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7aWEB menor1137Como o racismo se manifesta na história da Ciência e o que pesquisadores negros fazem para combater esta realidade? As questões alimentaram o debate “Ciência e tecnologia em afroperspectiva”, o primeiro organizado pela AdUFRJ durante o Festival do Conhecimento, no dia 15. O diretor Felipe Rosa fez a mediação do encontro.
“Quando me percebi mulher, negra e cientista, fui buscar referências que se assemelhassem a mim”, contou Eliade Lima, professora da Unipampa e doutora em astrofísica. A busca, porém, revelou-se infrutífera. “Os meus referenciais estão voltados apenas para o continente europeu e para as descobertas europeias. Se me pedirem o nome de uma mulher negra na Astronomia antiga, não saberia dizer”, lamentou.
O racismo epistêmico, como Eliade explicou, fez com que a Astronomia surgisse como Ciência apenas quando os europeus decidiram observar o céu. “Quais são os referenciais de grandes astrofísicos e astrônomos? Rapidamente, lembro de Tycho Brahe (1546-1601), Newton (1642-1727), Galileu Galilei (1564-1642)… Estou falando de homens brancos europeus”, disse. “Como se o povo do continente africano não observasse o céu”, criticou.
Bernardo Oliveira, professor de Filosofia da Educação da UFRJ, apresentou as contribuições de Cheikh Anta Diop (1923-1986) para o tema. Diop foi um historiador, antropólogo, físico e político senegalês que estudou as origens da raça humana e cultura africana pré-colonial. Usou os conhecimentos ocidentais para reconfigurar o panorama histórico em que as conquistas civilizatórias são atribuídas apenas ao homem branco. “A Ciência não cansou de afirmar sua pretensa origem branca. O racismo científico é apenas uma expressão dessa crença”, disse Bernardo.
O professor Antônio Carlos, do Instituto de Física da UFRJ, levou para a mesa as teorias do psiquiatra e filósofo francês Frantz Fanon (1925-1961).“Fanon argumenta que a pessoa negra se submete a vestir ‘máscaras brancas’, como estratégia de convivência e sobrevivência de suas relações sociais”, disse. “A simulação dos padrões brancos de comportamento cria doenças psíquicas, como, por exemplo, o sentido de inferiorização”, completou.

AdUFRJ NO FESTIVAL
A AdUFRJ organiza mais duas mesas no festival: “A pandemia e a participação das mulheres na produção acadêmica e na vida política das universidades”, dia 20, às 9h; e “Aulas remotas em tempos de fakes e as inseguranças jurídicas para a prática docente, dia 23, às 17h.

08WEB menor1137O dia de abertura do Festival do Conhecimento UFRJ finalizou com uma noite inesquecível. Programado para realizar apresentações musicais diárias, o Festival convidou Elza Soares para encerrar as atividades do dia 14, em uma live comemorando os 100 anos da Universidade, e os 90 da cantora. “A gente escolheu a Elza porque ela é um símbolo de resistência da militância racial, das questões de gênero, em um país atravessado pelo machismo, e também por ser uma cantora extraordinária”, afirmou Ivana Bentes, pró-reitora de Extensão da UFRJ e uma das organizadoras do evento.
O show virtual, realizado em um acústico voz e violão com acompanhamento do músico JP Silva, foi uma importante celebração para a instituição. “É uma grande honra e um privilégio ter conosco a mulher do milênio, Elza Soares, um ícone da cultura brasileira”, declarou Denise Pires de Carvalho, reitora da UFRJ, no início do evento. Em seguida, a artista agradeceu, parabenizou a Universidade e destacou a importância da educação. “Educação é a nossa única saída. O que o Brasil precisa para melhorar? Educação”, pontuou Elza.
O espetáculo começou com “Juízo Final”, um clássico de Nelson Cavaquinho que ganhou recentemente um clipe animado oficial no canal do Youtube da cantora. Com um repertório mesclando canções de seus discos mais recentes, como “Mulher do fim do mundo”, e músicas de outros artistas que se eternizaram na sua voz, como “O Meu Guri”, de Chico Buarque, a apresentação de Elza foi dotada de sua característica presença política. “É gente, o tempo não para, mas a Terra teve que parar. Nós vamos superar essa pandemia, mas pra isso precisamos de muita união”, disse após cantar a famosa canção de Cazuza.
Os 90 anos de Elza Soares são carregados de luta e superação. Para além do talento musical, a força da sua carreira sempre esteve em refletir as questões sociais que a artista viveu na pele. “Mulher, chega de sofrer calada. A violência cresceu nessa pandemia. Horrível. Ligue e denuncie qualquer violência”, lembrou Elza após cantar “Maria da Vila Matilde”, uma canção emblemática sobre violência doméstica. “Não queremos mais ver mulheres agredidas, como aconteceu em São Paulo, com uma mulher negra com botas em seu pescoço, tirando seu ar. Que absurdo, gente”, criticou.
Contando com mais de 700 espectadores ao vivo, o show de conclusão do primeiro dia de Festival do Conhecimento foi uma linda homenagem à cultura. Em menos de uma hora de apresentação, a “mulher do fim do mundo” deixou seu recado para estes tempos de pandemia, evidenciando o porquê desse apelido. Elza Soares tocou em pontos cruciais à contemporaneidade e, apesar da idade, encantou com a sua voz. “Adorei essa noite com vocês. Parabéns à Universidade Federal do Rio de Janeiro por esse evento gratuito e pelos 100 anos. Que venham outros mais”, finalizou

