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WhatsApp Image 2021 07 02 at 22.31.45Divulgação/MTSTA vacina já começou a chegar nos braços dos brasileiros, mas os pratos de milhões de pessoas ainda estão vazios. Estudo do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da USP mostra que o Brasil terá este ano 61,1 milhões de pessoas vivendo na pobreza e 19,3 milhões na extrema pobreza. Em 2019, eram 51,9 milhões e 13,9 milhões, respectivamente. Na prática, esse brutal aumento significa fome e falta de moradia.
Na semana passada, 150 famílias ligadas ao Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) ocuparam um prédio do governo do Estado do Rio. A ocupação foi duramente reprimida pela Polícia Militar e, depois de uma negociação entre representantes do MLB e a Secretaria Estadual de Obras, o prédio foi desocupado sob a promessa das autoridades de encontrar um teto para cada uma das famílias. São mulheres, homens e crianças que traduzem o sintoma de um país que testemunha a pobreza aumentar, especialmente depois da pandemia.
Segundo Paula Guedes, coordenadora do MLB no Rio, a ocupação estava programada desde março do ano passado, mas a pandemia adiou os planos. No final de junho, no entanto, a situação econômica dramática da população tornou a ocupação necessária, mesmo diante dos riscos. “Fazer uma ocupação durante a pandemia é arriscado, mas as condições em que a maior parte dessas famílias vive é muito pior. Viver em uma ocupação seria mais seguro”, explicou Paula. Ela garantiu que durante todo o período da ocupação foram tomadas medidas de segurança, com o uso de máscara e a distribuição de itens de higiene.WhatsApp Image 2021 07 02 at 22.33.32Divulgação/MLB
Nos últimos meses, Paula tem visto de perto o aumento da pobreza. “Muitas pessoas perderam o emprego. Trabalhadores informais estão sem trabalho. E todos assistindo ao custo de vida aumentar”, contou. “O ‘Minha casa, Minha Vida’ foi extinto, e o programa que o substituiu exclui famílias que ganham de zero a três salários-mínimos, justamente as mais pobres”, explicou. Para a militante, a ocupação também é uma maneira de pressionar o poder público. “A solução ideal para o problema da moradia é através de programas públicos que garantam não só o teto, mas o acesso ao trabalho, aos estudos, ao lazer. A forma de conseguir isso é através de programas públicos”, defendeu.

REFLEXÃO
“A pobreza e extrema pobreza seguem afetadas pelo elevado desemprego. A pandemia apenas agrava esse quadro, com a redução principalmente do emprego informal, que absorve proporcionalmente mais os mais pobres”, explicou a professora Celia Lessa Kerstenetzky, do Instituto de Economia da UFRJ. Para ela, o crescimento do Produto Interno Bruto no último trimestre — que pôs o PIB brasileiro no patamar de antes da pandemia — não atingiu os mais pobres por ter sido alavancado pelo setor agroexportador, que emprega pouco. E o cenário pode piorar, mesmo se o Brasil entrar em um ciclo de crescimento econômico. “Podemos estar em um cenário de crescimento com aumento de desigualdade, e até aumento da pobreza, se o crescimento não gerar empregos, especialmente empregos de qualidade”, avaliou a professora.
“O que estamos observando é uma recuperação econômica mentirosa. Esse resultado é desconectado de qualquer melhoria em termo de emprego e redução de renda das pessoas. Significa puramente um aumento do lucro dos exportadores”, classificou o economista Daniel Negreiros Conceição, professor do IPPUR-UFRJ.
Para ele, o cenário pode ser mais grave do que o imaginado, uma vez que a queda do PIB no ano passado só não foi pior graças ao auxílio emergencial. E uma política de corte de gastos, como a do ministro da Economia, Paulo Guedes, pode colocar o Brasil em um ciclo de recessão.
Para Daniel, o desemprego será fator importante na crise que se avizinha. o professor diz que há um divórcio entre o desemprego oficial — são 14,8 milhões de desempregados, segundo o IBGE — e essa massa de trabalhadores precarizados ou em desalento (os que não procuram mais por trabalho). “Quando essas pessoas forem para o mercado, seja porque o auxílio emergencial foi extinto ou por desespero, vamos ter uma explosão assustadora”, previu.
O compromisso do governo com a austeridade é, segundo Daniel, um entrave à retomada da economia. “A única forma de evitar isso é se o governo conseguir estancar a pandemia dando um estímulo para que se encerre esse ciclo depressivo iniciado com a ela”, propôs o professor. A pandemia pôs em recessão uma economia que já vinha “capenga”, e o Brasil entrou em um ciclo recessivo. “Para sair disso é preciso dar um estímulo. E um governo que está comprometido com ajuste fiscal a todo custo vai na contramão do que deve ser feito”, defendeu.

