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No final de outubro, a redação do Exame Nacional do Ensino Médio, que teve como tema “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, ganhou grande repercussão também nas redes sociais e dividiu opiniões, mas não abalou professores e alunos do Colégio de Aplicação da UFRJ. “Para nossos alunos, não houve problema algum”, revelou a professora Rozana Gomes, diretora adjunta de Ensino do CAp e responsável pelo terceiro ano do ensino médio.

Rozana Gomes afirmou que a escola tenta promover o debate para mostrar aos estudantes e aos pais o quanto é importante a pluralidade de ideias e pensamentos. “Este ano, fizemos muitas atividades sobre o tema da violência contra a mulher e feminismo. Quando trazemos temas delicados para a sala de aula, os alunos participam e trazem outros elementos, mas muitos pais entendem que estamos fazendo uma doutrinação. Tentamos dizer que a divergência é um processo construtivo”, afirma a educadora.

“Este assunto é uma questão que os mobiliza”, complementou a professora Kátia Araújo, também do CAp. Ela integra a equipe da DAE e dá aula de redação para o terceiro ano do ensino médio. “Especialmente as meninas, que começam a crescer e esbarram em questões de roupa, de comportamento. Elas sentem na pele o machismo e buscam entender o que acontece na sociedade. Então debatem, buscam informação, articulam-se com núcleos de outras escolas”, disse a docente.

Aluna disse estar preparada

Bruna Ramalho, estudante do terceiro ano, confirma as declarações das professoras: “Esse tema foi muito falado aqui na escola. Tivemos aulas e um debate a respeito de feminismo. Eu estava preparada para falar sobre o assunto. Mas, alguns aqui, muito poucos, acharam que o tema foi político e que não poderia estar na prova. Disseram que era tema de esquerda, mas eu gostei muito. Foi importante ter o assunto na redação”, opina.

 

UFRJ arrecada mais de R$ 40 milhões, por ano, com aluguéis

Aluguel da área para o Cenpes, da Petrobras, é uma das fontes de recursos para a UFRJ

União começou a “morder” o dinheiro em 2014

Elisa Monteiro. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Com orçamento estrangulado, a comunidade acadêmica pergunta pelos recursos próprios da universidade. E o aluguel em terrenos da instituição, face mais visível, é lembrado como uma das primeiras fontes de receitas. Afinal, para onde vai o dinheiro arrecadado com prédios como o Cenpes (da Petrobras), instalados na Cidade Universitária? E quanto à exploração comercial de espaços menores, como lanchonetes, fotocopiadoras, bancos?

De acordo com pró-Reitoria de Gestão e Governança (PR-6), a porta de entrada para cada centavo é uma só: a conta única da União. “Todo tipo de cobrança e arrecadação dentro do serviço público tem de ser feito através de Guia de Recolhimento da União (GRU). Não passa pela administração”, esclarece Hélcio Gomes, diretor da Divisão de Gestão Patrimonial.

O valor arrecadado pela universidade via aluguéis nos últimos anos orbita os R$ 40 milhões. Foram mais de R$ 42 milhões em 2012 e 2013 (R$ 42.127.519,78 e R$ 42.123.079,78 respectivamente) e quase R$ 44 milhões em 2014 (R$ 43.993.840,12). Para 2015, a previsão é de R$ 44.822.944,28. Este montante é praticamente 10% do limite orçamentário da UFRJ aprovado pelo Consuni para o mesmo ano: R$ 438 milhões.


Valor arrecadado via aluguéis pela UFRJ

2012    R$ 42,12milhões

2013    R$ 42,12 milhões

2014    R$ 43,99 milhões

2015    R$ 44,82 milhões (previsão)


A PR-6 explica que a administração central dispõe de duas maneiras para lidar com a exploração econômica dos imóveis da UFRJ: concessões ou permissões de uso. As concessões “geram uma renda mais considerável” e correspondem a uma maior afinidade com as atividades-fim da universidade. São os casos do Parque Tecnológico e do Cenpes (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello). Até o final do ano, as catorze empresas no Parque, por exemplo, devem pagar um total de R$ 3.845.231,25 pelo espaço que ocupam no Fundão. Já os Cenpes 1 e 2 e um posto de gasolina (de bandeira Petrobras) têm contratos somados em R$ 4.962.972,80.

