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WEB menorFORÇATAREFAFORÇA-TAREFA. Edimilson Migowski, Rodrigo Brindeiro e Roberto Medronho tiram dúvidas em plenária - Foto: Elisa MonteiroA escalada dos casos confirmados do novo coronavírus no Rio de Janeiro levou a UFRJ a suspender as aulas da graduação e da pós-graduação por 15 dias. A decisão, tomada na madrugada de 13 de março, foi reforçada depois de um funcionário do hospital universitário testar positivo para a Covid-19. O retorno das atividades acadêmicas será reavaliado pelo grupo de trabalho da universidade que monitora a doença.
Durante o final de semana, a reitoria anunciou o cancelamento das provas de concurso público previsto para o dia 29. E divulgou novas recomendações para a manutenção apenas de atividades essenciais, sejam administrativas ou laboratoriais. Os atendimentos nas unidades de saúde permanecem inalterados. Museus e bibliotecas ficam fechados. As equipes de plantão devem se organizar para evitar concentração de pessoas.
As orientações da reitoria acompanharam o agravamento dos fatos. Na noite de quarta-feira (11), a administração central já havia divulgado cinco diretrizes e duas medidas de combate à Covid-19. Uma delas é a suspensão de viagens ao exterior e a determinação das chamadas “quarentenas produtivas” (de 14 dias) para professores, alunos e técnicos que tenham retornado de viagens ou que tenham entrado em contato com casos confirmados ou suspeitos. Pessoas mais vulneráveis (idosos, diabéticos, oncológicos e imunossuprimidos em geral) poderão ter atividades acadêmicas e regime de trabalho modificados. A quarentena produtiva, esclarece a reitoria, em nota, significa trabalho em regime de home office, sem sair de casa, mesmo para quem não apresenta os sintomas da doença.
Também estão cancelados todos os eventos extracurriculares, como a Aula Magna no dia 30. Além disso, ficam suspensas as férias de servidores essenciais para o enfrentamento da pandemia. “São medidas preventivas que colocam a UFRJ à altura do desafio que o Coronavírus nos apresenta”, resumiu a reitora, professora Denise Pires de Carvalho. As páginas eletrônicas especiais da universidade (coronavirus.ufrj.br) e da Fiocruz (portal.fiocruz.br/coronavirus) repercutiram em boa parte dos veículos de comunicação.
Durante o Conselho Universitário do dia 12, o vice-reitor, professor Carlos Frederico Leão Rocha, anunciou que ele e a reitora não estarão mais no mesmo ambiente pelas próximas semanas. A medida tenta “evitar o contágio simultâneo” dos gestores da instituição, explicou.
O último balanço da Secretaria Estadual de Saúde até o fechamento desta edição indicava 31 casos confirmados e 94 suspeitos no Rio. A capital registrava 29 confirmações da doença. Já Caxias e Macaé, onde há campi da UFRJ, não apresentavam casos confirmados.
O primeiro caso confirmado na UFRJ é o de um funcionário da Radioterapia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. O servidor recebe tratamento em casa. O serviço está suspenso por medida preventiva desde o dia 10. Segundo o diretor médico do hospital, o infectologista Alberto Chebabo, o Hospital do Fundão dispõe de três leitos de isolamento para receber casos encaminhados pela Secretaria Estadual de Saúde.

ORÇAMENTO
A compra de itens de limpeza pela universidade para conter o avanço da doença, em um cenário de restrição orçamentária, foi destaque na Plenária de Decanos e Diretores do dia 6. Na reunião, a reitoria anunciou que antecipou – do dia 15 de março para o próprio dia 6 – a liberação da primeira parcela do orçamento participativo. “Nossa recomendação é que as unidades priorizem a aquisição desses itens”, destacou o pró-reitor de Planejamento, professor Eduardo Raupp.
O professor do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia, Rodrigo Brindeiro, reforçou que a prevenção se faz com “mais frequência nas ações de higiene”. “É muito mais uma questão de conduta de vida, do que de material de limpeza [especial]”, advertiu.