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WhatsApp Image 2021 07 02 at 22.30.35Os que defendem a democracia, a ética e a vida colecionaram nos últimos sete dias mais alguns bons motivos para ir às ruas de todo o país neste sábado (3) e gritar bem alto “fora, Bolsonaro!”. A cronologia de denúncias e acontecimentos mostram que, definitivamente, não foi uma semana edificante para o desgoverno do genocida. O turbilhão começou na sexta-feira passada (25), com o depoimento dos irmãos Miranda à CPI do Senado, levando o escândalo de compra das vacinas para o colo do presidente da República: alertado pelos irmãos, em reunião em 20 de março, sobre suspeitas de irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin, Bolsonaro teria dito que levaria o caso à Polícia Federal e que seria mais um “rolo do Ricardo Barros” (deputado federal pelo PP-PR, líder do governo na Câmara e um dos próceres do Centrão). Mas nada fez. Nesta sexta (2), após ser convidada a trabalhar pela ministra Rosa Weber, do STF, a Procuradoria-Geral da República promoveu a abertura de inquérito para investigar o presidente por prevaricação.
A instauração do inquérito pela PGR foi o ápice de uma semana de fortes emoções. Diante da repercussão do depoimento dos irmãos Luis Miranda (DEM-DF), deputado federal, e Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde — este denunciou ter sofrido pressões de superiores para liberar pagamento antecipado de US$ 45 milhões por um lote da Covaxin, por meio de uma empresa de paraíso fiscal que sequer constava do contrato —, as entidades do campo progressista que organizam os protestos de rua contra Bolsonaro decidiram antecipar de 24 para 3 de julho os próximos atos em todo o Brasil. “Acho que foi acertada a antecipação. Essas denúncias não podem passar em branco, o governo talvez esteja no seu momento de maior fragilidade, e temos que explorar esse momento. É hora de todo mundo ir pra rua para pôr um fim a esse governo”, avaliou o professor Felipe Rosa, vice-presidente da AdUFRJ.
Contribuiu muito para a decisão de antecipar os protestos a notícia-crime protocolada no Supremo Tribunal Federal pelos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Fabiano Contarato (Rede-ES) e Jorge Kajuru (Podemos-GO), na última segunda-feira (28). Os parlamentares sustentam que Bolsonaro — que, até o fechamento desta edição, não havia desmentido os irmãos Miranda — cometeu crime de prevaricação ao não determinar a abertura de investigação sobre a compra da Covaxin após ser alertado. “São novas revelações a cada dia, as coisas vão ficando mais explícitas. Com isso também cresce a indignação, a revolta, e as pessoas podem se sentir mais encorajadas a ir às ruas protestar. Esse governo está se desmanchando em todas as suas mentiras, e precisamos que essa mobilização popular cresça cada vez mais”, defendeu a professora Eleonora Ziller, presidente da AdUFRJ.

