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Parte das medidas é a recarga de extintores: Huascar Filho, coordenador da Segurança e Saúde do Trabalho do CT, ensina como usá-losIgor Vieira

Eram 6h40 da manhã de quarta-feira (19) quando funcionários da limpeza do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN) sentiram cheiro de fumaça no bloco H. Eles acionaram os bombeiros imediatamente, mas uma sala foi queimada. Assim começou mais um incêndio na UFRJ, o segundo em duas semanas e o mais recente de um histórico que inclui a tragédia do Museu Nacional e a destruição de parte do prédio da reitoria.
De 2018 para cá, aconteceram grandes e pequenos incêndios: na Ala F no Hospital Universitário; no Laboratório Central Analítica de Graduação, do Instituto de Química, localizado no bloco A do CT; mais um no edifício Jorge Machado Moreira (JMM), da reitoria, desta vez, no primeiro andar; e em duas salas da Coppe no bloco H, também no CT.
Mas há uma luz indicando a saída de emergência: a UFRJ contratou, por meio de licitação, brigadas de bombeiros civis profissionais. Eles serão alocados em diversos campi, sendo divididos em turnos, fechando uma cobertura de 24h. O incidente no CCMN ocorreu pouco antes da instalação das brigadas.
O decano em exercício do CCMN, professor Cabral Lima, explicou o “desencontro”: “Ainda faltam algumas questões de infraestrutura, como, por exemplo, comprar maca e equipamentos para primeiros socorros”.
Carlos Eduardo, assessor de segurança do trabalho da decania do CCMN, lamentou a perda do patrimônio: “Os bombeiros, já estando aqui, poderiam não só ter percebido o fogo durante uma ronda, como ter feito o primeiro combate, mitigando os efeitos e controlando-o”.WhatsApp Image 2023 04 20 at 20.21.36 5O FOGO consumiu uma sala de aula do CCMN na quarta-feira (19) - Foto: Silvana Sá
O superintendente da pró-reitoria de Gestão e Governança (PR-6), Rodrigo Gama, detalhou a alocação de bombeiros: “Para o dimensionamento dos postos de trabalho, a Coordenação de Projetos contra Incêndio/Escritório Técnico Universitário fez o estudo, que teve como base a área de cada edificação, as características de uso e o fluxo de pessoas, de acordo com a legislação”.
O superintendente também mencionou datas e valores: “Nos próximos 30 dias, ocorrerá a implantação de mais dois contratos para a operacionalização da brigada de incêndio em diversas unidades, o que custará R$ 7 milhões por ano”. Ele afirma que serão, no total, 104 bombeiros, em escala de 12 x 36 horas.
A diretora da Escola de Belas Artes (EBA), professora Madalena Grimaldi, comentou a importância da brigada para o prédio JMM, que abriga a EBA e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU): “Os seguranças do prédio perceberam o fogo, evacuaram as pessoas e chamaram os bombeiros. Mas a brigada, além de evacuar, pode agir no foco do incêndio na hora, assim como realizar resgates de pessoas presas no elevador e cuidar das vidas, não só do patrimônio”, detalhou Madalena.
Em 2016, o sétimo e oitavo andares queimaram, e estão danificados até hoje: “O incêndio foi na madrugada, mas eu só cheguei lá às 5h. Ainda tinha uma fumaça horrível, tudo queimado, corredor preto, salas pretas. Minha grande preocupação era o Museu D. João VI, com o acervo mais precioso da UFRJ depois do Museu Nacional. Felizmente, o fogo não chegou nessa área”, desabafou.
O museu mais precioso da UFRJ também queimou, em 2018. O diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, disse que a brigada é bem-vinda: “Recebemos dois postos de 24h, mas para o museu são necessários três por turno. Mas não estou reclamando, agradeço à atual reitoria”, disse Kellner. Ele comentou sobre a fatídica noite: “Caso tivéssemos bombeiros em 2018, o fogo seria dominado. Eu assumi a diretoria do Museu Nacional seis meses antes do incêndio. Vou lutar para reconstruir o museu. Se as pessoas que podem fazer a diferença se omitirem, nada muda”.
O professor Kellner está otimista com o novo governo: “Bati em muitas portas, tomei chá de cadeira e café frio. No governo Bolsonaro, eu nem tinha onde bater. O presidente Lula disse que agora não receberei um ‘não’, e o café vai estar quente (risos)”, relembrou.
Apesar da dificuldade, há avanços: “Em 6 de junho de 2024, quando o Museu completar 206 anos, abriremos a sala central do meteorito e a escada monumental, com baleia e claraboia. As pessoas vão poder entrar, não só olhar. Estou orgulhoso em anunciar isso”, revelou.
O campus Duque de Caxias também será contemplado com as brigadas: “Nos contemplaram com um edital, ainda aberto, porque estamos em outro município”, explicou a diretora do campus, Juliany Rodrigues. “É obrigação ter uma brigada em prédio público, para a segurança patrimonial e das pessoas. Temos nossa Comissão de Biossegurança de técnicos e professores, mas a brigada é um alívio também”.
O superintendente do Centro de Tecnologia, Agnaldo Fernandes, comentou sobre a brigada da Coppe: “Nossa ideia é trabalhar em conjunto com essa experiência acumulada pela equipe da Coppe e com a nova brigada, seja na execução ou na estrutura da universidade”.

