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Diego Novaes
15/12/2014

DiegoTira

Sob críticas de vários conselheiros, reitor Carlos Levi consegue modificar obrigatoriedade do Português em um edital de concurso para Titular-Livre. Mas sessão é encerrada sem definir os critérios da alteração

Assunto deverá voltar ao colegiado em fevereiro

Elisa Monteiro. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

O Conselho Universitário extraordinário do dia 18 virou uma Torre de Babel com a reabertura de discussão quanto à exclusividade do Português nos concursos docentes da UFRJ. A regra foi aprovada pelo colegiado em novembro, mas, sob o pretexto de prejuízo aos certames para cursos de outras línguas da Faculdade de Letras, o reitor Carlos Levi pediu para voltar ao tema. Mas o fez sob protesto de vários conselheiros: Levi conduziu uma votação “contra ou a favor” de alteração da resolução. E ganhou. O detalhe é que os critérios da mudança ficaram para 2015.

No início da sessão, o presidente da Comissão de Legislação e Normas (CLN), Segen Estefen, apresentou uma proposta que passava a autorizar a realização de provas para ingresso na carreira do magistério da UFRJ em inglês, espanhol e francês. Com o exame de proficiência em Português em dois anos. A resolução passaria a englobar todos os concursos e não apenas para Titular-Livre, como previsto anteriormente.

A própria diretora da Letras, Eleonora Ziller, que ainda por cima é integrante da CLN, afirmou desconhecer a proposta apresentada. O parecer apresentado pelo presidente da comissão trazia apenas a sua assinatura. Sem, portanto, a manifestação dos seis demais integrantes.

Questionamentos em relação ao método da administração central para lidar com a questão derrubaram, inicialmente, a matéria da pauta. No entanto, horas depois, uma “nova” formulação voltou à mesa – houve uma reunião emergencial da CLN durante a sessão, o que impediu muitos conselheiros de debater o orçamento (leia mais na página 3).

Segundo a nova proposta, apresentada pela professora Eleonora Ziller, ficaria estipulado que as provas “devem ser realizadas em língua portuguesa”. No caso da Faculdade de Letras, para concursos de línguas estrangeiras, outros idiomas poderiam ser previstos, considerando também a Língua Brasileira de Sinais. Mas ficaria autorizada a prova escrita em língua estrangeira se o candidato assim o solicitar e a Congregação permitir. A certificação em Língua Portuguesa seria antecipada para até seis meses a contar da data de sua admissão, com casos excepcionais não previstos sendo avaliados no âmbito do Conselho de Centro.

Instabilidade institucional

Lilia Pougy (Decana CFCH) criticou duramente o procedimento da reitoria. A decana sublinhou que a resolução pela obrigatoriedade do português foi uma “decisão colegiada, fruto de um amplo debate”. “Não se trata de xenofobia ou coisa do tipo”, disse, “Mas apenas de recepcionar o artigo 13 da Constituição Federal que coloca a língua portuguesa como idioma oficial do Brasil”. Pougy chamou atenção para abertura de precedente perigoso: “A democracia é feita de conflitos. É preciso que quem sabe ganhar também saiba perder”, disparou.  “Não precisamos trabalhar com este tipo de instabilidade institucional”, completou.

Roberto Leher (Titulares CFCH) questionou, em primeiro lugar, o parecer sem debate na CLN e, em seguida, o método de votação “fica ou muda”, encaminhado pelo reitor. Alegou que, antes disso, seria necessário consultar o Conselho sobre a necessidade de mudar a decisão anterior. Ao alerta de descumprimento de normas regimentais, Levi restringiu-se a dizer “que estava registrado”.  

Internacionalização ou desnacionalização?

Roberto Leher lembrou que foi o médico sanitarista e político Sérgio Arouca (1941-2003) quem garantiu na Constituinte a possibilidade de estrangeiros atuarem na pesquisa brasileira. “Eles são indubitavelmente parte constituinte da universidade”, disse. Mas destacou que a discussão de internacionalização hoje deve ser contextualizada em um novo cenário. Nele, as universidades do Brasil são pressionadas via Capes por meio da imposição de “rankings internacionais”, cujos critérios são, em realidade, inatingíveis para a maioria das instituições de ensino superior. Leher destacou que restrições como a exigência de dezenas de prêmios Nobel, publicações em um número restrito de periódicos, estão entre as razões que levaram a União Europeia a questionar a listagem, que, ao fim e ao cabo, só incluem instituições com financiamentos da ordem de bilhões de reais. 

