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WhatsApp Image 2021 04 02 at 08.45.592A comunidade acadêmica está exaurida. Após dois semestres de aulas remotas em meio à mais grave crise sanitária da história brasileira, professores, alunos e técnicos se desdobram para cumprir suas tarefas. A rotina imposta pelo acelerado calendário aprovado ano passado pelo Conselho de Ensino de Graduação mostrou a necessidade de mudar a programação. Após intensa mobilização da AdUFRJ, o CEG discutiu e, na última quarta-feira, 7, aprovou mudanças no calendário.
O recesso entre 2020 e 2021 passou para quatro semanas: começará em 13 de junho e vai até 11 de julho. A revisão do recesso vem sendo defendida pela AdUFRJ desde a aprovação do calendário original, em outubro.
Nas últimas semanas, os docentes intensificaram as solicitações e as análises de que um intervalo maior entre os semestres seria fundamental para organizar todos os atropelos que os três períodos consecutivos geraram, além de amenizar o desgaste físico e mental do corpo social da universidade. As discussões basearam uma nota publicada pela diretoria do sindicato na semana passada.
Outra decisão tomada pelo CEG no dia 7 foi a definição do calendário de 2021. O colegiado aprovou por ampla maioria que os semestres terão duração de 15 semanas. Mas foi apertada a escolha pelo período de recesso. Por dez votos a favor, nove contra e três abstenções foi aprovado o recesso de 21 dias. O calendário conjunto da Faculdade de Medicina do Rio e do curso de Medicina de Macaé também foi aprovado, com outras datas (veja no quadro acima). No início da reunião, o vice-presidente da AdUFRJ, professor Felipe Rosa, sugeriu a dilatação dos prazos. “A AdUFRJ defende um ajuste no calendário, de pelo menos uma semana, entre os recessos subsequentes. Isso não atrasará muito o calendário e fará com que a universidade funcione melhor”, afirmou.
Felipe Rosa relembrou o contexto em que o as datas foram aprovadas. “A gente estava deixando de cumprir nossa função com a sociedade. Aprovar este calendário foi uma vitória para nossa universidade”, defendeu. “Mas aquele momento passou. Na prática, os períodos e recessos muito curtos fizeram com que a própria burocracia eletrônica da UFRJ não conseguisse acompanhar [as demandas], fazendo com que semestres se sobrepusessem, o que causou muito desgaste”, avaliou.
WhatsApp Image 2021 04 10 at 12.38.133A conselheira Damires França, representante dos técnicos-administrativos, falou em nome dos profissionais que atuam em coordenações e secretarias acadêmicas. Para ela, os trabalhadores desses setores estão “em estafa física e mental”. “Estamos muito cansados, não só com os trabalhos que surgem das demandas de final de semestre e de início de semestre, mas também porque estamos acumulando funções de muitos servidores que não têm condições técnicas de trabalho”, relatou.
Representando a comissão organizadora de um abaixo-assinado, o professor Cláudio Ribeiro, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, informou que o documento — que ainda não foi entregue ao CEG — contava com 600 assinaturas e reivindicava 30 dias de férias ao final de 2020.2. “Quando as aulas presenciais estavam suspensas, nós estávamos em processo de adaptação às aulas remotas, realizando atividades burocráticas, experimentando ferramentas e tentando entender e combater a pandemia. Iniciamos o ensino remoto da graduação num cenário de extremo cansaço”, afirmou.
Antônia Velloso, representante estudantil, explicou que o corpo discente era a favor da proposta apresentada pela administração central (períodos de 15 semanas com férias de 30 dias para o ano de 2021). Mas alertou que o calendário da reitoria tornava a transição entre 2020 e 2021 inviável. “Vemos como um problema o recesso entre 2020.2 e 2021.1 permanecer com duas semanas. Gostaria de frisar a importância de um período de descanso e também de organização do trabalho dos professores e dos técnicos-administrativos”.
O professor Daniel de Augustinis, representante de Macaé, também se posicionou contra a manutenção do recesso de apenas duas semanas em junho. “Nossos prazos estão muito apertados, notas estão atrasando e isso nos prejudica também, porque a gente fala que o aluno não tem aquele pré-requisito, o aluno diz que fez a matéria, mas o professor não lançou a nota. Isso vai parar na Comissão de Orientação e Acompanhamento Acadêmico, é preciso buscar o contato, pedir para lançar a nota, mandamos e-mail...”, relatou. “Além de todo mundo estar exausto, o trabalho de orientação acadêmica fica muito prejudicado”.
A pró-reitora de Graduação, professora Gisele Pires, chegou a sugerir que o recesso de junho deste ano fosse assunto para a próxima sessão do colegiado, mas os conselheiros acabaram aprovando a extensão do intervalo.