NOTA OFICIAL DA UFRJ

Desde o dia 11, a reitoria da UFRJ tem divulgado informações e orientações à comunidade acadêmica e à sociedade sobre o novo coronavírus. A nota do domingo (15) contém as diretrizes gerais para o público interno à universidade.
Confira a íntegra abaixo:

A) Gerais – Manter apenas as atividades consideradas essenciais.
Sugerir revezamento e trabalho remoto domiciliar de servidores da UFRJ, servidores terceirizados e estudantes que utilizem transporte público para chegar ao ambiente de trabalho, conforme planejamento nos diversos setores;
Autorizar o trabalho remoto domiciliar de todas as pessoas vulneráveis (idosos a partir de 60 anos, cardiopatas, pneumopatas, nefropatas, diabéticos, oncológicos e imunossuprimidos em geral) e aqueles com filhos pequenos (crianças até 10 anos de idade).
Os servidores, terceirizados e estudantes liberados devem ser orientados a permanecer no domicilio a maior parte do tempo, por precaução.

B) Com relação à continuidade das atividades administrativas na Administração Central e demais instâncias acadêmicas, os dirigentes devem:
Garantir que, no ambiente de trabalho, as pessoas mantenham o mínimo de 1,5m de distanciamento (braços abertos) umas das outras, sendo necessário, portanto, revezamento (diário ou por turnos).
Locais de atendimento ao público (servidores, pensionistas, perícias, estudantes para matrícula, entre outros) devem receber uma pessoa por vez, com no máximo um acompanhante; álcool em gel deve ser disponibilizado.
Essas atividades poderão ser revistas a qualquer momento, conforme orientação do Grupo de Trabalho da UFRJ sobre o Novo Coronavírus ou determinação da esfera governamental estadual ou federal.

C) Os atendimentos nas unidades de saúde permanecem inalterados. Em breve, definiremos melhor o funcionamento dos hospitais e de novos locais de atendimento do nosso corpo social para triagem da COVID-19 e lançaremos um programa de voluntariado para enfrentar a crise de atendimento em saúde.

D) Museus e Casa da Ciência permanecerão fechados para atendimento ao público.

E) O funcionamento das bibliotecas está temporariamente suspenso até que o SiBI delibere normas específicas, devendo seguir, no mínimo, as instruções aqui citadas, se optar pela abertura. Sugerimos adiamento da entrega de livros e horário de atendimento reduzido e que aguardem diretrizes.

F) Laboratórios de pesquisa:
Em relação às atividades de pesquisa, os laboratórios devem identificar as atividades essenciais e o que pode ser reduzido/suspenso. Idealmente, experimentos de longo prazo não devem ser iniciados nesse momento. O foco deve ser nas atividades que não podem ser interrompidas, como abastecimento de nitrogênio líquido e biotérios. Somente os próprios laboratórios serão capazes de identificar o que é essencial e não passível de interrupção.
G) As bancas de monografias, teses e dissertações devem ser adiadas ou ocorrer de forma remota, conforme diretrizes a serem publicadas em breve pela Pró-Reitoria de Graduação (PR-1) e pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PR-2).

H) Todos os concursos públicos para servidores efetivos e professores substitutos devem ser adiados.
I) Funcionamento normal dos restaurantes universitários nas unidades Restaurante Universitário (RU) Central e Centro de Tecnologia, até novas diretrizes.

Importante:
Em relação à manutenção das atividades essenciais, administrativas, assistenciais e de pesquisa, é preciso salientar o cuidado com servidores da UFRJ, terceirizados e discentes que apresentem sintomas de gripe ou resfriado. Nesse caso, TODOS devem entrar em quarentena produtiva (14 dias) e procurar atendimento médico caso ocorra agravamento do quadro respiratório.

A Reitoria da UFRJ está se reunindo com as empresas terceirizadas para que essas medidas de contingência sejam seguidas.