Autora da proposta da obrigatoriedade da prova de concurso para o magistério em português, Maria Malta (Adjuntos do CCJE) enfatizou que com apenas 13,9% dos jovens matriculados no ensino superior, estando a maior parte na iniciativa provada, o Brasil ainda tem “um longo caminho a percorrer”. Mesmo para alcançar países vizinhos, como o Chile, onde o percentual equivale a 52%. Para Maria, a mudança no ingresso para universidade, “que hoje traz estudantes de todas as partes do país, revelando o Brasil que existe”, “aumenta a responsabilidade” para contratação de professores. Mais uma vez, a docente reafirmou a importância do domínio do português para atender os alunos. E destacou que é preciso cuidado para não confundir “internacionalização” com “desnacionalização”. “Muitos dos que defendem o uso de uma língua universal ignoram que a dominação também tem expressão na ciência”, alertou.

Carlos Eduardo Martins (Adjuntos do CFCH) esteve entre os que defenderam a manutenção da resolução anterior. Em sua avaliação, o esforço para internacionalização não pode se dar em uma ação pontual : “Acabamos de aprovar um orçamento que destina apenas R$ 10 mil para congressos internacionais. De que tipo de  esforço de internacionalização estamos falando afinal?”.

A sessão foi encerrada sem votar nem a fórmula da CLN, nem a da diretora da Letras. Uma vez que janeiro é mês de recesso do Consuni, a última palavra ficou para a sessão de 12 de fevereiro de 2015.


Eleições para a reitoria vêm aí

Consuni referenda comissão organizadora do processo sucessório

Foi composta, parcialmente, a comissão que coordenará a consulta à comunidade acadêmica para a reitoria da UFRJ em 2015. Os centros e os conselhos superiores, em sua maioria, já escolheram seus representantes. Os nomes foram apresentados na sessão extraordinária do Conselho Universitário, no dia 19 de dezembro. A primeira reunião da comissão já tem data marcada: será em 7 de janeiro, às 10h, na sala anexa ao salão do Consuni, no prédio da reitoria.

Pelo Consuni foram indicados: Bruno Souza de Paula (titular) e Roberto de Barros Faria (suplente); Edson Vargas da Silva (titular) e José Carlos Pereira (suplente); Gabriel Souza Zelesco (titular) e Taís Lara Souza Barbas (suplente). Pelo CEG: Renata Baptista Flores (titular) e Claudia Lino Piccinini (suplente); Luiz Solon Gallotti (titular) e Maria Inês Tavares (suplente). Pelo CEPG: Fernando Alves Rochinha (titular) e Marcelo Torres Bozza (suplente); Maria Tereza Mello (titular) e Marcos Roberto Borges (suplente). Pelo Conselho de Curadores: Alberto Gabbay Canen (titular) e Sebastião Amoêdo de Barros (suplente).

Pelo CCS, as professoras Diana Maul de Carvalho (titular) e Elizabeth Accioly (suplente). Pelo CCMN, os professores Nelson Quilula (titular) e Glória Regina Braz (suplente). Pelo CCJE, o professor Luciano Coutinho (titular, que será o presidente da Comissão). O CFCH indicou a professora Maria Aparecida Mota (titular) e o professor Elídio Alexandre Borges Marques (suplente). O CLA, CT, FCC e campus UFRJ-Macaé ainda não indicaram professores.

 

Os representantes do corpo técnico-administrativo são: Aluizio Paulino do Nascimento, Aroldo de Jesus, Marcilio Alves, Geraldo Teotonio da Silva, Luciano da Cunha do Nascimento, Paulo Cesar Marinho e Soraya Silveira Rodrigues. Os estudantes ainda não indicaram nomes.

Documentário dirigido pela professora Anita Leandro, da Escola de Comunicação da UFRJ, discute ditadura a partir dos registros das polícias políticas

Busca-se um distribuidor para ampliar a audiência do filme

Filipe Galvão. Estagiário e Redação

De imagem em imagem, faz-se a memória. Ou a traz de volta ao jogo. É o que mostra “Retratos de Identificação”, uma espécie de narrativa dos limites. Limites da vida, dos corpos, da lembrança, da barbárie. O documentário de Anita Leandro é o único a ter como protagonistas, não os agentes, mas os arquivos da ditadura. “É o primeiro filme que faz do arquivo o personagem principal. Até então eles só foram usados como ilustração”, diz.

É um filme entrecortado de relâmpagos. Dos relatos, da listagem de assassinos e torturadores, dos negativos nos porões da ditadura. Não há um só movimento de câmera durante os 71 minutos de duração e, ainda assim, sobra eletricidade. Toda a dinâmica e violência vêm dos retratos de identificação dos ex-guerrilheiros dos grupos Var-Palmares e da Ação Libertadora Nacional (ALN).

