facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

Produtivismo acadêmico mata

Debate no IESC trata de problemas, que afetam a saúde da categoria, relacionados ao excesso de trabalho

Ambiente altamente competitivo prejudica professores

Elisa Monteiro. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

“‘Professor da UFRJ não fica doente, ele morre de repente’, foi o que ouvi, chocada, de um entrevistado”. O relato foi passado por Alzira Guarany, que dedicou sua tese de doutorado na Escola de Serviço Social à análise do adoecimento físico e psicológico de docentes da universidade nos últimos anos. Sua palestra representou a primeira atividade de greve docente do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC), no dia 22.

A hipótese inicial de Alzira era que os impactos das privatizações da década 1990 sobre as universidades haviam atingido a saúde dos docentes das universidades federais como a UFRJ. A intuição se confirmou no cruzamento de informações sobre afastamento por doenças e depoimentos pessoais. “Realmente, foi um período em que o ritmo de produção da universidade foi bastante acelerado pela criação de um ambiente competitivo. Para muitos, esperar pelo investimento público significaria parar atividades como pesquisa. “Então muita gente foi em busca de parceiros na iniciativa privada”, afirma. 

No entanto, “tanto entre os que resistiram quanto entre os que apoiaram a mudança de estilo de vida universitária, houve adoecimento”, destaca. Mas Alzira observa que a aproximação e incorporação do modus operandi das empresas representou uma redução prática da autonomia docente: “O trabalho passa a ser cada vez mais prescrito sem margem (de liberdade) para o docente”.  De acordo com a pesquisadora, é comum o relato de que, para garantir financiamento a um projeto que deseja, o docente se submeta a realizar outros que não considera interessantes.

Em sua visão, o critério quantitativo se sobrepôs ao qualitativo. “É preciso levar em conta que, para alguns campos do saber, reduzir o tempo produtivo foi OK; para outros, não”. De acordo com ela, embora a competição entre pares não seja uma novidade, “é preciso reconhecer que hoje é algo que pode, sim, ser considerado estrutural”. A introdução de mais tarefas relacionadas às novas tecnologias também foi lembrada, como responder aos alunos, por e-mail, nos horários de folga. 

Na UFRJ, Alzira observou que nem sempre o docente relaciona o desenvolvimento da patologia às atividades laborais. Além disso, o afastamento não costuma ganhar publicidade: “Em um ambiente competitivo, as pessoas acabam preferindo um afastamento silencioso”, ou seja, sem notificar a universidade. “A saída individual”, contudo, segundo Alzira, dificultaria até mesmo uma tomada institucional de providências. “Sem registros, a UFRJ fica também sem as ferramentas para combater os problemas”.

 Isolamento joga contra

Professores manifestaram preocupação em relação ao tema que se relaciona com um dos eixos principais da greve docente (a melhoria das condições de trabalho). E a importância de um estudo epidemiológico, na UFRJ, foi reafirmada. 

Da plateia, Letícia Legay contou conviver há 20 anos com um problema reumático e admitiu nunca tê-lo registrado junto à universidade. “Fazemos tantas coisas ao mesmo tempo, que não nos damos conta. De repente, nos perguntamos ‘cadê fulano?’ E lá se vão cinco anos que o professor está na prateleira (afastado)”.  

Em outro depoimento, Regina Simões observou que, “mergulhados nas próprias linhas de pesquisas”, os docentes perderam parte da vivência universitária. Em sua visão, o isolamento contribui também para que as pesquisas estejam cada vez menos voltadas para questões de interesse social.

Universidade e campo juntos

Debate na ESS tratou da importância da inserção dos movimentos sociais no espaço universitário

Mesa contou com presença do reitor eleito da UFRJ

Samantha Su. Estagiária e Redação

Discutir a função social da universidade, alinhando os saberes dos movimentos sociais e os conhecimentos acadêmicos. Este foi o ponto principal do debate que reuniu, no último dia 18, o reitor eleito da UFRJ, Roberto Leher, e o coordenador do setor de educação do MST no Paraná, Alex Verdelho. 

