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Elisa Monteiro e Fernanda da Escóssia Qual o segredo da Faculdade de Medicina da UFRJ? Aos 210 anos, a unidade mistura a atuação sólida em ensino, pesquisa e extensão com histórias inspiradoras de seus professores e alunos para se manter no posto de curso mais procurado do país no Enem. Ao todo, a Faculdade abriga cerca de 950 alunos de outros cursos, além dos 1.200 graduandos da Medicina. Nos nove programas de pós- -graduação, há mais 500 mestrandos e doutorandos. As comemorações pelos 210 anos incluíram um concerto na sala Cecília Meirelles e uma sessão solene na Academia Nacional de Medicina, acompanhada por nomes como o do ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão. “Estive na primeira turma de residência de doenças infecciosas do Hospital Universitário (HUCFF). Foi uma experiência que mudou minha vida”, disse. Ainda com o nome de Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro, a faculdade foi criada em 5 de novembro de 1808, por carta régia de Dom João VI. Mais tarde, foi integrada à Universidade do Brasil, posteriormente chamada de UFRJ. “A Faculdade de Medicina da Bahia foi criada em fevereiro, mas nós começamos a funcionar primeiro, porque o Rio era capital. Praticamente inauguramos o ensino superior no país”, afirma o diretor da Faculdade, o epidemiologista Roberto Medronho. Pelos bancos da Faculdade passaram alunos notáveis, como Carlos Chagas, pai e filho, Oswaldo Cruz, Vital Brasil, Paulo Niemeyer e Ivo Pitanguy. É o berço da formação e aperfeiçoamento da elite médica do país. Até hoje segue como o curso com a maior nota de corte do país, em todo o sistema Sisu. “Mas o principal desafio é formar os alunos com o senso das humanidades, com o compromisso ético e técnico. O aparato tecnológico é necessário, porém o equipamento mais poderoso é o médico”, afirma Medronho, ex-aluno da escola. O estudante Eduardo Culierkorn concorda. “É difícil superar a tendência de ultraespecialização e aproximar a Medicina do paciente. Grande parte dos problemas de saúde está relacionada a fatores como diabetes e hipertensão”, justifica o futuro médico. “Sempre tivemos e ainda mantemos a capacidade de selecionar os melhores alunos. Eles são muito bons”, avalia a professora Titular, ex-aluna e ex-decana do Centro de Ciências da Saúde Vera Lucia Halfoun. “Engana-se quem pensa que isso mudou com as cotas”, completa. Como experiência ruim, Vera guarda os tempos de censura. “Ainda era estudante quando um jornalista italiano me perguntou sobre o governo brasileiro. Saí correndo, passei semanas com medo”. Para a vice-presidente da Adufrj, professora Ligia Bahia, o aniversário de 210 anos confirma “a relevância da produção de conhecimentos críticos” produzidos na instituição. “A comemoração mostra que a Faculdade se apoia no seu passado para inovar no presente e no futuro”, resume Ligia Bahia, formada em Medicina na UFRJ em 1980.

Em tempos de ataque às liberdades de expressão e de cátedra, a universidade deve reagir a qualquer tentativa de cerceamento, sem antecipar a autocensura. Foi esse o tom do debate realizado na Escola de Comunicação   Em tempos de ataque às liberdades de expressão e de cátedra, a universidade deve reagir a qualquer tentativa de cerceamento, sem antecipar a autocensura. Foi esse o tom do debate realizado nesta quarta- -feira (7) na Escola de Comunicação da UFRJ, com participação de 60 professores, alunos e técnicos, além da direção da Adufrj e do Sintufrj. Um dos eixos da discussão foi a necessidade de buscar formas de proteção da comunidade acadêmica e, principalmente, de uma ação concreta na área de comunicação. “Não podemos enfiar a cabeça na terra, como um avestruz”, afirmou a diretora da Escola de Comunicação, Ivana Bentes. A presidente da Adufrj, Maria Lúcia Teixeira Werneck Vianna, destacou que é a pluralidade do ambiente universitário que favorece a produção do conhecimento crítico. Lembrou que o STF tornou sem efeito as ações da Justiça Eleitoral nas universidades, às vésperas do segundo turno. “Vamos agir sem alarmismo. O respeito às instituições é fundamental”, afirmou Maria Lúcia. Ela lembrou o serviço criado pela Adufrj para receber denúncias de ataques, bem como o atendimento oferecido pelo Plantão Jurídico. Estudantes, técnicos e professores expuseram o receio de ser alvo de algum tipo de assédio ou ataque em virtude de posicionamento político ou orientação sexual. O professor Paulo Vaz sintetizou um sentimento comum: o temor de que o governo de Jair Bolsonaro acabe sepultando, por subfinanciamento, qualquer pesquisa na área de artes, cultura e ciências humanas. “Temos de valorizar o lugar do pensamento, da universidade, e as ciências humanas são o lugar do pensamento crítico por excelência”, afirmou. Professor emérito da UFRJ, o filósofo Marcio Tavares D’Amaral iniciou e encerrou o evento destacando a necessidade de confiar nas instituições. Ele reiterou que o Brasil não vive uma ditadura e que o medo não pode paralisar a ação. “O medo é uma forma de inteligência. Ele nos diz quando recuar, ajuda a analisar o quadro. De algum modo, o medo nos orienta a agir”, afirmou.  