DISCORDÂNCIAS
O professor Pedro Lagerblad, do Instituto de Bioquímica Médica e ex-diretor da AdUFRJ, apresentou uma visão diferente: “Uma brigada profissional, no modelo da Coppe, é muito cara; custa mais que o treinamento para voluntários”. Ele considera a brigada voluntária do CCS um caso de sucesso: “Ela é formada por docentes, técnicos e estudantes que passaram pelo treinamento, possuem uma familiaridade maior com a estrutura, e se comprometem com a defesa e manutenção da UFRJ”.
“A ideia, então, é complementar a brigada voluntária com a profissional, que ainda é necessária: o incêndio no Museu Nacional, por exemplo, ocorreu no domingo de madrugada”, afirma Lagerblad. “Penso no componente social e na sustentabilidade. No governo Bolsonaro, estivemos aqui, não dependemos de nenhum ministério”.
O técnico Lucas Pinho, chefe da brigada voluntária do CCS, concorda: “Um mês de pagamento de brigadista é o suficiente para pagar o treinamento de cerca de mil pessoas”. Ele defende que pode ser ainda mais barato: “Estamos estudando, junto com o ETU, a criação de um centro de treinamento no Fundão, por volta de R$ 1,5 milhão”.
“A brigada voluntária existe há 10 anos, feita de baixo para cima, pelos próprios servidores. Depois do episódio do Museu Nacional, diversas universidades expandiram suas brigadas, e a UFRJ não aumentou a sua”. Mesmo assim, tanto ele quanto o professor Lagerblad consideram a brigada profissional bem-vinda, por “dar cobertura” à universidade e evitar um desastre com vidas da comunidade acadêmica.

WhatsApp Image 2023 04 20 at 20.50.32 1Na semana em que completou quatro anos de existência, o Observatório do Conhecimento lançou, em Brasília, um relatório sobre o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES). O documento foi entregue a parlamentares, membros do Executivo e representantes de entidades ligadas à Ciência. Suas principais reivindicações são a recomposição do orçamento do programa, a universalização para todos os estudantes com renda familiar de até um salário mínimo, a garantia de um valor mínimo para as bolsas, atrelado ao salário mínimo estadual, e reajustes anuais com base no IPCA.
“As universidades são um caminho de inclusão, mas essa inclusão não vai acontecer sem que a universidade garanta aos estudantes políticas de permanência. Esse é um governo que tem compromisso com a renda básica. Estudantes que não têm renda não podem ficar sem essa renda básica”, explicou a professora Mayra Goulart, coordenadora do Observatório e vice-presidente da AdUFRJ. “Por isso precisamos de um desenho melhor para o PNAES, com garantias mínimas para que todos os estudantes que têm direito ao programa sejam contemplados, e com benefícios que garantam a sua subsistência de maneira digna”, acrescentou.
O PNAES foi criado em 2008, por um decreto presidencial, para oferecer apoio socioeconômico a estudantes de instituições federais de ensino superior que enfrentam dificuldades financeiras e sociais para permanecerem na universidade. O programa garante o direito à assistência estudantil a todo aluno que possua renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio, e prevê ações como o fornecimento de moradia estudantil, alimentação, transporte, assistência à saúde, inclusão digital, esporte, cultura e lazer.
Devido aos cortes no orçamento que as universidades vêm sofrendo nos últimos anos, o PNAES foi encolhendo e deixando as universidades sem mobilidade orçamentária para sua expansão. A queda no orçamento das universidades coincide com um período de escalada da inflação, que, desde 2015, está acumulada em 59,47%, de acordo com o IPCA medido pelo IBGE. Isso significa que o poder de compra da população foi reduzido a menos da metade, sem que as bolsas de auxílio pudessem ser reajustadas em um ritmo parecido.
“Nós vínhamos em um processo de crescimento da demanda pela assistência estudantil acompanhado de um crescimento dos recursos do PNAES. Os cortes na rubrica do programa começaram pequenos, mas em 2021 o orçamento foi reduzido em quase 20%. Em 2022 há uma pequena recomposição, mas o orçamento de 2023 foi elaborado com uma diminuição dos recursos”, contou a professora Maria Rita de Assis César, coordenadora do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace), ligado à Andifes, e pró-reitora de Assuntos Estudantis da Universidade Federal do Paraná.