Liz Mota Almeida e Kim Queiroz

 08WEB menor1136A universidade vai mostrar toda a sua força no inédito Festival do Conhecimento virtual, entre os dias 14 e 24 de julho. Será o maior evento da UFRJ desde o início do isolamento social, causado pela pandemia do coronavírus. Estão previstas 2.123 atividades, sendo 581 delas em tempo real. Mais de 7,4 mil pessoas já se inscreveram como ouvintes do festival e receberão certificados pela participação. O prazo de inscrição vai até 13 de julho.
“O Festival do Conhecimento é uma resposta a um momento difícil da universidade”, afirmou a pró-reitora de Extensão Ivana Bentes, uma das idealizadoras da iniciativa. “A gente está separado, sem se encontrar, sem um lugar de troca”, lembrou. “Isso levou à ideia de criar um espaço virtual para a troca de conhecimentos, de afeto e de apoio”, explicou.
Só que este intercâmbio não vai ficar restrito à comunidade da UFRJ. A lista de convidados traz nomes como a ex-presidente Dilma Rousseff; os ex-ministros da Educação Fernando Haddad e Renato Janine Ribeiro; além dos reitores João Carlos Salles, da UFBA; Sandra Goulart, da UFMG; Edward Brasil (UFG) e Márcia Abrahão, da UnB.
Jornalistas como Flávia Oliveira e Glenn Greenwald, do Intercept, políticos como Alessandro Molon, Marcelo Freixo, Benedita da Silva e Jandira Feghali, o ministro Marco Aurélio Mello (STF), cientistas de outras instituições e produtores de arte também compõem a programação.
Para Margarida Salomão, deputada federal e coordenadora da Frente Parlamentar pela Valorização das Universidades, o Festival do Conhecimento representa uma celebração pelos 100 anos da UFRJ. “Essa forma de comemoração, convocando para um grande debate, e permitindo uma construção coletiva nessa crise extraordinária que estamos vivenciando, é um convite que não se pode recusar”, elogiou.
Todos os dias serão encerrados com um show. “Vamos começar com uma conversa, um sarau musical, com a maravilhosa Elza Soares, que está fazendo 90 anos. São 100 anos de UFRJ e 90 de Elza Soares”, comemorou Ivana.
Pluralidade é a palavra-chave do Festival. “A gente está fazendo essa mistura do produtor de conhecimento mais tradicional, com os artistas, os parlamentares e os influenciadores”, explicou Bárbara Tavela, técnica-administrativa da pró-reitoria de Extensão e uma das organizadoras do evento. “Entendemos que esse é o nosso ecossistema, a gente fala com todo mundo e todas as linguagens”.
Uma plataforma vai possibilitar a transmissão das atividades em 20 salas simultâneas, que poderão ser acessadas no site do Festival e pelo canal do Youtube da Extensão da universidade. Serão debates, minicursos, rodas de conversa e painéis temáticos.
A AdUFRJ vai marcar presença no Festival com mesas focadas na diversidade, como os debates sobre a participação das mulheres na produção acadêmica e sobre Ciência e tecnologia em afroperspectiva (confira abaixo). Para o professor Felipe Rosa, vice-presidente do sindicato, mais diversidade significa mais conhecimento. “Todo mundo ganha quando a gente consegue inserir todos os setores da sociedade na Academia”, afirmou.
A professora Eliade Lima, da Unipampa, é uma das convidadas do sindicato. “Vou falar sobre o meu trabalho de divulgação científica. Tanto na astronomia quanto na área de divulgação de mulheres cientistas”.

