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WhatsApp Image 2020 09 26 at 12.09.35Docentes mães e pais do Campus Macaé da UFRJ estão preocupados com a dupla jornada de dar aulas remotas e cuidar de crianças pequenas, no período da pandemia. O grupo reivindica, em uma carta (leia a íntegra abaixo) já assinada por mais de 70 professores — não só do campus —, uma política universitária “que nos acolha com equidade neste momento de distanciamento social e trabalho remoto”. Esta semana, a direção da AdUFRJ reuniu-se com representantes do grupo para ouvir as demandas e construir com eles uma estratégia política.
A carta foi criada depois que os professores participaram de uma pesquisa sobre o amparo à maternidade e à docência no período da pandemia, antes mesmo do começo do Período Letivo Excepcional (PLE). A pesquisa levou o grupo a procurar a Comissão de Saúde Mental da UFRJ Macaé. A partir dali, decidiram escrever o documento, chamando atenção para as necessidades dos docentes que têm filhos pequenos e têm sua rotina de trabalho no confinamento prejudicada pela necessidade de cuidar das crianças. A carta foi lida em uma reunião do conselho deliberativo do campus Macaé.
“Pais e mães que estão tendo que cuidar de filhos pequenos. As decisões sobre o PLE não consideraram essa sobrecarga de trabalho. Ser facultativo resolveu esse problema, mas não pode ser a solução”, disse a professora Gizele Martins, na reunião com a AdUFRJ. “A ideia da carta é que a gente consiga dialogar com instâncias administrativas da universidade”.
Para embasar o impacto que a parentalidade tem na produtividade docente, o grupo usou como referência a pesquisa do Parent in Science, iniciativa criada em 2016 que discute a maternidade dentro da Academia. Dentro da lógica de machismo estrutural da sociedade brasileira, as mães acabam ficando com a maior sobrecarga de trabalho por ter que cuidar dos filhos. A discussão na reunião foi importante para ampliar este grupo, já que se construiu um consenso sobre a dupla jornada de quem tem um papel de cuidador dentro da sua família, sem perder de vista que serão as professoras as principais afetadas.
Mas a indisponibilidade para o trabalho remoto gera outra preocupação entre os docentes. “Esse período de pandemia vai ser longo. Precisamos considerar como serão feitas as avaliações de progressão de carreira e período probatório dos docentes”, alertou a professora Taís Almeida. “A universidade precisa ter uma alternativa para essas formas de avaliação”, disse a professora, considerando o período de pandemia, em que a produtividade de todos os docentes foi prejudicada.
A direção da AdUFRJ, procurou apontar caminhos para cada uma das questões, ao lado do grupo. Para o professor Felipe Rosa, vice-presidente do sindicato, uma alternativa para os cuidadores é a formação de uma rede solidária, com a divisão de tarefas entre os professores. “Se houver racionalidade nessa questão de quem grava, quem aparece nas atividades síncronas, quem corrige provas e quem elabora as aulas, quase todos os problemas estariam resolvidos”, explicou. Nesse caso, é importante garantir que haja o reconhecimento do trabalho de todos os envolvidos no planejamento de uma disciplina.
“É importante que haja algum tipo de normativa por parte da universidade, porque somos contabilizados pelas horas-aula. Tem que haver o entendimento de que essas atividades didáticas dizem respeito ao ensino”, observou Taís.
Para repensar a avaliação das progressões na carreira durante a pandemia, o diretor da AdUFRJ Pedro Lagerblad sugeriu que a pesquisa divulgada pelo Parent in Science em julho ofereça os parâmetros iniciais para uma proposta. “O resultado divulgado nos dá uma base quantitativa que pode ser usada para criar um fator de atenuação na produção científica”, disse.
O professor Felipe Rosa reafirmou a importância das questões trazidas pelo grupo de pais e mães na carta e na reunião. “De forma nenhuma, essa discussão se restringe a Macaé”, ponderou. “E isso pode virar uma campanha que nós, como AdUFRJ, podemos fazer.”Felipe ainda observou que será importante construir uma articulação política para que a universidade, institucionalmente, assegure a proteção necessária aos docentes durante o período da pandemia.
A presidente da AdUFRJ, professora  Eleonora Ziller, reafirmou o compromisso de colocar o sindicato à disposição da luta do grupo. “Podemos fazer uma campanha junto aos órgãos dirigentes da UFRJ para que eles incorporem uma recomendação em relação à situação”, disse.

