facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

D3 9123Foto: Fernando SouzaENTREVISTA I ADOLPHO POLILLO, REITOR DA UFRJ DE 1981 A 1985

O professor Adolpho Polillo encantou a plateia do café organizado pela AdUFRJ (link) com sua discreta elegância e com a força de sua história. Aos 95 anos, o último reitor dos tempos da ditadura militar contou as agruras de seu reitorado, entre 1981 a 1985, e rememorou como, de um lado, administrou a pressão do governo Figueiredo e, do outro, o braço crítico da comunidade acadêmica. "Foi um período difícil. Eu tinha que defender aqui os dirigentes perante os professores. E, lá em Brasília, tinha que defender os professores perante o presidente", lembrou o docente, que passou o cargo para o primeiro reitor eleito, o comunista Horácio Macedo.

Jornal da AdUFRJ: Quando o senhor ingressou na UFRJ?
Adolpho Polillo:
Ingressei como aluno, em 1948, e em 1953 comecei a dar aulas. Fiquei 49 anos sendo docente.

O que o senhor acha que é diferente hoje na universidade, da época que o senhor era estudante?
A universidade mudou bastante. A Engenharia era um curso muito difícil. Só existia uma escola de Engenharia no Rio de Janeiro todo. Era a Escola Politécnica, da Universidade Federal, que funcionava no Largo do São Francisco. Só depois a PUC criou um curso de engenharia também.

Como docente o senhor era de qual unidade acadêmica?
Eu era da Escola de Engenharia e da Faculdade de Arquitetura. Eu dava aula de Estruturas, na Engenharia, e na Arquitetura também havia essa disciplina. Então, eu dava aula das 7h às 9h e caminhava da Escola de Engenharia até a Faculdade de Arquitetura, para dar aula de 10h às 12h. Era o momento que eu tinha para dar a minha caminhada, pegar um sol. À tarde, eu me dedicava a escrever alguns livros e fazer minhas pesquisas.

O senhor foi reitor de 1981 a 1985. Quem era seu vice-reitor?
Uma pessoa muito leal, muito dedicada. Era o professor Jorge Abreu Coutinho.

Quem lhe sucedeu na reitoria?
Foi o professor Horácio (Macedo – reitor de 1985 a 1989).

Como foi esse processo?
O Horácio surgiu primeiro como candidato a decano do CCMN, disputando com Emídio [Paulo Emídio Barbosa, que tentava a reeleição, em 1982]. Ganhou. E o pessoal achava que o reitor não iria nomeá-lo como decano. Eu o nomeei tranquilamente. E assim ele foi crescendo politicamente e se tornou candidato a reitor. Havia algumas lideranças que imaginavam que eu teria um candidato, mas eu não tinha candidato algum.

Nessa época o senhor ainda não era eleito, era nomeado, certo?
Sim, eu era nomeado pelo presidente a partir de uma lista sêxtupla. Lista que era escolhida pela universidade nos moldes da legislação da época, via Colégio Eleitoral.

Quem era o presidente?
O presidente da República era o (João) Figueiredo. Ele assumiu comigo o compromisso de que faria a abertura. Eu perguntei a ele: “Presidente, é pra valer?” E ele me respondeu: “É pra valer! Vamos fazer a abertura. Faça muito diálogo.” Essa foi a única recomendação.

Como foi ser reitor nesse momento político?
Foi um período difícil, porque eu tinha que defender, de alguma forma, os dirigentes perante os professores e, lá em Brasília, defender os professores perante o presidente. Então, era uma coisa muito delicada. Mas deu tudo certo.

Como foi o diálogo com a comunidade universitária?
No início, foi um pouquinho complicado, mas aos poucos a gente foi conquistando as pessoas. Agora há pouco tive um testemunho da nossa companheira, a professora Eleonora Ziller, que era aluna da Faculdade de Letras. Nós terminamos o prédio da Faculdade de Letras. Ela lembra daquele momento. Ela até se emocionou. E, para mim, é emocionante também.

Topo