facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

WhatsApp Image 2020 10 02 at 20.44.09RESGATE de onça-pintada vítima de incêndios florestais - Foto: WILLIAN GOMES/SECOMM UFMTAs imagens dos animais carbonizados no Pantanal representam a primeira e mais visível etapa de um amplo extermínio da fauna local. Especialistas alertam que a diminuição de recursos naturais e alterações na cadeia alimentar são fatores que vão impactar a biodiversidade da região por muito tempo, mesmo após o fim das queimadas. A eventual extinção de algumas espécies não está descartada.   
“Pelas estimativas até agora, já foi destruído entre um quinto e um quarto de toda a área do Pantanal. Essa é uma área que vai demorar a se recuperar”, diz Fernando Fernandez, professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia da UFRJ. Reconhecido pela sua riqueza na quantidade e variedade de animais que abriga, o Pantanal é um bioma que ocupa no Brasil a parte sul do estado do Mato Grosso, o noroeste do Mato Grosso do Sul, parte do norte do Paraguai e do leste da Bolívia.
A notoriedade da região está muito ligada à abundância de grandes vertebrados. “Eu sempre digo que o Pantanal é o segundo melhor lugar no mundo para a observação de grandes vertebrados, especialmente grandes mamíferos. Só perde para a savana africana”, diz Fernando.
Especialista em Biologia da Conservação, Fernando afirma que, antes das queimadas, a fauna do Pantanal estava bem resguardada. “Existe uma densidade populacional muito grande de onças-pintadas no Pantanal. As populações de antas e queixadas (conhecidos também como porcos-do-mato), antes desse impacto, também estavam muito bem”, destaca Fernando. O problema, explica o biólogo, é que essas espécies são extremamente frágeis, e em pouco tempo podem ser ameaçadas de extinção.
“Todas essas populações têm baixo potencial reprodutivo, e isso é crucial”, esclarece o professor. A extinção é um processo que pode ocorrer em escala local ou global, quando morre o último indivíduo de uma determinada espécie. “Em termos de extinção, o que é frágil não é a barata, é o elefante. Porque o elefante pode ter poucos filhotes de cada vez, e filhotes muito espaçados. Ou seja, um bicho assim tem dificuldade em repor as perdas. São demograficamente frágeis”, exemplifica.
WhatsApp Image 2020 10 02 at 20.44.091VISTA AÉREA do Rio Cuiabá revela a floresta em chamas - SESC PantanalA superqueimada causa alterações que produzem efeitos em toda a cadeia alimentar do ecossistema. “A anta não é um bicho pastador. Ela come folhagens das árvores, principalmente. É um bicho que chamamos de ‘ramoneador’, que come folhagens e ramos”, explica Fernando. “A árvore, com folhas jovens para a anta comer, demora muito mais a se recuperar do que o capim. Por isso, para a anta, isso tudo é um absoluto desastre”.
A devastação que põe em risco a fauna do Pantanal surge da mudança de regimes extensivos para regimes intensivos de exploração do território. “Existe uma grande pressão por transformação de alguns desses habitats. E isso é favorecido pelo atual governo, que é leniente com essa destruição e tem uma política ambiental que deixa essas coisas acontecerem”, diz Fernando.

PERDA DE RECURSOS
Especialista em Ecologia de mamíferos do Pantanal, o professor Luiz Flamarion, do Departamento de Vertebrados do Museu Nacional, ressalta o drama para todo o ecossistema. “Nós podemos até observar um organismo isolado, mas aquele organismo não está suspenso no espaço. Ele está ali porque depende de recursos. E as queimadas tiram o recurso alimentar, a água e o abrigo. As presas perdem recursos, e os predadores perdem as presas. É um processo que precisa ser visto da escala de sistema”, diz.
Há quase 20 anos o Museu Nacional da UFRJ desenvolve pesquisas sobre a fauna do Pantanal em parceria com o Sesc Pantanal e outras instituições. Com uma área de trabalho que abrange cerca de 300 mil hectares do bioma, o grupo faz levantamentos de campo com questões ecológicas, e estrutura acervos para representar a biodiversidade do país. “Com o surgimento do fogo, o que a gente começou a fazer foi um processo de análise para comparar o antes com o depois”, relata o docente.
“Temos uma estimativa de populações de cervos acima de 400 indivíduos, mas ainda não sabemos quanto já se perdeu”, aponta Luiz. Para um acompanhamento contínuo e preciso dos impactos das queimadas, os pesquisadores têm utilizado recursos tecnológicos para reavaliar constantemente os dados já processados. “Na semana que vem, chegará um drone grande para a nossa equipe em campo”, conta.

