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Desde a adesão ao Sisu, UFRJ perdeu em média 241 alunos por semestre, 2.891 em seis anos. Situação leva a paradoxo: depois da disputa acirradíssima para entrar, vários cursos têm vagas ociosas E FERNANDA DA ESCÓSSIA O que faz o estudante que vê seu nome na primeira lista de aprovados numa das melhores universidades do Brasil? Matricula-se imediatamente, claro. Quem respondeu assim errou: no segundo semestre de 2017, 85% dos alunos chamados pela UFRJ na primeira edição do Sisu não se matricularam. O resultado é praticamente a inversão do que aconteceu em 2009/2, último ano de vestibular exclusivo da UFRJ, quando apenas 15,7% dos aprovados na primeira listagem não se matricularam. Em sua pesquisa, Roberto Vieira chamou esse fenômeno de evasão primária, uma faceta do gigantesco problema em que o abandono do ensino superior se transformou. No curso de Medicina do campus da UFRJ em Macaé, a evasão primária chegou a 100% em 2017 – nenhum dos aprovados na primeira chamada se matriculou. As taxas passam de 90% em cursos como Engenharia Civil (98,33%) e Fisioterapia (97,73%). Vieira também analisou o que chamou de evasão secundária, quando o aluno chamado na primeira edição se matricula, mas depois é aprovado para outro curso e abandona o primeiro. Desde a adesão ao Sisu, afirma Vieira, a UFRJ perdeu dessa forma, em média, 241 alunos por semestre, 2.891 em seis anos. Com isso, a universidade é palco de um paradoxo: depois da disputa acirradíssima para entrar (estudos mostram que a nota de corte cresceu com o Sisu), vários cursos têm vagas ociosas. Em 2018, a UFRJ oferece mais de 2 mil vagas para ex-alunos já graduados ou estudantes de outras instituições de ensino superior. Em Macaé, onde a desistência é alta em vários cursos, tem sido comum usar chamadas de reclassificação para preencher vagas. Na Medicina, das 30 vagas disponíveis em 2017/2, 14 terão de ser preenchidas fora do sistema Sisu, com transferências, por exemplo. O coordenador do curso de Medicina de Macaé, professor Joelson Tavares Rodrigues, disse que realizar várias chamadas é frequente, para evitar vagas ociosas. Segundo ele, a “dança das cadeiras” não é exclusividade local e acontece em cursos que não são a primeira opção dos alunos. Como Medicina é um curso que exige muita preparação, os alunos fazem o possível para ficar perto de casa. O coordenador lembra que, ao permitir que o candidato faça prova em qualquer lugar do Brasil, o Sisu criou uma concorrência acirrada para o aluno da região. “Nossa pontuação de ingresso é alta, próxima da capital”, analisa. Ao mesmo tempo, apenas um estudante de Macaé foi aprovado na última seleção. (Colaborou Elisa Monteiro)

Sisu favorece inclusão

A pesquisa de Roberto Vieira não desqualifica o Sisu. Muito pelo contrário. A pesquisa recomenda avaliações e ajustes no sistema para reduzir as perdas e manter o estudante na UFRJ. As respostas de 189 professores trazem indicações sobre frequência e participação nas aulas, dedicação dos alunos e conhecimento prévio. “Na perspectiva de professor em sala de aula, o Sisu só trouxe coisa boa. A gente percebe essa dança das cadeiras. A violência assusta quem vem de longe. Agora, em termos de desempenho geral e de diversidade social, senti uma melhora”, afirma Fernando Duda, professor da Engenharia Mecânica e diretor da Adufrj. “O desempenho acadêmico dos meus alunos melhorou”. “O Sisu tem um paradoxo. Desperta o sonho dos melhores estudantes do Brasil de estudarem na melhor universidade do país, mas não oferece formas de manter o estudante na universidade. Isso é uma ineficência do sistema. E temos que pensar com seriedade o assunto”, completa o professor Ericksson Almendra, ex-diretor da Escola Politécnica. Para aproximadamente metade dos docentes que responderam ao questionário da pesquisa de Vieira, não houve alteração na dedicação dos alunos e no desempenho nas avaliações.  