CONHECENDO A UFRJ
Por conta da pandemia, o tradicional evento Conhecendo a UFRJ foi cancelado. “Estávamos com a produção quase pronta”, lembrou Bárbara.“As escolas que já têm o hábito de visitar a UFRJ estavam incessantemente mandando mensagens: ‘Mas e o Conhecendo UFRJ, não vai ter esse ano?’”. Assim surgiu uma interação com o Festival do Conhecimento, em um novo formato. Estudantes e professores podem apresentar seus cursos de graduação em vídeos curtos e inscrevê-los no site do festival. “É a integração e articulação de tudo o que a nossa universidade faz”, concluiu.

PROGRAMAÇÃO: MESAS COM MEDIAÇÃO DE DIRETORES DA ADUFRJ

Ciência e tecnologia em afroperspectiva
15 de julho
11h30 às 13h30h

Participantes:
- Bernardo Oliveira, professor de Filosofia da Educação, UFRJ,
- Antônio Carlos Fontes dos Santos, IF, UFRJ,
- Eliade Lima, Unipampa
Mediador: Felipe Rosa, AdUFRJ

A pandemia e a participação das mulheres na produção acadêmica e na vida política das universidades
20 de julho
9h às 11h

Participantes:
- Fernanda Staniscuaski, UFRGS,
- Irenisia Torres de Oliveira, UFC
- Maria Caramez Carlotto, UFABC
Mediadora: Eleonora Ziller, AdUFRJ


Aulas remotas em tempos de fakes e as inseguranças jurídicas para a prática docente
23 de julho
17h às 19h

Participantes:
- Fernanda Bruno, IP, UFRJ
- Fernanda Vick, advogada pública
- Jamila Venturini, Coletivo Intervozes e Rede Latino-americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade
Mediadora: Christine Ruta, AdUFRJ

CONVIDADOS
DO FESTIVAL
Denise de Carvalho - Reitora da UFRJ
Carlos Frederico Rocha -
Vice-Reitor da UFRJ

PARLAMENTARES E POLÍTICOS
Eduardo Suplicy
Fernando Haddad
Dilma Roussef
Marcelo Freixo
Alessandro Molon
Benedita da Silva
Jandira Feghalli
Margarida Salomão
Lindbergh Farias
Marco Aurélio Mello (Ministro do STF)

ARTISTAS E SHOWS
Abertura dia 14/07 (19h)
100 Anos de UFRJ
90 Anos de Elza Soares

De 15 a 24/07 (19h30)
15/07 - Hiran
16/07 - Illy
17/07 - Luísa e os Alquimistas
18/07 - Majur
19/07 - BNegão
20/07 - Babi Jaques e Lasserre
21/07 - Jup do Bairro
22/07 - Luê
22/07 - Daúde e Lia de Itamaracá (19h)
23/07 - Plutão já foi planeta
24/07 - Potyguara
24/07 - Chico Cesar

REITORES E IFES
João Carlos Salles (Reitor UFBA)
Márcia Abrahão Moura (Reitora da UnB)
Sandra Regina Goulart Almeida (Reitora UFMG)
Edward Madureira Brasil (Reitor UFG)
Olgamir Amancia Ferreira (Decana Extensão UNB/FORPROEX)
Claudia Gonçalves (Pró-Reitora de Extensão UERJ)

SOCIEDADE CIVIL
Boaventura Souza Santos
Renato Janine Ribeiro
Ailton Krenak
Glenn Greenwald
Monica Benício
Antônio Nóvoa
Joel Zito Araújo
Elisa Lucinda
Flávia Oliveira
Preta Ferreia
Rosane Borges
Rita von Hunty
Raul Santiago (Papo Reto)
Renê Silva (Voz das Comunidades)
Anapuaka Tupinambá
Amara Moira
Petra Perón
Ana Maria Machado (ABL)
Cindy Lessa (Ashoka Brasil)

PROFESSORES (UFRJ)
Eleonora Ziller (ADUFRJ)
Roberto Medronho
Amilcar Tanuri
Muniz Sodré
Carol Proner
Giovana Xavier
Dani Balbi
Miriam Krenzinger
Vicente Ferreira

GESTORES (UFRJ)
Ivana Bentes (Pró-Reitoria de Extensão)
Denise Freire (Pró-Reitora de Pesquisa)
Giselle Pires (Pró-Reitora de Graduação)
Eduardo Raupp (Pró Reitor de  Planejamento, Desenvolvimento e Finanças)
Leôncio Feitosa (Complexo Hospitalar)
Tatiana Roque ( Fórum de Ciência e Cultura)
Marcos Maldonado: Prefeitura (UFRJ)
Amélia Abigail Rosauro de Almeida: Diretoria de Acessibilidade (DIRAC)
Cristina Riche (Ouvidoria)
Amaury Fernandes: (DRI)
João Graciano (Superintendência de Tecnologia da Informação e Comunicação)
Roberto Vieira (Pró-Reitoria de Políticas Estudantis)
André Esteves da Silva ( Pró-Reitor de Gestão e Governança)