Carta aberta ao corpo social da UFRJ - Campus Macaé

Somos um grupo de mães e pais da UFRJ – campus Macaé, composto por docentes de diversos cursos, e temos conversado sobre a ausência de uma política universitária que nos acolha com equidade neste momento de distanciamento social e trabalho remoto. Não identificamos nenhuma proposta oferecida pela administração superior da nossa Universidade para servidoras cuidadoras de crianças (que por questões sociais e culturais são comumente as mães) durante a pandemia.
Essa discussão foi possibilitada em uma reunião com a Comissão de Saúde Mental da UFRJ – Campus Macaé no dia 07/07/20. Nesta reunião, cujo tema foi “Ensino remoto: limites e possibilidades em relação a saúde mental”, a Comissão acolheu as nossas incertezas, dúvidas e apreensões como fonte legítima para o desencadeamento de maiores desequilíbrios da nossa saúde mental e, portanto, se propôs a levar adiante o nosso pleito.
Sendo assim, refletimos de maneira coletiva, sobre as condições de trabalho atualmente ofertada pela UFRJ, para momento de isolamento social pela pandemia da Covid-19. Temosconsciência da necessidade de novas modalidades de ensino e não nos opomos as variadas formas de adaptação que têm sido postas como solução para esse momento particular de pandemia, Contudo, estamos sendo tratados com igualdade de condições quando precisamos de equidade para conseguirmos nos manter produtivos, dentro do possível.
As conformações das casas e das famílias são diversas, de servidora docente com uma criança só, com mais de uma, com bebês. Docente que é mãe sozinha e provedora do lar, docentes que tiveram que aprender a ser professora do filho(s) em idade escolar que estão em “ensino remoto”. Casas pequenas em que é impossível fazer uma reunião sem interrupção, casas com escritório, muitas vezes ocupado pelo trabalho também remoto do cônjuge ou pelo próprio “ensino remoto” do(s) filho(s).
Parece redundante, mas precisamos lembrar que estamos em uma pandemia e cumprindo o isolamento social com crianças em casa. Sem escolas, sem rede de apoio e, para segurança de todos, ainda precisamos permanecer assim. Não é o momento de contratar pessoas, leia-se mulheres, para a função de babá, uma vez que há necessidade de manutenção do isolamento social. Quanto mais pessoas circulando, utilizando transporte público, maior risco de contaminação.
O fato é que durante a pandemia estamos desenvolvendo atividades de ensino, extensão, pesquisa, atividades administrativas, atendendo a diversas reuniões e com participação em eventos virtuais, o que já tem sido bem difícil de conciliar com as demandas domésticas e dos filhos.
Precisamos destacar que adesão ao ensino remoto obrigatório pode levar a um número grande de servidoras contaminadas por COVID-19. Devido ao fato de ser impossível dar conta de todas as demandas, incluindo as domésticas, e dar aulas, sem um novo “arranjo doméstico” que inclua mais pessoas para as tarefas domésticas e cuidados das crianças. Tais questões precisam ser levadas em consideração para o plano de retorno às atividades da UFRJ.
Listamos alguns pontos sugestivos para a proposição de uma política universitária que leveem consideração as necessidades dos servidores docentes no exercício de sua parentalidade, enquanto houver a epidemia por COVID-19 no Brasil.

Gostaríamos que:
1 - adesão ao ensino remoto continue sendo facultativa (para docentes) enquanto durar a epidemia por Covid-19 no Brasil;

2 - que o plano de retorno as atividades presenciais seja feito com consulta aos docentes com filhos bebês e em idade escolar do Campus Macaé;

3 - que os docentes com filhos tenham escolha preferencial em optar por ensino remoto ou híbrido, quando as atividades didáticas de graduação voltarem a ser obrigatórias;

4- que os dados coletados pelo Formulário: Acompanhamento dos efeitos da pandemia do Coronavírus – Campus Macaé, preenchido semanalmente pelos servidores, sirva como base para elaboração de uma política universitária equânime;

5- que possamos usufruir de flexibilização da carga horária, flexibilização das atividades sem que haja prejuízos salariais, de plano de carreira e sem compensação futura, tendo como base a Lei 13.370 de 12/12/2016 alterou o § 3º do art. 98 da Lei 8.112/1990 e o Estatuto da Criança e do Adolescente;

6- que não haja sobrecarga ou danos aos demais docentes sem filhos e que possamos encontrar modalidades de apoio e suporte ao ensino de maneira coletiva;

7 - que as avaliações de probatório e progressão, em médio e longo prazo, sejam feitas considerando o papel de cuidador (para todos os servidores que se aplicar), uma vez que já foi demonstrada a menor produtividade durante a pandemia e, ainda menor, pelas mulheres nesse período (pela pesquisa com ampla visibilidade internacional realizada pelo grupo brasileiro Parent in Science).