Como orientações adicionais, sugerimos que:

1. Acompanhem e sigam as recomendações gerais do Ministério da Saúde.

2. Acompanhem e sigam as recomendações específicas do Grupo de Trabalho da UFRJ sobre o Novo Coronavírus.

3. Não confiem em informações ou conselhos veiculados pelas redes sociais sem confirmação por entidades ou fontes oficiais.

A Reitoria da UFRJ recomenda, ainda, a manutenção das demais diretrizes de contingência da COVID-19, amplamente divulgadas no site www.coronavirus.ufrj.br.

O Grupo de Trabalho tem emitido instruções técnicas relevantes sobre as ações relacionadas à pandemia e, sempre que necessário, emitirá novas orientações.
Devemos confiar nas decisões que visam ao bem comum, respeitando-as. Todas as ações devem ser articuladas, programadas e voltadas a minimizar a propagação da doença. Essa pandemia não é razão para pânico, mas um momento de tomar as medidas de prevenção necessárias, com disciplina e tranquilidade.

Estamos trabalhando em articulação com o poder público e as empresas terceirizadas. Devemos, TODOS, estar conscientes de que as instruções mais específicas chegarão em breve. Nossa universidade é diversa.

Ações para evitar pânico ou algum tipo de injustiça estarão em nossas instruções normativas, que não são definitivas neste momento de crise.

 

É preciso diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, até que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática
Paulo Freire

As universidades e institutos de pesquisa brasileiros assumiram a vanguarda do enfrentamento ao coronavírus, contribuindo no desenho das projeções e cenários e na formulação de respostas que minimizem o custo social e humano. Os professores e pesquisadores da UFRJ - o que nos enche de orgulho, num momento tão carente de boas novas - contribuíram fortemente para a definição de protocolos internos e externos, e conscientização da sociedade sobre a gravidade da doença que, no dia 11 de março, escalou da categoria de endemia para pandemia. 

A pandemia, no entanto, nos alcançou num momento em que planejávamos iniciar um ciclo virtuoso de movimentos em defesa da universidade. 

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A greve nacional da educação, marcada para 18 de março, seria o começo desse processo, em que ocuparíamos as ruas para mostrar para a sociedade o trágico desmonte da educação pública. Na AdUFRJ, começamos a planejar o calendário ainda em janeiro, quando fizemos uma reunião do Observatório do Conhecimento, preparando atividades para o começo do semestre. 

Em fevereiro, mandamos a maior delegação da história da UFRJ ao congresso do Andes. Em março, visitamos as unidades da universidade, priorizando aquelas que ainda não possuem representação em nosso conselho. Na primeira sessão do CONSUNI apresentamos um manifesto contra a política do MEC de ataque às universidades - o texto foi aprovado por unanimidade. Também estivemos na plenária de decanos e diretores, convidando-os a somarem forças para enfrentarmos juntos esse período. Participamos de diversos fóruns da educação no RJ, reunindo sindicatos e entidades estudantis para preparar o ato do dia 18. Por fim, convocamos o Conselho de Representantes em 04 de março e a Assembleia para o dia 12 de março e em ambas defendemos nossa adesão à Greve Nacional da Educação de 18 de Março.

Durante essa jornada iniciada ainda no recesso, sentimos um clima de mobilização muito forte em nossa comunidade. Uma disposição animadora das e dos docentes para estar na rua no dia 18 em defesa da universidade, da educação, da democracia. Projetávamos um ato forte e que seria apenas o começo de uma onda de mobilizações ao longo do semestre. No entanto, o coronavírus nos atropelou, e nos exigiu decisões difíceis, responsáveis, e à altura de quem temos a honra de representar enquanto dirigentes sindicais docentes.  

Diante deste novo cenário, não restou alternativa: cancelamos os atos de rua no dia 18 de março aqui no Rio de Janeiro. Tratou-se de decisão coletiva e conjunta tomada pelas Frentes Brasil Popular, Frente Povo Sem Medo, e pelo conjunto de entidades representativas da educação, tais como os sindicatos de trabalhadores da educação da rede pública e privada, as associações universitárias, o movimento estudantil, etc. Combinamos de manter a mobilização nas redes, reforçando junto à população a importância da educação e das universidades. 

