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É preciso diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, até que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática
Paulo Freire

As universidades e institutos de pesquisa brasileiros assumiram a vanguarda do enfrentamento ao coronavírus, contribuindo no desenho das projeções e cenários e na formulação de respostas que minimizem o custo social e humano. Os professores e pesquisadores da UFRJ - o que nos enche de orgulho, num momento tão carente de boas novas - contribuíram fortemente para a definição de protocolos internos e externos, e conscientização da sociedade sobre a gravidade da doença que, no dia 11 de março, escalou da categoria de endemia para pandemia. 

A pandemia, no entanto, nos alcançou num momento em que planejávamos iniciar um ciclo virtuoso de movimentos em defesa da universidade. 

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A greve nacional da educação, marcada para 18 de março, seria o começo desse processo, em que ocuparíamos as ruas para mostrar para a sociedade o trágico desmonte da educação pública. Na AdUFRJ, começamos a planejar o calendário ainda em janeiro, quando fizemos uma reunião do Observatório do Conhecimento, preparando atividades para o começo do semestre. 

Em fevereiro, mandamos a maior delegação da história da UFRJ ao congresso do Andes. Em março, visitamos as unidades da universidade, priorizando aquelas que ainda não possuem representação em nosso conselho. Na primeira sessão do CONSUNI apresentamos um manifesto contra a política do MEC de ataque às universidades - o texto foi aprovado por unanimidade. Também estivemos na plenária de decanos e diretores, convidando-os a somarem forças para enfrentarmos juntos esse período. Participamos de diversos fóruns da educação no RJ, reunindo sindicatos e entidades estudantis para preparar o ato do dia 18. Por fim, convocamos o Conselho de Representantes em 04 de março e a Assembleia para o dia 12 de março e em ambas defendemos nossa adesão à Greve Nacional da Educação de 18 de Março.

Durante essa jornada iniciada ainda no recesso, sentimos um clima de mobilização muito forte em nossa comunidade. Uma disposição animadora das e dos docentes para estar na rua no dia 18 em defesa da universidade, da educação, da democracia. Projetávamos um ato forte e que seria apenas o começo de uma onda de mobilizações ao longo do semestre. No entanto, o coronavírus nos atropelou, e nos exigiu decisões difíceis, responsáveis, e à altura de quem temos a honra de representar enquanto dirigentes sindicais docentes.  

Diante deste novo cenário, não restou alternativa: cancelamos os atos de rua no dia 18 de março aqui no Rio de Janeiro. Tratou-se de decisão coletiva e conjunta tomada pelas Frentes Brasil Popular, Frente Povo Sem Medo, e pelo conjunto de entidades representativas da educação, tais como os sindicatos de trabalhadores da educação da rede pública e privada, as associações universitárias, o movimento estudantil, etc. Combinamos de manter a mobilização nas redes, reforçando junto à população a importância da educação e das universidades. 

Fomos na direção certa enquanto Bolsonaro, em seu projeto autoritário de deslegitimar as instituições para governar, não só convocou manifestações para o dia 15, como ele mesmo se fez presente. 

Para nossa surpresa, contudo, setores dos movimentos educacionais ignoraram o acúmulo científico das nossas universidades sobre o coronavírus e, embarcando em uma narrativa de minimizar os efeitos da pandemia, defenderam até pouco tempo, tanto a manutenção dos atos de rua quanto das reuniões preparatórias. Foi o caso da direção do Andes – SN, que não só bancou a reunião presencial do setor das federais em Brasília nos dias 14 e 15, como participou de um ato de rua, no mesmo dia 15, e na mesma Brasília.

Nós, da AdUFRJ, tentamos participar virtualmente da reunião do fim de semana do Andes, mas nos responderam que isso não está previsto nos estatutos!!!!!! Trata-se de uma atitude irresponsável, no momento em que as universidades de todo o país iniciam um processo de quarentena para proteger a sociedade, que visa reduzir e retardar o avanço da epidemia em nosso país. Com essa atitude, negando as reuniões em ambientes virtuais, ficaremos com o movimento docente paralisado nacionalmente, à espera de condições para realizar as plenárias presenciais!

Na reunião do setor das federais, a grande decisão foi a confirmação de um indicativo de greve nacional por tempo indeterminado, aprovado por 43 das 48 ADs presentes, embora a grande maioria tenha se posicionado por não definir uma data para que isso aconteça. Foi formado um comando nacional unificado junto com a FASUBRA e SINASEFE. 

A pergunta que gostaríamos de fazer é: com as universidades paralisadas, as manifestações e aglomerações proibidas, o que significa convocar greve por tempo indeterminado e atos públicos? Mesmo que a greve não tenha data para começar, que seja para depois que as universidades voltarem a funcionar,eles indicam para a população que tipo de movimento estamos construindo.

Esse é o momento em que os serviços de saúde serão mais importantes do que nunca, incluindo aí aqueles que estão dentro das universidades. O momento em que precisamos fortemente de apoio social às nossas causas é o mesmo que precisamos assumir o protagonismo no combate aos efeitos do Coronavírus na população em geral e nos mais pobres em particular. Essa é a nossa grande responsabilidade nesse momento.

E isso não se separa da nossa luta em defesa da educação e da saúde pública, não se separa do nosso compromisso com a democracia e a defesa do direito à vida. Precisamos mais do que nunca concentrar todas as nossas energias na proposição de novas formas de ação, de novas formas de pressionar o congresso, que irá votar as PECs emergenciais. O dia 18 ganha para nós um novo significado, ele precisa ser o início de um outro tipo de mobilização, que deverá buscar uma ocupação intensiva do espaço virtual e que não nos deixe reféns da situação que vivemos hoje. Precisamos promover a circulação de informação confiável e conectar aqueles que defendem a educação, a saúde e a democracia. É para isso que estamos trabalhando e em breve apresentaremos a nossa proposta de atuação nesses dias de quarentena. A hora é de extrema gravidade. Tenhamos a ousadia de estarmos à altura dos desafios que se apresentam.

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