Evasão subiu 20% em oito anos. Percentual de aprovados em primeira chamada que nem se matriculam pulou de 15% para 85%. Violência e falta de condições financeiras são principais motivos para desistência E FERNANDA DA ESCÓSSIA Seis anos depois de aderir ao Sisu, a Universidade Federal do Rio de Janeiro começa a avaliar impactos do Sistema de Seleção Unificada nos cursos de graduação. Uma extensa pesquisa acadêmica realizada pelo superintendente de Registro e Acesso da UFRJ, Roberto Vieira, identifica um aumento significativo da evasão estudantil na maior universidade federal do Brasil. Os alunos também demoram mais tempo para se formar. Vieira comparou dados dos anos de 2004 a 2009, quando a UFRJ fazia vestibular próprio, com os de 2012 a 2017, período em que o Sisu foi usado como método exclusivo. O pesquisador aplicou questionários a 6.437 candidatos e 189 professores. Os resultados impressionam. Do primeiro semestre de 2004 para o primeiro de 2012, a desistência subiu 20%. No indicador que Vieira chamou de evasão primária − o aluno é aprovado na primeira chamada do Sisu, mas não se matricula na UFRJ −, o percentual pulou de 15,71% em 2009/2 para 85% em 2017/2. As conclusões de Vieira coincidem com um quadro revelado em estudos similares, que apontam a democratização do acesso à universidade com a chegada de estudantes de outros estados, mas alertam para a perda de alunos. “Percebo escandalosamente essas saídas no cotidiano das engenharias. Quem está na gestão percebe isso claramente. Mas não é um problema do Sisu. É um problema do Brasil, que criou um sistema fantástico e democrático de seleção dos melhores alunos de todo o país, mas não oferece condições de mantê-los nas universidades”, analisa Ericksson Almendra, 64 anos, ex-diretor da Escola Politécnica. Os motivos para abandonar o sonhado curso superior são o retrato do Brasil: falta de dinheiro para viver noutra cidade, falhas na assistência estudantil e medo da violência. No estudo de Vieira, quase 40% dos estudantes que desistiram da UFRJ se justificaram dizendo que não tinham recursos para morar no Rio ou temiam a violência na cidade. O impacto do Sisu na UFRJ deverá entrar na pauta das próximas reuniões do Conselho de Ensino de Graduação, presidido pelo Pró-Reitor de Graduação. Nas páginas seguintes, mais detalhes da pesquisa.

Mesmo divididos entre integrantes da situação e da oposição, os representantes da Adufrj mantiveram um clima amistoso no diálogo sobre estratégias de defesa da universidade pública *e Kelvin Melo Nem carreira nem orçamento das universidades. O tema que mobilizou corações e mentes no congresso do Andes está bem distante do cotidiano dos professores nas universidades: a filiação do Andes à CSP-Conlutas, uma pequena central sindical que se orgulha de ser radical. Na noite da última quinta-feira, o auditório da UNEB se dividiu entre gritos, vaias, aplausos e palavras de ordem. Grupos favoráveis e contrários à central esgrimiram argumentos, reviraram rancores antigos e deixaram perplexos os poucos delegados que não pertenciam a nenhum dos lados, caso da diretoria da Adufrj. “Evidente que é uma central pequena, mas mostrou que tem garra para defender os interesses dos trabalhadores, independentemente de governos”, afirmou José Vitório Zago, da diretoria do Andes. “A CSP-Conlutas é um punhado de sindicatos dirigido por um grupelho político”, disse Antônio Eduardo, professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e integrante do grupo de oposição Renova Andes. A proposta de fazer um balanço da filiação foi rejeitada pela maioria dos delegados. A Adufrj tem posição crítica sobre o assunto. Assim que assumiu a gestão, em outubro, a diretoria suspendeu o pagamento da mensalidade para a Conlutas – cerca de R$ 180 mil anuais. “Essa Central Sindical não representa os professores da UFRJ. É uma central muito isolada, muito esvaziada”, declarou, à época, a presidente da Adufrj, professora Maria Lúcia Werneck. CLIMA DE AXÉ A acalorada discussão, com acusações de parte a parte, é o exemplo perfeito de que o congresso do Andes não seguiu o modelo da delegação da Adufrj. Mesmo divididos entre integrantes da situação e da oposição, os representantes da UFRJ mantiveram um clima amistoso no diálogo sobre estratégias de defesa da universidade pública e dos direitos docentes. Nossa delegação é diversa, tem diferenças políticas, mas participamos juntos do Congresso e da defesa da universidade. Achei muito salutar e novo a presença de todos aqui”, elogiou a professora Mariana Trotta, uma das líderes da oposição à diretoria da Adufrj, e alinhada à direção do Andes. “O congresso tem representantes das bases, das diretorias e de diferentes universidades, com problemas e realidades diversas. Todos podem apresentar textos. O Congresso é extremamente democrático”, completou. Os diretores e delegados apoiadores da diretoria – quase todos estreantes no Congresso – ficaram decepcionados com a metodologia de discussão no encontro. Para serem votadas nas plenárias, as teses precisam ser aprovadas em pelo menos um dos 13 grupos de debate realizados antes ou receber votação de, no mínimo, 30% de um deles.  Nos grupos, a diretoria nacional propõe o ordenamento dos temas, de forma diferente entre eles. A justificativa é fazer com que todas as propostas sejam avaliadas por ao menos um grupo. Para o vice-presidente da Adufrj, Eduardo Raupp, ao se definir a ordem de discussão, os textos que ficam por último correm o risco de serem eliminados a priori, por falta de tempo. Outro problema identificado pela direção da Adufrj: integrantes da diretoria nacional também influenciam as votações nas salas, apresentando destaques iguais para todos os grupos. “Eles cumprem o papel de vigias, para que os textos não saiam da visão da diretoria. Isso engessa o debate”, disse Raupp. No próximo Boletim, os resultados do Congresso do Andes