O CALENDÁRIO NAS OUTRAS UNIVERSIDADES

Dados do Ministério da Educação indicam que 63 das 69 instituições federais de ensino superior aprovaram aulas totalmente remotas para a graduação.
O levantamento foi realizado por Victor Trindade, conselheiro discente que apresentou o estudo na última reunião do CEG. Victor pesquisou a reorganização do calendário acadêmico em 30 delas e descobriu que os períodos variaram, majoritariamente, entre 14 e 16 semanas letivas. O levantamento demonstrou que a UFRJ não está atrasada, comparada às outras federais pesquisadas. A maioria das universidades iniciou os períodos remotos entre agosto e outubro do ano passado. Apenas três universidades (UFRJ, UFF e UFPE) optaram por realizar um período letivo excepcional somado aos períodos regulares.
Das 30 instituições analisadas, 14 começaram 2020.2 antes da UFRJ, mas só as federais de Minas Gerais, Santa Maria e Mato Grosso do Sul conseguiram iniciar 2020.2 ainda no ano passado. UFMS e UFSM são as únicas que já iniciaram o ano letivo de 2021. Enquanto isso, 11 instituições iniciaram 2020.1 neste ano.
Os estudantes também apresentaram ao CEG levantamento realizado desde o dia 26 de março pelo DCE sobre a avaliação do ensino remoto na UFRJ – 400 alunos responderam o questionário até o momento e o formulário ainda está aberto ao preenchimento. Os dados são significativos - 69,9% observaram um aumento relevante da quantidade de avaliações aplicadas pelos professores durante o ensino remoto. O excesso de conteúdo foi apontado por 74,2% dos alunos como motivo do trancamento de disciplinas.
“A gente vê que muitos professores não repensaram seus conteúdos para adequar ao período remoto, mas continuaram com seus conteúdos programáticos dentro de um período mais curto, o que gerou sobrecarga”, avaliou a estudante Antônia Velloso, do DCE e representante estudantil no CEG.
Outros retornos também acenderam o alerta sobre a duração dos períodos remotos. Professores precisaram marcar atividades fora do período acadêmico para 41,6% dos estudantes. Além disso, 37,9% dos alunos confirmaram que alguns de seus professores realizaram aulas síncronas fora dos horários estabelecidos para a disciplina. “Por ter um calendário pequeno, os professores optaram por passar provas durante as férias. Eu sei que boa parte fez isso em acordo com as turmas, mas se eles precisaram fazer isso, é porque o calendário não é suficiente”, afirmou Antônia.