AGENDA DA EDUCAÇÃO
Os representantes do Observatório que estiveram em Brasília participaram, na terça-feira (18), do lançamento da Frente Parlamentar Mista da Educação, que será presidida pela deputada Tábata Amaral (PSB-SP) e terá a deputada Ana Pimentel (PT-MG), professora da Universidade Federal de São João del-Rei, na vice-presidência de Educação Superior. No encontro, além da celebração pelo lançamento da frente, também foi lembrada a parceria entre os parlamentares e o Observatório.
“Foi, como sempre, uma agenda muito profícua. A Frente Parlamentar da Educação tem uma nova composição, mas a parceria com o Observatório continua”, comentou a professora Mayra Goulart.
Na manhã de terça-feira, o grupo também participou da reunião do Fórum Interconselhos Nacional. As reuniões do fórum foram interrompidas em 2017, e este foi o primeiro encontro desde então, onde começou a ser debatido o Plano Plurianual Participativo, em que a sociedade opina sobre as prioridades para investimento de recursos em políticas públicas nos próximos quatro anos.
No encontro estavam presentes representantes da sociedade civil. Representando a Ciência estavam o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Renato Janine Ribeiro, e da Academia Brasileira de Ciências, Helena Nader. “Há aqui representações com muita preocupação com a reinclusão social, tirar de novo o Brasil do mapa da fome”, contou Janine Ribeiro.
A agenda de atividades na capital também teve encontros com parlamentares no Congresso Nacional. Para a professora Mayra, a agenda foi produtiva por manter o Observatório do Conhecimento como um agente importante na discussão sobre políticas públicas para as universidades e para a área de Ciência e Tecnologia. “O processo de reconstrução do Brasil vai exigir esforços da classe política, no Executivo e no Legislativo, e da sociedade civil. Nesse novo cenário, o papel do Observatório será continuar propondo, a partir de dados concretos, ações que fortaleçam a universidade e Ciência, que terão papel crucial nessa reconstrução”, avaliou.

WhatsApp Image 2023 04 14 at 10.15.00Foto: Zô GuimarãesPredominou o tom moderado no primeiro debate entre as candidaturas que disputam a reitoria da UFRJ. A Chapa 10 "UFRJ para Todos", dos professores Roberto Medronho e Cássia Turci, representa o campo político da atual administração central da universidade. Já a Chapa 20 "Redesenhando a UFRJ", dos professores Vantuil Pereira e Katya Gualter, integra o campo de oposição à atual gestão da UFRJ. O debate aconteceu no Salão Pedro Calmon, do histórico Palácio Universitário da Praia Vermelha. A mediação foi realizada pelo presidente da Comissão Coordenadora da Pesquisa à universidade, professor Eduardo Mach. As eleições para a reitoria acontecem nos dias 25, 26 e 27 de abril.

Os dois pontos de divergência entre as chapas, evidenciados no debate, são as posições sobre a concessão da área da Praia Vermelha para a construção do novo "Canecão" e a contratualização da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares para gerir as unidades de saúde da UFRJ.

A Chapa 20 é contrária a ambos. "A Chapa 20 recusa qualquer perspectiva privatista. Entendemos que o 'Viva UFRJ' e a Ebserh são projetos que ferem de morte a nossa instituição", disse Vantuil Pereira. Nesse momento, os estudantes se manifestaram contra os dois projetos.

"O reitor não é um tirano. É alguém que respeita as decisões dos seus colegiados", rebateu a professora Cássia Turci. O professor Roberto Medronho, candidato a reitor da chapa, completou: "O Conselho Universitário decidiu abrir as negociações com a Ebserh, a partir de pedido de todos os diretores dos hospitais universitários, de aprovação da Congregação da Faculdade de Medicina e do Conselho do Centro de Ciências da Saúde. Afirmo que nenhuma decisão será tomada fora do rito da gestão democrática da UFRJ. E o leilão da área onde funcionará o novo equipamento cultural da Praia Vermelha já aconteceu", ponderou. "Se quebrarmos o contrato, quem vai pagar a multa rescisória, que é milionária? A UFRJ? Precisamos ter responsabilidade".

