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06WEB menor1133IMPORTAÇÕES ficaram mais caras e demoradas durante a pandemia - Divulgação: Fundação CoppetecA burocracia prejudica a pesquisa. E, nestes tempos de pandemia, pode até matar. Processos de aquisição de maquinário e insumos do exterior, que já eram complexos antes da emergência de saúde pública, se tornaram ainda mais demorados e caros. A situação atrasa ações da UFRJ que salvam vidas.
O tempo de trânsito da China para o Brasil, que era de 5 a 7 dias, agora passou para 9 a 12 dias, informa a Fundação Coppetec, que gerencia projetos em apoio à UFRJ. Como algumas importações daquele país são voltadas para ações de combate ao coronavírus, a mudança de prazo “tem sido crítica” para a fabricação de respiradores, por exemplo.
Outro problema é o reajuste nos valores dos fretes internacionais. A fundação cita um processo de importação da China que deveria custar US$ 440,35, mas sofreu um acréscimo de US$ 800 devido à escassez no transporte gerada pelas medidas restritivas de isolamento social.
“O sistema todo fica mais burocrático”, alerta o diretor-executivo da Coppetec, Fernando Peregrino. O dirigente chama atenção que o problema não se esgota na chegada ao país. Alguns produtos precisam passar pelo crivo de órgãos federais, como a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), no caso de materiais biológicos. “Esses órgãos estão respondendo com muita lentidão”, disse. Nem mesmo os processos relacionados ao combate do novo coronavírus teriam ficado mais ágeis, como previsto em legislação emergencial. “A burocracia é indiferente à emergência”, completa Peregrino.
Diretor do Nupem, o professor Rodrigo Nunes reforça o argumento de como fazem falta processos rápidos de aquisição de insumos e máquinas. “Estamos fazendo o teste de Covid aqui no Nupem, mas os insumos não são fabricados no Brasil”. E o país fica em último lugar na “fila” das importações, em função da queda de incentivo à Ciência. “No momento da pandemia, por não termos os insumos, deixamos de salvar vidas”, critica. “Estamos tentando importar um extrator para os diagnósticos de Covid-19, mas há demora de 60 dias úteis”.
O obstáculo da burocracia é antigo e envolve os aspectos mais simples da pesquisa acadêmica. O professor Paulo César de Paiva conta uma saga que enfrentou há 20 anos, ao lado de uma aluna, para recuperar um exemplar de minhoca marinha, no Galeão. A amostra, raríssima, estava conservada em um museu da Suécia por mais de um século e havia sido emprestada ao Instituto de Biologia.
Quando chegou ao Brasil, acabou retida no aeroporto. Para liberar o material, o professor precisou chamar o diretor do instituto em pessoa e ainda passou por três setores: Polícia Federal, Vigilância Sanitária e Ministério da Agricultura. E, em meio a tudo isso, havia o risco de a amostra ser queimada, como era o procedimento da época.
Paulo César só conseguiu sair com a amostra, pois um funcionário da Agricultura o reconheceu. Algum tempo antes, o professor havia auxiliado a identificar um animal que havia sido transportado ilegalmente para o Brasil. “Eu nunca mais pedi material (do exterior)”, relata.
O professor Antonio Solé, do Instituto de Biologia, também compartilha uma história inusitada. Há seis anos, solicitou amostras de um determinado peixe a um colega norte-americano para o trabalho de um doutorando sob sua orientação. “Quando chegou ao aeroporto de Viracopos, em Campinas, nos disseram que era preciso ‘desembaraçar’ o material”, explica Solé. Após várias exigências que considerou absurdas, o professor desistiu. “Disse que não queria mais. Um mês depois me enviaram as amostras”, afirma.