PIOR A EMENDA QUE O SONETO
Diante da mais séria denúncia de corrupção contra seu governo, e que a partir de então vem guiando os passos da investigação da CPI, Bolsonaro acusou o golpe. Além de ficar em silêncio, o presidente designou o ministro da Secretaria-Geral, Onyx Lorenzoni, para tentar, em coletiva, desqualificar e coagir o servidor Luis Ricardo Miranda, peça-chave na denúncia. Onyx disse que o servidor mostrara um documento fraudado — o que logo a CPI tratou de desmentir — e que o denunciante seria alvo de investigação. Na CPI, Onyx foi duramente criticado por coação a uma testemunha.
Como desqualificar o servidor não deu certo, o Planalto montou uma segunda versão: a de que Bolsonaro passara a denúncia dos irmãos Miranda ao então ministro Eduardo Pazuello no dia 22 de março, e que este, por sua vez, designara o então secretário-executivo Élcio Franco para apurar. Tudo isso nos últimos momentos de Pazuello à frente do ministério — ele foi exonerado em 23 de março, dando lugar a Marcelo Queiroga. Segundo o Planalto, em poucos dias, o zeloso coronel Élcio Franco não descobrira nada de anormal e a denúncia teria sido descartada. Como se varresse o problema para baixo do tapete, o Ministério da Saúde suspendeu esta semana, três meses após a denúncia, o contrato para a compra da Covaxin.

SILÊNCIO E ESPELHO
Entre os depoimentos desta semana na CPI, causou constrangimento e indignação o silêncio ensurdecedor do empresário bolsonarista Carlos Wizard diante de um vídeo em que ele ria de pessoas que morreram de covid-19, na quarta-feira (30). Na quinta, em história rocambolesca, o PM bolsonarista e aprendiz de caixeiro-viajante Luiz Paulo Dominguetti, foi chamado a depor na CPI por ter afirmado à Folha de S.Paulo ter recebido do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina para fechar contrato. O momento mais tenso foi quando ele sacou um áudio do celular com uma suposta negociação por vacinas feita pelo deputado Luis Miranda. O áudio, na verdade, tratava da compra de luvas, estava editado e levantou suspeitas de que fosse “plantado” na CPI para desqualificar Miranda. O celular de Dominguetti foi apreendido.
Bolsonaro rompeu o silêncio em viagem a Mato Grosso do Sul, na quarta-feira, onde afirmou a apoiadores: “Não vai ser com mentiras ou com CPI, integrada por sete bandidos, que vão nos tirar daqui”. Ao tomar conhecimento, durante a sessão, da declaração de Bolsonaro, o presidente do colegiado, senador Omar Aziz (PSD-AM), rebateu: “Presidente, pare de olhar no espelho e falar com ele. Quando a gente fala com o espelho, dá nisso”.
Certamente colaborou para mais uma explosão de Bolsonaro o ato em Brasília, na mesma quarta-feira, de entrega de um superpedido de impeachment, que reuniu até mesmo ex-aliados do presidente, como os deputados federais Joice Hasselmann (PSL-SP), Kim Kataguiri (DEM-SP) e Alexandre Frota (PSDB-SP). Com 46 assinaturas e 271 páginas, o pedido foi protocolado na Câmara. O texto foi elaborado pela Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), atribui a Bolsonaro 23 crimes de responsabilidade e congrega mais de 120 pedidos já protocolados na Câmara desde o início da gestão do genocida. O deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), líder da oposição na Câmara, espera que pressão popular impulsione o movimento: “As últimas denúncias de corrupção na compra de vacinas trazem mais força ainda ao pedido”, afirmou.
Para que um processo de impeachment seja aberto, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aliado do governo, precisa aceitá-lo. E ele já firmou que, para isso, é preciso “disposição política”. Seria louvável se Lira seguisse o exemplo da ministra Rosa Weber, do STF, que não guardou na gaveta uma resposta da PGR à sua consulta sobre a notícia-crime por prevaricação apresentada pelos três senadores contra o presidente Bolsonaro. Rosa não aceitou a alegação da PGR de que seria melhor aguardar a conclusão da CPI para só então avaliar o pedido e passou um “pito” nos senhores procuradores. Ao devolver a resposta da PGR, a ministra afirmou que o órgão “desincumbiu-se de seu papel constitucional”: “O exercício do poder público, repito, é condicionado. E no desenho das atribuições do Ministério Público, não se vislumbra o papel de espectador das ações dos Poderes da República”, escreveu Rosa. Se alguém aí pensou em Augusto Aras, acertou.
Nesta sexta, além do inquérito contra Bolsonaro por prevaricação finalmente aberto pela PGR — quem assina o documento é o vice-procurador-geral Humberto Jaqcues de Medeiros —, o governo sofreu mais um revés. A Procuradoria da República do Distrito Federal (PR-DF) abriu uma ação por improbidade administrativa contra o ex-ministro Eduardo Pazuello, que agora despacha em uma sala do Palácio do Planalto. A ação elenca irregularidades como omissão na compra de vacinas e adoção ilegal do chamado tratamento precoce com medicamentos sem comprovação científica contra a covid-19, como a cloroquina. O processo aponta prejuízo de pelo menos R$ 122 milhões e diz que Pazuello agiu de forma dolosa.
Talvez a “disposição política” a que Lira se referiu esteja mais próxima do que ele imagina.

