facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

Kim Queiroz e Liz Mota Almeida

 

marchaVida, saúde, solidariedade, meio ambiente, ciência e educação. Estes foram os pilares da Marcha Virtual Pela Vida, que reuniu mais de 500 entidades e movimentos sociais — a AdUFRJ, entre elas —, em 9 de junho. A programação do evento contou com transmissões ao vivo pelas redes sociais, debates, atividades culturais e um tuitaço. As hashtags #MarchaPelaVida e #FrentePelaVida alcançaram a quarta posição entre os assuntos mais comentados no Twitter nacional.
     Outra iniciativa de sucesso da Marcha foi a utilização do aplicativo francês Maniff.app. Pela ferramenta, é possível posicionar o avatar em um mapa virtual para demonstrar apoio a uma causa. E mais de seis mil pessoas utilizaram o Maniff.app ao longo do dia.
Para a médica e professora da UFRJ Lígia Bahia, a Marcha foi uma oportunidade de articulação nacional num momento muito difícil para a Ciência. “A manifestação virtual permitiu uma maior unidade e, também, encontrar pontos em comum nos problemas concretos que a área de Ciência e Tecnologia está enfrentando”, afirmou a ex-diretora da AdUFRJ.
Um dos consensos da iniciativa foi a defesa do Sistema Único de Saúde. “Não dá para imaginar enfrentar essa pandemia sem o SUS”, afirmou um dos convidados ilustres da Marcha, o médico Dráuzio Varella. “Quando falamos de distribuição de renda no Brasil, citam o Bolsa Familia. Mas ele é uma pequena ajuda comparado ao orçamento do SUS”, disse. “O SUS é o grande programa de distribuição de renda, que permite defendermos a vida dos brasileiros agora”, completou.
Dráuzio observou que o sistema de saúde sofre com problemas de financiamento e gestão. Mas ressaltou as qualidades  apresentadas no combate ao novo coronavírus. “Nessa hora, vemos a agilidade do SUS e como foi possível abrir leitos e unidades de pronto atendimento”. O médico encerrou sua participação na Marcha com um apelo:”Que fique essa missão para quando tudo isso acabar. Devemos confiar no sistema único de saude, pois é com ele que todos nós contamos, no final das contas. O SUS é quem defende nossas vidas, dos indígenas do Norte até o Rio Grande do Sul”.
    O professor Ildeu Moreira, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e um dos idealizadores da Marcha, defendeu a máxima de que todas as vidas importam. “Vidas negras importam, vidas de quaisquer etnia, gênero e classe social importam e muito”. A Frente pela Vida — que realizou a Marcha — surgiu como um movimento de organização da sociedade civil brasileira para enfrentar a crise. “Estamos cansados de ouvir discursos, e a população continuar morrendo sem assistência médica adequada.”             
Moreira acredita que o fortalecimento do SUS é imprescindível nesse quadro de pandemia atual. Guinar Azevedo, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), foi mais um representante da Frente pela Vida a reverenciar o SUS. “Para mostrar que o SUS é capaz de dar essa resposta, precisamos da união de todos, de muita solidariedade e, sobretudo, cobrar ao Estado o dever dele de garantir a saúde para todos e todas”.

CIÊNCIA EM DEBATE    
Na manhã do dia 9, como atividade local da Marcha, a SBPC e a AdUFRJ promoveram o debate “Ciência e Realidade” mediado por Luana Meneguelli Bonone, da Associação de Pós-graduandos (APG). Richarlls Martins, professor do NEPP-DH da UFRJ, destacou o impacto dos discursos políticos sobre a sociedade. “Temos uma produção discursiva de líderes públicos que nega e minimiza os impactos da Covid-19 no interior da sociedade brasileira”, afirmou. “Essa orientação normativa vai ter impacto direto sobre determinados grupos sociais”, completou.
   Na análise da professora Liv Sovik, da Escola de Comunicação da UFRJ, somente o conhecimento pode contribuir para solucionar a violência que predomina nos discursos, lares e ruas do país. “Vamos ler para salvar vidas. Vamos ler para aumentar o nosso conhecimento”, ponderou. A leitura, de acordo com a professora, é um caminho para combater a crise de empatia, pois “ela nos ajuda a entender o outro”.
     O debate abordou recortes raciais, sociais, de gênero e de sexualidade. Jaqueline Gomes de Jesus, professora de psicologia do IFRJ, ressaltou os desafios que a pandemia potencializa. “Estamos falando de um projeto de nação eugenista. Pessoas pretas, periféricas e, principalmente, transsexuais, não têm acesso a nenhum tipo de apoio. É um projeto intencional de exclusão dessas vidas e corpos”, declarou.
    Viviane Salles, da Frente CDD (Cidade de Deus) Contra a Covid-19, avaliou o uso das redes sociais pelas populações mais vulneráveis. “É importante termos em mente o papel relevante dos comunicadores comunitários neste momento”, observou. Ela vê um movimento valioso emergindo nas periferias. “O que está acontecendo é o nascimento de uma nova ciência, a ciência da favela”, afirmou. “A própria favela está criando ferramentas científicas, de análise e de ação, em diálogo com as demandas reais e sociais”, completou a socióloga.

Topo