SOLUÇÕES PARA REDUZIR A BUROCRACIA

Nem os jovens pesquisadores são poupados da dor de cabeça da importação de equipamentos. Aluno de mestrado do programa de Zoologia do Museu Nacional, Victor Hugo conseguiu apoio da National Geographic  Society para filmar os experimentos com uma estrela-do-mar que habita parte da costa sul-americana.
Em apenas uma semana, solicitou e garantiu o empréstimo de três câmeras subaquáticas Go Pro 7 Black Hero — cada uma vale aproximadamente R$ 2 mil. Enviadas no início de outubro, dos Estados Unidos, as máquinas deveriam chegar, gratuitamente, à residência do estudante. Mas acabaram retidas na Receita Federal, no dia 14. A empresa responsável pelo transporte comunicou ao mestrando que a importação seria tratada como “compra para uso próprio”, pois pessoa física não poderia importar produtos de uso profissional  “e/ou que dê intenção de comércio”. Para liberar o equipamento, uma inesperada exigência: contratar um despachante aduaneiro, ao custo de R$ 750.
O mestrando tentou explicar que as câmeras seriam usadas em uma pesquisa e depois devolvidas, mas sem sucesso. Enquanto trocava mensagens com a empresa, as experiências com a estrela-do-mar foram realizadas. Em fevereiro, Victor solicitou a devolução do equipamento aos EUA. “Não atrapalhou a pesquisa, mas foi bem frustrante, pois a ideia era fazer algo diferente, de divulgação científica, de não falar só para a minha área”, lamentou Victor.
“Importamos luvas. Importamos máscaras. Por que importar qualquer coisa, se podemos fazer internamente? Destroem a indústria nacional. Na hora que precisa da indústria, não tem”, questiona Fernando Peregrino, de forma enfática. “A importação seria reduzida. E importaríamos só o necessário”.
O diretor do Nupem segue a mesma linha. “O Brasil deveria investir em fazer seu próprio maquinário para diminuir essa dependência do estrangeiro. Não fazemos nem microscópio simples da graduação”, critica Rodrigo Nunes.  “Jogamos milhões de reais, trocados em dólar, para fora e não estimulamos o mercado interno”.
Rodrigo observa como a velocidade de acesso a recursos é importante para a Ciência. “Eu trabalhei na Alemanha durante cinco anos. Eu pedia um determinado produto de manhã e chegava na minha bancada à tarde. No Brasil, pedindo da Coreia, demora dez dias para chegar em Macaé”, compara.
Christine Ruta, diretora da AdUFRJ, avalia que o Marco Legal da Ciência, Tecnologia & Inovação foi um exemplo positivo na flexibilização da burocracia no cotidiano do cientista. Mas a legislação ainda é insuficiente. Para Christine, o governo deve valorizar produtos e insumos nacionais e garantir recursos humanos especializados na aquisição destes materiais para facilitar a vida dos pesquisadores. “Contudo, no governo Bolsonaro, diante de um cenário de desprezo pela Ciência, de estagnação da tecnologia, e de falta de planos para a inovação, os cientistas se veem obrigados a defender primeiramente a manutenção dos investimentos nas pesquisas”, alerta.