O encontro fez parte da Jornada Universitária de Reforma Agrária, realizada no Auditório Manoel Maurício de Albuquerque, no campus da Praia Vermelha, para marcar a formatura da primeira turma de jovens assentados (leia quadro), na Escola de Serviço Social. A classe ganhou o nome de Carlos Nelson Coutinho em homenagem ao professor daquela unidade e apoiador da iniciativa, que faleceu em setembro de 2012.

“A problematização de questões de extrema importância para o futuro da humanidade, como a soberania alimentar e a questão da água, não vieram de artigos universitários. Elas chegam à universidade porque os movimentos sociais passam a tratá-las como questões políticas de relevância social e agem em torno delas. Só então, a universidade passa a produzir conhecimento sobre”, observou Roberto Leher. 

Leher ainda avaliou a transformação estrutural pela qual a universidade passa, nesta interação: “A luta social dos movimentos tem trazido questões que repercutem de forma profunda na própria ética da produção do conhecimento. A denúncia, por parte dos movimentos, de que a Monsanto financia pesquisa na universidade, está levantando problemas de natureza ética aqui dentro. O caráter público da universidade só pode existir se a universidade for um espaço de produção livre de conhecimento frente aos interesses capitalistas”, finalizou o professor.

Para o representante do MST, a inserção dos movimentos sociais determina e modifica o ambiente acadêmico: “O objetivo do Movimento Sem Terra é a luta pela terra, a reforma agrária e a transformação social. Portanto, quem entra na universidade não são os sujeitos individuais, mas sim os sujeitos coletivos e, junto deles, vêm também crianças, idosos, músicas e isso vai tomando o espaço, transformando a educação”, afirmou Alex Verdelho 

A relação entre movimentos sociais e universidade para combater o capitalismo também foi enfatizada: “A luta pela terra tem que nos levar ao diálogo com a cidade. Por exemplo, quando temos de pensar uma reforma agrária que garanta o abastecimento de alimentos para toda população, ou quando precisamos acumular as forças da luta camponesa com a luta da classe trabalhadora urbana. Na universidade, não é diferente, precisamos alinhar a educação e cultura do campo com o poder do conhecimento acadêmico e enfrentar o capital”, pontuou Alex.

 

Turma iniciou o curso em 2011

A Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro - ESS/UFRJ - em parceria com o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária vinculado ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - Pronera/Incra assinaram acordo em 2010 para a criação de uma turma especial com estudantes provenientes de assentados rurais de diferentes regiões do país, com o objetivo de formar assistentes sociais críticos, propositivos e comprometidos com a reforma agrária e a garantia e ampliação dos direitos sociais. Em março de 2011, a primeira turma iniciou o curso na ESS.

Somando-se às mais de 30 IFE paralisadas no país e aos estudantes e técnicos-administrativos da UFRJ em luta desde o mês de maio, a UFRJ aderiu à Greve Nacional dos Docentes das Instituições Federais no dia 23 de junho. A greve surge num momento crucial para a defesa do caráter público da educação e a mobilização dos professores é fundamental para reverter a contrarreforma educacional em curso. 

O Comando Local de Greve, desde então, vem organizando reuniões em mais de 30 unidades em todos os campi da UFRJ, aprofundando o debate com centenas de professores sobre os problemas advindos das precárias condições de trabalho e construindo a relação da pauta nacional do ANDES-SN com a situação vivida pela categoria nas respectivas unidades, condição necessária para o aumento da mobilização.

A mobilização nacional do movimento grevista das IFE já conseguiu pressionar o governo federal a realizar audiência com o Andes-SN no último dia 23. A postura do MEC, no entanto, foi ignorar a concretude dos pontos da pauta dos docentes, reforçando a opção política do governo federal do ajuste fiscal, traduzido no corte de verbas para os direitos sociais em detrimento de favores à iniciativa privada tal como fez recentemente com o agronegócio ou mesmo com o próprio setor privado da educação. Em sua carta, o Ministério da Educação cria manobras contábeis ao afirmar que a categoria docente recebeu reajuste salarial, nos últimos anos, de 30% a 35% em média; ao mesmo tempo, afirma ter investido, entre 2008 e 2014, a quantia de 9 bilhões de reais na expansão das universidades, mas, curiosamente, não diz nada sobre o corte de mais de 9 bilhões no orçamento da educação realizado apenas este ano.