Vantuil Pereira replicou: "O Conselho Universitário autorizou a abertura de negociações com a Ebserh, não a contratualização. Eu quero ler esse contrato antes de decidir sobre ele", disse. O candidato, no entanto, não falou sobre alternativas ao atual projeto de construção da casa de espetáculos.

O início do debate foi definido por sorteio. A Chapa 20 foi a primeira a falar. O professor Vantuil Pereira se apresentou como fruto do Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). "Sou professor da UFRJ desde 2009. Sou, portanto, filho do Reuni".

O professor Roberto Medronho apresentou sua trajetória na UFRJ desde 1977, quando ingressou como estudante. "Sou filho da escola pública e temos longa experiência administrativa na nossa universidade, eu e a professora Cássia".

Sobre infraestrutura, o professor Roberto Medronho propôs a modernização do Sistema de Bibliotecas da universidade. Já a professora Katya Gualter, candidata a vice-reitora pela Chapa 20, propôs a modernização da TIC e um projeto de expansão que conclua obras iniciadas em 2007, pelo Reuni. O debate completo está no canal da UFRJ no Youtube.

Texto atualizado às 15h55 do dia 14/4

CASA CHEIA PARA ACOMPANHAR OS REITORÁVEIS EM MACAÉ

No Centro Multidisciplinar de Macaé, as duas chapas também foram representadas com os candidatos a reitor e as candidatas a vice-reitora. Pela Chapa 10, debateram o professor Roberto Medronho e a professora Cássia Turci. Pela Chapa 20, o professor Vantuil Pereira e a professora Katya Gualter. A atividade aconteceu no dia 12 de abril.

Por sorteio, a Chapa 20 iniciou o primeiro bloco do debate. A professora Katya, candidata a vice-reitora, defendeu a expansão de cursos na UFRJ. "Em 1993, integrei a equipe proponente dos cursos noturnos da UFRJ. Em 2007, integrei a equipe proponente dos cursos Reuni", contou.

Já o professor Vantuil defendeu a reformulação dos espaços de decisão da universidade e revelou que o pró-reitor de Extensão de sua eventual equipe será um docente de Macaé. "É preciso dar a Macaé o espaço de poder com representação nas pró-reitorias. Nós teremos um pró-reitor de Extensão de Macaé", afirmou.

Ao longo do debate, a Chapa 20 reforçou posições em apoio à diversidade, apresentou propostas sobre gênero e raça, criticou a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) e citou a criação de fóruns permanentes de diálogo com os três segmentos da universidade - professores, técnicos e estudantes. No entanto, demonstrou pouco conhecimento sobre assuntos específicos da área da Saúde e sobre os problemas enfrentados pelo campus Macaé.

Os candidatos da Chapa 10, por sua vez, relembraram a atuação em parceria com Macaé na implantação de cursos e na superação da crise enfrentada pela Medicina de Macaé, entre 2011 e 2013. "Estivemos aqui há duas semanas e estaremos sempre que for possível, como sempre fizemos, eu e a professora Cássia", frisou o professor Roberto Medronho.

O docente destacou sua atuação durante a pandemia que teria tido como consequência um conhecimento mais profundo da universidade. "Pude conhecer toda a excelência acadêmica de todas as unidades em todos os campi desta universidade. Foi uma das coisas que me deu forças para estar hoje aqui me propondo a ser candidato a reitor".

A chapa também defendeu a inclusão, o acolhimento a estudantes, mas citou a importância de incentivar a área de inovação e de internacionalização da universidade. A chapa revelou ter propostas para superar as dificuldades de infraestrutura ainda enfrentadas pela comunidade acadêmica de Macaé. "Precisamos expandir a pós- -graduação aqui em Macaé, atuar na formação de professores e criar laboratórios e espaços de pesquisa multiusuários", disse a professora Cássia. "Bons laboratórios da graduação vão gerar bons estudantes de pós-graduação", concluiu.