lessaUm professor único, adorado pelos alunos. O reitor que recuperou a institucionalidade da UFRJ após uma intervenção do MEC. O homem elegante, que seduzia pela palavra. O colecionador compulsivo que divertia a família. Mas, acima de tudo, um apaixonado pelo Brasil e sua gente. Estas eram algumas das características de Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa, emérito da universidade que nos deixou no dia 5, vítima do novo coronavírus, aos 83 anos.
    Vice-reitor da UFRJ, Carlos Frederico Leão Rocha se recorda de Lessa como um brasileiro que dava valor à nação. “Era um traço constitutivo da personalidade dele”, afirma. “O que ele fazia no curso era uma coisa única: misturava elementos da cultura brasileira com elementos da economia”, diz.  Não à toa, as aulas e palestras do mestre eram disputadas pelos estudantes que, com muita frequência, o escolhiam patrono ou paraninfo.
No período em que assumiu a reitoria (2002-2003), Lessa criou o bloco de carnaval da UFRJ, o Minerva Assanhada. O atual vice-reitor atribui a iniciativa ao amor pela cultura nacional. “Ele entendia o samba como um elemento essencial da cultura brasileira e que, portanto, devia se expressar dentro da universidade”.
Mas nem só de samba viveu a gestão. Pró-reitor de Pessoal daquela reitoria, o professor Luiz Afonso Mariz considera o antigo chefe o responsável pela retomada institucional da UFRJ. Lessa ficou à frente da instituição logo em seguida à reitoria de José Henrique Vilhena (1998-2002), um interventor nomeado pelo MEC.
Um dos primeiros atos da administração foi derrubar uma porta de aço que Vilhena havia instalado na entrada do gabinete da reitoria para afastar os opositores. “Qual foi o significado disso? É que não poderia mais ser assim. As pessoas precisam ter acesso ao poder central”, observa Luiz Afonso.
O ex-pró-reitor também chama atenção para o extraordinário poder de persuasão do saudoso amigo. Sozinho, Lessa convenceu o Conselho Universitário a ceder dez vagas de concurso, raríssimas naquela época, para a Faculdade Nacional de Direito, que atravessava uma enorme crise institucional. “Tenho certeza de que o passo mais importante para o renascimento da faculdade foi dado por Lessa naquele momento”.
A sedução pela palavra também era exercitada no convívio com os mais próximos. Certa vez, conta Luiz Afonso, Lessa lhe disse que poderia ser o “chanceler da UFRJ”.  Mas completou em seguida: “Falta-lhe uma gravata”. Era a senha para dizer como seus pró-reitores deveriam se vestir. “Nós andávamos de camisa social. Mas, a partir de então, passamos a usar gravatas”, lembra, divertido. “Ele andava impecavelmente vestido”.
As gravatas e os suspensórios apontavam para um lado menos conhecido do ex-reitor: o de colecionador compulsivo. Quem conta é o filho Rodrigo Lessa: “Você abria o armário e parecia o arco-íris. Eram gravatas de todas as tonalidades. E tudo separado, das monocromáticas às com bolinhas”.
O pai também era um colecionador de arte chinesa. Mas o excesso de peças espalhadas pela casa se tornou motivo de broncas da esposa. Para disfarçar as compras, Rodrigo revela que o pai usava os amigos, que levavam “presentes”.  Entre selos, pedras, aves e até moluscos, Carlos Lessa transformava o cotidiano da família.  “Acho que era a maneira de esvaziar a cabeça. Funcionava como uma terapia para ele”.
Rodrigo reforça o lado do pai apaixonado pelo Brasil. Esta teria sido uma das razões que o levaram a escrever o livro “O Rio de Todos os Brasis”. “A hipótese era que o Rio explicava o Brasil”. Rodrigo acrescenta que a obra será reeditada este ano pelo Instituto Pereira Passos.
“Mas ele descobre depois que Minas Gerais explica o Brasil, por causa do ouro que ficou no país”. Segundo Rodrigo, a história estava sendo desenvolvida em um livro que o pai não chegou a concluir.
A professora emérita Maria da Conceição Tavares, colega do ex-reitor desde 1957, registra que “Carlos Francisco era um grande brasileiro e apaixonado pelo seu povo”. Uma paixão que, segundo o professor Fábio Sá Earp, justificaria a abrupta saída de Lessa da reitoria da UFRJ, no início de 2003, para a presidência do BNDES. “Ele tinha um espírito público muito grande. Lessa entendia que presidir o BNDES teria um impacto nacional”.
E transformar o Brasil pela política econômica sempre foi seu desejo maior. “Ele tinha esta mensagem: a história é produto da vontade humana e a política econômica é por onde esta vontade se expressa”.
O livro “Introdução à Economia: uma abordagem estruturalista”, escrito com Antonio Barros de Castro e publicado em 1979 — um sucesso de vendas —, já carregava este conceito. “Hoje, os livros de introdução à economia são mais sofisticados, mas, naquela época, não havia nenhum livro que desse uma visão global da economia como aquele”, afirma Fábio.
O professor do Instituto de Economia demonstra com um exemplo simples como Lessa estava à frente do seu tempo. Antes de ser presidente do BNDES, o ex-reitor foi diretor do banco na década de 80. “Os primeiros financiamentos em economia ambiental foram conduzidos pelo Lessa. Foi a primeira pessoa a financiar usinas de lixo”, diz Fábio. “As pessoas achavam que ele era maluco. A questão ecológica levada a sério é uma herança que nos deixou”, completa.

