Edwaldo Cafezeiro, professor emérito da Faculdade de Letras A vida que sonhamos viver continua acenando para nós. As demandas permanecem muitas; as forças contrárias, no momento, podem ser maiores. No entanto, aqui estamos, mais uma vez juntos e expectantes – estudantes, professores, trabalhadores –, cientes de que forjamos um amanhã mais feliz para todos. A todo momento enfrentamos moinhos de vento e erramos a direção da ilha que desejamos e voltamos a fazer as andanças. As rosas que plantamos nasceram em maus jardins. Mas aqui estamos, insistindo, resistindo, persistindo. Diz o poeta que “um galo sozinho não faz uma manhã”. Juntemos nossos cantos de galo, como os fios de ouro que virão. O importante é não abandonar nosso trabalho e o que fizemos até aqui. A UFRJ é nosso abrigo solidário e uma permanente esperança, reafirmada sejam quais forem os desvios e as pedras no caminho.
Nelson Souza e Silva, professor emérito da Faculdade de Medicina da UFRJ: “ O artigo 25 do Código de Ética Médica diz que é vedado deixar de denunciar prática de tortura ou de procedimentos degradantes, desumanos ou cruéis, praticá-las, bem como ser conivente com quem as realize ou fornecer meios, instrumentos, substâncias ou conhecimentos que as facilitem. Como médico, não é possível apoiar um candidato que apoia a tortura, um candidato cujo ídolo foi um torturador reconhecido, o Brilhante Ustra. Como médicos, também não podemos apoiar um projeto ultraliberal que vai ampliar a desigualdade social. Nossos estudos demonstram que a pobreza é o maior fator de risco para causar mortes por doenças cardiovasculares, por exemplo. Morre-se dez vezes mais de derrame cerebral em Campo Grande e Santa Cruz, menores índices de desenvolvimento humano da cidade, do que na Gávea, maior IDH da capital. E morre-se mais cedo. O conjunto de fatores que propiciou a ascensão da candidatura Bolsonaro é semelhante aos fatores que possibilitaram o surgimento do nazismo na Alemanha ou do fascismo na Itália. Isto tem origens mais recentes nos golpes de 1954 (que levou Getúlio Vargas a se suicidar), 1964 (que derrubou João Goulart) e 2016 (que derrubou Dilma Rousseff)."
Ações da Justiça Eleitoral em vários campi, às vésperas das eleições, indicam o reforço da vigilância sobre a universidade e um ataque claro à autonomia universitária. Na UFF, faixa "antifascista" foi arrancada. Poderia ser uma cena de 50 anos atrás: dentro de um campus de uma universidade federal, cinco policiais federais vigiam uma assembleia estudantil organizada em defesa da democracia e contra o fascismo. A pretexto de defender a lei eleitoral, um fiscal da Justiça Eleitoral exibe ordem judicial para prender quem fizer “alguma fala tendenciosa”. A cena ocorreu na quarta-feira, 24, no prédio que abriga os campi da UFRJ e da UFF em Macaé. É parte de uma série de acontecimentos que, às vésperas das eleições, indicam o reforço da vigilância sobre a universidade e um ataque claro à autonomia universitária. Em todo o país, têm ocorrido ações do tipo. Reportagem do jornal “O Globo” contabiliza ações em 17 universidades de nove Estados. A "Folha de S.Paulo" também destacou o tema em sua edição desta sexta, 26, salientando a reação da comunidade acadêmica às ações. Em Macaé, o clima de indignação marcou a assembleia. Os estudantes acusaram o TRE de intimidar e censurar o movimento estudantil. Professor de Biologia da UFRJ e representante sindical da Adufrj, Jackson Menezes afirmou que não foi a primeira ação da Justiça Eleitoral para coibir manifestações. “No primeiro turno, estiveram no Instituto Federal Fluminense retirando adesivos do peito das pessoas”, contou. A intimidação em Macaé começou na véspera da assembleia estudantil. Fiscais do TRE foram até o campus, entraram na Faculdade de Direito da UFF e constrangeram um professor e alunos. Queriam saber quem estava organizando a assembleia. “Disseram que seria proibido citar candidato, mesmo em pergunta”, afirmou Rafaela Corrêa, do DCE UFRJ. No mesma quarta-feira, fiscais do TRE estiveram no campus da UFRJ no Fundão e apreenderam material distribuído num debate com Manuela D’Ávila, candidada a vice na chapa de Fernando Haddad. O vice de Jair Bolsonaro foi convidado e recusou. Os fiscais contaram que receberam denúncia de campanha irregular e mostraram somente pedido de investigação do Ministério Público Eleitoral no WhatsApp. O decano do Centro de Tecnologia, professor Walter Suemitsu, acompanhou os fiscais, defendeu os alunos e informou que