WhatsApp Image 2020 10 02 at 20.33.18As estudantes, maioria no ensino superior, ainda enfrentam dificuldades para ingressar em alguns cursos. De acordo com os dados do  Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), elas representam 56% das matrículas gerais. Mas o percentual cai para apenas 30% nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Para entender por que isso ocorre e ajudar a modificar este cenário, o Laboratório de Futuro da Coppe criou um projeto: o Igualdade STEM (sigla para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, em inglês.
O professor Luis Felipe Costa, que coordena a iniciativa, apresenta um diagnóstico preliminar. “Isso deriva de uma estrutura hierárquica, que já vem de algum tempo, que não coloca a mulher em iguais condições pra tomar ponto de debate, ter lugar de fala e ocupar os cargos estratégicos”, avalia.
O fato curioso é que a ideia surgiu em Lisboa, onde o docente faz doutorado. No Instituto Superior Técnico de Portugal, o pesquisador acompanhou as aulas de matemática da professora Ana Moura Santos e observou que havia poucas meninas. “Essa questão da desigualdade de gêneros está presente em todas as universidades. A verdade é essa”, lamenta.
Ana Moura, que também abraçou o projeto pelo lado do Instituto Técnico de Lisboa, afirma que o problema influi também no reduzido número de professoras: a porcentagem de alunas que entram no seu curso é baixa, mas é ainda menor entre as colegas de magistério. “Não há equidade. Não há uma boa representatividade e isso também é um bocado um ciclo vicioso”.
A própria linguagem é vista como um desafio. “Muitas vezes, nas disciplinas de STEM, pressupõe-se que se está a falar para rapazes e que o centro de interesses e as carreiras que estamos a apresentar são para homens”, explica Ana. Para Luis, isso deriva de uma estrutura hierárquica que já existe há algum tempo. “Um dos desafios é a questão da linguagem na universidade, no estudo secundário, nas rodas de conversa, na cultura e em qualquer lugar. Não se coloca a mulher em iguais condições para estudar e aprender engenharia, matemática ou programação sem que aquilo tenha que ser desconfortável pra ela, ou que ela imagine que ela não possa fazer isso porque é um ambiente masculino”, conclui.
O Igualdade STEM quer acabar com este “clube do Bolinha”. “É uma pesquisa mais abrangente, que visa subsidiar o governo brasileiro e outras instituições”, diz. O projeto trabalha com duas bases de dados: a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) da categoria dos empregos formais, e censo do Inep de 2018. “Fazemos uma relação do que esses dois bancos de dados estão apresentando sobre as áreas”, explica Luis.
Pelo site igualdadestem.com é possível inscrever ações que buscam aumentar a presença de mulheres na área. “Estamos até hoje com 27 iniciativas já mapeadas”, conta o pesquisador. Entre elas, algumas são vinculadas a projetos de extensão universitários com foco no aprendizado das meninas.
Outras são apoiadas por empresas. “Há projetos que disponibilizam ferramentas e cursos que as meninas vão aprender, fazer e se tornar webdesigners”, exemplifica Luis. Os programas cadastrados não são necessariamente voltados para a comunidade universitária. “Precisam estar vinculados à tecnologia”.

MINERV@S DIGITAIS
A discussão em sala durante uma disciplina do quinto período do curso de Ciência da Computação fomentou uma das ações cadastradas no Igualdade STEM: o Minerv@s Digitais, criado em 2018. O objetivo da aula era apresentar aos alunos as possibilidades de carreira e propor debates sobre a área.
“O projeto nasceu da realidade gritante da Computação, não só na UFRJ, mas no Brasil e no mundo, que é a ausência de mulheres”, conta Maria Eduarda Lucena, estudante do 8º período. A criação do Miverv@s Digitais seguiu como trabalho final da disciplina, e, no fim do semestre, foi registrado como projeto de extensão.
Para Maria Eduarda, as motivações para a disparidade entre os gêneros no seu curso são muitas. “Vão desde rótulos velados, como os que estereotipam computador e videogame como brinquedos de meninos, ao comportamento machista generalizado que assombrou e ainda assombra em certa proporção a Ciência e as áreas de exatas”, reflete.
Entre as atividades realizadas pelo grupo, a aluna destacou a atuação em escolas de nível médio e fundamental, especialmente no Centro Preparatório de Oficiais da Reserva (CPOR), na favela da Maré. “Foi um braço do nosso projeto nesses últimos dois anos”, diz. No lugar, é realizado o programa Forças no Esporte, com atividades esportivas gratuitas para a população, e muitas crianças das escolas públicas do entorno costumam frequentar o Centro.
“Elas fazem atividades ligadas ao esporte e nós atuamos com atividades mais pedagógicas, sobre lógica de programação, coisas bem simples, mas educativas”, explica Maria Eduarda.
O Minverv@s Digitais se inscreveu na pesquisa Igualdade STEM principalmente pela visibilidade. “Quanto mais alcance tivermos, mais vamos estar alinhados ao nosso objetivo, propagando e fomentando o interesse feminino em Ciência e Tecnologia”.