O Lessa de todos os Brasis!

Eleonora Ziller
Presidente da AdUFRJ

Todos nós temos muitas histórias para contar do professor Carlos Lessa. Do economista, do amigo, do mestre, do político... em qualquer chave, ele será sempre visto como o grande humanista, culto, inteligente e generoso. Tive a sorte de ser representante no Conselho Universitário quando ele conseguiu dar forma e voz à mobilização da UFRJ contra nomeação do Vilhena pelo então ministro Paulo Renato. Naqueles tempos, o bom mesmo era chegar antes da sessão começar para ouví-lo um pouco mais, pois estava sempre entre os primeiros a chegar, e em torno dele nos reuníamos para aprender alguma coisa de extraordinário sobre o Rio de Janeiro, o Brasil do século XIX, a política nacional, a vida cultural, enfim, um Midas da inteligência, porque tudo que ele tocava se tornava atraente e interessante.
Alguns temas eram recorrentes, mas nada era tão divertido quanto a sua metáfora do restaurante a quilo, do sushi com feijão e farofa, para falar da nossa peculiar formação cultural. E sua insistência na necessidade de a universidade brasileira pensar os problemas brasileiros, investigá-los, e de ser capaz de propor soluções para sociedade, era uma pregação cotidiana. Mais de uma vez o vi reclamar dos sistemas de pontuação da CAPES e a supervalorização da publicação em inglês e em periódicos estrangeiros. Nada a ver com algum tipo de nacionalismo rasteiro ou populista. A questão ali era a afirmação da necessidade de produzirmos conhecimento de alta complexidade sobre a nossa realidade e de encontrarmos em nossa língua a expressão máxima para expressá-lo. Era dessa forma que se mantinha remando contra a maré do senso comum, atacando a tecnocracia subalternizada e cobrando um posicionamento institucional de ampla responsabilidade. Como ele nos faz falta hoje!
Depois, como Reitor, apesar do curto período de sua gestão, buscou movimentar as estruturas tão estanques e pouco articuladas da universidade. Ele queria reunir a pesquisa através de problemas comuns, de grupos que de modo interdisciplinar pensassem proposições concretas para o Estado do Rio de Janeiro. Assim nasceu por exemplo, o programa UFRJ-Mar, reunindo inicialmente mais de 70 pesquisadores das mais diversas áreas para atuarem de forma solidária e articulada em torno dos problemas da costa fluminense e de suas baías. Era uma forma de atravessar as barreiras disciplinares e os muros departamentais, mobilizando a universidade em direção à vida nacional, se debruçando sobre questões necessárias e urgentes, criando redes de solidariedade para a produção do conhecimento.    
Apesar de economista, sua visão ampla e interessada o fazia bem-vindo em qualquer fórum que se dedicasse a pensar a complexidade da formação social brasileira. Foi assim que o convidamos para participar de um evento em homenagem aos 40 anos da publicação do livro Formação da literatura brasileira, clássico da crítica literária de Antonio Candido. E sua intervenção confirmou o lugar e a importância desse livro, para figurar entre os mais importantes do século XX para a interpretação do país. Lembro como se fosse hoje a forma entusiasmada com que comentou o livro e como seu olhar nos ajudou a sair das leituras tão conhecidas no âmbito da crítica literária.    
Enfim, o professor Carlos Lessa era um desses grandes nomes que representam o que de melhor a nossa centenária universidade produziu. Ele figura em lugar de destaque naquele panteão de intelectuais em que concordar ou discordar de suas posições é o que menos importa. Ninguém permanecia o mesmo ao conviver com ele, e isso sim era o que contava.
Hoje não será a sua obra que nos faltará, pois ela está por aí, publicada, lida, criticada. Muitos são os economistas que honram o seu legado intelectual. O que sentiremos muita falta é desse seu amor incondicional pelo que somos e pelo que representamos como nação. Hoje estamos aviltados, desfigurados, destroçados e ridicularizados no cenário internacional. Que seu exemplo frutifique, que tenhamos força para derrotar o pior governo de nossa história e possamos voltar ao círculo virtuoso de construção nacional. Obrigada, Lessa, por tudo!