Fomos na direção certa enquanto Bolsonaro, em seu projeto autoritário de deslegitimar as instituições para governar, não só convocou manifestações para o dia 15, como ele mesmo se fez presente. 

Para nossa surpresa, contudo, setores dos movimentos educacionais ignoraram o acúmulo científico das nossas universidades sobre o coronavírus e, embarcando em uma narrativa de minimizar os efeitos da pandemia, defenderam até pouco tempo, tanto a manutenção dos atos de rua quanto das reuniões preparatórias. Foi o caso da direção do Andes – SN, que não só bancou a reunião presencial do setor das federais em Brasília nos dias 14 e 15, como participou de um ato de rua, no mesmo dia 15, e na mesma Brasília.

Nós, da AdUFRJ, tentamos participar virtualmente da reunião do fim de semana do Andes, mas nos responderam que isso não está previsto nos estatutos!!!!!! Trata-se de uma atitude irresponsável, no momento em que as universidades de todo o país iniciam um processo de quarentena para proteger a sociedade, que visa reduzir e retardar o avanço da epidemia em nosso país. Com essa atitude, negando as reuniões em ambientes virtuais, ficaremos com o movimento docente paralisado nacionalmente, à espera de condições para realizar as plenárias presenciais!

Na reunião do setor das federais, a grande decisão foi a confirmação de um indicativo de greve nacional por tempo indeterminado, aprovado por 43 das 48 ADs presentes, embora a grande maioria tenha se posicionado por não definir uma data para que isso aconteça. Foi formado um comando nacional unificado junto com a FASUBRA e SINASEFE. 

A pergunta que gostaríamos de fazer é: com as universidades paralisadas, as manifestações e aglomerações proibidas, o que significa convocar greve por tempo indeterminado e atos públicos? Mesmo que a greve não tenha data para começar, que seja para depois que as universidades voltarem a funcionar,eles indicam para a população que tipo de movimento estamos construindo.

Esse é o momento em que os serviços de saúde serão mais importantes do que nunca, incluindo aí aqueles que estão dentro das universidades. O momento em que precisamos fortemente de apoio social às nossas causas é o mesmo que precisamos assumir o protagonismo no combate aos efeitos do Coronavírus na população em geral e nos mais pobres em particular. Essa é a nossa grande responsabilidade nesse momento.

E isso não se separa da nossa luta em defesa da educação e da saúde pública, não se separa do nosso compromisso com a democracia e a defesa do direito à vida. Precisamos mais do que nunca concentrar todas as nossas energias na proposição de novas formas de ação, de novas formas de pressionar o congresso, que irá votar as PECs emergenciais. O dia 18 ganha para nós um novo significado, ele precisa ser o início de um outro tipo de mobilização, que deverá buscar uma ocupação intensiva do espaço virtual e que não nos deixe reféns da situação que vivemos hoje. Precisamos promover a circulação de informação confiável e conectar aqueles que defendem a educação, a saúde e a democracia. É para isso que estamos trabalhando e em breve apresentaremos a nossa proposta de atuação nesses dias de quarentena. A hora é de extrema gravidade. Tenhamos a ousadia de estarmos à altura dos desafios que se apresentam.

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Lucas Abreu
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É nossa primeira reunião do Conselho dos Representantes, nesse que parece ser um dos anos mais difíceis das últimas décadas da história do Brasil.” Com essa fala a presidente da AdUFRJ, Eleonora Ziller, abriu a reunião do Conselho de Representantes de 2020, que aconteceu na quarta-feira (04) no Centro de Tecnologia. A reunião foi dedicada a debater as ações para a assembleia de professores que acontece no próximo dia 12, e a greve nacional da Educação, marcada para 18 de março. Na fala de abertura, Eleonora lembrou dos últimos ataques do governo à educação, no final de 2019, e mencionou a importância dos representantes na mobilização dos professores para uma ampla participação na assembleia da categoria.