Sendo assim, gostaríamos que houvesse ampla discussão deste pleito com o corpo social do Campus Macaé e outas instâncias administrativas da UFRJ.
Atenciosamente, Grupo de Pais e Mães da UFRJ – Campus Macaé.

Assinatura de docentes que compõem o Grupo: 1. Ana Carolina Carvalho 2. André Bonavita 3. André Luiz de Souza Cruz 4. Bernardo Mattos Tavares 5. Carina Bulcão 6. Denise Oliveira Guimarães 7. Evanoel Crizanto 8. Fábio Alves Leite da Silva 9. Fernanda Amorim de Morais Nascimento Braga 10. Fernanda Sampaio Cavalcante 11. Fernanda Teles Morais do Nascimento 12. Filipe Braga dos Santos  13. Gizele da Conceição Soares  Martins 14. Gizele Duarte Garcia 15. Guiliana Franco Leal 16. Helene Nara Henriques Blanc 17. Ingrid Annes Pereira 18. Isis Vanessa Nazareth 19. Julia Peralta Gonçalves  20. Kenia da Silva Freitas 21. Larissa Escarce Bento Wollz 22. Lilian Bahia Oliveira 23. Milena Batista Carneiro 24. Mônica Gomes de Andrade 25. Priscila Vieira Pontes 26. Raquel Silva de Paiva  27. Renata Borba de Amorim Oliveira 28. Samantha Monteiro Martins 29. Taís Fontoura de Almeida 30. Tadeu Lessa da Costa 31. Tiago Costa Leite 32. Uliana Pontes Vieira 33. Valéria Nunes Belmonte 34. Glaucimara Riguete de Souza Soares 35. Leila Brito Bergold 36. Flávia Farias Lima 37. Laís Buriti de Barros 38. Bruna Tavares Uchoa dos Santos Xavier 39. Glaucia Alexandre Formozo 40. Ana Elisa Port Lourenço 41. Jane de Carlos Santana Capelli 42. Paula Debiasi 43. Juliana Barbosa Cardoso 44. Rodrigo de Siqueira Melo 45. Caroline Guilherme 46. Mariana Fernandes Brito de Oliveira 47. Bruna Pagliani Simonato 48. Analy Machado de Oliveira Leite        
Assinaturas de docentes que compõem o Grupo de outras Unidades da UFRJ: 1. Rayane Cupolillo Ferreira / IESC 2. Adriana de Araújo Pinho / Medicina e IESC 3. Felipe Kremer Ribeiro / DAC EEFD 4. Maria Inês Galvão Souza / DAC EEFD 5. Ligia Lousada Tourinho / DAC EEFD 6. Laís Bernardes Monteiro / DAC eefd 7. Mabel Emilce Botelli /DAC EEFD 8. Eleonora Gabriel DAC EEFD 9. Lidia Costa Larangeira / DAC EEFD 10. Letícia Pereira Teixeira / DAC EEFD 11. Patrícia Gomes Pereira DAC/EEFD 12. Maria Alice Cavalcanti Poppe /DAC EEFD 13. Ana Angelita Costa Neves da Rocha / Faculdade de Educação 14. Aline dos Santos Teixeira / DAC EEFD 15. Mariana de Rosa Trotta/ DAC EEFD 16. Maria Aparecida Donato de Matos EEFD 17. Renato Mendonça Barreto da Silva / DAC EEFD 18. Alexandre Fernandes Correa 19. Anabelle Loivos Considera / Faculdade de Educação 20. Diva Lúcia Gauteiro Conde / Faculdade de Educação 21. Lívia Gimenes Dias da Fonseca /NEPP-DH 22. Laura Rebecca Murray /NEPP-DH 23. Rodrigo Volcan Almeida / IQ – Fundão 24. Danielle de Almeida Menezes / Faculdade de Educação – Praia Vermelha 25. Maria Celeste Simoes Marques /NEPP-DH 26. Fernanda Maria Vieira /NEPP-DH 27. Mariana Trotta / FND 28. Claudia Lino Piccinini / Faculdade de Educação  29. Luciana Boiteux / FND 30. Cristina Miranda / CAp