todos os passos do evento foram antecipadamente avisados à Decania e ao TRE. Ao Boletim da Adufrj, a Justiça Eleitoral informou ter recebido denúncia de que haveria campanha e distribuição de material em Macaé. O juiz Sandro de Araújo Lontra determinou o envio de equipe ao local. A ação no campus do Fundão, segundo o TRE, foi motivada por denúncia da Procuradoria Eleitoral. O TRE não informou se houve decisão judicial. A Lei Eleitoral proíbe o uso de prédios públicos para campanha. VIGILÂNCIA POR TODA PARTE Na terça-feira, 23, uma equipe do TRE foi à Faculdade de Direito da UFF, e retirou a faixa “Direito Antifascista”. A UFF registrou a ocorrência. Em nota, o Andes repudiou as ações. “Representam um ataque às universidades e à liberdade de expressão”, afirma a nota. A seção da OAB no Rio divulgou nota de repúdio contra as ações nas universidades, por entender que elas tentam censurar a liberdade de expressão dos estudantes. Na Paraíba, a Associação de Docentes da Universidade Federal de Campina Grande foi alvo de mandado de busca e apreensão de panfletos em defesa da democracia e da universidade. No Rio Grande do Sul, a Justiça Eleitoral proibiu o evento “Contra o Fascismo. Pela democracia”, na UFRGS. A aula pública teria a presença de Guilherme Boulos e do ex-governador Tarso enro. “Censurado para falar na UFRGS, no estado que governei. Fascismo cresce”, protestou Genro.
Representantes do TRE compareceram ao Centro de Tecnologia para acompanhar o encontro de Manuela D'Ávila, candidata a vice-presidente do Brasil, com a comunidade universitária Tensão na universidade. Fiscais do Tribunal Regional Eleitoral compareceram ao auditório do Centro de Tecnologia da UFRJ para acompanhar uma sabatina de Manuela D'Ávila, candidata a vice-presidente do Brasil pela coligação PT/PCdoB/PROS. O evento, nesta quarta-feira (24), foi organizado pelo DCE Mário Prata, que informou também ter convidado o candidato a vice da chapa de Bolsonaro. Mas o general Hamilton Mourão não compareceu. Os fiscais contaram ter recebido denúncias de que havia propaganda eleitoral e recolheram folhetos do diretório estudantil. "Não recolhemos todo o material, pegamos apenas exemplares para o juiz avaliar se é ou não propaganda", argumentou o fiscal Paulo Roberto. "Não vou me identificar para a imprensa", completou, ao ser questionado sobre seu nome completo. Os fiscais não apresentaram nenhum documento com ordem judicial que amparasse a visita. "Temos apenas o documento por Whatsapp", explicou. Preocupado com a segurança dos estudantes, o professor Walter Suemitsu, decano do CT, avisou aos fiscais que o evento estava cumprindo todos os requisitos legais e que a Decania e o Tribunal Regional Eleitoral foram informados com antecedência pelos alunos. Natália Borges, diretora do DCE, observou que a universidade tem um papel fundamental em defesa da democracia e da liberdade. A estudante observou que todas as atividades organizadas pelo diretório nos últimos meses com foco nas eleições procuraram chamar candidatos de diferentes posições: "Porque a gente acredita que a universidade é um lugar de pensar política. Esta sabatina de hoje é um exercício de democracia". A sabatina "Esta é a eleição mais importante das nossas vidas", disse Manuela D'Ávila, durante o encontro com a comunidade da UFRJ — o auditório estava lotado. "No próximo domingo, estaremos diante de escolhas muito profundas. Do nosso lado, um projeto que defende o desenvolvimento nacional, com distribuição de renda e justiça social. Do outro lado, um projeto que não defende o desenvolvimento do Brasil, que não defende a nossa soberania, que pretende continuar entregando nossas riquezas", completou. A candidata mostrou preocupação com as recentes perseguições a professores, defendeu a autonomia universitária, as eleições paritárias para reitor e a gratuidade do ensino. Para ela, a proposta dos assessores de Bolsonaro de cobrar mensalidades nas universidades federais tem como objetivo final acabar com estas instituições. Também convidada, Sônia Guajajara, candidata a vice-presidente na chapa do PSOL, deixou claro que tem críticas ao PT, mas o momento exige unidade: "Não podemos permitir que embriões da ditadura sufoquem a nossa democracia". Homenagem a Marielle A sabatina terminou com uma homenagem a Marielle Franco (PSOL), assassinada este ano. Os estudantes fixaram uma placa com o nome da vereadora no Fundão, na esquina entre a avenida Athos da Silveira Ramos e a avenida Horácio Macedo.