 

 

04e05WEB menor1137A AdUFRJ organizou um grande evento virtual na segunda-feira, 13, para debater os desafios do ensino remoto durante a pandemia.  Para amparar as discussões, a diretoria preparou texto com diversas propostas e reflexões sobre o assunto, todas focadas na garantia da qualidade acadêmica, no acolhimento dos estudantes e na valorização do trabalho docente.  As reuniões mobilizaram 113 professores das mais diversas áreas. Os professores foram divididos em quatro grupos: Humanas, Artes, Saúde e Tecnologia. O encontro suscitou novas inquietações e propostas que foram apresentadas e debatidas com o Conselho de Representantes da AdUFRJ na quinta-feira, 16.

 

HUMANAS
Alternativas para reduzir sobrecarga

A plenária da AdUFRJ que reuniu os professores de Humanas refletiu algumas das principais preocupações dos docentes da UFRJ com a adoção do ensino remoto. A oferta de plataformas digitais para realização das aulas, a adaptação do conteúdo das disciplinas para a modalidade remota e o desgaste causado pelo trabalho em confinamento foram alguns dos temas abordados na reunião. Mas ponto central da discussão foi a insegurança manifestada por muitos professores sobre a individualização da decisão de dar ou não aulas remotas.
A plenária foi coordenada pelo diretor Josué Medeiros, professor do IFCS. Na abertura, Josué apresentou os principais pontos do texto da diretoria sobre o ensino remoto. “O texto expôs, de maneira introdutória, o que achamos que são os princípios que devem nortear a atuação da AdUFRJ”, disse Josué. “Esperamos as contribuições dos colegas para acrescentar ao material”.
A reunião foi um grande espaço para a troca de ideias sobre como implantar um modelo de aulas remotas adaptado ao programa de cada disciplina. A professora Marta Castilho, do Instituto de Economia, relatou como está sendo a preparação para o Período Letivo Excepcional na sua unidade. “Na Economia estamos discutindo bastante sobre todas as questões que envolvem o ensino remoto, e os temas que estão no documento da AdUFRJ contemplam bastante as nossas preocupações”, disse a professora,  que também contou que no IE os docentes tiveram a ideia de criar turmas grandes, mas com mais de um professor. “Ajuda na administração durante a aula, mas diminui um pouco a carga dos professores”, explicou. “A ideia acabou se difundindo, e várias turmas nossas serão compartilhadas desta forma”, relatou a professora.
O professor Sandro Torres, da Escola de Comunicação, contou como o processo tem sido tranquilo também em sua unidade. A direção da ECO consultou os alunos sobre a oferta de aulas remotas, com uma resposta majoritariamente positiva, e propôs desde o começo uma ampla discussão com os professores, trazendo-os mais para perto das decisões. A professora Ana Lúcia Cunha Fernandes, da Faculdade de Educação, também relatou a experiência na sua unidade. “Fizemos uma série de rodas de conversa, e agora temos um grupo de trabalho pensando em questões mais concretas, de ordem mais objetiva. Fizemos um questionário, destinado aos professores, para tentar captar as suas dificuldades e necessidades”, contou a professora, que sugeriu que a AdUFRJ seja, sobretudo neste momento, o espaço para que essas conversas aconteçam.
A professora Júlia Ávila Franzoni, da Faculdade de Direito, lembrou que é importante ressaltar que o trabalho remoto é um direito. “É preciso entender que desde que foi deflagrada a pandemia todos os professores da UFRJ estão trabalhando”, disse a docente, que se mostrou preocupada com como as chefias vão entender isso, para evitar punições a quem não aderir ao PLE. Ela também se mostrou preocupada com os professores substitutos, os que estão em período probatório e com as progressões de carreira, entendendo que não pode haver nenhum prejuízo aos docentes. Em resposta, o professor Josué convidou a professora Júlia a escrever sobre o tema, para que seja incluído no texto final. Josué também colocou a AdUFRJ à disposição de professores que estejam se sentindo pressionados por suas unidades a dar aulas durante o período excepcional.
Outra inquietação debatida na reunião foi sobre a gravação das aulas e os direitos de imagem dos professores. “Minha maior preocupação é com a própria segurança dos docentes em relação aos vídeos gravados. Não vivemos uma conjuntura política muito fácil”, ponderou Ana Cláudia Tavares, do NEPP-DH. “Temos casos recentes de invasões de salas de aula”, disse. A gravação das aulas, lembrou Josué, é uma reivindicação dos alunos para facilitar o acesso daqueles estudantes que não possam assistir à aula sincronamente, e que a AdUFRJ vai conversar com o DCE para que haja um entendimento sobre o tema.
A professora Fernanda Vieira, do NEPP-DH, fez uma fala manifestando sua preocupação com a decisão de dar ou não aulas remotas ficar a cargos dos professores. Para ela, uma vez que a universidade vai informar ao MEC que a UFRJ está oferecendo aulas, abre-se um perigoso precedente para que docentes que optem por não aderir ao Período Letivo Excepcional sejam prejudicados de alguma forma. A docente defende que a decisão, da maneira que foi tomada pela UFRJ, não dá garantias jurídicas, frente ao governo, de que os colegas poderão escolher não dar aulas sem ter eventuais prejuízos.
Em sua resposta, Josué reafirmou a importância dos conselhos superiores da universidade, mostrando que existe uma estratégia para lutar contra eventuais ataques do governo. “Não tenho dúvidas de que com um governo fascista não há garantias jurídicas. Justamente por não termos garantias jurídicas, precisamos contar com garantias políticas. E não há garantia política maior do que contar com os conselhos superiores da universidade. Ali está a garantia da autonomia universitária”, disse Josué. A decisão sobre aulas remotas foi amplamente discutida, ao longo de meses, pelo CEG, CEPG e Consuni, que de maneira democrática ouviram todos os segmentos da universidade.
A presidente da AdUFRJ, Eleonora Ziller, encerrou a reunião lembrando que é um período muito difícil para todos, em que “nossas vidas estão empobrecidas de experiências afetivas”, e defendeu a posição da UFRJ. “A universidade teve muita calma na hora de discutir as aulas remotas. O Conselho Universitário dedicou uma sessão inteira a ouvir os estudantes, e a proposta foi aprovada praticamente por unanimidade, com apenas 3 abstenções. Essa votação é o ganho político que conquistamos nesse processo, e é por esse caminho que enfrentamos o fascismo. Com muita coragem. Combater governos fascistas exige coragem”, disse.(Lucas Abreu)