WhatsApp Image 2020 09 26 at 12.03.17Foto: CoppeUm projeto de 20 anos, e que pode colocar o Brasil em uma posição de destaque mundial em soluções para a mobilidade urbana, foi paralisado este mês por falta de investimentos. O MagLev-Cobra, trem de levitação magnética desenvolvido pelo Laboratório de Aplicações de Supercondutores da Coppe, não vai mais funcionar no campus do Fundão da UFRJ. A linha, que liga os blocos CT 1 e CT 2, foi inaugurada em 2015, e era parte do trabalho de desenvolvimento da tecnologia que pode mudar o transporte público.
Segundo o coordenador do projeto, professor Richard Stephan, o que deixa de funcionar é o veículo que opera na linha. “Aquele veículo foi feito de maneira artesanal. O próximo passo, se quisermos andar para frente, é sair desse veículo artesanal para um industrial”, contou o professor. Essa é a próxima etapa do projeto, a criação de um modelo que possa ser reproduzido em escala industrial. O valor necessário para essa etapa, segundo o professor, é de R$ 10 milhões.
“Estamos há cinco anos tentando dar esse passo e não conseguimos”, desabafou Richard. “Já pedimos ao BNDES e foi negado, à FINEP e foi negado, fizemos investidas com empresas e nenhuma foi avante”. Desde 2015, os pesquisadores vêm tentando captar os recursos necessários para iniciar a nova fase da pesquisa. A próxima etapa do planejamento é a sua conclusão. “Se conseguirmos os R$ 10 milhões que estamos pleiteando, colocaremos naquela mesma linha de teste um veículo industrial padrão, autônomo, um equipamento pronto para ser vendido”. A UFRJ oferece para empresas interessadas em investir na pesquisa, como contrapartida, uma parte da propriedade intelectual do MagLev-Cobra, com a garantia de que a universidade receba royalties sobre os lucros obtidos com a venda do produto.
Pronto, o MagLev-Cobra pode revolucionar o transporte urbano no Brasil. O modal não é um transporte de massa como o metrô, mas é mais barato. Na comparação com o VLT que opera no Rio de Janeiro, o Cobra tem os mesmos custos de implantação, de R$ 40 milhões por quilômetro, mas com vantagens que otimizam o transporte de passageiros, como as linhas segregadas, que permitem que o veículo se mova em uma velocidade média de 50 km/h, contra uma velocidade média de 15 km/h do VLT. O MagLev também é mais silencioso e consome menos energia. “Estamos trabalhando em uma alternativa que tem os mesmos custos de implantação, mas é melhor e tem uma tecnologia nova, nacional e realmente disruptiva”, disse Richard.
Atualmente apenas três países usam trens de levitação magnética: Coreia do Sul, China e Japão. O projeto desenvolvido pela UFRJ é inovador em relação à tecnologia que já é utilizada nestes países. “Nossa técnica de levitação é mais interessante. A diferença básica é que a nossa é estável, e a usada nesses outros MagLevs depende de sistemas de controle, de realimentação”, detalha o coordenador do projeto. “A tecnologia que desenvolvemos está sendo perseguida na Alemanha e na China, mas nós estamos na frente”.
A linha do MagLev-Cobra funcionava regularmente no Fundão desde 2016, e já transportou mais de 20 mil passageiros. A operação do veículo era uma atividade de extensão do curso de Engenharia Elétrica, e parou durante o período da pandemia. “Com a parada chegamos à reflexão que não fazia sentido o esforço de manter aquele veículo que volta e meia dá problemas porque não tem um padrão industrial”, explicou Stephan. “É um passo que deveríamos ter dado há mais tempo, mas faltou coragem”.
#SalvemOMagLev
A notícia do fim do transporte por trilhos levou um grupo de alunos da Engenharia Elétrica a criar nas redes sociais a campanha #SalvemOMagLev. A iniciativa começou depois que um post de um aluno do segundo período viralizou no Twitter, onde ele explicava a importância do projeto. A partir daí a ideia foi encampada pelo grupo de alunos que organiza a Semana da Engenharia Elétrica da UFRJ. “Resolvemos publicar a respeito do MagLev porque é uma situação muito séria que estamos enfrentando”, contou Guilherme Vaccariello, coordenador-geral do evento. “Não há uma divulgação muito boa da iniciativa. Vimos nas redes sociais informações falsas e descabidas sobre a tecnologia, para desqualificar o projeto”, explicou o estudante.
Além da divulgação, o grupo também está começando a entrar em contato com empresas que podem se interessar em investir na pesquisa. “É um produto que já está nas últimas fases, e tem um potencial muito grande”, defendeu Guilherme. “É frustrante ver um projeto que pode ajudar o Brasil a se tornar uma liderança em mobilidade urbana, parar por falta de recursos”, defendeu o estudante. Para o grupo, o MagLev-Cobra é importante para a universidade, e deve ser defendido. “É muito importante usarmos nossa visibilidade para ajudar o projeto”, disse.

