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WhatsApp Image 2023 04 14 at 14.31.12Elas estão cada vez mais presentes — e com destaque — em um universo tradicionalmente dominado por homens: a Ciência. E essa saudável tendência acaba de ser captada por mais um relevante registro. Lançado no início deste mês, o livro "Cientistas brasileiros" (Editora Sapoti) traça o perfil de cinco pesquisadores contemporâneos do país, e as mulheres são maioria. Além de liderar pesquisas de ponta, reconhecidas mundo afora, as três cientistas destacadas têm outra coisa em comum: passaram pelos bancos da UFRJ. São elas Duília Fernandes de Mello, Lygia da Veiga Pereira e Suzana Herculano-Houzel. Completam a lista os pesquisadores Alan Alves Brito e Carlos Afonso Nobre.

"Trazer essas mulheres cientistas para o livro foi uma escolha natural, a partir do pressuposto de abordar várias áreas do conhecimento: o planeta, o cérebro, a genética. Elas vêm desenvolvendo pesquisas de relevância nessas áreas, são destaques reconhecidos", explica Daniela Chindler, uma das autoras de "Cientistas brasileiros". O livro traça também o perfil de seis cientistas do passado, o que só reforça a tese da atual "invasão feminina" na Ciência. Dos seis pioneiros, a única mulher é Bertha Lutz, pesquisadora que ingressou no Museu Nacional em 1919, que figura ao lado de nomes como Adolfo Lutz (pai de Bertha), Carlos Chagas, Oswaldo Cruz, Vital Brazil e o padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão.

DNA 100% BRASILEIRO
Das três perfiladas contemporâneas, a única com base no Brasil é Lygia da Veiga Pereira. Duília é radicada nos Estados Unidos, mesmo país onde vive Suzana. Lygia também passou por lá: fez cinco anos de doutorado em Nova York. Hoje professora e pesquisadora da USP, a geneticista lembra com carinho de sua passagem pela UFRJ. "Tenho uma enorme gratidão à UFRJ, pois foi onde eu descobri minha paixão pela genética e por pesquisa em laboratório. Estudei Engenharia na PUC-Rio e quase segui na área de Engenharia de Computação. No meio do curso, descobri os avanços da Engenharia Genética e fui apresentada por professores do Departamento de Física da PUC à professora Eliana Abdelhay, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho. Ela me aceitou para fazer iniciação científica. A partir dali eu descobri meu caminho", lembra.

A pesquisadora reconhece que a forte presença feminina na produção científica atual contrasta com o cenário de décadas atrás. "Na área biológica já há muitas mulheres atuando, embora haja mais homens em posições de liderança. Nas gerações anteriores à minha isso teve um peso maior, havia uma predominância masculina", acredita.

Lygia lidera uma pesquisa, abordada no livro, que procura delinear o DNA brasileiro. É uma consequência direta do sequenciamento do genoma humano, que demorou 15 anos para ser feito, custou bilhões de dólares e foi um marco na história da Ciência. "Só que não existe só um genoma humano. Apesar de sermos 99,9% idênticos, esse 0,1% que nos diferencia é que vai nos dar as características individuais", enumera a pesquisadora.

A tecnologia de sequenciamento avançou tanto que hoje você sequencia um genoma humano por 400 dólares em 24 horas. Isso vem permitindo que vários países sequenciem os genomas de centenas de milhares de pessoas das suas populações. "Isso é fundamental para que a gente entenda as variantes que indicam nossas predisposições às doenças, tome medidas preventivas, ou desenvolva medicamentos mais eficientes", aponta.

Iniciada em 2019, a pesquisa liderada por Lygia tenta "furar uma bolha" detectada pela comunidade científica internacional em 2017: até então as pesquisas nessa área eram feitas só com genomas de gente branca, a partir do sequenciamento feito nos Estados Unidos e na Europa.

"Falta diversidade nesses estudos. E se há uma coisa que o Brasil tem é diversidade", explica a professora. "Temos genomas de diferentes povos indígenas, mais os europeus, mais os povos africanos de diferentes regiões que vieram para cá como escravos. E 500 anos de miscigenação e extermínio, sobretudo dos povos indígenas".

Lygia conta que, "cada um de nós, brasileiros, é um mosaico com diferentes frações de DNAs europeus, africanos e indígenas. Temos que colocar o Brasil nesse mapa". A pesquisa de Lygia é capaz de resgatar pedaços de genomas indígenas de populações que já foram extintas. "Temos variações de genomas que ainda não foram descritas nos bancos de dados internacionais. Já conseguimos sequenciar 4 mil genomas e esperamos sequenciar este ano mais 6 mil. Só para uma comparação, a Inglaterra já tem 500 mil".