Contratos distintos

O diretor de patrimônio explica que, uma vez licitados os terrenos da universidade, o vencedor constrói e, findo o prazo, tudo que for feito passa a fazer parte do patrimônio. “Caso haja interesse da instituição, o acordo pode ser renovado”. Hélcio destaca ainda que as concessões tratam de “longo período”. O contrato com o Cenpes, por exemplo, é de 50 anos (2004-2054).

O Parque Tecnológico possui algumas excepcionalidades: “Além de um valor mensal e de tudo que for feito ser convertido para universidade, cada uma das empresas no Parque tem que aportar R$ 15 milhões em cinco anos”, observa Tiago Moreira (responsável pelo setor de contratos).  “Mas isso não é em dinheiro”, ressalta, “e, sim, em bolsa, programas de estágio, de pesquisa”.

Outra diferenciação está em cláusulas contratuais que limitam a concorrência às iniciativas ligadas à pesquisa e à área tecnológica. “Inclusive, há uma prova do próprio Parque Tecnológico que dá nota para as empresas, avaliando se atendem às exigências”. A última licitação realizada teve a Ambev como vencedora. Além disso, os contratos do Parque são os únicos com prestação de contas e cópias digitalizadas na íntegra disponíveis no site da UFRJ.

De acordo com informações da PR-6, a relação entre a universidade, o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel) e o Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) encontram-se “em fase de rediscussão”. Os contratos, contudo, não estão sob controle da PR-6. O do Cepel, com validade de 60 anos (1983-2043), garante recolhimento pela Fundação Universitária José Bonifácio (FUJB). Em relação ao Cetem, os servidores desconhecem os pagamentos: “A última informação que temos é que houve um acerto junto ao Ministério de Ciência e Tecnologia para bolsas”. “Mas, em ambos, houve reuniões recentemente para rediscutir os termos de acordo”, destacou Tiago.  

Avenida Chile 330 rende o maior aluguel

O carro-chefe dos aluguéis é a Ventura Corporate Towers, modernos edifícios construídos em terreno da UFRJ na Avenida Chile 330, Centro da cidade (onde funcionou a antiga sede da Faculdade de Letras). Em troca da concessão, o consórcio vencedor da concorrência cedeu à universidade 17, 3% do empreendimento, o equivalente a “onze andares e meio” da torre leste.


Carro-chefe dos aluguéis

Edifícios no Centro (Ventura Corporate Towers)
R$ 2,7 milhões/mês (ou R$ 32,81 milhões/ano)

Parque Tecnológico:
R$ 3,84 milhões/ano

Cenpes (1 e 2),
além do posto de gasolina Petrobras, no Fundão:
R$ 4,96 milhões/ano

Bancos:
R$ 1,26 milhão/ano

Lanchonetes:
R$ 502 mil/ano

Livrarias e reprografias:
R$ 164 mil/ano


De acordo com a PR-6, cada pavimento possui, em média, 1.600 m2 com exceção do quinto andar (de 750 m2).  E, atualmente, apenas um é ocupado academicamente, pela Escola de Música — cujo prédio histórico passa por reformas estruturais. Todo o resto encontra-se alugado para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O negócio rende (à União) R$ 2,7 milhões por mês. Em 2014, foram pagos, ao todo, R$ 32.817.973,37 referentes à alocação.

Pequenos comércios

Precárias ou regulamentadas por contratos, as permissões de uso dizem respeito a comércios em campi da universidade. E, segundo a PR-6, são caracterizados por acordos mais simples e flexíveis com uma “maior soberania da universidade”, podendo reaver “a qualquer tempo e sem motivação” os espaços.

Autonomia

Um exemplo recente está na agência do Banco Santander localizado na Praia Vermelha: “Vão usar como área acadêmica”, explica Tiago. A pedido da decania do CFCH, o espaço será convertido em laboratório. “Nós acompanhamos, mas a decisão cabe às unidades”, destaca. “O máximo que podemos fazer é buscar outro lugar que possa receber o serviço, mesmo assim quando é do interesse da unidade”, complementa Hélcio.

Fazem parte do grupo, além dos bancos, todo setor de alimentação privada, fotocopiadoras, livrarias, agências de correio, telefônicas etc. Esta fonte própria apresenta números bem mais modestos. Por ano, as 64 lanchonetes espalhadas pelos campi da UFRJ, por exemplo, recolhem, no total, R$ 502.139,39. Enquanto os 27 estabelecimentos de livrarias e reprografia são responsáveis por R$ 164.719,42. Já as agências dos quatro bancos hoje instalados na UFRJ (Banco do Brasil, Caixa, Itaú e Real/Santander), rendem aos cofres públicos R$ 1.265.707, 84 por ano.