WhatsApp Image 2020 09 21 at 14.13.49“A Educação não é uma pauta de um grupo nem mesmo de um governo. É uma pauta da sociedade brasileira, e que precisa ser desenvolvida”, disse Renato Janine Ribeiro, professor da USP e ex-ministro da pasta, no ato virtual “Orçamento Justo para a Educação” do dia 17.
Organizado pelo Observatório do Conhecimento, rede formada por diversas associações docentes — entre elas, a AdUFRJ —, além de mais 50 entidades representativas da Educação e da Ciência e 16 frentes parlamentares pluripartidárias, o evento apresentou um manifesto que cobra a imediata instalação da Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional para discutir os recursos de 2021. “A perspectiva de corte de R$ 1,882 bilhão no orçamento das chamadas despesas discricionárias para a educação, que envolvem o custeio e os investimentos, chama a atenção, sobretudo em um momento como o atual”, critica um trecho do documento.
O ato virtual atraiu parlamentares de diferentes espectros ideológicos. “Se a educação não for colocada como uma das prioridades, nós vamos lidar com isso para sempre. Nós temos centenas de obras paralisadas, incluindo creches e escolas”, lembrou a deputada federal Professora Dorinha Rezende, do Democratas.
“Qual é o projeto de país que nós queremos construir?”, indagou a deputada federal Tabata Amaral, do PDT. Relatora da comissão externa da Câmara criada para acompanhar o MEC, Tabata reforçou o absurdo dos cortes diante do desempenho das universidades federais no enfrentamento da pandemia. “Já são mais de 1.200 pesquisas sendo desenvolvidas, milhares de leitos disponibilizados, para dizer apenas alguns exemplos”.
Além de um orçamento justo para a educação, o manifesto das entidades defende a autonomia das universidades e dos institutos federais, com a nomeação dos reitores eleitos em processo democrático. Iago Montalvão, presidente da UNE, participou do evento logo após um ato presencial na UFRGS contra a recente intervenção do governo na reitoria (leia mais nas páginas 2 e 3). “Mais uma vez, foi desrespeitada a vontade da comunidade acadêmica de uma das maiores universidades federais do nosso país”, afirmou.
A presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller, participou do ato e valorizou a pluralidade de vozes em defesa da Educação. “Estamos aqui ouvindo, falando, insistindo, e consolidando uma unidade e um caminhar juntos, que no momento é o que temos de mais importante para construir”, disse.