Este corte orçamentário é evidenciado de maneira bem conhecida pela comunidade da UFRJ. O começo das aulas em 2015 não foi garantido, dentre outras questões, pelo não pagamento de trabalhadores terceirizados da limpeza, o que, aliás, voltou a acontecer esta semana. Enquanto isso, bolsas de assistência e permanência estudantil são cortadas, auxílios e bolsas da pós-graduação não têm sido repassados e diversas atividades acadêmicas no curto e médio prazo se encontram profundamente comprometidas, e a situação só não é mais acentuada na UFRJ em razão da constante mobilização dos estudantes contra a redução dos seus hoje parcos recursos oriundos do PNAES. 

A mobilização conjunta dos Servidores Públicos Federais, que se torna mais forte com o anúncio da adesão de mais categorias à greve, forçou o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) a convocar uma audiência em 25 de junho com diversos setores, dentre eles o Andes-SN, para debater a pauta salarial geral do servidor público.  O MPOG, nesta reunião, apresentou um simulacro de proposta de reposição salarial escalonada em quatro anos (sendo 5,5% em 2016, 5,0% em 2017, 4,8% em 2018 e 4,5% em 2019) que sequer repõe a inflação do periodo anterior. Sobre esta reunião, o Comando Nacional de Greve informa que:

“O Secretário, embora tenha dito que se tratava de uma proposta para negociação, afirmou, em tom de ameaça, que a assinatura do acordo em torno da proposta de quatro anos seria condição para ter reajuste e para tratar dos demais pontos. As entidades, em expressiva unidade, rechaçaram a proposta do governo, afirmaram ser ela inaceitável e apresentaram a proposta de realização de nova reunião no dia 7 de julho, para a qual o Fórum trará a resposta das bases das entidades e que o governo deve trazer revisão da proposta e que não devam ocorrer reuniões setoriais antes da reunião do dia 07” (http://grevenasfederais.andes.org.br/2015/06/25/comunicado-no-18/)

O momento, portanto, é de necessária intensificação da mobilização para o fortalecimento da greve nacional. Devemos nos articular para pressionar o governo federal a apresentar propostas efetivas de negociação que respondam aos anseios dos docentes a partir dos eixos de nossa pauta: defesa do caráter público da educação, melhoria das condições de trabalho, garantia da autonomia, reestruturação da carreira e valorização salarial de ativos e aposentados.

Conclamamos todas as professoras e professores da UFRJ a participarem desta luta, organizando novas reuniões em suas Unidades em conjunto com o Comando Local de Greve da UFRJ!

Audiência realizada no último dia 23 mostrou-se como mais uma manobra protelatória dos representantes do governo: não houve resposta efetiva às exigências da categoria

Rodada de AGs avaliará próximos passos do movimento grevista

Para o Comando Nacional de Greve dos docentes federais, a audiência com a Secretaria de Educação Superior (SESu/MEC), ocorrida dia 23, não apresentou respostas concretas à pauta da categoria. Pelo contrário, na avaliação do CNG, o governo vai apostar em mais contrarreformas nas universidades.

Segundo Paulo Rizzo, presidente do Andes-SN, ficou evidente na reunião que o secretário da SESu/MEC, Jesualdo Farias, assim como os demais representantes do governo, assume o ajuste fiscal como algo normal e inexorável. “E ele se concentrou em enaltecer a capacidade de fazer algumas coisas diante da falta de recurso, o que contradiz com a realidade que estamos vivendo nas universidades, que é de uma penúria muito grande”, ressaltou. 

Rizzo destacou ainda que o Comando Nacional de Greve avaliou a semelhança entre os valores investidos pelo governo nos últimos anos na expansão da Educação Federal e o montante cortado do orçamento, com o ajuste fiscal, em 2015. “No processo de expansão, foram investidos cerca de R$ 9 bilhões, nos últimos anos, e é um número equivalente ao corte que está sendo feito agora no MEC. Portanto, isso dá uma dimensão do tamanho desse corte. É como se o governo agisse contra o próprio programa que ele criou”, afirmou.

Alguns pontos da avaliação 

A avaliação do CNG é que “a posição apresentada pelo governo, seja no documento, seja no debate durante a reunião, expressa de fato o aprofundamento da contrarreforma universitária como resposta às medidas de ajuste”.