*e Fernanda da Escóssia “O que mais surpreende e entristece é ver uma comunidade acadêmica, entorpecida por um sebastianismo primário, abrir mão de quaisquer pudores e se dispor a fazer coro a esse movimento manipulatório de intimidação de um dos pilares do estado democrático de direito”. Foi nesses termos que o procurador da República Maurício Gerum criticou acadêmicos favoráveis à aprovação do recurso do ex -presidente Lula no TRF-4. Professores da UFRJ reagiram à fala do procurador, considerada por eles autoritária, antidemocrática e uma tentativa de desqualificar a academia. Eles também criticaram a politização do julgamento. Para José Ribas Vieira, professor titular de Direito Constitucional da Faculdade Nacional de Direito (FND), Gerum posicionou-se de modo autoritário, como se tentasse impor verdades. “Parece que ele quer ensinar o que é democracia”, disse Ribas Vieira. Sobre o mérito do julgamento, reiterou seu entendimento de que o processo não prova que o ex-presidente Lula cometeu o ato do qual é acusado – posição explicitada em vários artigos, um deles publicado no livro “A resistência ao golpe de 2016”, com textos de juristas. Professora de Teoria do Direito da FND, Margarida Lacombe Camargo disse que a observação do procurador mostra receio de receber críticas da academia. “Não temos poder de decisão, não somos juízes. Mas professores de Direito têm poder de crítica. A gente estuda o Direito, ensina o Direito. Futuros juízes que prestam concurso provêm dos bancos universitários. A voz da academia não há que ser desmerecida”, afirmou. A professora considerou frágeis as provas citadas pelos desembagadores. “Coerência não é sinônimo de verdade”, afirmou. Na avaliação de Josué Medeiros, professor de Ciência Política no IFCS, o julgamento explicitou a politização do caso: “O que foi dito é que não é preciso prova. Inclusive com aumento da pena para 12 anos. É um Judiciário acima da Justiça e da soberania popular”. Para ele, a condenação de Lula fragiliza a democracia brasileira e agrava a instabilidade por dificultar a candidatura do político com mais intenções de voto. O professor da UFRJ entende que, desde o mensalão, a oposição aos governos petistas investe para criar um espectro próprio de formadores de opinião, e o Movimento Escola Sem Partido é um exemplo. “Paralelamente, verificamos ações contra o projeto de expansão universitária dos últimos anos e seus agentes, como nas conduções  coercitivas nas federais de Minas Gerais (UFMG) e Santa Catarina (UFSC)”, opinou. Professora e diretora eleita da Escola de Comunicação (ECO), Ivana Bentes analisou os significados do julgamento em tempo real: “Vimos uma cena chocante, três homens brancos acusando um nordestino e tomando cafezinho servidos por uma mulher negra. O sistema de subordinação é explícito”. Na visão de Ivana, a espetacularização permeia as coberturas de política nacionais desde a destituição de Dilma Rousseff. “O processo inteiro foi marcado pela midiatização desde o vazamento dos áudios que desencadearam o impeachment”, afirmou.