As permissões ainda não licitadas são chamadas de “precárias” e apresentam limite de cinco anos, “que a lei faculta”, justifica Hélcio. A estimativa é que, embora sem contrato, 80% das permissões precárias estejam cadastradas junto à universidade. Da mesma forma que as concessões, todas as permissões de uso sofrem recolhimento por meio de GRU, caindo direto na conta do Tesouro. 

De acordo com o diretor do Patrimônio, a partir de 2001, a reitoria passou a centralizar todas as cobranças e contratos, depois que uma auditoria foi realizada na UFRJ. À época, na gestão Aloísio Teixeira, foi constituída uma comissão para controle deste tipo de ocupações na universidade. Dentre suas atribuições, estão: a verificação de denúncias e indicação de reintegração de posse. Ainda em vigor, a comissão é hoje presidida por Ailton Alvez Teixeira (PR-5).

Administração tenta coibir “invasões”

A prática de invasões, contudo, ainda é uma realidade. Hélcio conta que, em pleno prédio da administração central, uma cantina foi “inaugurada”, sem permissão, em um banheiro do sétimo andar. No Instituto de Química, outra foi montada do dia para a noite bem na entrada de acesso da secretaria acadêmica. “E dá trabalho para tirar e devolver o espaço à sua função, viu?”, diz o servidor. Para ele, o desafio está em quebrar uma cultura de informalidade arraigada: “Toda nossa briga é para que o que aconteceu no passado não aconteça mais”. “Diariamente aparece gente por aqui perguntando como faz para abrir um comércio ou coisa do tipo. Mas não tem como ceder uma área pública para um particular”.

Para quase todo mundo

Um caso “à parte” é o Centro de Ciências da Saúde. “Grande parte dos contratos feitos lá é administrada pela decania”, informa o diretor de Patrimônio. Coincidência ou não, o estacionamento do Centro é o único onde ainda há cobrança por vagas de carro. “É o único estacionamento pago na universidade”.  


Quando há contingenciamento, não é possível dizer quanto dos aluguéis retorna à universidade

A Pró-reitoria de Planejamento e Desenvolvimento (PR-3) observa que, além dos aluguéis, outras fontes como concursos, patentes, serviços , doações e afins completam a chamada “receita própria (ou realizada)” da UFRJ. 

Todas são receitas recolhidas para a conta única do Tesouro e recebem um código (153105) que identifica os valores da UFRJ. Mas fica tudo junto, sem diferenciar sua origem. Portanto, quando há contingenciamento, não é possível dizer quanto dos aluguéis, por exemplo, o governo conserva em seu poder.

Este dinheiro, informa a PR-3, costuma voltar, em sua integralidade, para a universidade. Mas não foi o que ocorreu em 2014: R$ 12 milhões dos R$ 62 milhões da receita própria foram retidos: “Quando o reitor fala em garantir, pelo menos, o recurso próprio, está dizendo para o governo assegurar o limite de empenho igual à receita realizada”, afirma o superintendente geral de Planejamento e Desenvolvimento, George Gama Junior.

 Ele acrescenta, ainda, que a arrecadação de 2014 foi acima das expectativas por conta de um grande concurso aberto no fim do ano. Em relação a 2015, George afirma não ser possível fazer uma projeção: “Só ficamos sabendo se o recurso será retido ou não no finalzinho do dezembro”.   

 

Venturelli x UFRJ: nova audiência no Ministério Público do Trabalho ocorre dia 10

Funcionários da empresa, de limpeza e portaria, estão sem salários e lixo deixou de ser recolhido em diversas unidades da universidade


Silvana Sá. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Uma audiência realizada, dia 3, no Ministério Público do Trabalho, trouxe novos elementos para o conflito entre a UFRJ e a empresa terceirizada Venturelli, do setor de limpeza e de portaria.

Por determinação do MPT, a UFRJ deve fazer um levantamento de tudo que a empresa Venturelli teria direito a receber (de repasses atrasados e eventuais descontos por serviços não executados). A empresa, por sua vez, vai pesquisar tudo que deve aos seus funcionários. Os resultados serão apresentados em uma próxima audiência no MPT, agendada para 10 de novembro. As informações são do pró-reitor de Gestão e Governança (PR-6), Ivan Carmo.