Valorizar a UFRJ e defender a universidade pública, gratuita e de qualidade é o objetivo da nova campanha da Adufrj. Apresentado ao Conselho de Representantes, o material começa a ser instalado nas próximas semanas. Valorizar a UFRJ e defender a universidade pública, gratuita e de qualidade é o objetivo da nova campanha da Adufrj. Apresentado ao Conselho de Representantes, o material está em fase de produção e começa a ser instalado nas próximas semanas. Com o título UFRJ SEMPRE, a campanha tem três eixos: Sou o(a) Primeiro (a), sobre estudantes que são pioneiros em suas famílias a cursar o ensino superior. Só aqui tem, sobre projetos de pesquisa inovadores realizados nas mais diversas áreas do conhecimento. E UFRJ SIM, sobre atividades de extensão que melhoram diretamente a vida das pessoas. As peças da campanha foram idealizadas pelo premiado designer André Hippertt e incluem outdoor, busdoor, livretos, adesivos, banners e cartazes: “O foco principal da campanha era criar peças que dialogassem não só com o público interno, mas principalmente com o público externo. Mostrar a cara dos estudantes, suas realizações, mostrar os grandes projetos e pesquisas desenvolvidos em todos os campi, mostrar as ações sociais e democráticas que são práticas diárias na UFRJ. O visual alegre e despojado foi criado para que este diálogo se desse da forma mais direta e emocionante possível”, explica. Diretor da Adufrj, Felipe Rosa observa que a campanha surgiu a partir dos últimos acontecimentos que atingiram a UFRJ, especialmente o incêndio no Museu Nacional: “Isso gerou uma repercussão negativa muito grande”. Ele completa: “Com a campanha, vamos mostrar que UFRJ é esse lugar onde acontece pesquisa e ensino de qualidade, extensão ampla e essa integração de alunos, das mais diferentes proveniências sociais e geográficas”, afirma. “Não será apenas uma campanha de comunicação. Na segunda fase da campanha, faremos vários eventos”, explica a presidente da Adufrj, Maria Lúcia Werneck. Larissa Rios é a primeira integrante da família a cursar o ensino superior. Moradora de Nova Iguaçu, gasta duas horas e meia para ir até a Escola de Comunicação da UFRJ, na Zona Sul do Rio. Entrou no curso de Jornalismo no início de 2017, graças às cotas. Agora, Larissa empresta seu rosto e sua história para a campanha “UFRJ Sempre”. “Considero a campanha superimportante para mostrar a diversidade e tudo de maravilhoso que existe na UFRJ”, elogia.