CIÊNCIAS DA SAÚDE
Preocupação com as aulas práticas

A reunião da área de saúde foi intensa e bastante representativa. Participaram docentes da Farmácia, Medicina, Fisioterapia, Psicologia, Fisioterapia, Biologia, Gastronomia, Terapia Ocupacional. Foi demonstrada uma preocupação quanto à oferta de disciplinas práticas no PLE - Período Letivo Excepcional. "Minha preocupação é com as aulas práticas em laboratório, trabalho de campo, atividade docente assistencial. Não foram contempladas nesse PLE essas modalidades sob a forma remota", disse o professor Hélio de Mattos, da Farmácia. "Várias aulas práticas podem serem ministradas sob a forma remota. Mas a resolução do CEG não obriga, deixou isso a critério das unidades", completou.
Pedro Lagerblad, diretor da AdUFRJ, lembrou que o PLE não foi uma opção, e sim uma necessidade. “Socialmente e politicamente falando, não temos escolha quanto ao PLE”, ponderou. Para o professor titular do Instituto de Bioquímica Médica, apesar da adversidade, os docentes devem procurar soluções para ministrar seus cursos. “Estamos com um problema. Vamos ver o que se pode fazer de bom com ele.”
Lúcia Azevedo, professora de Medicina, afirmou que existe um esforço do seu curso em adiantar algumas atividades práticas pelo ensino remoto, como teleconsulta e medicina da família. “Alguns componentes dessas matérias podem ser facilmente colocados no método remoto”, explicou Lúcia. Para ela, o maior desafio é ensinar aos professores a usar as ferramentas tecnológicas para auxiliar na aprendizagem. “Muitos não estão acostumados a usar videoaulas, gravar conteúdo online. Eu e um grupo de alunos vamos fazer um tutorial para ajudar esses professores”, completou.
Na Biologia, não existe um consenso sobre as aulas práticas, segundo o professor Paulo Paiva. “Vamos trabalhar na precariedade, mas é possível pensar em soluções”, afirmou. Ele acredita que algumas respostas podem ser encontradas nas universidades brasileiras que mantiveram o semestre de modo remoto, como é o caso da USP e Unicamp. “É necessário pensar nas universidades que estão passando pelo mesmo processo, nesse momento o planeta inteiro está funcionando remotamente”, lembrou.
David Majerowicks, professor da Farmácia, disse que o seu departamento está à procura de profissionais com experiência em ensino remoto. “Existe gente que estuda o EAD e que sabe mais do que a gente como fazer”, sugeriu.
Alguns professores relataram que o curso de formação ofertado pela UFRJ, sobre as plataformas digitais para o PLE, foi dado de maneira rasa. Mario Gandra, professor da Faculdade de Farmácia, já possui familiaridade com essas plataformas, devido a uma experiência anterior na UFBA. Ele percebeu a urgência do tema e resolveu disponibilizar tutoriais sobre o googleclassroom e o AVA no seu canal do YouTube, para que outros professores possam aprender. O canal se chama Professor Mario Gandra e também estão disponíveis videoaulas para os estudantes de Farmácia. (Liz Mota Almeida)

