Eu tô na luta!
O grito ensurdecedor de 20 mil trabalhadores da rede pública de ensino do Paraná ecoou no estádio da Vila Capanema, em Curitiba
Voltando do 34º Congresso, por Diego Novaes
Atividade denunciou a indefinição sobre limpeza da escola
Elisa Monteiro. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Vassouras, baldes, pás e todo tipo de instrumentos de limpeza foram utilizados pela comunidade do Colégio de Aplicação da UFRJ para um protesto criativo na terça-feira, 3 de março. A atividade denunciou a indefinição sobre a limpeza da escola que motivou a segunda postergação, desde 23 de fevereiro, do retorno às aulas — o primeiro adiamento, a partir de 9 de fevereiro, ocorreu por atraso na obra dos banheiros coletivos do térreo. Com o mote “Vassouraço no MEC e nos cortes da Educação! Queremos aulas! Em defesa da Educação Pública!”, a Adufrj-SSind acompanhou a mobilização, convocada pela Associação de Pais e Alunos do Colégio (APACAP). O ato repercutiu em diferentes mídias.
Reivindicando respeito e recursos para pagamentos dos funcionários da limpeza da empresa Qualitécnica, que presta serviço na escola, cerca de 100 pessoas participaram do Vassouraço: “A terceirização é péssima para o CAp-UFRJ e é péssima para universidade. Ela desestrutura completamente o serviço e penaliza o trabalhador. Estamos pedindo formalmente uma audiência com o reitor para que nos explique por que terceirizar, se é uma maneira que não privilegia o funcionamento do colégio”, avaliou Patrícia Hadad, mãe de Marina (4º ano) e integrante da APACAP.
Patrícia cobrou mais transparência da administração, com apresentação dos contratos dos terceirizados à comunidade: “É importante conhecer até para ajudar. Neste momento, é muito importante a mobilização das famílias”.
Pais movimentam-se pela recuperação do CAp
Segundo o presidente da associação, Cássio Kuchpil, uma reunião com 57 responsáveis, em 28 de fevereiro, avaliou o quadro político de corte de repasses e as consequências da terceirização para universidade. “Não é aceitável que esses trabalhadores sofram descontos ou fiquem sem receber”, disse o pai de Francisco (8º ano). Do encontro, foram encaminhados: a realização do Vassouraço, o agendamento de um encontro com o reitor Carlos Levi e ações de solidariedade aos terceirizados, o que inclui assessoria jurídica e doações de cestas básicas. Está na pauta, ainda, a possibilidade de participação da APACAP no Conselho Pedagógico, colegiado de decisão do CAp-UFRJ.
Retorno “em caráter experimental”
Até o fechamento desta edição, as turmas iniciais do ensino médio haviam retornado às aulas em 5 de março, em caráter experimental (os do último ano, cerca de 90 alunos, desde 26 de fevereiro). As demais séries iriam começar o ano letivo neste dia 9 de março, situação modificada pelo adiamento geral da UFRJ para 16 de março.
Confira mais imagens do protesto na seção “fotogaleria” do site da Adufrj-SSind.
Leia mais: No CAp-UFRJ, “vassouraço” contra os cortes na Educação
Plenária do DCE Mário Prata, no dia 2 de março, debateu cortes em programa de assistência estudantil
“Ataque” não será permitido, dizem alunos
Samantha Su. Estagiária e Redação
Após o anúncio do corte de R$ 7 bilhões na educação pelo governo federal, as universidades estão funcionando com aproximadamente 70% de seu orçamento. E, além dos trabalhadores terceirizados, a falta de dinheiro começa a prejudicar diretamente os estudantes carentes da UFRJ.
A Superintendência Geral de Políticas Estudantis (Superest) lançou no dia 27 de fevereiro uma nota comunicando mudanças no programa de Bolsa de Acesso e Permanência (BAP). Para o DCE da UFRJ, a medida transforma R$ 400 mensais até o fim do ano, benefício diretamente concedido a ingressantes cotistas, em uma parcela única de R$ 800. No rodapé da nota, a Superest indicava que quaisquer estudantes, cotistas ou não, ainda poderiam concorrer à bolsa-auxílio (BAUX) através de edital de seleção. A notícia mobilizou os estudantes que, em 2 de março, se reuniram no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) para discutir a situação.
Dois dias depois, foi postada uma nota de esclarecimento assinada pelo novo superintendente Helio Mattos e o reitor Carlos Levi, no site da Superest. A alteração da bolsa, segundo a nota, serviria para que assistentes sociais pudessem “garantir a realização de um trabalho sério e consequente para a avaliação e confirmação das condições socioeconômicas dos alunos ingressantes elegíveis ao Programa” — há um limite de até 1,5 salário mínimo per capita para receber o auxílio.
O comunicado não indica se a adoção de uma forma mais criteriosa de seleção reduzirá o número de beneficiados ou se exigirá mais do que a documentação de comprovação de cotista, como era feito até então pelo programa. Não há também menção à manutenção do auxílio-transporte que acompanhava a bolsa. A reportagem do Jornal da Adufrj tentou contatar o professor Helio Mattos para esclarecer essas dúvidas, mas não conseguiu resposta até o fechamento dessa edição.