WhatsApp Image 2021 06 24 at 19.57.06Que tal assistir ao documentário “Jango” (1984) e, logo em seguida, discutir o filme com o próprio diretor, Silvio Tendler? Ou conversar com um cineasta indígena, direto do Xingu, sobre produções audiovisuais que abordam o cotidiano das aldeias? Ou, ainda, com ajuda do historiador Francisco Carlos Teixeira, identificar os traços autoritários da sociedade atual no cinema italiano do século XX? Este “cardápio”, diversificado e de qualidade, tem sido a marca do CineAdUFRJ, que completa 20 sessões na próxima semana.
O cine nasceu de uma parceria entre o sindicato e o Grupo de Educação Multimídia (GEM) da Faculdade de Letras, no início das medidas de isolamento social. A primeira sessão ocorreu em 29 de abril de 2020, sobre o filme “Você não estava aqui”, do cineasta britânico Kean Loach, debatendo o universo do trabalho contemporâneo. “A nossa preocupação era como fazer a universidade ter uma vida cultural online na pandemia”, explica a presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller. As sessões, realizadas na plataforma Zoom, são abertas. Os links são divulgados previamente na página do GEM e nas mídias do sindicato.
E vida cultural intensa é o que não falta no cineclube, que discute temas da conjuntura através da interpretação de grandes clássicos, produções independentes e mesmo do cinemão comercial. “Trabalhamos com fragmentos de filmes, apresentando olhares diferentes sobre um mesmo tema”, diz Eleonora. Para ninguém ficar perdido, em toda sessão é apresentada uma “costura” dos pedaços de cada obra.
A presidente da AdUFRJ entende que a iniciativa tem tudo para crescer e se tornar uma atividade permanente do sindicato. “Há muitos núcleos que discutem cinema na UFRJ. Na Educação, na Comunicação, em diversas áreas”, afirma. “Espero que a ideia frutifique, que novos vínculos sejam construídos para o futuro”.
“AMPLIAMOS O ALCANCE”
A criação do cineclube também foi vantajosa para o GEM/Letras, que é voltado para a formação de professores de linguagens. Atividades ligadas ao cinema, claro, faziam parte do projeto. Mas a cooperação com o sindicato potencializou esta parte desenvolvida pelo grupo. “Sistematizamos a prática, ampliamos o alcance do debate e aprofundamos os temas”, diz o professor Paulo Maia, que faz parte da coordenação desde 2016.
A proposta está em constante aperfeiçoamento. Um exemplo é a redução do tempo para as apresentações iniciais dos convidados. “Antes, a gente dava 20 minutos e percebemos que isso era uma enormidade na internet”, acrescenta o docente da Letras, que enfatiza não haver perda de conteúdo. “Depois, no debate, o palestrante pode aprofundar o tema”. Outro critério desenvolvido ao longo do cineclube é manter, entre os especialistas, pelo menos um representante da universidade e um debatedor externo.
Ao fim de cada sessão, recomeça o trabalho para produzir a próxima. Temas são sugeridos, avaliados e preparados em conjunto entre os estudantes e professores. “Faz parte da construção coletiva e democrática do próprio projeto”, diz Paulo.
Entre todas as sessões, o professor chamou atenção para um fato da edição de 26 de agosto, que abordou o protagonismo indígena no cinema. O cineasta Takumã Kuikuro participou diretamente de sua aldeia, no Xingu, graças a um equipamento movido a energia solar. “Podemos dizer que realizamos o cineAdUFRJ no coração da Amazônia. Pudemos trazer o Xingu para a UFRJ e levar a UFRJ para o Xingu”, relata Paulo.
Com mais de um ano de duração, o cineadufrj já produziu outras curiosidades. Uma delas é que o professor José Carlos Félix, da Universidade Estadual da Bahia, convidado em outubro passado para falar sobre direito à cidade, acabou se tornando um sócio de carteirinha do evento. “Foi amor à primeira participação”, brinca o coordenador do GEM.
A vida longa do projeto já era um desejo dos organizadores. “O que não imaginávamos era que o formato online fosse durar tanto. A gente não vê a hora de voltar às atividades presenciais para manter o cineclube presencial e aproveitar a vantagem dessas plataformas digitais para ampliar a participação dos convidados e interessados”, afirma Paulo.
Os estudantes também elogiam a parceria com o sindicato. Hoje professora substituta do Departamento de Letras da UFRRJ, Sabrina Lopes ingressou nas atividades do GEM durante o doutorado na UFRJ. Segundo ela, que segue colaborando com o grupo mesmo após a conclusão do curso, a experiência ajuda muito seu trabalho atual, em tempos de aulas remotas. O cineadufrj se tornou uma de suas referências. “Estou dando um curso de análise do discurso. Os debates me trouxeram referências e um olhar para a linguagem que eu não tinha”, observa.