WhatsApp Image 2021 04 10 at 12.38.12Diretoria da AdUFRJ

Não bastasse estarmos batendo recordes sucessivos de óbitos nesses últimos dias, a Câmara dos Deputados chancelou nesta semana um projeto de lei digno dos nossos piores estereótipos. Se aprovado no Senado, o PL 948 permitirá oficialmente a compra de vacinas por agentes particulares, no melhor estilo “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Para adicionar insulto à injúria, tais agentes não precisam seguir o Plano Nacional de Imunizações (PNI) nem passar pelo crivo da Anvisa, “privilégio” que nem estados e municípios possuem. E o mais triste de tudo isso é que tal descalabro está acontecendo justamente no Brasil, que já foi vitrine e exemplo de vacinação para o mundo. Hoje estamos rumando para um desavergonhado feudalismo de ampolas, e salve-se quem puder.
É claro que tal ação não acontece no vácuo: a campanha de vacinação, se já ultrapassou o passo de cágado, ainda está longe do voo de cruzeiro. Somos o 5º país no ranking mundial de distribuição de vacinas, em números absolutos, com aproximadamente 20 milhões de doses administradas. Mas, a uma média de 500 mil doses por dia, vai levar mais de um ano para chegarmos à imunidade de rebanho. Somem-se a isso os prognósticos catastróficos de centenas de milhares de mortes nos próximos meses, e temos um caldo para que os piores instintos se manifestem.
Nós já vimos o que acontece quando tais instintos engolfam a sociedade e ditam a política, basta nos lembrarmos dos exemplos recentes dos Bálcãs ou de Ruanda. Numa sociedade saudável há freios e contrapesos que enterram esses ímpetos egoístas. Mas, infelizmente, o que estamos vendo no Brasil é uma degradação de qualquer noção de comunidade. O governo Bolsonaro está sendo desgraçadamente eficiente em uma das tarefas que se impôs, que é a de desacreditar totalmente o Estado e as soluções coletivas. Você quer educar seus filhos? Faça-o em casa (afinal, nas escolas e universidades só tem balbúrdia). Você quer segurança? Compre uma arma (aliás, compre seis logo de uma vez). E agora você quer vacina? Peça ao seu empregador um lugar em seu “camarote”. E se não tiver mais lugar... bom, “todo mundo vai morrer um dia”, não é mesmo?
E assim vamos, na contramão de todo o planeta. Se no mundo inteiro os países concentraram esforços em seus aparatos estatais, nós estamos pulverizando a demanda por uma commodity que já é rara. Como as nações fabricantes de vacinas ou de IFAs não são instituições de caridade, não é necessário ser um gênio para concluir que qualquer ampola na mão de algum banqueiro é uma dose a menos no SUS. Alguém poderia observar, nesse momento, que tudo isso talvez seja evitado pois as grandes empresas farmacêuticas poderiam se recusar a vender para particulares, por questões logísticas e éticas. De fato, há opiniões nesse sentido. De toda forma, passaríamos pela humilhação suprema de estar do lado errado numa negociação com ninguém menos que Big Pharma. Simplesmente desolador.

 Adendo: Tivemos, nesta semana, uma reunião do Conselho do Ensino de Graduação (CEG) para discutir o calendário deste e do próximo ano letivo. Conforme salientado pela AdUFRJ em diversas ocasiões, nosso calendário estava excessivamente corrido, com períodos e recessos demasiadamente curtos, inviabilizando uma transição suave entre semestres e causando grave estafa entre os docentes. Felizmente, os conselheiros e conselheiras do CEG, numa reunião profícua, reajustaram o calendário de modo a termos períodos letivos e recessos mais adequados, sem perder de vista o nosso compromisso com os calouros de 2021. Nós saudamos o CEG por promover esse reencontro da universidade.