O Jornal da AdUFRJ ouviu a avaliação dos candidatos sobre o primeiro debate entre as chapas e sobre as prioridades da campanha

ENTREVISTA I PROFESSOR ROBERTO MEDRONHO, CANDIDATO A REITOR PELA CHAPA 10

“TEMOS MUITA INTERLOCUÇÃO COM O GOVERNO FEDERAL E JÁ ESTAMOS FALANDO COM ALGUMAS PESSOAS EM BRASÍLIA”

WhatsApp Image 2023 04 14 at 14.13.07 5Jornal da AdUFRJ – Qual sua avaliação sobre o debate de hoje?
Roberto Medronho
– Foi um debate muito respeitoso, em que as divergências foram ressaltadas, e vai ajudar muito nossos professores, técnicos-administrativos em educação e discentes a escolherem o melhor nome para gerir essa universidade pelos próximos quatro anos. Temos convicção de que nós, da chapa 10, apresentamos de forma muito clara as nossas proposições. Uma chapa que se propõe a gerir a maior universidade federal desse país, uma das melhores, não pode apenas dizer se é contra algo. Tem que apresentar propostas. Nós temos um programa feito a muitas mãos, que está sendo aperfeiçoado.

Tem algum destaque sobre o ponto mais alto e mais baixo do debate?
Não. Eu acho que o debate foi bem equilibrado. Conseguimos mostrar todas as nossas principais propostas – e por isso pedimos que as pessoas nos sigam.

O que destaca entre as suas propostas?

Nós precisamos investir muito em PNAES, precisamos ter alojamento, ter restaurante universitário em todos os campi. Nós precisamos dar café da manhã em todos os restaurantes universitários. E, enquanto não temos alojamento para todo mundo, temos que sublocar leitos ociosos na rede hoteleira para que nós consigamos, a um preço justo, ter uma adequação para receber esses alunos. Precisamos ampliar as bolsas de ações afirmativas, porque só 20% estão sendo atendidos. Temos o problema grave da infraestrutura. E vamos buscar orçamento não só no MEC, mas no Ministério da Saúde e em todos os ministérios, nos governos estadual e municipais onde temos campi. Enfim, temos enormes desafios, mas a UFRJ vive um momento histórico de conseguir, por meio de uma maior interlocução com o governo federal, aumentar o orçamento e conseguir ajudar na reconstrução do país. Temos muita interlocução com o governo federal e já estamos falando com muitas pessoas em Brasília.

O senhor considera que houve um vencedor no debate?
A democracia saiu ganhando. Os grandes vencedores foram o debate franco de ideias, a comunidade acadêmica, a autonomia e a democracia universitárias.

ENTREVISTA I PROFESSOR VANTUIL PEREIRA, CANDIDATO A REITOR PELA CHAPA 20

“ESTA UNIVERSIDADE NÃO PODE SE FECHAR MAIS AO CONJUNTO DE PESSOAS NOVAS QUE ESTÃO AQUI”

WhatsApp Image 2023 04 14 at 14.13.08Jornal da AdUFRJ – Qual sua avaliação sobre o debate de hoje?
Vantuil Pereira –
Foi um debate muito positivo, que marcou a diferença entre as chapas, em que pese a tentativa da outra chapa de não se colocar como situação. Parecia um discurso de oposição, que aponta muita coisa a fazer, mas sem balanço do que foi feito. Nós apresentamos questões fundamentais da nossa chapa. Afirmamos a democracia, a necessidade de incorporação de Macaé e Caxias nos nossos conselhos, de abraçar esses campi em espaços de poder, como as pró-reitorias, bem como a questão vinculada à nossa autonomia universitária. Defendemos que o orçamento da União, as emendas parlamentares e o orçamento próprio são os meios para que a universidade rompa uma tendência privatizante que está em curso na nossa instituição. Por fim, demos o nosso recado que esta universidade não pode se fechar mais ao conjunto de pessoas novas que estão aqui: pessoas negras, pobres, mulheres, travestis, trans, com deficiência e que é preciso, portanto, a universidade ter um olhar generoso sobre esses grupos.

Tem algum destaque sobre o ponto mais alto e mais baixo do debate?
É sempre difícil dizer. Mas eu acho que o ponto mais alto foi a nossa defesa em relação à diversidade, vinculada à autonomia universitária.

O que destaca entre as suas propostas?
Esse olhar para o passado saudoso da UFRJ é um olhar que sempre privilegiou alguns grupos. É preciso romper com isso, estamos num novo momento histórico. Temos o compromisso com a assistência estudantil, com a diversidade, com a democratização e com a afirmação da nossa autonomia universitária. Autonomia não se afirma na fala, se afirma no cotidiano. Então, qualquer tendência privatizante a gente entende como forma de enfraquecer a nossa diversidade e a nossa democracia. Não há uma prioridade, mas um conjunto de prioridades nas nossas propostas.

O senhor considera que houve um vencedor no debate?
A democracia sempre ganha. Havia uma tendência de ter chapa única. Hoje somos duas chapas competitivas. O debate político é uma riqueza da democracia.