Questão palestina

O cineclube não foge de temas polêmicos. A próxima sessão, no dia 30, às 18h30, vai debater a questão palestina com Michel Gherman, historiador, professor e coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos da UFRJ e Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil.,
O contexto dos ataques entre os dois lados nas últimas semanas e da mudança do primeiro-ministro israelense motivou a realização do painel. “Vimos uma oportunidade de entender as raízes do problema é como ele se transforma”, diz o coordenador do GEM, que ainda pretende discutir o negacionismo da Ciência e a matriz energética dentro do cineclube.

bandeira adufrjDiretoria da AdUFRJ

Alguma coisa acontece em Brasília. Novas revelações na CPI da Covid, denúncias na compra das vacinas indianas, suspeição de Moro ampliada a todos os processos de Lula e Ricardo Salles se demite. O presidente perde as estribeiras com a jornalista Laurene Santos, Mourão se insinua como alternativa. E, ao fundo deste cenário, sustentando o coro dos descontentes, tivemos centenas de manifestações em todo o país, no dia 19 de junho. Ganha corpo e voz a dor dos mais de 500.000 mortos pela pandemia desde fevereiro do ano passado. Cresce na população a percepção de que esse número poderia ser diferente, se tivéssemos uma autoridade sanitária nacional que, ao menos, respeitasse os requisitos mínimos de proteção e contenção da transmissibilidade do vírus.
Na próxima semana, mais um superpedido de impeachment será encaminhado ao presidente do Congresso. Acumulam-se mais de uma centena deles no colo da Presidência da Câmara. E continuamos a nos perguntar (alguns atônitos): o que falta para que seja aberto o processo?
Na verdade, não falta muita coisa e sobra dinheiro. O Congresso está dominado pelo “orçamento paralelo”, alimentado por muitos cargos e comissões. Mas a incômoda verdade que presenciamos dia a dia é a existência ainda de uma base significativa de apoio ao que chamamos de bolsonarismo, que ainda sustenta quase 30% de aprovação do governo nas últimas pesquisas. A desidratação do governo é lenta, muito mais lenta do que gostaríamos.
Entramos nos nossos parcos dias de recesso, precisamos respirar e nos recompor para o que nos aguarda no início do ano acadêmico de 2021. Reforma administrativa, Reuni digital, cortes orçamentários, privatizações e destruição do Estado brasileiro: não são poucos os desafios que nos aguardam. No dia 7 de maio, apontamos que precisávamos nos preparar para ocupar as ruas, no dia 14 estivemos com os estudantes e as demais entidades da UFRJ pela primeira vez em uma manifestação presencial, desde que foi cancelada a de 18 de março de 2020. Já realizamos duas manifestações unitárias, que foram também bastante pedagógicas: 100% das pessoas utilizavam máscaras, portavam álcool em gel (que também estavam sendo distribuídos pelas entidades) e a maioria das pessoas respeitando o devido distanciamento. Podemos sair em segurança, mesmo que seja por pouco tempo, ao ar livre, com todos os cuidados. Que esses primeiros passos possam encorajar mais e mais pessoas. Na próxima manifestação, dia 24 de julho, o período letivo estará na sua segunda semana, muitos já terão tomado até a segunda dose da vacina. Vamos trabalhar para construir uma participação ainda mais significativa da UFRJ nessas manifestações
Há muito sabemos que o que está em jogo é o futuro e a sobrevivência da universidade pública. Desde o início deste governo temos alertado para o seu caráter antidemocrático e suas intenções golpistas. Há uma decisão que cabe a todos nós nesse momento e, para que ela seja tomada, não precisamos esperar o dia 24 de julho. Em cada esquina, em cada balcão de padaria ou farmácia, precisamos estar alertas e disponíveis, explicar e explicar o significado da crise que vivemos, das perdas que sofremos.
Ao iniciarmos o fechamento dessa edição do jornal, recebemos os vídeos e fotos do presidente da República no Rio Grande do Norte ensinando crianças a não utilizarem as máscaras de proteção. A atitude não é nova, mas, ao ultrapassarmos o número de mais de meio milhão de mortos, ela se torna a marca do escárnio com que Bolsonaro vem tratando o problema. Zomba de nossa dor, afronta os princípios mais elementares de defesa da vida. Por todos nós, por nossas crianças, pelo nosso futuro, seguiremos nas ruas, nas redes, onde pudermos: #FORA BOLSONARO.