A garantia das férias docentes e a manutenção de um intervalo mínimo de três semanas entre períodos letivos foi um dos temas debatidos no Conselho de Representantes da Adufrj da segunda-feira, 21, véspera da Assembleia Geral.  O Conselho referendou o envio ao Consuni de  recurso elaborado pela assessoria jurídica da  AdufrJ (leia mais na pagina 3).  A proposta da entidade é de extensão do calendário, sem prejuízo de uma semana a menos de aula para discentes.
A metodologia para votações virtuais em assembleias, durante o período de pandemia foi outro tema de debate. A diretoria apresentou seis diretrizes para o funcionamento das reuniões deliberativas remotas. A proposta levou em conta críticas e sugestões dos associados depois das duas primeiras experiências, em agosto.
“A ideia é que possamos ter um pacto mínimo para realização das votações”, explicou a professora Eleonora Ziller, presidente da AdUFRJ. “Nós adotamos um sistema de votação totalmente auditável, que permite o acompanhamento na tela online da votação e a checagem da urna desde o primeiro voto”, completou.
O regimento prevê convocação de assembleia virtual com o mínimo de 48 horas de antecedência — o que também ocorre para as reuniões presenciais. E divulgação do link para cadastramento e cédula de votação com 24 horas de antecedência, manutenção do link ativo durante o horário estipulado pela convocação da assembleia e até o prazo final da votação, além de utilização de plataformas sempre compatíveis com a demanda de professores inscritos para participar da reunião. Outras votações relacionadas ao andamento da assembleia passam a ser consultadas por mecanismos simplificados de enquete nas plataformas digitais.
 Angela Santi, professora da Faculdade de Educação, considerou avanços democráticos para a categoria a redução do tempo de falas para os pontos e um prazo limite para o fim da reunião. Ela complementou, avaliando como “exaustivo” ter três horas para debate de um ponto ou sete horas de reunião.Outros professores, como Rodrigo Almeida (Instituto de Química), defenderam a abertura da formulação das cédulas durante a AG. “Qualquer docente deveria poder incluir propostas dentro da pauta definida”, disse.

ufc300x225A política autoritária de intervenção nas universidades federais do governo Bolsonaro já produz efeitos antidemocráticos em cadeia. Na Universidade Federal do Ceará (UFC), sob a gestão de um interventor desde agosto do ano passado, cinco professores da Faculdade de Direito (FADIR) são vítimas de Processos Administrativos Disciplinares questionáveis.
A justificativa para os PADs é “insubordinação grave”, mas os fatos apresentados não mostram insubordinação e, sim, reforçam o comportamento autoritário da gestão da universidade.
Os professores Beatriz Xavier, Cynara Mariano, Felipe Braga, Gustavo Cabral e Newton Albuquerque, os cinco que respondem aos PADs, são parte do grupo político que faz oposição ao diretor da unidade, Maurício Benevides. Em agosto do ano passado, Gustavo e Beatriz concorreram nas eleições da Faculdade contra Benevides, tiveram a maioria de votos, mas foram derrotados no critério da proporcionalidade. Já Benevides é do mesmo grupo político do interventor da UFC, Cândido Albuquerque, que era diretor da FADIR até ser nomeado para a reitoria.
Em abril, a direção da faculdade publicou duas portarias determinando que os professores da unidade estavam obrigados a oferecer atividades remotas, e criando uma comissão de acompanhamento. As medidas contrariavam uma decisão do Conselho Universitário da UFC vigente no período, que facultava a oferta.
“Nós procuramos conversar com a diretoria, mostrar para eles a total ausência de razoabilidade disso”, disse o professor Newton Albuquerque. “Uma portaria não pode extrapolar a norma superior, ela é apenas concretizadora dessa norma”. Diante da resistência da diretoria em voltar atrás, o grupo procurou o Ministério Público Federal e fez uma representação contra as portarias. “Como servidores públicos, temos a obrigação de denunciar qualquer tipo de irregularidade que seja praticada pelas instituições. O que nós fizemos foi cumprir um dever funcional”, explicou Newton.
Por determinação do MPF, a direção da faculdade recuou. Mas três meses depois, os professores souberam que o diretor Maurício Benevides havia entrado com ações individuais contra cada um no Juizado Especial Cível. Ele pede indenização por danos morais, alegando que, ao entrar com representação no MPF, os professores praticaram abuso do direito de petição, insubordinação grave, denunciação caluniosa, condutas lesivas ao nome e imagem do autor e violação do dever de sigilo.
Baseado nessa ação cível, a direção da FADIR também abriu os PADs junto à reitoria. “É um assédio moral, uma tentativa de intimidação e de mostrar o que acontece com quem os enfrenta”, afirmou Newton. Os professores ainda não foram oficialmente notificados, mas a reitoria já confirmou a existências dos processos.