 

 

Kim Queiroz e Liz Mota Almeida

 

marchaVida, saúde, solidariedade, meio ambiente, ciência e educação. Estes foram os pilares da Marcha Virtual Pela Vida, que reuniu mais de 500 entidades e movimentos sociais — a AdUFRJ, entre elas —, em 9 de junho. A programação do evento contou com transmissões ao vivo pelas redes sociais, debates, atividades culturais e um tuitaço. As hashtags #MarchaPelaVida e #FrentePelaVida alcançaram a quarta posição entre os assuntos mais comentados no Twitter nacional.
     Outra iniciativa de sucesso da Marcha foi a utilização do aplicativo francês Maniff.app. Pela ferramenta, é possível posicionar o avatar em um mapa virtual para demonstrar apoio a uma causa. E mais de seis mil pessoas utilizaram o Maniff.app ao longo do dia.
Para a médica e professora da UFRJ Lígia Bahia, a Marcha foi uma oportunidade de articulação nacional num momento muito difícil para a Ciência. “A manifestação virtual permitiu uma maior unidade e, também, encontrar pontos em comum nos problemas concretos que a área de Ciência e Tecnologia está enfrentando”, afirmou a ex-diretora da AdUFRJ.
Um dos consensos da iniciativa foi a defesa do Sistema Único de Saúde. “Não dá para imaginar enfrentar essa pandemia sem o SUS”, afirmou um dos convidados ilustres da Marcha, o médico Dráuzio Varella. “Quando falamos de distribuição de renda no Brasil, citam o Bolsa Familia. Mas ele é uma pequena ajuda comparado ao orçamento do SUS”, disse. “O SUS é o grande programa de distribuição de renda, que permite defendermos a vida dos brasileiros agora”, completou.
Dráuzio observou que o sistema de saúde sofre com problemas de financiamento e gestão. Mas ressaltou as qualidades  apresentadas no combate ao novo coronavírus. “Nessa hora, vemos a agilidade do SUS e como foi possível abrir leitos e unidades de pronto atendimento”. O médico encerrou sua participação na Marcha com um apelo:”Que fique essa missão para quando tudo isso acabar. Devemos confiar no sistema único de saude, pois é com ele que todos nós contamos, no final das contas. O SUS é quem defende nossas vidas, dos indígenas do Norte até o Rio Grande do Sul”.
    O professor Ildeu Moreira, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e um dos idealizadores da Marcha, defendeu a máxima de que todas as vidas importam. “Vidas negras importam, vidas de quaisquer etnia, gênero e classe social importam e muito”. A Frente pela Vida — que realizou a Marcha — surgiu como um movimento de organização da sociedade civil brasileira para enfrentar a crise. “Estamos cansados de ouvir discursos, e a população continuar morrendo sem assistência médica adequada.”             
Moreira acredita que o fortalecimento do SUS é imprescindível nesse quadro de pandemia atual. Guinar Azevedo, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), foi mais um representante da Frente pela Vida a reverenciar o SUS. “Para mostrar que o SUS é capaz de dar essa resposta, precisamos da união de todos, de muita solidariedade e, sobretudo, cobrar ao Estado o dever dele de garantir a saúde para todos e todas”.