WhatsApp Image 2021 06 24 at 19.56.08Foto: Fernando SouzaDepois de 15 meses de isolamento social, e com uma terceira onda da pandemia no horizonte próximo, é claro que eu tive medo de ir para a rua, no meio de uma multidão. Mas venci o temor e, mesmo sem saber como reagiria no meio de tanta gente, fui para a Presidente Vargas no último sábado, 19 de junho. O medo de ter medo durou pouco. Estava cercado de pessoas preocupadas em manter suas máscaras e procurando algum distanciamento. Em instantes, eu estava mais tranquilo e caminhava pelo Centro do Rio de Janeiro cheio de esperança.
“Medo eu tenho, mas a gente precisa vir para a rua para parar este homem”, me disse Isabel Fernandes. Com seus “mais de 70” anos, ela carregava um cartaz que dizia “Tanta coisa errada que não cabe em um cartaz. Fora, Bolsonaro”. Aposentada, Isabel estava na rua, enfrentando uma pandemia, para defender a vida. Sua presença ali, nossa conversa, eram lembranças importantes de que aquela multidão não estava na rua por capricho, mas para enfrentar um projeto de morte e destruição do país.
Lutando pela vida, cercado de gente depois de muito tempo em isolamento, com baterias marcando o ritmo da passeata e ajudando a entoar as palavras de ordem, a Presidente Vargas se tornou o lugar do encontro. Do encontro de conhecidos que não se viam há meses, de desconhecidos com a multidão e um encontro das pessoas com a rua, o palco maior de disputas políticas.
“Uma linda passeata. Diversa, de muitas cores, muitas bandeiras, muita energia”. Assim a presidente da AdUFRJ, Eleonora Ziller, definiu o ato, ainda enquanto ele se dispersava, na Candelária. “A gente sai daqui com o coração aquecido”, resumiu. Suas palavras expressam bem o sentimento coletivo ali naquela manifestação. Tão forte que podia ser sentido por qualquer um que estivesse ali. Efeito do encontro daquelas dezenas de milhares de pessoas em uma luta em defesa da vida.WhatsApp Image 2021 06 24 at 19.57.04Foto: Fernando Souza
O professor João Torres de Mello Neto, do Instituto de Física da UFRJ, foi ao ato e ficou feliz por encontrar as suas filhas, Juana e Cora. “Foi muito bom poder encontrá-las”, contou. Ir à manifestação também era uma preocupação para João, mas ela foi superada na rua. “Eu mesmo confesso que tenho questões de vir para a rua no meio da pandemia, mas coloquei duas máscaras, tentei ficar relativamente longe das pessoas e acho que não tive problemas”, relatou. Para ele, o dilema entre se expor ao risco ou lutar contra o governo tem uma resposta. “Aquele antigo ditado, entre a cruz e a espada, agora virou entre o vírus e Bolsonaro. Mas como o Bolsonaro está do lado do vírus, vamos para a rua combater os dois”, disse o professor.