Segundo ele, a Procuradoria do Trabalho desvinculou a UFRJ da obrigatoriedade que a empresa tem com o pagamento de seus trabalhadores. Ou seja: a empresa não pode usar como justificativa a ausência de repasses da UFRJ para não efetuar o depósito dos salários de seus funcionários.

A Venturelli não cumpriu o Termo de Ajuste de Conduta (TAC), imposto pelo MPT para que em 27 de outubro realizasse o pagamento atrasado do mês de setembro a todos os trabalhadores. O termo previa, ainda, o compromisso da empresa de quitar os salários de outubro até o quinto dia útil de novembro.

DSC0020Ivan Carmo, pró-reitor. Fotos: Marco Fernandes - 22/09/2014


Como resultado, diversas unidades da UFRJ estão sem recolhimento de lixo. Não precisa andar muito pelos corredores do Centro de Tecnologia e do Centro de Ciências da Saúde, dois dos locais que deveriam ser atendidos pela firma, para perceber a dimensão do acúmulo de lixo.

Caso especial no CCS

Para o professor Mario Silva Neto, do Instituto de Bioquímica Médica, o problema da limpeza coloca a comunidade do CCS em xeque: “Primeiro, porque formamos profissionais da Saúde. Como faremos isso em condições precárias de higiene? Segundo, porque atuamos com organismos vivos nos biotérios. Além disso, fazemos estudos, experimentos, pesquisas com isolamento de moléculas. Qualquer sombra de contaminação joga por terra todo esse esforço de pesquisa. E esse risco cresce muito com o acúmulo de lixo”, disse.

 


Campanha de arrecadação

 A Associação dos Trabalhadores Terceirizados da UFRJ (ATTUFRJ) solicita apoio para os funcionários da empresa Venturelli, que não paga salários e benefícios há vários meses. Doações de alimentos e de dinheiro podem ser feitas na subsede do Sintufrj, embaixo da entrada principal do HU, às segundas e quartas (de 11h às 16h).


 

 

 Especialmente no subsolo, segundo conta o professor, as condições são ideais para rápida proliferação de fungos e bactérias: “Eu diria que um terço do prédio funciona no subsolo do CCS. Nossas janelas ficam na altura do jardim. Trabalhamos ao lado ou abaixo da rede de esgoto dos banheiros. Há umidade. Enfim, o CCS apresenta uma situação muito particular. São mais de seis mil alunos de graduação e pós-graduação circulando nos corredores”.

Mario Silva Neto demonstra preocupação com o drama dos terceirizados. “Além dessas questões práticas, precisamos levar em conta a situação pessoal das famílias desses trabalhadores. Nós estamos sem condições de trabalho e eles estão sem receber seus salários, sem conseguir pagar suas contas. A universidade é lugar de pensar essas questões também. É lugar da formação humana”.


 



ATTUFRJ: só alguns funcionários receberam

Samantha Su. Estagiária e Redação

IMG 560828/10/2015

Os funcionários da Venturelli dizem continuar sem condições de voltar ao serviço. O setor da limpeza está há três meses sem receber e a portaria completa, agora em novembro, dois meses sem salário e benefícios. Segundo a Associação dos Trabalhadores Terceirizados da UFRJ (ATTUFRJ), a empresa comunicou que acertará parte do pagamento em 9 de novembro. Ainda assim, não informou o que será quitado e nem se todos receberão: “Eles (a empresa) mentiram dizendo que pagaram aos porteiros em agosto, mas só alguns receberam. Isso eles fazem todo mês porque obriga os poucos funcionários que recebem a virem trabalhar e a universidade não fica completamente vazia. Hoje, no Centro de Tecnologia, tem 15 pessoas, mas no Centro de Ciências da Saúde não foi ninguém para o trabalho”, explica Terezinha da Costa, diretora da associação.

“As pessoas estão retirando o fundo de garantia e pedindo dinheiro emprestado com vizinho. Três meses sem aluguel é motivo de despejo em muitos lugares. Eu não sei o que vai acontecer, mas são centenas de famílias. Já tem muita gente se demitindo sem receber um tostão”, desabafa Terezinha.

A ATTUFRJ tem feito campanha de doação de alimentos e dinheiro para ajudar os trabalhadores, mas Terezinha é categórica: “São muitas famílias, é claro que tem gente que fica sem o que comer. A única certeza que eu tenho é que essas empresas precisam sair da UFRJ”, observa.