CIÊNCIA EM DEBATE    
Na manhã do dia 9, como atividade local da Marcha, a SBPC e a AdUFRJ promoveram o debate “Ciência e Realidade” mediado por Luana Meneguelli Bonone, da Associação de Pós-graduandos (APG). Richarlls Martins, professor do NEPP-DH da UFRJ, destacou o impacto dos discursos políticos sobre a sociedade. “Temos uma produção discursiva de líderes públicos que nega e minimiza os impactos da Covid-19 no interior da sociedade brasileira”, afirmou. “Essa orientação normativa vai ter impacto direto sobre determinados grupos sociais”, completou.
   Na análise da professora Liv Sovik, da Escola de Comunicação da UFRJ, somente o conhecimento pode contribuir para solucionar a violência que predomina nos discursos, lares e ruas do país. “Vamos ler para salvar vidas. Vamos ler para aumentar o nosso conhecimento”, ponderou. A leitura, de acordo com a professora, é um caminho para combater a crise de empatia, pois “ela nos ajuda a entender o outro”.
     O debate abordou recortes raciais, sociais, de gênero e de sexualidade. Jaqueline Gomes de Jesus, professora de psicologia do IFRJ, ressaltou os desafios que a pandemia potencializa. “Estamos falando de um projeto de nação eugenista. Pessoas pretas, periféricas e, principalmente, transsexuais, não têm acesso a nenhum tipo de apoio. É um projeto intencional de exclusão dessas vidas e corpos”, declarou.
    Viviane Salles, da Frente CDD (Cidade de Deus) Contra a Covid-19, avaliou o uso das redes sociais pelas populações mais vulneráveis. “É importante termos em mente o papel relevante dos comunicadores comunitários neste momento”, observou. Ela vê um movimento valioso emergindo nas periferias. “O que está acontecendo é o nascimento de uma nova ciência, a ciência da favela”, afirmou. “A própria favela está criando ferramentas científicas, de análise e de ação, em diálogo com as demandas reais e sociais”, completou a socióloga.

dinoUm acordo mínimo em relação às medidas de combate à pandemia da Covid-19 pode canalizar as insatisfações de diferentes matizes ideológicas contra o atual governo. É o que indica a troca de ideias entre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B-MA) e o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, promovida pela Coppe, no domingo (7).
      No foco, a defesa do Sistema Único de Saúde, a renda mínima e o respeito ao pacto federativo. O debate virtual recebeu mais de 47 mil visualizações e 5,7 mil comentários do público. “A pandemia coloca acima de tudo a questão da saúde”, avaliou o mediador do debate, professor Luiz Pinguelli Rosa.
 “A pandemia deixa expostas as fraturas da nossa sociedade, as más condições sociais que aprendemos a tolerar, conviver e, de alguma forma, incentivar a existência”, considerou o Ministro do Supremo, Gilmar Mendes. Como exemplo, ele destacou as “péssimas condições sanitárias” da população mais pobre e a “insuficiência dos cadastros” do Executivo. “São os invisíveis que, de tão pobres, se perderam do cenário”, criticou.    
 O ministro do STF defendeu o Sistema Único de Saúde (SUS) e a renda básica, além da universalização dos sistemas de fornecimento de água e saneamento básico. “O quadro pós-pandemia tem toda essa carga de tragédia, mas a Covid também nos deu a oportunidade de nos reencontrar com o Brasil profundo”, disse. E frisou a atuação do Supremo para garantir aos estados o protagonismo nas ações contra a pandemia.
Para Flávio Dino, uma frente ampla em favor da democracia “não é uma opção, é um imperativo” e “o tema da saúde é premente”. Em sua visão, a defesa do SUS reforça a agenda federativa. “O que é o Sistema Único de Saúde senão um arranjo federativo que limita arbítrios do poder central?”, argumentou durante o debate. Mais à esquerda do Ministro do Supremo, ele acrescentou à lista de demandas democráticas uma reforma tributária distributiva e o socorro ao pequeno comércio.
Provocado por uma pergunta do público, o governador do Maranhão descartou um ensaio eleitoral para 2022. “Articulações políticas são sempre possíveis, mas a frente não é palanque eleitoral”, afirmou.  Flávio Dino pediu “mais leveza” no tema. “Uma frente ampla pela democracia não é cartorial, não tem um programa no TSE. Mas ela tem uma identidade comum”, advertiu. E enfatizou: “Temos legiões de brasileiros sofrendo muito”.
O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, também advogou pelo foco na crise sanitária. “Não podemos reproduzir de forma incoerente um discurso político que não leve em conta o isolamento”, avaliou. Segundo ele, a Ordem aguarda o retorno às atividades presenciais do Congresso para encaminhar denúncias contra o presidente Jair Bolsonaro. “Verificamos denúncias graves de aparelhamento da Polícia Federal. Uma discussão que não pode ser feita por telepresença”, relatou.
Sobre o Brasil pós-pandemia, Santa Cruz acrescentou uma reflexão sobre comunicação e democracia, destacando a atuação de “milícias digitais” com capacidade de produzir “fatos próprios que não dizem respeito à realidade”. Informações falsas sobre os riscos da pandemia ou benefícios da cloroquina foram citadas.
O advogado sugeriu mais diálogo com as camadas mais desfavorecidas da sociedade, sobretudo, a juventude: “É fácil falar sobre as vantagens democráticas com as classes A e B. Mas é difícil trazer para essa luta setores que não conhecem isso”.