INTERFERÊNCIA NA PÓS
Os professores Gustavo Cabral e Cynara Mariano, coordenador e vice-coordenadora da Pós-Graduação na Faculdade de Direito, são alvo de sindicância, aberta no final de setembro. A sindicância investiga o credenciamento de novos professores no Colegiado do Programa de Pós-Graduação da faculdade. No ano passado, três de cinco concorrentes passaram. “A Pós-Graduação vem fazendo um enorme esforço para subir na avaliação da Capes”, disse Cynara. “Mudamos nosso regimento interno para aumentar a pontuação mínima que os professores precisam ter para permanecer na pós”. Após a divulgação do resultado oficial, a direção da Faculdade de Direito quis saber por que foram feitos apenas três credenciamentos. “Respondemos dizendo que dois não foram credenciados por razões objetivas: uma não tinha três anos de defesa de tese de doutorado e o outro não tinha a produção mínima que o edital exigia”.
“Nós aproveitamos para dizer que o diretor da Faculdade de Direito não tinha competência para fazer esse tipo de intervenção sobre o programa de Pós”, contou Cynara. Segundo a professora, os colegiados dos programas de Pós-Graduação respondem ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão, instância deliberativa superior da universidade. “Respondemos que ele tem que observar as resoluções dos órgãos superiores, e ele caracterizou como insubordinação grave”, disse.
Cynara Mariano acredita que há um fundo político nos processos. “Pode ser instrumentalização para uma perseguição política”, defendeu a professora, que também faz parte do Conselho Universitário da UFC, onde vem “proferindo sucessivos votos divergentes contra a condução de processos sem a observância do devido processo legal”.
Para a vice-presidente do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará (ADUFC), Irenísia Torres de Oliveira, o ataque aos professores é também um ataque ao sindicato. Os cinco são representantes sindicais. “Fizemos uma representação junto ao Ministério Público para que o órgão recomendasse que os PADs sejam encerrados, uma vez que eles constituem uma notória perseguição política”, contou.
Na avaliação de Irenísia, a situação reflete a política autoritária do interventor Cândido Albuquerque. “O primeiro ano de intervenção foi um ano de ataques cerrados à democracia universitária”, explicou. “Agora, ele começou a atacar diretamente quem pensa diferente do projeto que ele veio implantar aqui em consonância com Bolsonaro”.

 

INTERVENÇÃO NA UFC: UM ANO DE ATAQUES À DEMOCRACIA

 