WhatsApp Image 2021 04 02 at 08.45.55PROJETO DE RECONSTRUÇÃO do Museu Nacional: patrimônio da universidade, da Ciência e da Cultura do Brasil - IMAGEM: DIVULGAÇÃOOlav Antonio Schrader, monarquista aliado do governo Bolsonaro, seria o idealizador do projeto de tornar o Museu Nacional uma instituição desvinculada da UFRJ e de exclusiva memória da família imperial. Ele comanda, desde julho do ano passado, a superintendência do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Rio de Janeiro. O plano de transformação da instituição veio à tona na última semana, pela imprensa. O Jornal da AdUFRJ conseguiu mais detalhes sobre o caso.
Ainda em 2018, antes do incêndio que devastou o palácio, Schrader esteve no Museu para expor seu projeto. Ao insistir na ideia de tornar o espaço exclusivo de homenagens ao período imperial, ele teria ouvido que o Museu Nacional jamais deixaria de ser uma instituição de ensino, pesquisa e extensão e o mais importante museu de história natural do país.
Pouco mais de um ano depois do início do governo Bolsonaro, o magoado Schrader foi içado pela ala ideológica ao cargo no Iphan e passou a ser interlocutor direto da UFRJ em tudo o que se refere aos prédios tombados da universidade, inclusive o Museu Nacional. A escolha, à época, gerou reação de setores de arquitetura e de defesa do patrimônio histórico, já que o superintendente não é formado na área. Ele é graduado em relações internacionais, com experiência na administração de imóveis no bairro de São Cristóvão. Suas principais “qualificações”, para o governo, são o fato de ser monarquista e seguidor de Olavo de Carvalho.
Para o diretor do Museu Nacional, professor Alexander Kellner, a proposta monarquista não é viável. “Só quem pode tirar o palácio da UFRJ é a própria UFRJ. O Executivo não tem poder para fazer isso na canetada. Então, a ideia é natimorta”, disse. “Mas ela causa apreensão, sobretudo porque, segundo as matérias, o Iphan do Rio de Janeiro encampou. E aí é que nós ficamos preocupados, porque eles são nossos fiscais”, completou.
O Ministério da Educação também estaria envolvido nessa articulação. A pasta chegou a pedir esclarecimentos à universidade, este ano, depois de um boato chegar à Esplanada. A ala ideológica teria ventilado que a UFRJ construiria um shopping center, no prédio histórico da Quinta, em homenagem à vereadora Marielle Franco. O objetivo da fake news seria enfraquecer politicamente o projeto de reconstrução do Museu Nacional e abrir espaço para uma investida mais agressiva dos monarquistas.
Procurado, o MEC afirmou que “desconhece qualquer tratativa no intuito de transformar o Museu Nacional da UFRJ em um palácio”. Sobre a possibilidade de a universidade perder o patrimônio, o ministério reiterou “o respeito à autonomia didática, científica e administrativa prevista na Constituição Federal”. A pasta não respondeu se tomou conhecimento da suposta criação do shopping.
O professor Kellner se declarou surpreso com toda a história. “Apresentamos por várias vezes o projeto que temos para o Museu Nacional e nunca recebemos nenhuma informação deste tipo”, disse. Sobre a possibilidade de o MEC ser um dos possíveis articuladores do projeto, ele foi categórico: “Não acredito que o ministério esteja envolvido nisso”.
Um dos aspectos curiosos de todo esse enredo é justamente a negação dos monarquistas da própria história. “A instituição sempre foi um museu de história natural. Dom Pedro II investiu muito nas peças coletadas, inclusive pela própria imperatriz Leopoldina. Tinham artefatos do Egito, como múmias tanto de Dom Pedro I quanto de Dom Pedro II”, lembrou o diretor.
Kellner também se ressente da quebra de relações entre o Museu e o Iphan. “Eu tenho total respeito pelo Iphan. Assim que iniciei minha gestão no Museu, foi um dos primeiros órgãos que eu procurei. Sempre tivemos uma relação de parceria. O problema é que, com essas mudanças governamentais, mudou-se muito a estrutura do órgão”, avaliou. “O que queremos é a parceria que tivemos até meados de 2020”, concluiu.