WhatsApp Image 2020 09 21 at 14.20.16LIGA ACADÊMICA de Neurologia 2018: atividade prática - Foto: DivulgaçãoFormar-se em Medicina é um enorme desafio que começa já no vestibular, sempre bastante concorrido. Mas formar um médico é um trabalho igualmente desafiador, e pode ser ainda mais difícil para um curso tão recente quanto o de Medicina do campus de Macaé da UFRJ, criado há apenas 11 anos. Um quadro de professores deficitário e a falta de infraestrutura para as aulas práticas são os principais obstáculos.
“Faltam vagas e faltam candidatos, mas nosso maior problema é a falta de candidatos”, avaliou o professor Leonardo Cinelli, diretor em exercício do campus. “O salário na Academia para o médico não é atrativo”. A carreira médica tem uma média salarial alta, e isso diminui o interesse de possíveis postulantes às vagas oferecidas. Mas o professor acredita que uma decisão do Consuni pode melhorar o cenário: em dezembro do ano passado, o conselho publicou uma resolução liberando da dedicação exclusiva um terço dos professores que trabalham em regime de 40 horas na Medicina de Macaé. Antes, apenas os professores em regime de 20 horas semanais não tinham dedicação exclusiva.
“A dedicação exclusiva é uma condição que muitos médicos não querem, e às vezes o contrato de 20 horas não compensa para o profissional”, explicou Leonardo. “A quebra da DE é bem-vinda, acho que vamos conseguir mais e melhores candidatos com essa mudança”, falou.
A pró-reitoria de Pessoal (PR-4) está com um edital de concurso aberto que pretende contratar 10 docentes para a Medicina de Macaé. Segundo a coordenadora do curso, professora Laila Ertler, o concurso em andamento é para cobrir quase que exclusivamente cadeiras que estão sem nenhum professor.
As disciplinas de Propedêutica Médica, Clínica Médica e Pediatria estão entre as que mais sofrem as consequências da falta de docentes. Há 48 docentes efetivos exclusivos e mais 11 substitutos.
Na opinião da professora, um quadro de docentes pequeno restringe a experiência de aprendizagem dos alunos. “Temos poucas cadeiras com mais de um professor e algumas sem nenhum. Os alunos deveriam ter várias visões e estilos de ensino para se identificar e aprender”, disse.
O representante do Centro Acadêmico também atribui ao governo federal uma parte das dificuldades de contratação. “O problema de falta de professores é reflexo da desvalorização e desfinanciamento das universidades. Ficamos anos renovando vagas de professores substitutos e isso cronificou o problema. Além do fato de muitos profissionais médicos não verem atrativos na carreira docente, principalmente no interior”, disse Giovanni Vilela.
Enquanto isso, o curso segue movido pelo esforço dos docentes e técnicos. “Fazemos horas a mais de ensino e temos acúmulos de funções administrativas. Além disso, fizemos novas parcerias com um hospital privado local e outros setores públicos, contando com a solidariedade de profissionais da região”, contou a coordenadora. Laila é uma das professoras sobrecarregadas. “Dou aula em três disciplinas e coordeno a área de clínica médica do internato”, afirmou a docente, que também conduz atividades de pesquisa e extensão. “E existem outros professores em situações semelhantes”. Laila ainda acumula as funções administrativas da coordenação do curso. “Sozinha, esta atividade demanda as 20 horas de trabalho do meu vínculo”, relatou.
Outro problema é a falta de um hospital-escola. Na opinião do professor Leonardo Cinelli, um fator que também diminui o interesse dos candidatos à vaga de docência. “Os professores médicos querem um hospital-escola para ensinar”. As atividades práticas do curso, especialmente nos ciclos clínicos e no internato, acontecem em instalações da rede de saúde pública do município de Macaé, graças a um convênio da UFRJ com a prefeitura. “A prefeitura, independente de quem está no governo, sempre foi muito parceira da UFRJ. A relação é, de fato, muito saudável”, defendeu o professor. “Mas esse é um ponto em que ficamos muito frágeis, porque, se por qualquer motivo, o próximo prefeito, que vai ser eleito este ano, falar que não quer mais uma relação com a UFRJ, o convênio pode ser rompido de maneira unilateral. Essa é uma situação muito sensível.”
A coordenadora Laila Ertler reafirma a boa parceria com a prefeitura, e detalha os efeitos da falta do hospital para o curso. “A falta de um hospital universitário impacta na gestão e, consequentemente, no ensino. A falta de ingerência dificulta algumas entradas em determinados setores”, contou. A prefeitura oferece diversas unidades para as atividades práticas, como o Hospital Público Municipal e o Pronto Socorro Municipal, mas não são suficientes. “Os campos práticos têm capacidade reduzida para a nossa demanda. Um ambulatório, por exemplo, consegue receber, idealmente, apenas dois internos”, explicou Laila.
“Sobre hospital universitário, somos um curso que surgiu pensando na integração ensino-serviço, sendo a rede do SUS nosso campo prático. O importante são as pactuações e contratos entre universidade e município, garantindo campo prático e a universidade contribuindo pra comunidade de Macaé”, afirma o estudante Giovanni. O aluno entende que as dificuldades de infraestrutura não são exclusivas do curso: “Mas pra todos os cursos de campi do interior, que sofrem de forma ainda mais intensa os reflexos dos cortes de verbas”.
Todos os esforços até aqui entregam um ótimo resultado. Na sua primeira avaliação feita pelo MEC, o curso ficou com nota 4, a maior possível para um curso recém-criado. “O resultado é muito positivo. Nossos alunos saem e passam em concursos públicos, fazem excelentes residências pelo Brasil, alguns seguem a carreira acadêmica”, avalia o professor Leonardo. “Nossa nota no Enade é muito boa”, afirma o professor.
A coordenadora da Medicina concorda com a avaliação positiva, e ainda vê possibilidades de melhora. Para Laila Ertler, um dos caminhos é a Medicina de Macaé tornar-se uma referência entre as universidades do interior do estado, para atrair profissionais da área médica. “Temos muito a melhorar, mas temos bastante potencial para isso. Macaé é uma cidade aberta e acolhedora, e a gestão executiva do município está sempre à disposição para cooperar”, disse.