WhatsApp Image 2020 10 02 at 20.30.28A intervenção na Universidade Federal do Ceará (UFC) completou um ano em meados de agosto último. Um ano que a universidade vai lamentar para sempre. O interventor nomeado por Bolsonaro obteve apenas 4,6% dos votos da comunidade universitária, o que obviamente configura não uma eleição, mas uma rejeição. Essa figura rejeitada pelos pares foi, entretanto, bastante ativa junto a políticos e empresários para mostrar que poderia prestar os melhores serviços a um governo abertamente inimigo da universidade pública. Usou o índice de rejeição como trunfo para mostrar que era a pessoa certa, pois rechaçava a democracia com a mesma falta de cerimônia que seu pretendido chefe. Pelo resultado, certamente foi convincente e tem se esmerado no serviço.
Tivemos um ano inteiro de ataques: aos conselhos superiores da UFC, a seus regimentos e resoluções, ao regimento geral e ao estatuto da universidade. Toda a estrutura de gestão democrática em volta do interventor foi atacada agressivamente e sem escrúpulos. Empresário da área da advocacia e entendedor dos riscos, ele fez de tudo: atropelou resoluções dos conselhos superiores com atos normativos monocráticos; cassou mandatos estudantis nesses conselhos a pretexto de falácias; desobedeceu sistematicamente às resoluções aprovadas pelos conselhos, quando não as distorceu; ignorou entidades representativas dos segmentos da comunidade universitária; produziu dossiês e expôs dados sigilosos de alunos em redes sociais. Mais recentemente, começou nova investida com a abertura de Processo Administrativo Disciplinar (PAD) contra adversários políticos.
O interventor é uma espécie de Blitzkrieg contra a estrutura democrática da universidade, a qual encontra dificuldades para reagir de pronto. Mesmo o Ministério Público Federal (MPF) e a Justiça Federal têm tido dificuldade para coibir os abusos, quando não por uma questão de timing. O interventor sabe explorar esses mecanismos judiciais. Por exemplo, os direitos políticos dos estudantes não empossados nos conselhos já se encontram inevitavelmente prejudicados, já que em breve será tempo da nova eleição do DCE.
O ataque mais recente à democracia na universidade é um PAD aberto contra cinco professores da Faculdade de Direito (FaDir). Estes ousaram questionar uma medida autoritária do diretor, aliado do interventor, que, mimetizando seu chefe, atropelara uma resolução do CONSUNI com uma portaria interna, para obrigar os professores da FaDir a substituir aulas presenciais por remotas. Os cinco docentes recorreram ao MPF para que o diretor ajustasse sua portaria à Resolução, uma vez que esta não obrigava à mencionada substituição, mas, ao contrário, a facultava. O MPF interveio, o diretor ajustou a norma interna e a representação foi arquivada, mas não acabou aí.
Veio a perseguição. O diretor abriu cinco processos contra os colegas na esfera cível e deu entrada numa denúncia que prontamente se tornou processo. O interventor nomeou a comissão, deu-lhe o prazo de 60 dias e, em caso de condenação, indicou demissão. Ressalte-se que os cinco professores atingidos pelo processo são os mesmos que sempre questionaram as arbitrariedades e o autoritarismo do interventor no tempo em que era ditador eleito na FaDir. É notório o caráter de perseguição política num processo que acusa professores de “insubordinação grave” e “quebra de hierarquia”. E é uma recomendação de submissão aos demais.
A situação é lamentável e mostra o quanto ainda temos de avançar para termos uma verdadeira democracia na universidade e no país. Hoje vivemos um retrocesso, mas a resistência que fizermos é a que nos empurrará mais adiante quando for a vez das forças populares.

IRENÍSIA OLIVEIRA
Vice-presidente do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará (ADUFC) e professora do Departamento de Literatura da Universidade Federal do Ceará (UFC)

PLANETA COPPE NOTÍCIAS
coppe.ufrj.br

WhatsApp Image 2020 09 26 at 12.10.37BEVILACQUA: longa carreira é premiadaO professor do Programa de Engenharia Civil da Coppe/UFRJ, Luiz Bevilacqua, recebeu dia 23 de setembro, o título de Pesquisador Emérito do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. A honraria é concedida aos pesquisadores brasileiros, ou a estrangeiros radicados no Brasil há pelo menos dez anos, pelo conjunto das respectivas obras científico-tecnológicas e pelo renome desses pesquisadores junto à comunidade científica.
O título foi entregue durante a cerimônia virtual do Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia 2020, concedido pelo CNPq, em parceria com o Ministério da Ciência Tecnologia e Inovações (MCTIC), com a Marinha do Brasil e com a Fundação Conrado Wessel.
Professor Emérito da UFRJ, desde 2008, Luiz Bevilacqua é engenheiro civil formado pela UFRJ, em 1959, e doutor em Mecânica Teórica e Aplicada pela Universidade de Stanford, em1971. Fundador do Programa de Engenharia Civil da Coppe, Bevilacqua também fundou e coordenou o Programa de Engenharia Mecânica; foi reitor da PUC-Rio; fundou e presidiu a Associação Brasileira de Ciências Mecânicas; foi presidente do Comitê de Engenharia da Capes; secretário-geral do Ministério de Ciência e Tecnologia; diretor científico da Faperj; fundador do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC); diretor da Agência Espacial Brasileira; e fundador e reitor da Universidade Federal do ABC (UFABC).
Membro da Academia Brasileira de Ciências, da Academia Europeia de Ciências e da Academia Internacional de Astronáutica, Luiz Bevilacqua nunca deixou de atuar nas áreas de educação e pesquisa, mesmo após ter se aposentado em 1998. Em 2003, assumiu a direção da Agência Espacial Brasileira, em 2006 tomou posse como reitor da UFABC, cargo no qual permaneceu até julho de 2008. Desde então, atua no Núcleo de Transferência de Tecnologia (NTT) do Programa de Engenharia Civil da Coppe.