Extensão do problema da Qualitécnica

Os trabalhadores da limpeza da Venturelli são ex-funcionários da Qualitécnica — empresa que, substituída emergencialmente, também deixou trabalhadores sem salários e benefícios: eles só deverão receber o que a antiga firma deve em janeiro do ano que vem, quando o Ministério Público do Trabalho voltará a tratar do caso.

Lugar de mulher é na ciência

Duas professoras da UFRJ são premiadas no único programa brasileiro voltado exclusivamente para as cientistas

Samantha Su. Estagiária e Redação

As professoras da UFRJ, Karin Menéndez-Delmestre, do Observatório do Valongo, e Cecília Salgado, do Instituto de Matemática, foram duas das sete premiadas pela L’Oréal Brasil. O programa, que reuniu mais de 400 projetos este ano, é uma parceria da Academia Brasileira de Ciência (ABC) com a Unesco. As entidades mantêm o prêmio “Para Mulheres na Ciência”, único para a categoria, com premiações de US$ 20 mil para incentivo às pesquisas.

O prêmio, de acordo com as doutoras, mais do que o dinheiro, vale o reconhecimento do trabalho e a visibilidade. Para Cecília, ele é uma forma também de compensar as desigualdades de gênero na carreira: “Mulheres, bem como outras minorias na ciência, só precisam de oportunidades iguais. Ainda vivemos num tempo em que salários de homens em profissões equivalentes são superiores aos de mulheres; em que oportunidades boas aparecem com frequência para homens e menos para mulheres; em que mulheres perdem vagas em emprego por estarem grávidas. O prêmio vem contribuir para o equilíbrio desta balança, ainda muito desregulada”, comenta a professora, que estuda sobre códigos corretores de erros, fundamental na solução de falhas na transmissão de informação por sistemas de comunicação como linhas telefônicas ou discos rígidos. 

No Observatório do Valongo, Karin vê na premiação, inclusive, motivação para sua equipe: “Temos um grupo de pesquisa que está rapidamente se fortalecendo nos últimos anos com a entrada de pós-doutores, alunos de pós-graduação, alunos de iniciação científica e novos professores. Certamente, dá visibilidade ao grupo, reforçando nosso crescimento e permitindo a atração de uma maior quantidade de jovens pesquisadores e pesquisadoras”, conta ela, autoridade reconhecida no campo da evolução de galáxias e que busca entender os processos de suas formações, por meio de observações da Via láctea e de universos distantes.

Reconhecimento internacional

A professora Cecília também inclui o valor do prêmio no reconhecimento internacional dos projetos: “Minha área de pesquisa, apesar de contar com muitos especialistas internacionais, ainda não é tão divulgada no Brasil e, sem dúvida, esse prêmio chama atenção para ela. O projeto proposto é uma colaboração com um pesquisador de Houston, A. Várilly-Alvarado, e outro, Felipe Voloch, que está se instalando na Nova Zelândia. O prêmio certamente será fundamental para que possamos organizar visitas científicas para dar continuidade ao nosso trabalho”, pontua.

PEC 395 em questão

Abordagens diferentes sobre a Proposta de Emenda Constitucional nº 395 – em tramitação na Câmara dos Deputados – marcaram o primeiro da série de debates Sem Tabu organizado pela diretoria da Adufrj. 

A PEC 395 abre exceção na gratuidade de cursos de especialização, extensão e mestrado profissional nas universidades públicas. O tema controverso lotou a sala D-220 do CT.  

Vídeo com a íntegra do debate no site www.adufrj.org.br.

 


 



Boletim3 A1CLÁUDIA MORGADO  defendeu a PEC 395.  Professora da Escola Politécnica e presidente do Fórum de Pós-graduação lato sensu, disse que a PEC vem regulamentar uma “prática corrente da universidade há 50 anos”. Esta formação atende um público compatível com a cobrança: “São pessoas que estão no mercado de trabalho e não precisam de gratuidade”. Para ela, interessa às universidades privadas a gratuidade do lato sensu nas públicas. Nestas condições, os cursos não seriam mais oferecidos, deixando este mercado livre. 