O ritmo do documentário é o confrontamento. Dois sobreviventes, Antônio Roberto Espinosa da Var-Palmares e Reinaldo Guarany da ALN, encaram pela primeira vez os documentos que Anita garimpou no acervo das polícias políticas do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro e do Superior Tribunal Militar. Assim, o passado cru sem intermediação da memória ou do tempo. “Eles não conheciam as imagens que eu tinha. Eu levei as imagens pra filmagem no momento que eu ia entrevistar cada um deles e mostrei na ordem cronológica dos acontecimentos. Então eu filmei, não só a fala deles, mas a reação e a análise específica de cada documento”, conta Anita, que é professora da Escola de Comunicação Social da UFRJ e pesquisadora sobre os processos de montagem no cinema.

 O desafio foi trazer para o campo do documentário as micro-histórias perdidas dentro de um acervo imenso. “Quando encontrei esses arquivos eu descobri a diversidade. Achei que ia encontrar meia dúzia, mas lá existem milhares”, diz.  O volume retrata o quão prolíficos foram os aparelhos de guerra e controle do Estado no que se refere ao registro. “São os arquivos mais volumosos da América Latina”, aponta a diretora. 

DSC0089Anita Leandro, da ECO, sobre os registros da ditadura brasileira: “São os arquivos mais volumosos da América Latina”. Foto: Marco Fernandes - 06/12/2014

Meta agora é ampliar o alcance do filme

O movimento do filme pode ser entendido como um segundo passo na consolidação da verdade sobre a história recente do país. Com a conclusão dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade no final de 2014, o país tem um núcleo duro para produzir reflexões e cimentar a memória coletiva. O terceiro passo é chegar até o público.

O filme de Anita ainda está restrito a mostras e festivais. A diretora tem participado de exibições em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Fortaleza. O retorno é bom, mas o alcance é curto. A ideia é conseguir um distribuidor que potencialize a capacidade de pulverização do documentário.

Tese de doutorado estudou situação dos docentes da UFRJ e encontrou “carreira doente”

Processo de intensificação do trabalho é o grande culpado

Filipe Galvão. Estagiário e Redação

Trabalho é suplício. Etimológico e concreto. Enquanto o sofrimento da palavra (do latim “tripaliu”) vem de um instrumento de tortura romano, o sofrimento prático diz respeito às relações de opressão e dominação. Nem professor escapa. É o que conclui Alzira Guarany em sua tese de doutorado “Trabalho docente, carreira doente” que analisou os impactos na saúde dos docentes da UFRJ.

A tese, defendida na Escola de Serviço Social no dia 9 de dezembro sob a orientação do professor Eduardo Mourão Vasconcelos, analisa o histórico do avanço do capitalismo no campo da educação. Até meados do século passado, a carreira de professor ainda habitava outro espaço na dinâmica do trabalho, sendo considerada uma vocação, e não uma atividade laboral. Um lugar no qual o docente era valorizado por seu tempo de reflexão e análise. Em sua tese, a professora identifica as crises do capitalismo como o motivador que transformou os setores de produção imaterial como educação e saúde em fatias a serem devoradas pela burguesia internacional.

Muita cobrança, pouca saúde

A motivação para a pesquisa foi política. Da graduação ao doutorado, toda a formação de Alzira foi pela UFRJ. “Senti que era um momento em que eu deveria devolver alguma coisa para a universidade”, diz. A ideia surgiu em uma aula do então presidente da Adufrj-SSind, Mauro Iasi, professor da própria ESS. “Na aula, eu perguntei do que o movimento organizado dos docentes estava precisando e ele me disse que precisavam conhecer um pouco mais da saúde do professor”, relembra. 

A partir daí, Alzira entrevistou seis professores de três unidades diferentes — a ética da pesquisa garante o anonimato das fontes e dos lugares. E, depois de identificados os agentes desencadeadores de doença na carreira (processos de privatização e mercantilização da educação), a divisão foi feita entre unidades que concordavam, neutras e as que não concordavam com o processo de transfiguração da educação em mercadoria. Assim também foi possível comparar os efeitos (ao fim, iguais, todos estavam doentes) entre os que aceitavam e os que não aceitavam. Foram mais de cem folhas de transcrição de entrevista.

As histórias de vida chocam. Há a professora que trabalhava tanto a ponto de não ter tempo de perceber que já tinha quatro cânceres no corpo. Ou a do infarto que matou o professor que mal se alimentava ou dormia para dar conta do volume de trabalho. Fora depressão, patologias de pele, alteração da taxa de colesterol.

A fragilização da saúde física e mental dos docentes depois dos anos 90 é pura barbárie. “Essa intensificação irracional do ritmo de trabalho não respeita o sofrer e o prazer: é aí que surge a possibilidade do adoecimento”, diz Alzira.