O comunicado aponta, ainda, que, na resposta apresentada pelo Secretário da SESu/MEC, Jesualdo Farias, “a privatização e a mercantilização do ensino, da pesquisa e da extensão, já em curso nas IFE, são retomadas com novos contornos que lhe dão mais institucionalidade”. 

O texto do CNG ressalta ainda que “o ajuste fiscal foi tratado pelo governo como uma realidade inexorável. A apresentação das verbas destinadas à expansão no período de 2008 a 2014 veio combinada com a reafirmação verbal dos cortes no orçamento, na ordem de 10% nas verbas de custeio e 47% nas verbas de capital, implicando a desaceleração progressiva das obras em curso, sem previsão de término do conjunto das obras em aberto e ausência de novas obras que permitam avançar na infraestrutura, assim como a manutenção das atividades nas Instituições Federais de Ensino, necessárias às condições de trabalho e estudo adequadas”.

Sobre as vagas docentes, o Comando aponta, entre outras considerações, que “os dados de contratação de docentes e liberação de verbas apresentados pelo governo, sem a consideração da desproporcionalidade em relação à ampliação do número de matrículas nas IFE, ocultam elementos da análise sobre a expansão precarizada, retratada no cotidiano do trabalho docente em turmas superlotadas, ausência de docentes para assunção de turmas de graduação, dentre outros problemas. Desta forma, o documento apenas tangencia questões centrais referentes às condições de trabalho”.

Rodada de AGs

O Comando Nacional de Greve indica uma rodada de assembleias nas Instituições Federais de Ensino (IFE) em greve, entre os dias 25 de junho a 1º de julho (a AG da Adufrj-SSind já estava marcada para 2 de julho – veja chamada da capa), para avaliação da reunião com o MEC e encaminhamentos.

O presidente do Andes-SN reforçou o chamado do CNG e a importância de as assembleias avaliarem o documento apresentado pela SESu/MEC (que está disponível no site http://grevenasfederais.andes.org.br/). “A avaliação do Comando é que nós estamos num momento extremamente importante da greve e do processo de relações com o governo.  (Fonte: Andes-SN. Edição: Adufrj-SSind)

 

 
 
Na UFRJ, foi constituído o comando local de greve

Relatos de precarização na universidade vêm à tona 

Elisa Monteiro. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

No mesmo dia em que o Andes-SN se reuniu com o MEC, o Conselho de Representantes da Adufrj-SSind estreou os trabalhos como Comissão Provisória de Greve, que se transformou em Comando Local de Greve no dia 26.

Do primeiro encontro, em 23 de junho, saíram as quatro primeiras comissões para subsidiar o movimento grevista: mobilização, comunicação, infraestrutura, comissão de ética — esta última equipe será responsável por, entre outras tarefas, indicar as atividades excepcionais, que não devem ser interrompidas.

Ficou acertada também a realização de reuniões locais para ampliar a mobilização. A primeira nota do CLG pode ser conferida aqui desta edição.

Cursos novos pedem atenção
Ainda na primeira reunião do CR, os relatos sobre os cursos criados a partir do Reuni ganharam destaque. Docente do curso de Dança, Sérgio Andrade observou que, por problemas de estrutura, o curso já estava na terceira semana de paralisação. “Os estudantes tiveram protagonismo”, conta ele, “e antes mesmo da resolução do CEG, os docentes já haviam manifestado publicamente apoio aos estudantes, com abono das faltas e tudo mais”.

Sérgio afirmou que a comunidade espera há sete anos por um prédio próprio. Segundo ele, falta espaço. E o que existe é inadequado.

“Temos problemas com o chão impróprio e falta de banheiros”, conta. De acordo com o professor, o curso que chegou a ser ministrado em tendas improvisadas na área externa da EEFD encontrou uma meia solução: salas de aulas teóricas foram transformadas em salas de aulas práticas. “Mas, com isso, abriu-se um novo problema, com as aulas teóricas sendo transferidas para o prédio do CCS”.

Situação similar de precariedade é relatada por cursos multiunidades: “Os estudantes têm uma pauta específica que diz respeito inclusive à relação institucional com a UFRJ”, afirmou Elidio Marques, que dá aulas no curso de Relações Internacionais. “Eles estão questionando inclusive o fracasso do projeto de cursos multiunidades”. (Veja Encarte).

Topo