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WhatsApp Image 2020 10 02 at 20.44.09RESGATE de onça-pintada vítima de incêndios florestais - Foto: WILLIAN GOMES/SECOMM UFMTAs imagens dos animais carbonizados no Pantanal representam a primeira e mais visível etapa de um amplo extermínio da fauna local. Especialistas alertam que a diminuição de recursos naturais e alterações na cadeia alimentar são fatores que vão impactar a biodiversidade da região por muito tempo, mesmo após o fim das queimadas. A eventual extinção de algumas espécies não está descartada.   
“Pelas estimativas até agora, já foi destruído entre um quinto e um quarto de toda a área do Pantanal. Essa é uma área que vai demorar a se recuperar”, diz Fernando Fernandez, professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia da UFRJ. Reconhecido pela sua riqueza na quantidade e variedade de animais que abriga, o Pantanal é um bioma que ocupa no Brasil a parte sul do estado do Mato Grosso, o noroeste do Mato Grosso do Sul, parte do norte do Paraguai e do leste da Bolívia.
A notoriedade da região está muito ligada à abundância de grandes vertebrados. “Eu sempre digo que o Pantanal é o segundo melhor lugar no mundo para a observação de grandes vertebrados, especialmente grandes mamíferos. Só perde para a savana africana”, diz Fernando.
Especialista em Biologia da Conservação, Fernando afirma que, antes das queimadas, a fauna do Pantanal estava bem resguardada. “Existe uma densidade populacional muito grande de onças-pintadas no Pantanal. As populações de antas e queixadas (conhecidos também como porcos-do-mato), antes desse impacto, também estavam muito bem”, destaca Fernando. O problema, explica o biólogo, é que essas espécies são extremamente frágeis, e em pouco tempo podem ser ameaçadas de extinção.
“Todas essas populações têm baixo potencial reprodutivo, e isso é crucial”, esclarece o professor. A extinção é um processo que pode ocorrer em escala local ou global, quando morre o último indivíduo de uma determinada espécie. “Em termos de extinção, o que é frágil não é a barata, é o elefante. Porque o elefante pode ter poucos filhotes de cada vez, e filhotes muito espaçados. Ou seja, um bicho assim tem dificuldade em repor as perdas. São demograficamente frágeis”, exemplifica.
WhatsApp Image 2020 10 02 at 20.44.091VISTA AÉREA do Rio Cuiabá revela a floresta em chamas - SESC PantanalA superqueimada causa alterações que produzem efeitos em toda a cadeia alimentar do ecossistema. “A anta não é um bicho pastador. Ela come folhagens das árvores, principalmente. É um bicho que chamamos de ‘ramoneador’, que come folhagens e ramos”, explica Fernando. “A árvore, com folhas jovens para a anta comer, demora muito mais a se recuperar do que o capim. Por isso, para a anta, isso tudo é um absoluto desastre”.
A devastação que põe em risco a fauna do Pantanal surge da mudança de regimes extensivos para regimes intensivos de exploração do território. “Existe uma grande pressão por transformação de alguns desses habitats. E isso é favorecido pelo atual governo, que é leniente com essa destruição e tem uma política ambiental que deixa essas coisas acontecerem”, diz Fernando.

PERDA DE RECURSOS
Especialista em Ecologia de mamíferos do Pantanal, o professor Luiz Flamarion, do Departamento de Vertebrados do Museu Nacional, ressalta o drama para todo o ecossistema. “Nós podemos até observar um organismo isolado, mas aquele organismo não está suspenso no espaço. Ele está ali porque depende de recursos. E as queimadas tiram o recurso alimentar, a água e o abrigo. As presas perdem recursos, e os predadores perdem as presas. É um processo que precisa ser visto da escala de sistema”, diz.
Há quase 20 anos o Museu Nacional da UFRJ desenvolve pesquisas sobre a fauna do Pantanal em parceria com o Sesc Pantanal e outras instituições. Com uma área de trabalho que abrange cerca de 300 mil hectares do bioma, o grupo faz levantamentos de campo com questões ecológicas, e estrutura acervos para representar a biodiversidade do país. “Com o surgimento do fogo, o que a gente começou a fazer foi um processo de análise para comparar o antes com o depois”, relata o docente.
“Temos uma estimativa de populações de cervos acima de 400 indivíduos, mas ainda não sabemos quanto já se perdeu”, aponta Luiz. Para um acompanhamento contínuo e preciso dos impactos das queimadas, os pesquisadores têm utilizado recursos tecnológicos para reavaliar constantemente os dados já processados. “Na semana que vem, chegará um drone grande para a nossa equipe em campo”, conta.

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