 

D3 9123Foto: Fernando SouzaENTREVISTA I ADOLPHO POLILLO, REITOR DA UFRJ DE 1981 A 1985

O professor Adolpho Polillo encantou a plateia do café organizado pela AdUFRJ (link) com sua discreta elegância e com a força de sua história. Aos 95 anos, o último reitor dos tempos da ditadura militar contou as agruras de seu reitorado, entre 1981 a 1985, e rememorou como, de um lado, administrou a pressão do governo Figueiredo e, do outro, o braço crítico da comunidade acadêmica. "Foi um período difícil. Eu tinha que defender aqui os dirigentes perante os professores. E, lá em Brasília, tinha que defender os professores perante o presidente", lembrou o docente, que passou o cargo para o primeiro reitor eleito, o comunista Horácio Macedo.

Jornal da AdUFRJ: Quando o senhor ingressou na UFRJ?
Adolpho Polillo:
Ingressei como aluno, em 1948, e em 1953 comecei a dar aulas. Fiquei 49 anos sendo docente.

O que o senhor acha que é diferente hoje na universidade, da época que o senhor era estudante?
A universidade mudou bastante. A Engenharia era um curso muito difícil. Só existia uma escola de Engenharia no Rio de Janeiro todo. Era a Escola Politécnica, da Universidade Federal, que funcionava no Largo do São Francisco. Só depois a PUC criou um curso de engenharia também.

Como docente o senhor era de qual unidade acadêmica?
Eu era da Escola de Engenharia e da Faculdade de Arquitetura. Eu dava aula de Estruturas, na Engenharia, e na Arquitetura também havia essa disciplina. Então, eu dava aula das 7h às 9h e caminhava da Escola de Engenharia até a Faculdade de Arquitetura, para dar aula de 10h às 12h. Era o momento que eu tinha para dar a minha caminhada, pegar um sol. À tarde, eu me dedicava a escrever alguns livros e fazer minhas pesquisas.

O senhor foi reitor de 1981 a 1985. Quem era seu vice-reitor?
Uma pessoa muito leal, muito dedicada. Era o professor Jorge Abreu Coutinho.

Quem lhe sucedeu na reitoria?
Foi o professor Horácio (Macedo – reitor de 1985 a 1989).

Como foi esse processo?
O Horácio surgiu primeiro como candidato a decano do CCMN, disputando com Emídio [Paulo Emídio Barbosa, que tentava a reeleição, em 1982]. Ganhou. E o pessoal achava que o reitor não iria nomeá-lo como decano. Eu o nomeei tranquilamente. E assim ele foi crescendo politicamente e se tornou candidato a reitor. Havia algumas lideranças que imaginavam que eu teria um candidato, mas eu não tinha candidato algum.

Nessa época o senhor ainda não era eleito, era nomeado, certo?
Sim, eu era nomeado pelo presidente a partir de uma lista sêxtupla. Lista que era escolhida pela universidade nos moldes da legislação da época, via Colégio Eleitoral.

Quem era o presidente?
O presidente da República era o (João) Figueiredo. Ele assumiu comigo o compromisso de que faria a abertura. Eu perguntei a ele: “Presidente, é pra valer?” E ele me respondeu: “É pra valer! Vamos fazer a abertura. Faça muito diálogo.” Essa foi a única recomendação.

Como foi ser reitor nesse momento político?
Foi um período difícil, porque eu tinha que defender, de alguma forma, os dirigentes perante os professores e, lá em Brasília, defender os professores perante o presidente. Então, era uma coisa muito delicada. Mas deu tudo certo.

Como foi o diálogo com a comunidade universitária?
No início, foi um pouquinho complicado, mas aos poucos a gente foi conquistando as pessoas. Agora há pouco tive um testemunho da nossa companheira, a professora Eleonora Ziller, que era aluna da Faculdade de Letras. Nós terminamos o prédio da Faculdade de Letras. Ela lembra daquele momento. Ela até se emocionou. E, para mim, é emocionante também.

WhatsApp Image 2023 04 14 at 14.31.12Elas estão cada vez mais presentes — e com destaque — em um universo tradicionalmente dominado por homens: a Ciência. E essa saudável tendência acaba de ser captada por mais um relevante registro. Lançado no início deste mês, o livro "Cientistas brasileiros" (Editora Sapoti) traça o perfil de cinco pesquisadores contemporâneos do país, e as mulheres são maioria. Além de liderar pesquisas de ponta, reconhecidas mundo afora, as três cientistas destacadas têm outra coisa em comum: passaram pelos bancos da UFRJ. São elas Duília Fernandes de Mello, Lygia da Veiga Pereira e Suzana Herculano-Houzel. Completam a lista os pesquisadores Alan Alves Brito e Carlos Afonso Nobre.