A reunião contou com a presença de mais de 30 conselheiros. Boa parte do tempo foi dedicada à discussão sobre a greve. O principal ponto de divergência foi em relação à adoção da paralisação sem tempo determinado. Um grupo de professores defendeu essa posição, lembrando do histórico de lutas dos professores universitários, e da necessidade de radicalização da luta. “Estamos enfrentando um desmonte da educação em tempos de um governo como o de Bolsonaro. É preciso enfrentar de frente”, disse a professora Fernanda Vieira, do NEPP-DH.

Outro grupo achou precipitado falar em greve por tempo indeterminado agora, considerando mais importante definir a defesa da educação como pauta central para a greve do dia 18. A ideia seria pensar novas estratégias de mobilização e luta num momento posterior. “Este governo é diferente de tudo que já enfrentamos. É preciso pensar em novas maneiras de mobilização”, defendeu o diretor da AdUFRJ Josué Medeiros.

Mesmo diante de divergências, houve consenso sobre a importância da assembleia e da greve geral do dia 18 para a mobilização dos professores.
“Apesar das diferentes posições, a reunião foi muito positiva por mostrar a convergência dos professores com relação à greve do dia 18, e a sua importância para a construção do movimento”, analisou a presidente da AdUFRJ.

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Lucas Abreu
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No fim de fevereiro a Capes anunciou mudanças na política de concessão de bolsas de pesquisa, que acabaram criando uma contradição. Pelos novos critérios, além da nota na avaliação da Capes, também será considerado o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal das cidades onde estão os programas de pós-graduação. A nova regra indica que um programa de pós-graduação localizado em área com IDHM mais baixo teria o dobro de bolsas de um semelhante em cidade com índice maior. Ocorre que um levantamento feito pela Folha mostrou que 95% dos programas de pós estão em cidades com IDHM classificado como alto ou muito alto, e os demais 5% não atendem aos requisitos necessários para receber as bolsas.

A expectativa é de reduzir a desigualdade do volume de recursos destinados entre regiões mais ricas e mais pobres do país. Mas no atual cenário de desmonte da educação e da pesquisa, a medida oferece riscos. A Capes prevê para 2020 um orçamento R$ 1,1 bilhão menor que o do ano passado, que já teve a suspensão de 7.590 bolsas. O temor é que no médio prazo os novos critérios inibam a utilização de recursos mesmo para programas de excelência.

Para a presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos, a questão central da discussão é o orçamento. “Se o problema do financiamento não for resolvido, vai ser apenas uma gestão da escassez”, avalia Flávia Calé.

Para a pesquisadora, o cenário pode acentuar a concentração de bolsas em programas com nota 6 e 7. “Existem programas com conceito 3 e 4 que são importantes para qualificar profissionais, especialmente da área pública”, disse. “Não são pesquisas de ponta, mas têm um papel importante no desenvolvimento econômico local”, defende.

Para a ANPG, a redução de recursos para pesquisa tende a asfixiar programas com notas 3 e 4. “Quando houve o corte das 7.590 bolsas ano passado, a região que proporcionalmente mais perdeu recursos foi o Nordeste”, lembra Calé.

Outra decisão do atual governo que pode prejudicar novos programas de pós-graduação foi anunciada em junho passado. Uma portaria da Capes determinou que os programas só receberão bolsas de pesquisas a partir do seu segundo ano de funcionamento.

De acordo com o superintendente Acadêmico de Pesquisa da Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa da UFRJ, professor José Luis da Silveira, ainda não é possível saber os impactos das mudanças. “A Capes iria divulgar no último dia 28 a relação de bolsas, mas não o fez”, conta. “Os novos critérios foram anunciados depois que a seleção já havia sido feita.”