A possibilidade de estar junto foi uma das forças da manifestação. A professora Beatriz Resende, da Faculdade de Letras da UFRJ, teve essa mesma sensação. “Foi uma volta às ruas, um reencontro com os companheiros, e isso já me deu ânimo e esperança”, contou a professora. Em tempos de isolamento, com a UFRJ sem aulas presenciais há mais de um ano, rever os colegas e os jovens estudantes, que vieram em bloco representados pelo DCE, foi revigorante para Beatriz. O encontro proporcionou essa vivacidade. “A energia era de esperança, de positividade. Essa volta às ruas tem que mostrar que foi preparada. Que estamos esperando por isso, que queremos ser vistos e que essa voz das ruas vai significar alguma coisa”, observou a professora.
A comoção coletiva na Presidente Vargas, com uma multidão com cartazes, vestindo as mais variadas cores e caminhando, cheia de esperança, ao som de baterias me remeteu, talvez por saudade, ao carnaval. Em 2018, a Mangueira venceu o carnaval com um dos desfiles mais potentes já vistos na Sapucaí. O enredo contava a história do Brasil pela perspectiva das pessoas negras, das mulheres, dos torturados e perseguidos pela ditadura. Saí da Candelária no sábado com um verso daquele samba na cabeça. Um verso que me explicava o que eu tinha visto e o que ainda está por vir, sempre com a certeza de que é “na luta é que a gente se encontra”.

24 de Julho: movimentos marcam nova data de protestos

WhatsApp Image 2021 06 24 at 19.57.03Foto: Fernando SouzaO dia 19 de junho contou com atos em quase todas as capitais. Diante do sucesso, a organização do movimento “Fora, Bolsonaro” convocou novas manifestações para o dia 24 de julho.
Para Flávia Calé, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos, uma das entidades organizadoras do movimento, o 19 de junho mostrou que os atos têm sido bem-sucedidos. “Temos tido êxito em construir atos que assegurem as medidas sanitárias. E vamos ficando mais à vontade para construir essa agenda de mobilização de rua”, contou.
A nova data das manifestações é mais de um mês depois do 19 de junho. Essa distância foi alvo de críticas nas redes sociais. Mas para Flávia esse tempo é importante em nome da segurança sanitária e para o desenvolvimento do movimento. “Em um contexto de pandemia é difícil chamar atos de rua, por isso não podemos banalizar. Precisam ser atos bem construídos, para alcançar muita gente, sob pena de termos atos que começam a definhar”, explicou a presidente da ANPG. “Mais tempo ajuda na construção de unidade entre os movimentos. Nossa tentativa tem que ser de ampliar a mobilização, para que a gente não fique só no espectro da esquerda, mas consiga avançar para o centro democrático”.
Josué Medeiros, cientista político e diretor da AdUFRJ, achou acertada a decisão de marcar os próximos atos em 24 de julho. “O que temos que fazer até lá é produzir atos descentralizados”, defendeu Josué. “O fato do ato unificado ser em 24 de julho não nos impede, pelo contrário, nos exige que façamos pequenas intervenções, nas praças, nos bairros, para preparar o clima para o ato do dia 24”, explicou.

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