Reação imediata
Assim que a trama foi desvelada, a comunidade científica reagiu. A primeira a se posicionar foi a reitoria da UFRJ. Em nota, a administração central afirmou que repudia “quaisquer movimentos que tentem alterar o papel e a configuração do mais antigo instituto científico do Brasil”. A nota prossegue: “Qualquer deliberação patrimonial demandaria aprovação colegiada em diversas instâncias superiores da Universidade, estruturas que, certamente, rejeitariam a proposta obscura”. A reitoria ainda chama a intenção de “ato descabido” e “tirânico”.
No dia seguinte, foi a vez de as sociedades científicas se pronunciarem. O Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro publicou uma nota em que reafirma o caráter científico do Museu e apoia sua reconstrução. O documento é assinado por 25 associações e grupos, dentre os quais a Sociedade de Arqueologia Brasileira, o Instituto de Arquitetos do Brasil e a Associação Brasileira de Antropologia. Os presidentes das academias brasileiras de Ciências e de Letras, Luiz Davidovich e Marco Lucchesi, enviaram carta ao ministro Milton Ribeiro, da Educação. O texto chama de “articulações descabidas” as ações contra o Museu Nacional.
Pró-reitora de Extensão, a professora Ivana Bentes se manifestou em suas redes sociais. “Transformar o Museu Nacional em um ‘Palácio Imperial’ destituído de sua função científica e de formação é um delírio da ala bolsonarista mais obscurantista e das viúvas da monarquia”, escreveu. “O Museu Nacional é um patrimônio da ciência e da memória. Não é um espólio a ser disputado como troféu de fascistoides e monarquistas”.
O Iphan não retornou as tentativas de contato da AdUFRJ. A Secretaria Especial de Cultura do Ministério do Turismo, também citada pela imprensa, não nos respondeu até o fechamento desta edição.

Praia Vermelha 17Foto: Fernando Souza/Arquivo AdUFRJUma notícia importante para professores, técnicos e terceirizados da UFRJ. A Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro confirmou ao Jornal da AdUFRJ que está mantido o calendário de vacinação dos trabalhadores da Educação a partir do dia 26 de abril. Será atendido o público na faixa entre 59 e 45 anos, regressivamente, até 29 de maio. Somente na maior federal do país, serão beneficiados 1.742 docentes no magistério superior, 33 no Colégio de Aplicação e um titular livre.
A confirmação da secretaria devolveu a esperança aos profissionais de Educação, que acreditavam ter perdido a prioridade após a decisão do juiz Wladimir Hungria, da 5ª Vara de Fazenda Pública. No dia 6, Hungria suspendeu um trecho do decreto do governador que estabelecia o Calendário Único de Vacinação do estado. A medida ganhou ampla repercussão por ter retirado a Educação dos grupos prioritários para a imunização.
Só que não. A assessoria da Secretaria Municipal de Saúde explicou que a decisão do juiz não altera o calendário — unificado com Niterói, Maricá e Itaguaí —anunciado pela prefeitura cinco dias antes, pois estabelece limitação de idade. O decreto estadual não fazia esta distinção, dentro dos grupos prioritários.
“O calendário do Município do Rio, que segue os grupos prioritários definidos pelo Programa Nacional de Imunizações, visando primeiro a idade e depois os grupos mais vulneráveis e expostos ao vírus, não é afetado. A vacinação seguirá como prevista, condicionada à chegada das remessas de vacina previstas no cronograma informado pelo Ministério da Saúde”, informou a assessoria do órgão.  
Na sexta, 9, mais uma garantia: o presidente do Tribunal de Justiça do Rio, Henrique Figueira, restabeleceu a validade do decreto estadual que incluiu os professores entre os integrantes de grupos prioritários para a vacinação contra a covid-19.