EXATAS E TECNOLÓGICAS
AdUFRJ quer ressarcimento de docentes por aula remota

Mais de 40 docentes do CCMN e do CT participaram do encontro da AdUFRJ sobre ensino remoto, O professor Felipe Rosa mediou o debate. “O ensino remoto não é mais uma questão de ‘se’, mas uma questão de ‘como’, já que a universidade decidiu implantá-lo”, afirmou o vice-presidente do sindicato. “A ausência de aulas exclui muito mais os estudantes que o ensino remoto emergencial”, defendeu o professor. A AdUFRJ, ele explicou, prioriza dar suporte e proteção aos docentes, neste momento.
Uma das bandeiras levantadas pela diretoria da AdUFRJ é que os professores sejam ressarcidos dos custos que se elevaram em casa e na aquisição de equipamentos para as atividades remotas. A assessoria jurídica da seção sindical vai produzir parecer sobre direito autoral e propriedade intelectual em relação às aulas preparadas de maneira remota e disponibilizadas como conteúdos gravados. “Nossa posição é que o direito do professor sobre o material de suas aulas vai além do entendimento da Procuradoria da UFRJ”, disse Felipe Rosa.
No parecer da universidade, o procurador Renato Vianna afirmou que as aulas não são criações de interesse privado dos docentes e que, por isso, o direito autoral seria “exclusivo da Administração Pública, não podendo auferir quaisquer benefícios privados” aos professores. Em relação à imagem, diz o procurador, a lei protege o docente de violação e “mau uso, que lhe cause dano material ou moral”. A disponibilização de aulas gravadas aos alunos, completa Vianna, “não causa dano material ou moral ao professor”.
Outra preocupação da AdUFRJ – também expressada por alguns professores – diz respeito à necessária integração com todos os estudantes. A AdUFRJ pretende encabeçar um movimento nacional em defesa da democratização da internet e a inclusão digital. E pretende iniciar o debate por meio do Observatório do Conhecimento.
A professora Thereza Paiva, do Instituto de Física, reforçou o cuidado necessário com os estudantes e o quanto a falta de aulas pode impactar inclusive economicamente os mais vulneráveis. “Há muitos estudantes de fora do Rio que se planejaram para passar um determinado período na cidade, que é uma das mais caras do Brasil. Não dar aulas é fazer os estudantes aumentarem essa permanência na cidade. Muitas famílias não têm condições financeiras de ampliar este tempo”.
As disciplinas e teses que dependem de experimentos foram um dos temas levantados pelos professores. Enquanto não há protocolo para retorno seguro das atividades nos laboratórios, muitos trabalhos estão parados. Mas alguns laboratórios das áreas exatas estariam retomando pesquisas. “A pior coisa que pode acontecer são esses laboratórios voltarem de forma presencial, sem protocolos de segurança”, criticou o professor Fernando Rochinha, da Coppe. “Boa parte dos laboratórios do CCS estão funcionando desde o dia zero da pandemia. Temos protocolos nesses locais que podem ser estabelecidos para os demais laboratórios”, disse.
Yraima Cordeiro, professora da Farmácia, defendeu o uso do  AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem – desenvolvido pelo Instituto Tércio Pacitti) e da plataforma Moodle para as aulas, já que a UFRJ deu liberdade às unidades de escolherem e organizarem de forma autônoma suas aulas remotas. Em relação às metodologias de ensino, a docente criticou a demora de os professores se prepararem para esta migração de conteúdos para o ambiente virtual. “Tivemos a chance de nos preparar desde março. Eu me programei pra fazer curso de AVA já prevendo que a única forma de retorno possível seria essa, por atividades a distância”.
Do Instituto de Química, o professor Rodrigo Almeida reconheceu que a universidade tem conseguido dar boas respostas à crise, mas salientou a necessidade de avaliar constantemente as decisões sobre o ensino remoto “É fundamental que esta experiência não seja naturalizada. É importante que seja bastante reforçado que o nosso tripé de ensino, pesquisa e extensão está muito sustentado pelo contato físico, pelo presencial.Nossas práticas pedagógicas são baseadas nisso”, disse.
Também houve críticas de professores da Escola Politécnica sobre o calendário aprovado. O chamado Período Letivo Excepcional foi considerado curto. “O encurtamento do calendário pode, sim, comprometer a qualidade das aulas e da formação”, afirmou o professor José Henrique Sanglard, da Engenharia Naval. “A Escola Politécnica tem um problema adicional: a maioria dos professores não tem experiências com ensino a distância ou aulas remotas”.
O professor Sylvio Oliveira, da Engenharia Mecânica, reivindicou um direcionamento mais claro sobre que plataformas usar para as aulas neste período. “Há muitas perguntas a fazer e muitas orientações que eu gostaria de receber”, disse.