"Trazer essas mulheres cientistas para o livro foi uma escolha natural, a partir do pressuposto de abordar várias áreas do conhecimento: o planeta, o cérebro, a genética. Elas vêm desenvolvendo pesquisas de relevância nessas áreas, são destaques reconhecidos", explica Daniela Chindler, uma das autoras de "Cientistas brasileiros". O livro traça também o perfil de seis cientistas do passado, o que só reforça a tese da atual "invasão feminina" na Ciência. Dos seis pioneiros, a única mulher é Bertha Lutz, pesquisadora que ingressou no Museu Nacional em 1919, que figura ao lado de nomes como Adolfo Lutz (pai de Bertha), Carlos Chagas, Oswaldo Cruz, Vital Brazil e o padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão.

DNA 100% BRASILEIRO
Das três perfiladas contemporâneas, a única com base no Brasil é Lygia da Veiga Pereira. Duília é radicada nos Estados Unidos, mesmo país onde vive Suzana. Lygia também passou por lá: fez cinco anos de doutorado em Nova York. Hoje professora e pesquisadora da USP, a geneticista lembra com carinho de sua passagem pela UFRJ. "Tenho uma enorme gratidão à UFRJ, pois foi onde eu descobri minha paixão pela genética e por pesquisa em laboratório. Estudei Engenharia na PUC-Rio e quase segui na área de Engenharia de Computação. No meio do curso, descobri os avanços da Engenharia Genética e fui apresentada por professores do Departamento de Física da PUC à professora Eliana Abdelhay, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho. Ela me aceitou para fazer iniciação científica. A partir dali eu descobri meu caminho", lembra.

A pesquisadora reconhece que a forte presença feminina na produção científica atual contrasta com o cenário de décadas atrás. "Na área biológica já há muitas mulheres atuando, embora haja mais homens em posições de liderança. Nas gerações anteriores à minha isso teve um peso maior, havia uma predominância masculina", acredita.

Lygia lidera uma pesquisa, abordada no livro, que procura delinear o DNA brasileiro. É uma consequência direta do sequenciamento do genoma humano, que demorou 15 anos para ser feito, custou bilhões de dólares e foi um marco na história da Ciência. "Só que não existe só um genoma humano. Apesar de sermos 99,9% idênticos, esse 0,1% que nos diferencia é que vai nos dar as características individuais", enumera a pesquisadora.

A tecnologia de sequenciamento avançou tanto que hoje você sequencia um genoma humano por 400 dólares em 24 horas. Isso vem permitindo que vários países sequenciem os genomas de centenas de milhares de pessoas das suas populações. "Isso é fundamental para que a gente entenda as variantes que indicam nossas predisposições às doenças, tome medidas preventivas, ou desenvolva medicamentos mais eficientes", aponta.

Iniciada em 2019, a pesquisa liderada por Lygia tenta "furar uma bolha" detectada pela comunidade científica internacional em 2017: até então as pesquisas nessa área eram feitas só com genomas de gente branca, a partir do sequenciamento feito nos Estados Unidos e na Europa.

"Falta diversidade nesses estudos. E se há uma coisa que o Brasil tem é diversidade", explica a professora. "Temos genomas de diferentes povos indígenas, mais os europeus, mais os povos africanos de diferentes regiões que vieram para cá como escravos. E 500 anos de miscigenação e extermínio, sobretudo dos povos indígenas".

Lygia conta que, "cada um de nós, brasileiros, é um mosaico com diferentes frações de DNAs europeus, africanos e indígenas. Temos que colocar o Brasil nesse mapa". A pesquisa de Lygia é capaz de resgatar pedaços de genomas indígenas de populações que já foram extintas. "Temos variações de genomas que ainda não foram descritas nos bancos de dados internacionais. Já conseguimos sequenciar 4 mil genomas e esperamos sequenciar este ano mais 6 mil. Só para uma comparação, a Inglaterra já tem 500 mil".