CRISE NA SAÚDE
A Coppe promove neste domingo, 14, mais um debate do fórum virtual “O Brasil após a pandemia”. Com o tema “A crise na Saúde e o SUS”, o evento terá a participação do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS); o professor Carlos Grabois Gadelha, da Fiocruz; o professor Antônio Carlos Campos de Carvalho, do Instituto de Biofísica; e o professor Roberto Medronho, da Faculdade de Medicina e do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, ambos da UFRJ. O evento será transmitido ao vivo na página da Coppe no Facebook, a partir das 18h.

09WEB1131

 

O Museu Nacional completa 202 anos olhando para o futuro. A instituição reúne ciência, arte, história e vida em atividades de ensino, pesquisa e extensão há dois séculos. Faz e divulga ciência para públicos de todas as idades. O incêndio de 2018 transformou o Museu em Fênix, que renasce das cinzas e se reinventa para dar conta dos novos tempos. Para marcar o aniversário de uma das mais importantes unidades da UFRJ, em 6 de junho, convidamos o diretor Alexander Kellner para contar, em artigo emocionante, sobre as ações e etapas que envolvem o processo de reconstrução do espaço físico. Este ano, a pandemia não permite festa, mas, a despeito de todas as dificuldades, as notícias são boas e devem ser celebradas. O Museu Nacional vive!

 

09aWEB1131ALEXANDER KELLNER
Diretor do Museu Nacional

 

O Museu Nacional/UFRJ está comemorando 202 anos de existência. Para quem militou na instituição científica mais antiga do país por praticamente toda a carreira e fez dela a sua segunda casa, essa não é uma data fácil. Não apenas pela tragédia, que no próximo dia 02 de setembro completará dois anos, ainda estar muito perto, mas, sobretudo, pelo fato de muitos dos técnicos, professores e alunos ainda não terem um local que possa oferecer condições mínimas de trabalho. Estamos amontoados, compartilhando salas com colegas – que já não tinham muito espaço – que se ofereceram de maneira solidária para abrigar aqueles que tudo perderam. Também cabe a lembrança da difícil situação dos nossos cursos de pós-graduação, em especial o Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS), que foram particularmente prejudicados, correndo, inclusive, o risco de perderem os bons conceitos no sistema de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior (CAPES). Para complicar ainda mais, vivemos essa situação delicada da pandemia que tomou o mundo inteiro como refém.


Como não poderia deixar de ser, estamos atentos às informações das autoridades sanitárias e seguindo as instruções da Reitoria, de isolamento social. Aliás, cabe aqui um importante reconhecimento que várias unidades da universidade, dentro de sua capacidade e possibilidade, têm procurado mitigar os efeitos negativos da COVID-19, visando não apenas o corpo social universitário, mas também a sociedade como um todo. Todos estão de parabéns e nos enchem de orgulho de fazer parte da UFRJ!