CIÊNCIA NAS ESCOLAS
Escrito em linguagem coloquial e com muitas ilustrações — feitas por Camilo Martins —, o livro está sendo distribuído a escolas da rede municipal carioca. A linguagem tenta aproximar um público jovem de temas mais afeitos à academia. "Não adianta trazer o público se você mantém uma linguagem elitista. A inclusão também tem a ver com isso. O livro tem um texto atraente, voltado a jovens. A ilustração também é uma forma de deixar mais fácil esse acesso. São pontos que refletem uma política de democracia no acesso à cultura", diz Daniela Chindler. A publicação também está disponível gratuitamente na plataforma Issuu (https://issuu.com/sapotiprojetosculturais/docs/cientistasbrasileiros) e em áudio book para pessoas com deficiência visual ou sem alfabetização.

Lygia Pereira acredita que a distribuição do livro em escolas públicas pode estimular o surgimento de novas vocações na produção científica. "Acho maravilhoso o livro chegar até as crianças. Temos que estimular a curiosidade delas. Talvez a gente consiga assim cultivar potenciais cientistas nas escolas", enaltece a pesquisadora.

Tomara.

ALAN BRITO
WhatsApp Image 2023 04 14 at 14.13.09 1Baiano de Vitória da Conquista, o jovem cientista Alan Alves Brito é destaque por introduzir temas como a política antirracista no ensino de Física e Astronomia. Segundo ele, o tradicional modelo de ensino de Ciências no Brasil exclui as contribuições dos povos originários ou da diáspora africana. Bacharel em Física pela Universidade Estadual de Feira de Santana (2002), mestre (2004) e doutor (2008) em Ciências (Astrofísica Estelar) pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, Alan fez estágios de pós-doutorado no Chile e na Austrália, entre 2008 e 2014. É professor adjunto no Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

DUÍLIA DE MELLO
WhatsApp Image 2023 04 14 at 14.13.09 2Paulista de Jundiaí, a astrônoma Duília Fernandes de Mello é uma das maiores referências mundiais em Astrofísica Extragaláctica. Bacharel em Astronomia pela UFRJ (1986), mestre pelo Inpe (1988) e doutora pela USP (1995), Duília é radicada nos Estados Unidos, onde é vice-reitora de Estratégias Globais e professora titular do Departamento de Física da Universidade Católica da América, em Washington DC. É pesquisadora do Goddard Space Flight Center, da NASA, desde 2003. Foi responsável pelo descoberta da Supernova SN 1997D, no Chile (1997), e participou da descoberta da maior galáxia espiral do universo, a galáxia do Côndor (2013). Desde 2016, coordena o projeto “A Mulher das Estrelas”, que busca incentivar mulheres e meninas a seguirem carreiras científicas.

CARLOS NOBRE
WhatsApp Image 2023 04 14 at 11.24.55O paulistano Carlos Afonso Nobre é um dos mais respeitados pesquisadores do mundo na área de mudanças climáticas, sobretudo pelos seus estudos sobre o bioma amazônico, iniciados na década de 1970. Graduado em Engenharia Eletrônica pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (1974), ele tem doutorado em Meteorologia pelo Massachusetts Institute of Technology (1983), dos Estados Unidos. Ingressou em 1975 no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em Manaus, onde atualmente é cientista sênior. É pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP e diretor científico do Instituto de Estudos Climáticos da Universidade Federal do Espírito Santo.

LYGIA PEREIRA
WhatsApp Image 2023 04 14 at 14.13.09 3A carioca Lygia da Veiga Pereira é graduada em Física pela PUC-Rio (1988), tem mestrado em Biofísica pela UFRJ (1990) e doutorado em Ciências Biomédicas pelo Mount Sinai Graduate School, City University of New York (1994). É professora titular e chefe do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (LaNCE) do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da USP. Considerada uma das mais renomadas geneticistas do mundo, Lygia fez parte do grupo que criou o primeiro camundongo transgênico do país, produzindo modelos para o estudo de doenças genéticas. Sua pesquisa de extração e multiplicação de células-tronco colocou o Brasil no seleto grupo de países que dominam essa tecnologia.

SUZANA HERCULANO-HOUZEL
WhatsApp Image 2023 04 14 at 11.25.04Formada em Biologia pela UFRJ (1992), a carioca Suzana Herculano-Houzel tem mestrado pela universidade norte-americana Case Western Reserve (1995), doutorado na França pela Universidade Pierre e Marie Curie (1998) e pós-doutorado na Alemanha pelo Instituto Max-Planck de Pesquisa do Cérebro (1999), todos na área de Neurociências. Foi a primeira cientista a contar o número de neurônios nos cérebros, mostrando em sua pesquisa a relação entre a alimentação e a atividade cerebral. É professora associada da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, desde 2016, pesquisando as regras de construção do sistema nervoso central em humanos e outras espécies.

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