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Parte das medidas é a recarga de extintores: Huascar Filho, coordenador da Segurança e Saúde do Trabalho do CT, ensina como usá-losIgor Vieira

Eram 6h40 da manhã de quarta-feira (19) quando funcionários da limpeza do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN) sentiram cheiro de fumaça no bloco H. Eles acionaram os bombeiros imediatamente, mas uma sala foi queimada. Assim começou mais um incêndio na UFRJ, o segundo em duas semanas e o mais recente de um histórico que inclui a tragédia do Museu Nacional e a destruição de parte do prédio da reitoria.
De 2018 para cá, aconteceram grandes e pequenos incêndios: na Ala F no Hospital Universitário; no Laboratório Central Analítica de Graduação, do Instituto de Química, localizado no bloco A do CT; mais um no edifício Jorge Machado Moreira (JMM), da reitoria, desta vez, no primeiro andar; e em duas salas da Coppe no bloco H, também no CT.
Mas há uma luz indicando a saída de emergência: a UFRJ contratou, por meio de licitação, brigadas de bombeiros civis profissionais. Eles serão alocados em diversos campi, sendo divididos em turnos, fechando uma cobertura de 24h. O incidente no CCMN ocorreu pouco antes da instalação das brigadas.
O decano em exercício do CCMN, professor Cabral Lima, explicou o “desencontro”: “Ainda faltam algumas questões de infraestrutura, como, por exemplo, comprar maca e equipamentos para primeiros socorros”.
Carlos Eduardo, assessor de segurança do trabalho da decania do CCMN, lamentou a perda do patrimônio: “Os bombeiros, já estando aqui, poderiam não só ter percebido o fogo durante uma ronda, como ter feito o primeiro combate, mitigando os efeitos e controlando-o”.WhatsApp Image 2023 04 20 at 20.21.36 5O FOGO consumiu uma sala de aula do CCMN na quarta-feira (19) - Foto: Silvana Sá
O superintendente da pró-reitoria de Gestão e Governança (PR-6), Rodrigo Gama, detalhou a alocação de bombeiros: “Para o dimensionamento dos postos de trabalho, a Coordenação de Projetos contra Incêndio/Escritório Técnico Universitário fez o estudo, que teve como base a área de cada edificação, as características de uso e o fluxo de pessoas, de acordo com a legislação”.
O superintendente também mencionou datas e valores: “Nos próximos 30 dias, ocorrerá a implantação de mais dois contratos para a operacionalização da brigada de incêndio em diversas unidades, o que custará R$ 7 milhões por ano”. Ele afirma que serão, no total, 104 bombeiros, em escala de 12 x 36 horas.
A diretora da Escola de Belas Artes (EBA), professora Madalena Grimaldi, comentou a importância da brigada para o prédio JMM, que abriga a EBA e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU): “Os seguranças do prédio perceberam o fogo, evacuaram as pessoas e chamaram os bombeiros. Mas a brigada, além de evacuar, pode agir no foco do incêndio na hora, assim como realizar resgates de pessoas presas no elevador e cuidar das vidas, não só do patrimônio”, detalhou Madalena.
Em 2016, o sétimo e oitavo andares queimaram, e estão danificados até hoje: “O incêndio foi na madrugada, mas eu só cheguei lá às 5h. Ainda tinha uma fumaça horrível, tudo queimado, corredor preto, salas pretas. Minha grande preocupação era o Museu D. João VI, com o acervo mais precioso da UFRJ depois do Museu Nacional. Felizmente, o fogo não chegou nessa área”, desabafou.
O museu mais precioso da UFRJ também queimou, em 2018. O diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, disse que a brigada é bem-vinda: “Recebemos dois postos de 24h, mas para o museu são necessários três por turno. Mas não estou reclamando, agradeço à atual reitoria”, disse Kellner. Ele comentou sobre a fatídica noite: “Caso tivéssemos bombeiros em 2018, o fogo seria dominado. Eu assumi a diretoria do Museu Nacional seis meses antes do incêndio. Vou lutar para reconstruir o museu. Se as pessoas que podem fazer a diferença se omitirem, nada muda”.
O professor Kellner está otimista com o novo governo: “Bati em muitas portas, tomei chá de cadeira e café frio. No governo Bolsonaro, eu nem tinha onde bater. O presidente Lula disse que agora não receberei um ‘não’, e o café vai estar quente (risos)”, relembrou.
Apesar da dificuldade, há avanços: “Em 6 de junho de 2024, quando o Museu completar 206 anos, abriremos a sala central do meteorito e a escada monumental, com baleia e claraboia. As pessoas vão poder entrar, não só olhar. Estou orgulhoso em anunciar isso”, revelou.
O campus Duque de Caxias também será contemplado com as brigadas: “Nos contemplaram com um edital, ainda aberto, porque estamos em outro município”, explicou a diretora do campus, Juliany Rodrigues. “É obrigação ter uma brigada em prédio público, para a segurança patrimonial e das pessoas. Temos nossa Comissão de Biossegurança de técnicos e professores, mas a brigada é um alívio também”.
O superintendente do Centro de Tecnologia, Agnaldo Fernandes, comentou sobre a brigada da Coppe: “Nossa ideia é trabalhar em conjunto com essa experiência acumulada pela equipe da Coppe e com a nova brigada, seja na execução ou na estrutura da universidade”.

DISCORDÂNCIAS
O professor Pedro Lagerblad, do Instituto de Bioquímica Médica e ex-diretor da AdUFRJ, apresentou uma visão diferente: “Uma brigada profissional, no modelo da Coppe, é muito cara; custa mais que o treinamento para voluntários”. Ele considera a brigada voluntária do CCS um caso de sucesso: “Ela é formada por docentes, técnicos e estudantes que passaram pelo treinamento, possuem uma familiaridade maior com a estrutura, e se comprometem com a defesa e manutenção da UFRJ”.
“A ideia, então, é complementar a brigada voluntária com a profissional, que ainda é necessária: o incêndio no Museu Nacional, por exemplo, ocorreu no domingo de madrugada”, afirma Lagerblad. “Penso no componente social e na sustentabilidade. No governo Bolsonaro, estivemos aqui, não dependemos de nenhum ministério”.
O técnico Lucas Pinho, chefe da brigada voluntária do CCS, concorda: “Um mês de pagamento de brigadista é o suficiente para pagar o treinamento de cerca de mil pessoas”. Ele defende que pode ser ainda mais barato: “Estamos estudando, junto com o ETU, a criação de um centro de treinamento no Fundão, por volta de R$ 1,5 milhão”.
“A brigada voluntária existe há 10 anos, feita de baixo para cima, pelos próprios servidores. Depois do episódio do Museu Nacional, diversas universidades expandiram suas brigadas, e a UFRJ não aumentou a sua”. Mesmo assim, tanto ele quanto o professor Lagerblad consideram a brigada profissional bem-vinda, por “dar cobertura” à universidade e evitar um desastre com vidas da comunidade acadêmica.

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