NA REDE BÁSICA,
RETORNO PRESENCIAL
Mas nem tudo correu bem no Judiciário fluminense para os educadores. No dia 6, o presidente do Tribunal de Justiça derrubou a liminar que impedia o retorno dos profissionais às unidades, públicas e privadas, da rede básica.
Os encontros e desencontros da política sanitária no Rio acenderam o debate sobre os grupos prioritários e o retorno presencial nas escolas. “Este momento era para ficar todo mundo em casa. Por, pelo menos, mais duas semanas. E depois, sim, abria as escolas”, resumiu a professora Ligia Bahia, acompanhando a nota divulgada no dia 5 pelo Grupo de Trabalho Multidisciplinar para Enfrentamento à Pandemia de Covid-19 na UFRJ.  O GT mostrou especial preocupação com o aumento do número de pessoas na espera por um leito de centro de terapia intensiva (CTI) no estado, em apenas um mês: de 64 pessoas, em 1º de março, para 701 em 31 de março.
A docente também entende que as pessoas com comorbidades têm prioridade sobre qualquer categoria profissional. E, antes dos professores, Ligia apontou outros grupos mais expostos ao vírus. “Várias pessoas da área de limpeza do sistema de saúde ainda não foram vacinadas”.
“É preciso que o processo de vacinação seja bastante racional”, resume a professora. “São duas lógicas legítimas: a epidemiológica e a da pressão social. A epidemiológica deveria prevalecer, pois o Brasil é um país com muita escassez de vacina e altas taxas de mortalidade”.
Documento divulgado na quarta-feira, 7, pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fiocruz, também considera inapropriada, neste momento, a reabertura das escolas no município do Rio de Janeiro. Os pesquisadores recomendam a volta das aulas presenciais somente após a melhora nos indicadores relacionados à pandemia.

INDIGNAÇÃO ENTRE
SINDICATOS
“Neste momento, o Rio é um dos estados com índices mais altos de contaminação, sem leitos de UTI e a gente sabe que a nossa mobilidade urbana não permite uma segurança para as famílias levarem suas crianças para as escolas”, criticou Duda Quiroga, dirigente do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe-RJ). “Tampouco para os profissionais irem trabalhar. Fora a questão da falta de estrutura das unidades escolares”, completou.
O Sepe defende vacina para todos e já. Mas, neste momento, reivindica que todos os profissionais convocados pelo estado e pelos municípios deveriam receber as duas doses da vacinação antes do retorno ao trabalho presencial.  O sindicato tem registrado várias mortes por covid entre os filiados que voltaram às escolas. “A maioria de óbitos é de gestores e secretários escolares que estão atuando nas unidades”, informa Fernanda Raquel, também dirigente do Sepe. Na rede particular de ensino, a indignação se repete.
“O Sinpro-Rio lamenta que, mais uma vez, a preservação da vida tenha ficado em segundo plano em detrimento do lucro, manifestada na decisão do presidente do Tribunal de Justiça”, afirmou o diretor jurídico do sindicato, Elson Paiva. “Toda semana, há casos de professores, alunos e funcionários contaminados nas escolas. Todo dia, recebemos informações. Não tenho nem como dizer a quantidade”, afirmou Elson. “O professor pode ter sido infectado no transporte público, no supermercado, na esquina? Pode. Mas uma coisa é certa: abrir a escola é aumentar a exposição de pessoas, não só dos professores, à contaminação”, destacou.  
Presidente da AdUFRJ, a professora Eleonora Ziller também considera absurda a imposição do retorno às aulas nesse momento. “Na situação que estamos hoje, é um absurdo colocar crianças em salas de aula. Como é absurdo abrir shoppings, academias”, observou.
A questão da abertura das escolas, para Eleonora, não se limita à vacinação dos profissionais. “O problema é a circulação das pessoas na cidade; é o encontro dessas crianças que não estão vacinadas na escola e a possibilidade de se tornarem vetores da doença”, destacou. Precisamos de um impacto restritivo imediato. O momento não é de normalidade”.

VACINAÇÃO DOS
PROFISSIONAIS DE SAÚDE

Antes do calendário voltado para os trabalhadores da educação, já está em andamento a imunização dos profissionais de saúde. Confira a situação nas três cidades onde a UFRJ possui campi:

• Rio de Janeiro
Desde o dia 5, está sendo vacinado quem tem entre 59 e 50 anos (uma idade por dia, regressivamente), com a “repescagem” aos sábados. Os que atuam em hospitais de urgência e emergência poderão receber a vacina ao longo do mês nos locais de trabalho. Os demais devem se dirigir aos postos de vacinação, de 13h às 17h. Menos nos drive-thru, que são exclusivos para a vacinação de idosos.