AVALIAÇÃO POSITIVA
O vice-presidente da AdUFRJ comemorou o sucesso do encontro. “A reunião foi surpreendentemente cheia, superou as expectativas. Mostra que o tema domina a dinâmica da universidade”, avaliou Felipe Rosa. Ele destacou que a volta das atividades remotas, com inclusão e solidariedade, foi um consenso importante entre os participantes. “Não será o melhor dos mundos, mas é um caminho que deve ser seguido”.
As questões levantadas pelos professores serão levadas em consideração para a versão final do documento sobre ensino remoto da diretoria da AdUFRJ. “As questões centrais que foram abordadas já estão contempladas no nosso documento, mas ele certamente será enriquecido. Protocolos de segurança para laboratórios e atividades práticas de pós-graduação tem de ser incorporados.  Além disso, a universidade deve dar uma orientação mais direcionada aos professores sobre plataformas e metodologias de ensino”, concluiu Felipe. (Silvana Sá)

ARTES
Criatividade é a palavra de ordem

A plenária das Artes e outras práticas teve um número menor de participantes, mas surpreendeu pela representatividade. Participaram da troca de ideias docentes dos cursos de Música, Comunicação Visual Design (EBA), Direção Teatral (ECO), Letras e Gastronomia. A roda de conversa foi conduzida pela presidente da AdUFRJ, Eleonora Ziller.
As disciplinas práticas são o calcanhar de Aquiles. “Metade da nossa carga horária é de vivência em laboratório. Não achamos uma solução para resolver isso remotamente”, relatou Daniela Munizzo (Gastronomia). Segundo a docente, o caminho escolhido foi a oferta de disciplinas eletivas e teóricas.
 Já na ECO, as estratégias incluem a oferta de disciplinas complementares e conjuntas (ministradas em parceria por mais de um docente). “Nossa intenção é garantir um período mais leve e sem muita pressão sobre os alunos e professores”, informou José Henrique (Direção Teatral). A criatividade é a palavra de ordem, tanto para a graduação quanto para os projetos de pesquisa e extensão. “Enviamos kits de luz e cromaquis para a casa das pessoas e vamos fazer nossa primeira web ópera”, disse.
A estrutura física da universidade também foi debatida. Norma Menezes,  da Escola de Belas Artes, interpelou a Adufrj para garantia de espaços físicos, na universidade, para gravação das aulas. Assim como, uma política de formação para os docentes sobre ensino remoto. “Vídeos, oficinas, tutoriais”, exemplificou. “Ninguém quer perder a qualidade”.
Uma das maiores unidades da universidade, a Letras pontuou preocupações em relação a um eventual retorno às aulas. “Apesar de bem arejado, o prédio não tem a menor perspectiva de atender ao volume enorme de pessoas que abrigamos, inclusive de outros cursos, respeitando a demanda de isolamento”, relatou a professora Danielle Copas. “Não temos condições nem para semipresencial”, advertiu.
Surgiu também a preocupação com contagem do tempo para progressão docente durante a pandemia. A presidente da Adufrj afirmou que a entidade atua junto à reitoria para proteger os direitos docentes em relação à carreira e à propriedade intelectual. (Elisa Monteiro)