classroom 1910012 640Imagem de Wokandapix por PixabayA possibilidade de retorno das aulas presenciais nas escolas particulares do Rio de Janeiro ganhou os tribunais, desencadeou uma guerra de liminares e deixou crianças, famílias e profissionais de educação perdidos no centro de um tiroteio entre opiniões antagônicas. A sociedade de pediatria do Rio considera que é hora de debater a reabertura das escolas e alega que a longa quarentena gerou uma série de transtornos na saúde de meninas e meninos. Já pesquisadores e educadores da UFRJ compartilham da mesma posição do sindicato de professores: não é hora de voltar.
 “Nossa luta é contra o luto. É pela vida”, defende o professor Gustavo Henrique Cornélio,  diretor do Sinpro-Rio. O sindicato representa os professores da rede particular do município e moveu ação na justiça que resultou na proibição das aulas na cidade. “O dono quer a escola aberta para cobrar a mensalidade integral. É uma questão financeira, não de saúde”, argumenta Gustavo. “Queremos que o sindicato dos professores, o sindicato patronal e a sociedade discutam protocolos. Como serão feitos os testes para retorno das crianças? As escolas não estão querendo discutir isso”, critica.
No dia 14, a Fiocruz lançou um conjunto de indicadores necessários para a flexibilização do ensino remoto. Os pesquisadores recomendam que a reabertura das escolas deve estar baseada nos seguintes indicadores: transmissão comunitária menor que 1 caso novo por dia por cem mil habitantes; taxa de contágio menor que 1 por pelo menos 7 dias; 75% de leitos clínicos e de UTI livres; previsão de esgotamento de leitos de UTI superior a 57 dias; redução de 20% ou mais em número de óbitos e casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave, em relação a duas semanas anteriores; percentual inferior a 5% no número de testes positivos por amostras para Sars-Cov-2; capacidade para detectar, testar, isolar e monitorar pacientes/contactantes; que haja diagnóstico para pelo menos 80% dos casos no município ou território.
Apesar da estabilidade e da tendência de queda no número de mortes, o Rio de Janeiro ainda não alcançou os patamares recomendados pela Fiocruz. Segundo o Covidímetro da UFRJ, a taxa de transmissão da doença era de 1,12, na quarta-feira, 16. No mesmo dia, a Prefeitura do Rio divulgou números adicionais: 84% dos leitos de UTI na cidade ainda estão ocupados. Além disso, os leitos de enfermaria destinados ao tratamento da Covid-19 têm disponibilidade de 43%. Também não há testagem em massa, nem na cidade, nem no estado.

SOCIEDADE DE PEDIATRIA
Presidente da Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro (Soperj), a pediatra e epidemiologista Katia Nogueira considera importante debater a flexibilização, baseada em dados científicos. Ela ressalta que um desses dados fundamentais é a taxa de óbitos, que no Rio de Janeiro está com a média móvel caindo. “Sendo assim, acreditamos que este é o momento para falar em retorno. É preciso que se coloque as crianças no centro desse debate, elas foram esquecidas. O tema precisa ser tratado com prioridade”, afirma.
 “Há uma ameaça real à vida e um luto que muitas vezes não pode ser vivido, o que gera uma violenta pressão de adaptação a esta realidade. Temos muitas crianças com depressão e ansiedade geradas pela pandemia e pelo confinamento”, revela o psiquiatra Roberto Santoro Almeida, coordenador do GT de Saúde Mental da Sociedade Brasileira de Pediatria e chefe do serviço de Saúde Mental do Hospital Municipal Jesus.
Especialista em saúde mental de crianças e adolescentes, Almeida é favorável à ampliação do debate sobre a reabertura das escolas. E considera que o ponto fundamental não é a aula. “Não se pode fazer pressão acadêmica nos estudantes esse ano. Já há muitas pressões pelas quais estão passando. O ponto central do retorno à escola é o pequeno aumento da liberdade dentro de tantas restrições”, avalia. “Acompanho crianças que ficaram eufóricas esperando voltar à escola na segunda e foram terrivelmente frustradas quando souberam que não iriam mais. A escola faz falta”.
Ele considera que grande parte da instabilidade em torno do assunto se deva a uma polarização de opiniões não embasadas em análises multidisciplinares. “Crianças e adolescentes precisam de contato com seus pares para se desenvolverem. Essas medidas jurídicas geraram uma interferência muito grande na vida das pessoas. Virou uma guerra que traz como consequência ansiedade, frustração”, acredita o especialista. O psiquiatra sugere que pais devam estar em sintonia com as escolas e com os pediatras de seus filhos. “Os pais não devem estar em pânico. Se tiver dúvidas em relação a condutas, procure seu médico. O pediatra é quem conhece a criança e poderá melhor orientar diante de tantas incertezas”.
Para a Sociedade de Pediatria, sobretudo as crianças e adolescentes mais pobres correm mais riscos em casa do que na escola, mesmo que a pandemia ainda não tenha acabado. “Temos aumento da violência física, psicológica e sexual, desemprego e falta de acesso das famílias à renda e alimentação. Segundo a organização não governamental World Vision, houve aumento de até 37% de crianças e adolescentes entre 2 e 17 anos vítimas de todo tipo de violência nos primeiros meses de pandemia”, afirma Katia Nogueira, que é também professora de Pediatria da UERJ. “A escola vai além da formação pedagógica, ela reforça valores, funciona como proteção”, continua a professora Katia. “Já temos crianças menores que regrediram na fala. Há aumento na obesidade infantil. Atendemos casos de crianças que ganharam até 15kg em cinco meses”, elenca.