Para o superintendente, haveria dois motivos para ficar otimista em relação à distribuição de bolsas para a UFRJ. O primeiro é que, de acordo com a Capes, nenhum programa vai perder mais de 10% de suas bolsas. O segundo é que a cidade do Rio está na faixa de IDHM alto, a segunda maior. Mesmo assim, o cenário é preocupante. “Em um governo que estava decidindo políticas para pesquisa de maneira tão autoritária, as medidas acabam sendo suavizantes”, explica. “Pelos termos, a concessão de bolsas pode ser revista pela Capes, então o que acontece se não houver orçamento?”, questiona.

O coordenador-geral da Associação de Pós-Graduandos da UFRJ, Igor Alves Pinto, vê as mudanças com preocupação.

“Como fazer um planejamento desses se a cada ano o orçamento diminui?”, indaga o pesquisador. “Sem mencionar que já são sete anos sem reajustes das bolsas de pesquisa, o que gera uma grande desvalorização do trabalho do pós-graduando”.

No dia 18, a APG e a ANPG estarão juntas na greve geral da Educação contra os ataques à área. As principais reivindicações são: o reajustes das bolsas, a reativação das bolsas cortadas em 2019 e a recomposição do orçamento da Capes. “Queremos construir um ato unificado também com a AdUFRJ e o Sintufrj, em defesa da Educação”, diz.

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Giulia Ventura
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Em meio à crescente desvalorização da ciência no país, duas mulheres brasileiras despontaram no mundo nos últimos dias. Elas são as cientistas que comandaram o sequenciamento do genoma do novo coronavírus, que recebeu o nome de SARS-CoV-2. O mapeamento teve fim no dia 28 de fevereiro, dois dias após a primeira confirmação de infecção na América Latina, que aconteceu em São Paulo. A rapidez em decifrar o novo vírus gerou um recorde no mundo, já que outros países têm levado em média 15 dias na divulgação dos resultados de seus sequenciamentos.

O trabalho foi conduzido por pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz, do Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da USP e da Universidade de Oxford. Eles fazem parte de um projeto chamado Cadde, apoiado pela Fapesp e pelo Medical Research Centers, do Reino Unido.

Ester Sabino é diretora do Instituto de Medicina Tropical da USP e coordenadora do Brazil-UK Centre for Arbovirus Discovery, Diagnosis, Genomics and Epidemiology (CADDE), que desenvolve novas técnicas para monitorar epidemias em tempo real e ajudar o serviço de saúde. Em entrevista à BBC, a docente explica que a capacidade de sequenciar rapidamente um vírus, principalmente no início de uma epidemia, é muito importante para ajudar na tomada de decisões. “Vamos supor que apareça outro caso em São Paulo: se você tem a sequência, você pode responder com mais rapidez se o vírus já está circulando a nível local”, esclarece a professora.

Jaqueline Goes de Jesus é pós-doutoranda da Faculdade de Medicina da USP e bolsista daFundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). De acordo com ela, é normal que, quando o vírus está se “instalando” no corpo de um novo hospedeiro, haja erros no processo de replicação de seu material genético. “São mutações que, ao acaso, podem causar tanto uma vantagem adaptativa quanto deixar o patógeno menos infeccioso”, explica.

Os dois casos brasileiros de infecção pelo novo coronavírus podem ser exemplos do que a pesquisadora aponta: o primeiro possui cepas semelhantes ao que foi sequenciado na região da Bavária, na Alemanha. E o segundo, traços similares aos encontrados na Inglaterra. Ambos diferentes das sequências de Wuhan, epicentro da epidemia. “Ao sequenciar o genoma do vírus, ficamos mais perto de saber a origem da epidemia.

Sabemos que os casos confirmados no Brasil vieram da Itália, contudo, os italianos ainda não sabem a origem do surto na região da Lombardia, pois ainda não fizeram o sequenciamento de suas amostras”, diz. “Não têm ideia de quem é o paciente zero e não sabem se ele veio diretamente da China ou passou por outro país antes”, completa Jaqueline de Jesus.

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