Os elementos que deterioram a saúde dos docentes elencados na tese são: as parcerias público-privadas que não respeitam o ritmo das diferentes áreas de saber; a precarização das condições de trabalho que fazem coexistir na universidade setores de “primeiro e terceiro mundo”; um novo processo de trabalho que exige um profissional polivalente, adequado ao instrumental de novas mídias e ao novo perfil do aluno que se comporta como consumidor; a competição estrutural entre os pares; e os indicadores de produtividade estabelecidos por atores externos ao universo acadêmico. “Alguns elementos que geram o sofrimento já existiam, mas a maioria surge com o novo estilo de gestão da educação”, aponta Alzira. 

Projeto deve seguir

Por enquanto, a reitoria ainda não procurou Alzira para estudar de que maneira a tese pode ajudar a proteger a saúde de seus quadros. A expectativa é que a pró-reitoria de Pessoal (PR-4) convide a doutora para conversar já que a professora Silvia Jardim, que faz parte da pró-reitoria, participou da banca.

Alzira listou três caminhos possíveis e complementares para entender mais a fundo o impacto na saúde dos docentes da UFRJ. Os dois primeiros são promover debates sobre eixos temáticos para sensibilizar a comunidade acadêmica e criar grupos de encontro para os professores vulnerabilizados e deprimidos. O outro é mais ousado. Fazer um estudo epidemiológico quantitativo abordando toda a comunidade docente. Assim seria possível saber quantos são, exatamente, os professores doentes. Os problemas da última proposta são dois: o custo e a urgência. “O tempo de agora é o da denúncia, a situação é seríssima”, concluiu a doutora.

Dayse Oliveira, da rede estadual, sofre represálias por suas atividades político-partidárias e sindicais

Sindicato da categoria entrará com uma representação na Justiça

Silvana Sá. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Desde que voltou da licença para disputar o governo do Rio, pelo PSTU, Dayse Oliveira sofre perseguições onde leciona, na Escola Estadual Menezes Vieira, em Niterói. Entre os ataques, estão cartas anônimas que chamam a professora de racista, enviadas à Secretaria Estadual de Educação. Além disso, as notas de seus alunos foram lançadas sem a sua autorização durante o período de greve da categoria neste ano, interferindo frontalmente na autonomia da educadora.

Dayse responsabiliza o governo do estado pelos ataques. “Por sua política de plano de metas e meritocracia, pelo autoritarismo”. Para ela, que também é dirigente do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) de São Gonçalo, está claro que as perseguições ocorrem em represália às suas atividades político-partidárias e sindicais. “Eu tenho uma conduta de oposição à política do governo. Essa meritocracia está acabando com a vida do professor, com a qualidade da educação”, disse.

Dayse aplica em sala de aula a Lei 10.639/2003, que tornou obrigatório nas escolas o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. “O racismo são suporta fazer discussões de si próprio. Estão me chamando de racista, querendo dizer que eu sou uma professora negra que só falo sobre negros”.

O Sepe entrará com uma representação contra as arbitrariedades cometidas contra a docente e está acompanhando de perto o caso. “Esses ataques agridem a todo o conjunto de professores da rede. Há outros professores sofrendo retaliação após a greve. Isto é muito grave”.

Sobre as notas lançadas indevidamente, como entendeu que geraria mais prejuízos aos estudantes suspender as notas – eles perderiam o ano letivo – resolveu relevar: “Os alunos não merecem ser penalizados por isso. A própria coordenadoria reconheceu que errou”, alegou.

O Sepe-Niterói e o PSTU lançaram notas de apoio à pro essora. Pais e estudantes da escola onde Dayse dá aulas se solidarizaram com a educadora.


Adufrj-SSind rechaça criminalização dos movimentos sociais

Presidente da Adufrj-SSind, Cláudio Ribeiro também manifestou-se sobre o caso: “A criminalização dos movimentos sociais é uma das formas mais perversas de opressão e evidencia o caráter truculento da transição conservadora pós-ditadura empresarial-militar que enfrentamos no Brasil. O movimento docente não se intimidará e seguirá lutando pela garantia de uma educação pública, laica, de qualidade socialmente referenciada e gratuita. A companheira Dayse representa muitos colegas que sofrem com essa perversa opressão que ganha maiores contornos pelo fato de ser mulher e negra num contexto machista e racista. A Adufrj-Ssind rechaça toda forma de criminalização dos movimentos sociais, do direito à greve, da organização sindical e apoia a luta de todas e todos que seguem se movimentando em prol da construção de uma sociedade justa e igualitária.”

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