O Diretório Central dos Estudantes (DCE Mário Prata) criticou, na mesa do dia 2 , a ausência de diálogo sobre as alterações: “Muito nos espantou a forma como a reitoria apresentou isso. No último Consuni do ano passado, saímos com a promessa do reitor de que esse ano ele iria a Brasília, junto do Movimento Estudantil, para conseguir uma verba extra e garantir mais mil bolsas. Além do compromisso com a inauguração do bandejão da Praia Vermelha e de Macaé. Só que nenhuma dessas promessas foi honrada e, agora, ainda há um retrocesso a ponto de termos de fazer essa reunião emergencial. Esse ataque aos nossos direitos não será permitido”, afirmou Luiza Foltran, uma das diretoras do DCE.
Rodízio na Superintendência
A assessoria do Gabinete do Reitor publicou, no mesmo dia da reunião estudantil (2), um novo nome para assumir a Superintendência Geral da SuperEst. Professor da Faculdade de Farmácia, Hélio Mattos — prefeito universitário entre 2004 e 2011 — assume o lugar de Ericksson Almendra. O cargo, durante apenas três anos de criação da Superintendência, apresenta, em Helio, sua terceira coordenação. O primeiro superintendente, o professor Antonio José Barbosa, gestor em 2012 e 2013, pediu afastamento em meio a uma conjuntura de crise dos servidores no setor.
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Durante a plenária do Congresso que discutiu “Políticas Sociais e Plano Geral de Lutas” do movimento docente, realizada entre os dias 27 e 28, a luta contra a criminalização das drogas também foi aprovada
Objetivo é proteger, principalmente, populações pobres e negras
Silvana Sá. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Passos importantes foram dados na defesa dos direitos sociais durante o 34º Congresso do Andes-SN, de 23 a 28 de fevereiro, em Brasília (DF) — parcialmente noticiado na edição anterior do Jornal da Adufrj. Em plenária realizada no quarto dia do evento, representantes dos professores universitários de todo o país aprovaram as lutas em defesa da descriminalização do aborto e da descriminalização das drogas.
Com as deliberações, o Sindicato Nacional assume posição clara contra formas de criminalização que recaem especialmente sobre as populações pobres e negras. No caso do aborto, diversos estudos apontam que este é o perfil de mulheres presas por interromperem a gestação. E a primeira causa de morte de mulheres de 20 a 29 anos é hemorragia causada por abortos clandestinos.
No caso das drogas, a diferenciação se dá principalmente entre os jovens apreendidos: brancos de classe média são enquadrados como usuários, enquanto pobres negros são presos por tráfico de drogas.
Na questão da descriminalização do aborto, diversos delegados fizeram questão de proceder à votação de pé. Não houve voto contrário e apenas três abstenções. No caso da luta contra a criminalização das drogas, houve um pequeno número de votos contrários. A resolução dos temas aconteceu durante as discussões de Políticas Sociais e Plano Geral de Lutas, entre o fim da tarde do dia 27 e a manhã do dia 28 de fevereiro.
Creches no Andes-SN e nas universidades
A criação de creches e espaços de convivência infantil em todas as atividades do Andes-SN também foi aprovada. Esta reivindicação será estendida às administrações das universidades para os locais de trabalho e estudo.
Pelo direito à vida e à liberdade das mulheres
Mariana Trotta, da delegação da Adufrj-SSind, emocionou o plenário ao contar sua experiência como advogada (ela é professora da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ e militante da área de Direitos Humanos): “Tive a oportunidade de trabalhar com mulheres presas por terem promovido o aborto. Acompanhei um caso no Rio de Janeiro, há cinco anos, de uma mulher moradora da Vila Mimosa – uma região de prostituição e de baixa renda –, mãe de três filhos que não tinham na sua certidão de nascimento o nome do pai. Essa mulher, na quarta gestação, interrompeu a gravidez na sua casa, sofreu uma hemorragia e deu entrada em um hospital público do Rio de Janeiro. Foi presa porque um policial que fazia a segurança do hospital se fez passar por um assistente social até que ela confessasse o uso do medicamento abortivo. Ela ficou algemada durante o carnaval daquele ano no hospital, enquanto precisava de cuidados médicos”.
Mariana contou que, se não fosse a possibilidade de pedir liberdade provisória para a mulher, ela permaneceria presa por um longo período: “O delegado arbitrou uma fiança de R$ 3 mil. Um dinheiro que ela nunca teria condições de pagar. Esta é também uma questão de criminalização de mulheres pobres, porque, se compararmos com pesquisas no Tribunal do Rio de Janeiro, a gente percebe que uma mulher de classe média teve fiança arbitrada em R$ 300, quando foi feita uma batida numa clínica clandestina. Precisamos pensar nos impactos sociais da criminalização do aborto”.
Na mesma linha, falou Renata Vereza, presidenta da Aduff-SSind: “Já é o momento de o Sindicato Nacional se posicionar sobre o tema. Esta é uma questão de saúde pública, é muito mais que uma pauta feminista. Milhares de mulheres morrem anualmente vítimas de abortos mal sucedidos. E não são mulheres ricas, são mulheres pobres, porque as ricas vão para Miami. São mulheres jovens, pobres, que são vítimas de abortos mal feitos. Não dá para a categoria fechar os olhos para essa situação. Devemos nos posicionar veementemente contra a criminalização do aborto”.
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