. Isto é muito grave”.

Sobre as notas lançadas indevidamente, como entendeu que geraria mais prejuízos aos estudantes suspender as notas – eles perderiam o ano letivo – resolveu relevar: “Os alunos não merecem ser penalizados por isso. A própria coordenadoria reconheceu que errou”, alegou.

O Sepe-Niterói e o PSTU lançaram notas de apoio à pro essora. Pais e estudantes da escola onde Dayse dá aulas se solidarizaram com a educadora.


Adufrj-SSind rechaça criminalização dos movimentos sociais

Presidente da Adufrj-SSind, Cláudio Ribeiro também manifestou-se sobre o caso: “A criminalização dos movimentos sociais é uma das formas mais perversas de opressão e evidencia o caráter truculento da transição conservadora pós-ditadura empresarial-militar que enfrentamos no Brasil. O movimento docente não se intimidará e seguirá lutando pela garantia de uma educação pública, laica, de qualidade socialmente referenciada e gratuita. A companheira Dayse representa muitos colegas que sofrem com essa perversa opressão que ganha maiores contornos pelo fato de ser mulher e negra num contexto machista e racista. A Adufrj-Ssind rechaça toda forma de criminalização dos movimentos sociais, do direito à greve, da organização sindical e apoia a luta de todas e todos que seguem se movimentando em prol da construção de uma sociedade justa e igualitária.”

Bem menos dinheiro para 2015

Arrocho do governo para garantir pagamento dos juros atinge a universidade em plena expansão

Aumento nominal é inferior à inflação

Silvana Sá. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

O orçamento da UFRJ para 2015 será aproximadamente 30% inferior ao que a universidade tinha em 2011, considerando a inflação do período. Esta é a conclusão de levantamento feito pelo conselheiro Roberto Leher, representante dos Titulares do CFCH no Consuni. “Nosso orçamento está subdimensionado em quase um terço em relação ao que tínhamos em 2011. Na matriz da expansão, o problema é ainda mais grave. Naquele ano, contávamos com R$ 90 milhões. Para 2015, estamos planejando R$ 40 milhões. Menos da metade, portanto. Não podemos naturalizar que estamos diante de uma situação de calamidade”.

O assunto foi abordado durante sessão extraordinária do Conselho Universitário, no dia 18 de dezembro. Na ocasião, foi aprovado o orçamento da UFRJ para o próximo ano. E, embora o parecer da Comissão de Desenvolvimento apontasse para a aprovação da Proposta Orçamentária apresentada pela administração central, não faltaram críticas. Uma delas é que a proposta carece de dados concretos com relação ao número de bolsas em 2015, na área de assistência estudantil. Além disso, ficaram inalterados, em relação a 2014, os valores destinados ao apoio à pesquisa e à extensão.

Na sessão, ficou acertado que a UFRJ encaminhará um documento à presidenta Dilma Rousseff, aos ministérios da Educação e do Planejamento, ao parlamento e à Andifes para demonstrar seu descontentamento com o congelamento dos recursos. Outros pontos que farão parte do texto são: o desacordo com a substituição de servidores por terceirizados; a solicitação de reforço para atender à demanda de assistência estudantil; a necessidade de revisão da matriz Andifes com aporte de recursos para o Complexo Hospitalar e novos campi; e a solicitação de uma reunião com parlamentares para apoio político à universidade.

Abaixo da inflação

Maria Malta, professora do Instituto de Economia e representante dos Adjuntos do CCJE no Consuni, reforçou que não há aumento real das verbas da UFRJ. “O orçamento, em termos nominais, aumentou 5,39% (de R$ 414,75 milhões para R$ 438,40 milhões). Este percentual está abaixo da inflação desse ano e em um contexto de taxa de juros de 12%”, declarou. “A peça orçamentária mais uma vez nos faz discutir o tamanho do estrangulamento da universidade”.

Relator da Comissão de Desenvolvimento do colegiado, o técnico-administrativo José Carlos Pereira reiterou a necessidade de uma discussão mais aprofundada sobre o orçamento participativo (uma pequena parte do dinheiro da UFRJ que é compartilhado entre Unidades e Centros). “Sugerimos a criação de uma comissão composta por um representante de cada pró-reitoria para proporem uma matriz de distribuição dos recursos do orçamento participativo, que deverá ser apresentada em junho de 2015 ao Conselho Universitário”.

Assistência estudantil em perigo

A estudante Taís Lara Souza Barbas apresentou números que demonstram diminuição de recursos para a já desamparada assistência estudantil: “Para 2014, foram R$ 51 milhões para assistência estudantil. Em 2015, serão R$ 45 milhões para a área (recursos do Plano Nacional de Assistência Estudantil - PNAES). A proposta orçamentária para o próximo ano é de redução de investimentos”, declarou.

Ela lembrou aos conselheiros que, na reunião anterior do Consuni, houve o entendimento que a assistência estudantil é central para a universidade. Por isso, a bancada discente, após a votação e aprovação do orçamento, apresentou uma proposição para a UFRJ lançar, no primeiro semestre de 2015, edital para novas 500 bolsas-auxílio e, no segundo semestre, outro edital para mais 500 bolsas. O texto foi aprovado pela maioria dos conselheiros, mas o reitor fez questão de ressaltar de que a iniciativa só será concretizada se a universidade conseguir recursos extras. 

A própria Superintendência Geral de Assuntos Estudantis (SuperEst) reconheceu em que o aumento dos recursos do PNAES para assistência estudantil é de cerca de 6%, porém, o aumento estimado da demanda é de 20% “o que torna a situação, já ruim, ainda mais crítica”. O órgão declarou que realiza nesse momento a pesquisa Perfil Nacional do Graduando, com objetivo de levantar dados para pressionar o Congresso Nacional na discussão do orçamento. 

Cadê o dinheiro?

Uma parte considerável dos recursos da universidade vai para o pagamento de serviços terceirizados. O maior montante é destinado à segurança patrimonial e serviços gerais. O estudante Gabriel Rodrigues chamou atenção para o problema: “Quase 30% do orçamento vão para o pagamento de firmas terceirizadas, mas os trabalhadores não recebem seus salários e as empresas declaram falência. É preciso saber para onde está indo esse dinheiro. Não podemos naturalizar a terceirização. Esses trabalhadores são invisibilizados, especialmente os da limpeza. Isto é problema da universidade”.

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