Mesmo diante das incontestáveis dificuldades, trago informações com excelentes perspectivas para o Museu Nacional! Inicio com a mais importante: os projetos, tão necessários para a reconstrução, estão em curso. O maior deles, apesar de um atraso considerável, é o dos telhados e da fachada. Existe a expectativa de iniciar as obras ainda este ano, partindo do princípio que a licitação possa ser realizada. O financiamento será feito pela ALERJ, que se comprometeu com 20 milhões para as obras.


Outra linha de frente que temos atuado é o Campus de Pesquisa e Ensino do Museu Nacional/UFRJ. Essa foi a designação recentemente aprovada pela Egrégia Congregação do Museu para denominar um terreno que foi cedido pela Secretaria do Patrimônio da União. Foram várias reuniões até sair a documentação necessária para as obras de cercamento e de infraestrutura. Iniciadas ainda no final do ano passado, tiveram que parar por causa da pandemia. Segundo os responsáveis, existe uma perspectiva de recomeço tão logo que as condições sanitárias sejam favoráveis.


Também estão prosseguindo os projetos da elaboração de estruturas laboratoriais para a parte acadêmica no campus, dos termos de referência relativos a diversos projetos diretamente relacionados ao palácio. Estes incluem ações desde a renovação do site até a contratação de empresas para a elaboração dos projetos arquitetônicos e museográficos. Por falar nas novas exposições, temos a perspectiva de implementar alguma ação ainda nesse ano, com uma mostra a céu aberto nos arredores do Palácio. A ideia é procurar realizar ações para as escolas, procurando voltar, mesmo que em pequena escala, às nossas ações educativas.


Além de todas essas ações, um outro motivo para otimismo, além do comprometimento da UFRJ, são as parcerias realizadas com outros atores que se aproximaram da instituição no intuito de ajudar na sua reconstrução. Entre as diversas que realizaram ações concretas está a UNESCO. Juntamente com técnicos da Alemanha, essa instituição foi a primeira a fornecer ajuda e continua firmemente imbuída no seu propósito de estar do lado do Museu Nacional e da UFRJ até recuperação definitiva da instituição.


Também destacamos o Governo Alemão que, através de suas agências e institutos como o Instituto Goethe, tem liderado ações internacionais que culminaram em uma carta aberta onde 26 museus e instituições científicas alemãs se comprometeram ajudar na recuperação do Museu, inclusive, com a possível doação de exemplares originais. Cabe frisar que a recomposição das coleções é o maior desafio a ser enfrentado. Dentro desse tema, várias instituições nacionais e internacionais se comprometeram em doar exemplares para o Museu, como a Sociedade Brasileira de Zoologia e o Universalmuseum Joanneum da cidade de Graz, Áustria, para citar alguns. Este último doou 197 objetos etnográficos de populações indígenas, algo que nos é muito caro. O Museu, assim que receber esse material, fará contato com representantes das respectivas nações indígenas para decidir, em parceria, qual a forma mais apropriada de lidar com esses objetos culturais nas novas exposições.


Entre os apoiadores também contamos com a Fundação Vale, que se comprometeu não apenas em aportar R$ 50 milhões para o projeto Museu Nacional Vive, mas também em auxiliar na gerência, trazendo toda sua experiência em projetos culturais. Ainda temos o apoio do BNDES, que, entre outros, está liderando o comitê de sustentabilidade do Museu após a sua inauguração. Certamente, os fundos patrimoniais serão objetos de muita discussão.


Por último, destaco o importante apoio da Fundação Universitária José Bonifácio, da Fundação COPPETEC e da Associação Amigos do Museu Nacional (SAMN), parceiros essenciais nesse projeto de reconstrução. Certamente outros parceiros – instituições científicas nacionais e do exterior, empresários e representantes da sociedade civil – se juntarão nesse esforço coletivo. Como dizemos, temos cada vez mais convicção, especialmente nos dias de hoje, que o Brasil precisa do Museu Nacional/UFRJ! 

 

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