QUAIS CATEGORIAS: O grupo inclui médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, biólogos, biomédicos, farmacêuticos, odontólogos, fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais, profissionais de educação física, médicos veterinários e os técnicos e auxiliares destas profissões.

DOCUMENTAÇÃO: Os profissionais de saúde devem apresentar no momento da vacinação a carteira do seu conselho de classe, comprovando que seu registro na profissão está ativo.

OBSERVAÇÃO: a reitoria solicita, a quem puder, que se vacine fora da universidade para sobrar mais doses para outros profissionais que também atuam nos hospitais, como os terceirizados.

• Macaé
Nesta quinta e sexta (8 e 9), receberam a vacina os profissionais de saúde com idade igual ou superior a 40 anos, na Cidade Universitária. No dia 8, foi a vez dos: fonoaudiólogos; nutricionistas; enfermeiros; técnicos de radiologia; professores de Educação Física; fisioterapeutas; biomédicos e condutores de ambulância (rede privada). No dia 9, a vacinação foi destinada aos: médicos farmacêuticos; terapeutas ocupacionais; veterinários; serviço social; biólogos, doulas, cuidadores de idosos, técnicos laboratoristas e psicólogos.

• Duque de Caxias
Não há calendário específico para a área de saúde. Prefeitura informa que todos os que trabalham na linha de frente da pandemia nas unidades de saúde da rede pública e privada já foram imunizados com as duas doses da vacina..


 
Foto: Alessandro Costa/Arquivo AdUFRJ

WhatsApp Image 2021 04 02 at 08.45.49Diretoria da AdUFRJ

Na semana em que o golpe militar faz 57 anos tivemos, possivelmente, a maior contorção do governo federal. Além da saída do patético ministro das Relações Exteriores, tivemos a demissão do general Fernando Azevedo e Silva, ministro da Defesa, com um consequente rearranjo de nada menos do que seis pastas. A queda do general Azevedo, considerado mais independente, em data tão simbólica, preocupou muitos observadores e levou a algumas opiniões de que estaríamos numa escalada golpista. Será?
Bom, dado o caráter escancaradamente autoritário de Bolsonaro e seu núcleo mais próximo, tal expectativa é certamente justificada. Recentemente, o próprio presidente se manifestou a cadetes dizendo “se tudo tivesse que depender de mim, não seria esse o regime que nós estaríamos vivendo”, ou seja, se ele tivesse força para dar um golpe, ele fatalmente o daria. Entretanto, o que parece mais claro agora no final da semana é que Bolsonaro está na defensiva. Além do sacrifício de Ernesto Araújo, a queda de Azevedo levou uma deputada do Centrão – Flávia Arruda – à Secretaria de Governo, e a substituição dos comandantes das Forças Armadas acabou seguindo critérios mais ligados às próprias FFAA do que de proximidade ao círculo bolsonarista. Isso não quer dizer, claro, que Bolsonaro esteja fraco. Ele continua com uma espantosa popularidade, apesar de estarmos chegando às quatro mil mortes diárias na fase mais aguda da pandemia (até aqui). E se isso não for capaz de derrubar a sua aprovação, é razoável imaginar que nada será. Mas a sua política da morte está o isolando cada vez mais com seus apoiadores mais radicais, e isso faz com que um golpe aberto permaneça além de seus horizontes
Passando da política nacional para a universidade pública, tivemos – aí sim – um coup accompli: o reitor eleito da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Ricardo Berbara, foi preterido pelo governo federal na lista tríplice e não irá tomar posse. Com isso, temos quase duas dezenas de universidades que não tiveram suas escolhas para reitor respeitadas, algo absolutamente sem precedentes. Ademais, o governo nem defende mais suas escolhas, mesmo que baseadas em argumentos alheios à democracia: o objetivo é simplesmente causar confusão e comprometer o bom funcionamento das universidades. Não que precisemos de mais provas de que a atual administração federal é franca inimiga da educação pública, gratuita e de qualidade; mas, aparentemente, o estoque de maldades é infindável

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