COMO APRENDER
E ENSINAR COM MEDO?
 “Abrir as escolas é uma atitude leviana e criminosa”, acusa a professora Daniela Patti, da Faculdade de Educação da UFRJ. “O estado do Rio de Janeiro tem mais de 3,5 milhões de crianças e jovens matriculados em escolas públicas e privadas. São mais pessoas do que a população de muitos estados brasileiros”, argumenta. “A reabertura implica em colocar os estudantes fluminenses, suas famílias, profissionais de educação e toda a comunidade em risco”.
“Como aprender e ensinar com medo? Como manejar e controlar as manifestações de afeto, as trocas de abraços, merendas, contatos físicos, entre crianças e jovens, sobretudo as menores?”, questiona. “Repudiamos a nota da Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro, ao afirmar que as escolas precisam ter coragem para uma imediata abertura e que devem ter uma liderança criativa e corajosa, com apoio dos pais e governo”, critica a professora.
Diretora do Colégio de Aplicação da UFRJ, a professora Maria de Fátima Galvão também discorda do retorno. “Enquanto não tivermos um consenso da comunidade científica sobre a segurança do retorno presencial, continuaremos em ensino remoto. A volta presencial não é prudente, embora entendamos todas as questões envolvidas na reabertura das escolas, como famílias que retornaram ao trabalho e não têm com quem deixar suas crianças, por exemplo, mas nós temos responsabilidade em preservar a vida”, argumenta.
A escola discute, no âmbito do GT Pós-Pandemia da universidade, que tem também um grupo correspondente no CAp, os protocolos que precisarão ser desenvolvidos e aplicados quando o retorno for indicado e seguro. “Mas, hoje, não vemos como fazer isso. Mesmo tomando todas as precauções, não há como garantir que crianças sigam protocolos de segurança e distanciamento. Como negar um abraço a um pequenininho que não nos vê há meses? Eles precisam de afeto, de contato no desenvolvimento. A escola, para eles, é socialização e esta função fica completamente comprometida com um distanciamento de dois metros”.
“Cabe o questionamento em relação à diferença de tempo de reabertura das escolas particulares para as escolas públicas”, complementa a professora Silvina Fernández, especialista em Prática de Administração Educacional e Planejamento e Avaliação dos Sistemas Educacionais, da Faculdade de Educação. “Seria de alguma forma uma preocupação pelo acesso à educação? Se assim for, por que quem paga terá acesso primeiro? Se for por uma questão sanitária, de as escolas privadas terem mais condições de garantir os protocolos, cabe questionar por que as escolas públicas não teriam essa capacidade garantida pelo próprio Estado”, aponta a docente.
Para a professora Carmen Gabriel, diretora do Complexo de Formação de Professores da UFRJ, a abertura neste momento também é precipitada. “Cada país está tratando este assunto de uma forma, mas, em todos, a pressão econômica é muito forte pela reabertura”, considera. Ela reconhece que muitas crianças perderam seu único espaço de socialização e, até mesmo, o espaço que lhes dava segurança. “Realmente a escola não é só espaço de produção de conhecimento, mas de sobrevivência para muitas crianças. É preciso tratar o assunto com um olhar multidisciplinar. Não pode ser uma questão meramente de opinião. No campo educacional, estamos discutindo profundamente este assunto, levando todos aspectos em consideração, mas, principalmente, a vida”, pondera.

GUERRA DE LIMINARES
A rede privada do estado está autorizada a voltar, mas, na cidade, uma decisão do Tribunal de Justiça, proferida em agosto – e reforçada na última terça-feira (15) –, impede a reabertura. A Procuradoria Geral do Município recorreu ao Supremo Tribunal Federal e aguarda decisão.
O Sindicato das Escolas Particulares foi procurado, mas não indicou um representante para falar com a reportagem até o fechamento da matéria.

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