Da iniciativa privada para a Academia
Na sala de Luiz Bevilacqua, no Programa de Engenharia Civil da Coppe, papéis e publicações lotam o armário e formam pilhas sobre uma cadeira e uma mesa auxiliar. São os guardados da longa carreira do professor emérito da Coppe. Uma jornada acadêmica que começou em 1966, quando ele deixou a iniciativa privada para se tornar professor. Sidney Santos, seu ex-professor e colega na PUC-Rio, sugeriu que fosse conversar com Alberto Luiz Coimbra.
O criador da Coppe planejava montar um curso de pós-graduação em Engenharia Civil. “Se você estiver disposto, pode começar o nosso programa”, disse-lhe Coimbra. Em 1967, deu início ao curso, ainda no prédio da Praia Vermelha. Pouco depois, ele se mudaria para o campus ainda em construção na Ilha do Fundão. Almoçava no botequim conhecido como Mosca Real e ainda não havia transporte público regular. “Um ônibus pegava os estudantes de manhã cedo e os levava à tarde, entre 16h30 e 17h. Uma kombi levava quem ficava depois.” Montar o Laboratório de Engenharia Civil foi, literalmente, uma conquista. “Na realidade, foi uma ocupação. Não tinha ninguém no espaço escolhido e íamos ocupando.”
Carioca da Gamboa, filho de modestos comerciantes de origem italiana, Bevilacqua fez o doutorado em Stanford, nos Estados Unidos, em Mecânica Teórica Aplicada. Aproveitou para estudar computação, com que já tinha tido algum contato na Coppe. “O primeiro computador da Coppe foi um IBM 1130. Uma das aplicações era em engenharia de estruturas, treliças. Hoje, seria ridículo”, lembra. “Mas era mais rápido do que as réguas de cálculo.”
Um de seus feitos foi atrair para a instituição um grande nome da engenharia civil brasileira: Fernando Lobo Carneiro. Em 1968, Bevilacqua desejava cursar o doutorado. Para convencer Coimbra a liberá-lo, foi buscar em Carneiro, respeitado pesquisador do Instituto Nacional de Tecnologia, o novo chefe do Programa de Engenharia Civil. “Não foi fácil. Mas, depois que conheceu o Coimbra e a Coppe, ele ficou felicíssimo.”
Quando o diretor Alberto Coimbra saiu da Coppe, em 1973, Bevilacqua fez parte do grupo que a manteve funcionando. Muitos professores deixaram a instituição, temendo sua decadência. Em 1975, Bevilacqua foi indicado pelo Conselho Deliberativo para a direção da Coppe. Mas não foi nomeado. O reitor lhe disse que queria “observar o seu comportamento” primeiro. Não aceitou o argumento, pediu licença prêmio para trabalhar na Promon e, em seguida, se demitiu da UFRJ.
Retornou à Coppe em 1986, a convite do então diretor Luiz Pinguelli Rosa. Trabalhou no desenvolvimento de um robô submarino para a Petrobras, projeto que integrou equipes dos programas de Engenharia Elétrica, Mecânica e Naval. Depois de aposentado, em 1998, foi secretário executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e dirigiu a Agência Espacial Brasileira. Em 2008, recebeu da UFRJ o título de professor emérito.
Fundador do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), foi também reitor da Universidade Federal do ABC. “Lá, tive a oportunidade de fazer uma nova universidade, como o Coimbra fez com a Coppe. Aprendi com ele que não se pode ficar preso a regras, do contrário não sai nada”.

Topo