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A greve deflagrada pelos professores da rede básica particular já é vitoriosa. O prefeito Marcelo Crivella recuou da decisão de reabrir as escolas neste dia 10. Agora, pela nova decisão, a rede de ensino municipal e privada pode reabrir – em caráter “voluntário” – a partir do dia 1ª de agosto. A indicação anterior de retorno precoce às atividades, ignorando o descontrole da pandemia no Rio, fez a sociedade reagir. Nas redes sociais, famílias e profissionais de ensino abraçaram campanhas contra o retorno de crianças e adolescentes às salas de aula durante a pandemia. No sábado, 4, mais de 600 profissionais participaram de assembleia virtual histórica, em que decidiram não retomar o trabalho presencial até que seja seguro para professores, estudantes e famílias. Logo após, no dia 7, saiu o primeiro resultado concreto da pressão: decreto do governo estadual manteve suspensas as aulas em todas as escolas no estado até o dia 21 de julho. “A pressão da categoria e a nossa assembleia tão representativa fez com que o prefeito recuasse. É uma vitória do sindicato, sem dúvidas”, comemorou Gustavo Henrique Cornélio,w diretor do Sinpro-Rio, sindicato que representa os professores das escolas particulares.
 “Não há condições de segurança. A greve vem defender a categoria para não trabalhar sofrendo pressão de seus patrões. É uma greve pela vida”, afirmou Elson Paiva, também diretor do Sinpro-Rio.
As atividades remotas, porém, continuam. “Queremos voltar ao trabalho presencial. A experiência da pandemia me ensinou que aula remota não substitui aula presencial. Mas eu não posso arriscar vidas”, afirmou o professor Gustavo. “Está na mão da Ciência dizer quando este retorno será seguro. Por enquanto, vamos continuar em aulas virtuais”, declarou.
Todos os profissionais do grupo de risco estão orientados a apresentarem laudo médico indicando sua condição de saúde em caso de convocação das escolas. O Sinpro-Rio lembra, ainda, que nenhum profissional pode ser demitido durante a greve e promete acionar a Justiça do Trabalho e o Ministério Público, em caso de constrangimento a profissionais. “A greve foi deflagrada para proteger os professores que se recusarem a voltar e, assim, evitar demissões”, afirmou Gustavo.
Outra assembleia está marcada para o dia 1º de agosto. Presidente da AdUFRJ, a professora Eleonora Ziller dá total apoio à greve dos colegas. “Nós estamos acompanhando toda essa mobilização desde o seu início, somos signatários do manifesto em defesa da vida, junto com dezenas de entidades da área da educação e da saúde”, afirmou a docente. “Essa greve tem um caráter muito diferente das lutas salariais, pois vai além do interesse estrito dos professores. É um gesto de proteção também às famílias envolvidas, e à sociedade como um todo, pois é sabido e comprovado por inúmeros estudos epidemiológicos que as escolas devem ser as últimas a retornarem suas atividades presenciais”, defendeu Eleonora.  

90% apoiam greve
A decisão de não voltar às escolas foi apoiada por 90% dos professores que acompanharam a assembleia. Mas também é aprovada por quem não participou da reunião. Marcelo Veck é professor de História. Dá aulas para o segundo segmento do ensino fundamental e para o ensino médio em quatro escolas privadas do Rio. Ele teme um retorno precoce. “Descobri que nasci com uma doença renal, o que me coloca no grupo de risco”, revelou o professor, de 36 anos. “Perdi um aluno de 15 anos, que era do grupo de risco. E mesmo os que não são podem transmitir a doença para seus familiares. Como vai ser o recreio? Qual o protocolo para o bebedouro? É possível garantir que os alunos ficarão de máscara o tempo todo? Eu entendo que em algum momento teremos que voltar, mas ainda não entendo como”, desabafou.
Ele contou que as escolas em que trabalha estão estudando formas para retorno das aulas, mas nenhuma sinalizou a volta imediata. “Apenas uma se posicionou sobre o retorno presencial, mas somente em agosto. Outras três ainda não se manifestaram sobre uma data”, disse o professor.
Entre tantas incertezas para as aulas pós-pandemia, ele destaca algumas: “Uma de minhas turmas tem 47 alunos. Como voltar com todos? Ou como fazer um rodízio, como me sugeriram, com três grupos de 16 e 15 estudantes? Como passar conteúdo presencial desta forma e organizar, para os demais, os conteúdos on line? Na prática, trabalharei três vezes mais que agora, que já é muito mais do que antes da pandemia”, afirmou. “Só para montar uma apresentação de 40 minutos, para apenas uma aula, eu gasto em média três horas”.
Os desafios em relação às aulas virtuais e também no trato com estudantes e famílias são muitos. “Mesmo na escola privada eu tenho estudantes que não têm banda larga em casa, não têm computador. Os que têm muitas vezes possuem famílias que acham que nós não estamos trabalhando. Em uma das apresentações de slides que gravei, o meu cachorro latiu e não tinha como refazer. Recebi a ligação de um pai reclamando”, elenca.

 

 

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