 

Boletim3 A2PAULO RIZZO, presidente do Sindicato Nacional (Andes-SN), afirmou que a abertura de exceções para cobrança, na prática, põe fim ao princípio constitucional da gratuidade do ensino nas instituições públicas. “Se houver mudança, tal como previsto na PEC, no inciso que estabelece gratuidade nos estabelecimentos oficiais”, observou, “ela (gratuidade) deixará de ser um principio”. Rizzo argumentou que “a existência da PEC é a prova de que o que hoje se pratica nas nossas universidades é ilegal”. 


Boletim3 A3GABRIELLE PAULANTI, da ANPG, disse que “a PEC 395 não representa de maneira direta a privatização”, mas pode violar “o princípio da gratuidade do ensino público”.  A dirigente observou que “mais de 90% de toda a pesquisa realizada na universidade tem participação de estudantes de pós-graduação, então, essa medida nos atinge. Essa pesquisa é produzida pelas universidades públicas. A serviço de quem essa pesquisa será realizada, se o capital privado a estiver financiando?”, questionou.


Boletim3 A4VICENTE FERREIRA, diretor do Instituto Coppead, explicou como a cobrança, afirmada como legal, tem sido positiva para a sua unidade. Contou que, quando o instituto passou a apresentar problemas de financiamento, encontrou nos recursos do lato sensu a possibilidade de manter o padrão de qualidade. Segundo ele, é positivo que o texto da PEC faça referência à autonomia da universidade. Sendo aprovada a PEC, o debate seria trazido para o local onde, na opinião do professor, ele deveria ser travado: nas instâncias da universidade.

 

Veja o debate na TV Adufrj

 


 

Boletim3 B1O debate no CT, que recebeu grande público, durou pouco mais de duas horas. Foto: André Teixeira

Debate traz múltiplas opiniões

Uma posição que não apareceu entre os debatedores da mesa, mas apresentada na fase de perguntas da plateia, disse respeito à diferença da cobrança entre lato sensu e o mestrado profissional. Conforme abordou o professor Antonio MacDowell de Figueiredo, ex-secretário da SESu/MEC e professor da Escola Politécnica, o curso de extensão e as especializações podem ser ofertados por institutos e outros espaços que não sejam os universitários. Já o stricto sensu (que é o caso do mestrado profissional) é exclusivo das instituições de ensino. Para ele, aí estaria sendo infringido um princípio (da gratuidade do ensino naquelas que são as atividades-fim da universidade).

O professor Gilberto Fialho, da Escola Politécnica, questionou: “Se não for aprovada (a PEC 395), o que vai acontecer? Como atender à demanda desses cursos de forma gratuita com a infraestrutura que nós temos?”

De acordo com o presidente do Andes-SN, Paulo Rizzo, o “lato sensu vem aumentando muito a sua demanda. Se isto acontece, é porque faz parte da formação regular das pessoas. É preciso debater isso. A autonomia didático-científica só será garantida havendo pleno financiamento público”.

Cláudia Piccinini, da Faculdade de Educação, contrária à PEC, ponderou que toda receita conseguida na universidade precisa ser encaminhada à conta única da União: “Como, então, teremos acesso a esses recursos?”. Do Instituto de Física, Nelson Braga também perguntou sobre o destino do dinheiro pago nas especializações, em especial como seria a regulamentação do pagamento de professores da universidade.

Veja galeria de fotos do debate

Em resposta, os debatedores favoráveis à emenda observaram que o dinheiro é gerido por fundações (há um limite para o repasse à conta única da UFRJ, como receita própria). Do que fica na instituição, boa parte é aplicada nas instalações comuns da universidade.

Ericksson Almendra, também da Politécnica, em defesa do lato sensu pago, questionou por que os contribuintes deveriam pagar a conta de cursos que beneficiam empresas, muitas delas estrangeiras.

Para Alice Pina, da Associação de Pós-graduandos da UFRJ,  o texto da PEC é uma ameaça às universidades públicas, ainda mais num contexto de ajuste fiscal. Essa foi também uma questão muito comentada por outros professores, que perceberam a conjuntura muito sensível, visto que os cortes são significativos no financiamento da universidade.

Pluralidade

O debate transcorreu num clima amistoso, o que permitiu que as discussões sobre a PEC, apesar de controversas, fossem travadas sem maiores tensões. Ao fim do evento, a presidente da Adufrj-SSind agradeceu a participação de todos.

“Estou muito feliz de termos conseguido promover esse debate com diversidade de opiniões. Este é o papel da Adufrj, proporcionar discussões entre múltiplas visões e que essas opiniões sejam ouvidas e respeitadas”, finalizou Tatiana Roque.

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