Corrida eleitoral movimentou 37º Congresso, em Salvador. Pela primeira vez em 14 anos, não haverá chapa única. Mais de 500 professores participaram do encontro *e Kelvin Melo As eleições para a próxima diretoria do Andes, um dos maiores sindicatos do Brasil, marcaram o 37o Congresso, realizado em Salvador, de 22 a 27 de janeiro. O pleito será em maio. Pela primeira vez em 14 anos, não haverá chapa única. Dois grupos estão na disputa e passaram os seis dias do encontro articulando suas candidaturas. O resultado da eleição pode mudar quase duas décadas de hegemonia de uma mesma tendência  política na direção do movimento docente do país. Nos últimos pleitos, a direção do Andes ficou nas mãos do coletivo Andes de Luta e Pela Base, formado por setores   do PSOL, PCB, PSTU e por militantes independentes, ligados a movimentos sociais, como o MST e o MTST. Este ano, o PSTU não participará da chapa. Já a oposição é liderada pelo Renova Andes, organizado por grupos da esquerda do PT, do PCdoB e do PCO – Partido da Causa Operária. Desde 2004, após um conturbado processo de ruptura calcado na discussão da adesão do movimento docente ao governo Lula, os petistas estão no outro sindicato nacional de professores, o Proifes. O Congresso do Andes ocorreu no campus da Universidade do Estado da Bahia, com a presença de 413 delegados e 122 observadores, de 80 seções sindicais diferentes. Só a Adufrj levou 25 docentes, uma das maiores bancadas do encontro e dos quase 40 anos de história da entidade. “Discutimos desde a progressão da carreira até o assédio. Da greve aos desastres ambientais. É minha primeira vez no Congresso. Só acho que deveriam ter propiciado um ambiente dialógico”, pondera Ligia Bahia, vice-presidente da Adufrj.  “Os conteúdos e os métodos impediram a realização de um congresso, na acepção do termo. O que vivenciamos foi um encontro extremamente sectário, sob forte hegemonia da diretoria do Andes”, completa. A força da direção do Andes ficou clara desde o primeiro dia do encontro, quando os delegados votaram a chamada centralidade da luta – o foco do movimento docente nacional nos próximos meses. Por mais de 80% dos votos – e com a oposição da direção da Adufrj – ficou definido que a prioridade da categoria é construir uma greve geral para barrar as reformas do governo Temer.  A presidente do Andes, Eblin Farage, observou que o sindicato deve ser “classista, combativo, independente” e que construir uma greve geral deve ser o foco do movimento docente nos próximos meses. Ao criticar a reforma da Previdência, a professora de Serviço Social da UFF alfinetou as gestões do PT: “Essa luta começa em Fernando Henrique, passando por Lula e Dilma. Esse sindicato não pode fazer conciliação de classe. Esse sindicato é classista e de luta”. A presidente da Adufrj, professora Maria Lúcia Werneck, ficou estarrecida com o discurso da direção nacional do Andes. “Enquanto pesquisadores e professores universitários, não nos reconhecemos nesse discurso. Como assim, nosso foco é a greve geral? Eles acham que greve geral é solução mágica para tudo. E se as reformas não forem aprovadas, vamos fazer uma greve pelo quê? Com que pauta?”, questionou Maria Lúcia. JULGAMENTO DE LULA Outro assunto que mobilizou os congressistas foi o julgamento do ex-presidente Lula, no dia 24. Por maioria, foi aprovada uma nota defendendo o direito de Lula ser candidato nas próximas eleições, mas crítica aos governos do PT. “Não entendo essa nota. Será que é hora de nos dividirmos? O país vive uma crise institucional profunda com a judicialização da política. Esperava que o Congresso do Andes discutisse a conjuntura com mais responsabilidade, buscando a unidade dos setores progressistas e não se deixando contaminar pelo interesse eleitoral”, observou a professora Tatiana Sampaio, diretora da Adufrj. “Isso não é defender o Lula. É defender o Direito”, completou a docente do Instituto de Ciências Biomédicas.

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