CIÊNCIA NAS ESCOLAS
Escrito em linguagem coloquial e com muitas ilustrações — feitas por Camilo Martins —, o livro está sendo distribuído a escolas da rede municipal carioca. A linguagem tenta aproximar um público jovem de temas mais afeitos à academia. "Não adianta trazer o público se você mantém uma linguagem elitista. A inclusão também tem a ver com isso. O livro tem um texto atraente, voltado a jovens. A ilustração também é uma forma de deixar mais fácil esse acesso. São pontos que refletem uma política de democracia no acesso à cultura", diz Daniela Chindler. A publicação também está disponível gratuitamente na plataforma Issuu (https://issuu.com/sapotiprojetosculturais/docs/cientistasbrasileiros) e em áudio book para pessoas com deficiência visual ou sem alfabetização.

Lygia Pereira acredita que a distribuição do livro em escolas públicas pode estimular o surgimento de novas vocações na produção científica. "Acho maravilhoso o livro chegar até as crianças. Temos que estimular a curiosidade delas. Talvez a gente consiga assim cultivar potenciais cientistas nas escolas", enaltece a pesquisadora.

Tomara.

ALAN BRITO
WhatsApp Image 2023 04 14 at 14.13.09 1Baiano de Vitória da Conquista, o jovem cientista Alan Alves Brito é destaque por introduzir temas como a política antirracista no ensino de Física e Astronomia. Segundo ele, o tradicional modelo de ensino de Ciências no Brasil exclui as contribuições dos povos originários ou da diáspora africana. Bacharel em Física pela Universidade Estadual de Feira de Santana (2002), mestre (2004) e doutor (2008) em Ciências (Astrofísica Estelar) pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, Alan fez estágios de pós-doutorado no Chile e na Austrália, entre 2008 e 2014. É professor adjunto no Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

DUÍLIA DE MELLO
WhatsApp Image 2023 04 14 at 14.13.09 2Paulista de Jundiaí, a astrônoma Duília Fernandes de Mello é uma das maiores referências mundiais em Astrofísica Extragaláctica. Bacharel em Astronomia pela UFRJ (1986), mestre pelo Inpe (1988) e doutora pela USP (1995), Duília é radicada nos Estados Unidos, onde é vice-reitora de Estratégias Globais e professora titular do Departamento de Física da Universidade Católica da América, em Washington DC. É pesquisadora do Goddard Space Flight Center, da NASA, desde 2003. Foi responsável pelo descoberta da Supernova SN 1997D, no Chile (1997), e participou da descoberta da maior galáxia espiral do universo, a galáxia do Côndor (2013). Desde 2016, coordena o projeto “A Mulher das Estrelas”, que busca incentivar mulheres e meninas a seguirem carreiras científicas.

CARLOS NOBRE
WhatsApp Image 2023 04 14 at 11.24.55O paulistano Carlos Afonso Nobre é um dos mais respeitados pesquisadores do mundo na área de mudanças climáticas, sobretudo pelos seus estudos sobre o bioma amazônico, iniciados na década de 1970. Graduado em Engenharia Eletrônica pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (1974), ele tem doutorado em Meteorologia pelo Massachusetts Institute of Technology (1983), dos Estados Unidos. Ingressou em 1975 no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em Manaus, onde atualmente é cientista sênior. É pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP e diretor científico do Instituto de Estudos Climáticos da Universidade Federal do Espírito Santo.

LYGIA PEREIRA
WhatsApp Image 2023 04 14 at 14.13.09 3A carioca Lygia da Veiga Pereira é graduada em Física pela PUC-Rio (1988), tem mestrado em Biofísica pela UFRJ (1990) e doutorado em Ciências Biomédicas pelo Mount Sinai Graduate School, City University of New York (1994). É professora titular e chefe do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (LaNCE) do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da USP. Considerada uma das mais renomadas geneticistas do mundo, Lygia fez parte do grupo que criou o primeiro camundongo transgênico do país, produzindo modelos para o estudo de doenças genéticas. Sua pesquisa de extração e multiplicação de células-tronco colocou o Brasil no seleto grupo de países que dominam essa tecnologia.

SUZANA HERCULANO-HOUZEL
WhatsApp Image 2023 04 14 at 11.25.04Formada em Biologia pela UFRJ (1992), a carioca Suzana Herculano-Houzel tem mestrado pela universidade norte-americana Case Western Reserve (1995), doutorado na França pela Universidade Pierre e Marie Curie (1998) e pós-doutorado na Alemanha pelo Instituto Max-Planck de Pesquisa do Cérebro (1999), todos na área de Neurociências. Foi a primeira cientista a contar o número de neurônios nos cérebros, mostrando em sua pesquisa a relação entre a alimentação e a atividade cerebral. É professora associada da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, desde 2016, pesquisando as regras de construção do sistema nervoso central em humanos e outras espécies.

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