Na era Bolsonaro, política para ciência deve apostar em estimular apenas pesquisa aplicada contra pensamento crítico no ensino superior. Comunidade acadêmica se preocupa com primeiras decisões para área científica Ameaça à liberdade de cátedra, enfraquecimento das ciências básicas e desarticulação entre todos os níveis de ensino. Essas são algumas consequências das medidas anunciadas pela equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro que atingem a Academia e transformam as universidades brasileiras em cobaias de um projeto pouco debatido com a população e nada testado em experiências anteriores. A avaliação é de respeitados especialistas em Educação ouvidos pelo Boletim da Adufrj. No dia 5, Bolsonaro afirmou ser favorável à gravação de professores em sala de aula, prática recentemente rejeitada pela Justiça de Santa Catarina. Para Gaudêncio Frigotto, Titular da Faculdade de Educação da Uerj, a filmagem “é absolutamente inconstitucional” sem a autorização docente. “É uma forma de acuar, de fazer cair na pedagogia do medo”, alerta. Emérito da Faculdade de Educação da Unicamp, Dermeval Saviani também critica: “O problema é a tentativa de censura. Aí entra essa visão da Escola sem Partido que, na verdade, é uma escola dos partidos conservadores e reacionários”. Professor Titular da Faculdade de Educação da UFRJ, Luiz Antônio Cunha considera o Escola Sem Partido um movimento implícito contra a laicidade do Estado: “As páginas do movimento ESP trazem exemplos caricatos de professores que usam a sala de aula como espaço de doutrinação político-ideológica, mas é significativo que nenhum caso é divulgado sobre a doutrinação religiosa, muito comum no ensino fundamental e no médio”. Ele completa: “Contendas não faltarão no campo educacional, no cruzamento entre os campos político e religioso”. Outra contenda é a transferência das universidades do MEC para o da Ciência e Tecnologia, medida anunciada Bolsonaro logo depois da eleição. No dia 6, Marcos Pontes, futuro ministro da Ciência e Tecnologia, disse não saber se as universidades seriam incorporadas à pasta. Mas defendeu mudanças na legislação para as instituições receberem recursos privados. Dermeval Saviani se assusta com a proposta: “Querem vincular as universidades às demandas de mercado, encaminhar a eliminação do ensino gratuito e, por fim, privatizar as instituições”. Para o docente, as ciências básicas, especialmente das áreas de humanas, passarão para segundo plano. “É um grande prejuízo para a pesquisa e a educação do país”. O sucateamento das universidades estaduais fluminenses, vinculadas à Secretaria de C&T, é lembrado pelo professor Frigotto. “Já tem o modelito aqui do Rio”. O professor Cunha mostra preocupação com a própria concepção do processo educacional: “Quem pensa educação como um todo e a necessária articulação entre os níveis do ensino não aceita essa fragmentação”, disse.

Anúncio de que Bolsonaro transferirá ensino superior do Ministério da Educação para o de Ciência e Tecnologia surpreendeu comunidade acadêmica. Medida veio acompanhada do anúncio do novo ministro de C&T, o astronauta Marcos Pontes. Ana Beatriz Magno e Silvana Sá   O anúncio de que o futuro governo Bolsonaro pretende transferir o ensino superior do Ministério da Educação para o de Ciência e Tecnologia surpreendeu e preocupou a comunidade acadêmica. As reações ocorrem tanto pela mudança em si como pela falta de diálogo com instituições do setor. A medida veio acompanhada do anúncio do novo ministro de C&T, o astronauta Marcos Pontes. Em entrevista ao Boletim da Adufrj, Pontes disse que quer aumentar investimentos em CT&I e recuperar a infraestrutura das universidades. A meta é passar dos atuais R$ 2,9 bi para até R$ 15 bi a partir de 2020, destinando 3% do PIB à área até o fim do governo. “Precisamos descontigenciar fundos e ampliar investimentos. Queremos integrar ensino e pesquisa”, disse. Especialistas ouvidos pelo Boletim da Adufrj veem as propostas com ceticismo. “Pode gerar instabilidade. Ninguém sabe como será a migração”, diz o diretor de Tecnologia e Inovação da Coppe, Fernando Rochinha. Segundo ele, mudanças assim exigem certeza de retornos maiores que transtornos. Levar universidades para o MCTI foi uma proposta do governo Itamar Franco (1992-1994). Projeto do ex-senador Cristovam Buarque (PPS) previa o mesmo, mas não avançou. “Esperamos que o tema seja reexaminado com o aprofundamento que exige, e que se abandone esta ideia”, disse o reitor da UFRJ, Roberto Leher. Especialista em políticas para Educação, ele vê com preocupação a mudança. “É negativo do ponto de vista da articulação entre educação básica e ensino superior”, afirmou. Para o reitor, manter as universidades no MEC melhora a educação básica. “Políticas para educação básica são exitosas quando investimos em formação de professores nas universidades”. O presidente da SBPC, Ildeu Moreira, informa que a entidade prepara um estudo sobre vantagens e desvantagens da transferência e que convidará o novo ministro para um encontro com a comunidade científica. Ele ressalta a importância da manutenção das agências de fomento — Capes, CNPq e Finep — atuando separadamente. Sobre orçamento, há dúvida se os números anunciados incluem gasto com pessoal. “Se aumentar investimento será substancial, mas se incluir recursos de pessoal não mudará praticamente nada”, pontua Ildeu. Ex-reitor da UFRJ e ex-secretário de Ensino Superior do MEC, Nelson Maculan Filho alerta para a questão do financiamento. “A questão não é onde a universidade vai ficar, mas a garantia de recursos de investimento para ela”. Outra questão sensível é a autonomia universitária. A equipe de Bolsonaro sinalizou que quer interferir na escolha dos reitores. Esta semana, o Supremo Tribunal Federal proibiu ações que firam a autonomia universitária e as liberdades de cátedra e de pensamento.

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