facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

WhatsApp Image 2022 04 20 at 15.45.20Ciência: Luta de Mulher enfrenta o desafio de mostrar a diversidade brasileira na produção científica. Para isso, as idealizadoras do projeto atravessaram o país e encontraram personagens que retratam essa virtuosa pluralidade. “Queríamos que o filme refletisse diferentes perfis de trajetórias pregressas”, conta Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ e uma das participantes de todas as etapas da produção. A seguir, a professora de Ciência Política da UFRJ detalha a história do documentário que será lançado dia 26, em Brasília, e dia 29, no Rio, às 18h, no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.

Jornal da AdUFRJ - Como surgiu a ideia do documentário “Ciência: luta de mulher”?
Mayra Goulart - Esta temática já estava no planejamento do Observatório quando eu ingressei na diretoria da AdUFRJ. A proposta já estava presente no calendário das atividades para o mês das mulheres. O calendário foi definido em diálogo com outras entidades que trouxeram propostas para destacar o papel das mulheres na Ciência. Daí surgiu a ideia do documentário.

Na sua avaliação, qual é a importância de jogar luz sobre a presença das mulheres na Ciência?
Eu estudo representação política de mulheres na Câmara dos Deputados, acompanhando as deputadas eleitas em 2018, e mapeando as suas trajetórias prévias e performances atuais no Parlamento. Tenho interesse particular nessa área de representação de mulheres, e a Ciência, assim como a Política, é um campo de histórica sub-representação de mulheres. Outro ponto importante, que conecta minha trajetória pessoal com a concepção do documentário, é a ênfase na ideia de interseccionalidade, uma vez que vem a corroborar uma série de leituras acerca do tema, além das vivências dentro do campo. Faço essa associação a partir de leituras sobre feminismos que reforçam a ideia de que as opressões são interseccionais, ou seja, elas se acumulam, se multiplicam e têm interseções.

E como essa interseccionalidade influenciou a concepção do filme?
Achamos interessante mudar um pouco o enfoque do documentário, porque seria um documentário clássico abordando as carreiras de mulheres cientistas que têm contribuições mais renomadas. Eu quis mudar um pouco esse enfoque para não ser sobre a perspectiva de quem já chegou, mas de quem quer chegar ou de quem pode chegar.

Como assim?
Em vez de ser concebido para premiar ou ressaltar mulheres que são grandes cientistas, mostrando que o sucesso na carreira foi possível para algumas mulheres, o enfoque passa a ser outro: encorajar jovens mulheres que não se veem representadas, necessariamente, nesses grandes exemplos. Daí a ideia de escolher personagens que conseguiram furar as barreiras, transcender os diferentes obstáculos que permeiam esse campo da Ciência, ou seja, a ideia foi mostrar, a partir de trajetórias que refletem esse campo da interseccionalidade das opressões, que os obstáculos são possíveis de serem transpostos. E uma outra questão, paralela a essa, foi mostrar a diversidade de fazeres de mulheres na Ciência, a diversidade de perfis, de fazeres. Ou seja, mulheres diferentes, com perfis diferentes, fazendo coisas diferentes.

E isso estabeleceu os critérios para buscar as personagens para o documentário? Como vocês escolheram as personagens?
Foi a partir do critério da diversidade. Queríamos exatamente isso que eu acabei de te falar: que o filme refletisse diferentes perfis de trajetórias pregressas e diferentes fazeres que podem ser entendidos como Ciência. Foi a partir do critério da diversidade que escolhemos essas quatro mulheres.
E veio daí a ideia de não falar de mulheres cientistas que atuam nas maiores universidades do Brasil, como, por exemplo, a UFRJ, a USP ou a Unicamp?
Exatamente. Foi fazer uma coisa que fugisse desse esquema mais tradicional. Por acreditar que isso já existe. É importantíssimo, não vou tirar o mérito desse discurso, ele é muito importante. Mas já tem bastante. Já tem filme na Netflix sobre Marie Curie, já existe uma série excepcional da Fiocruz sobre o tema. Por isso a proposta de contribuir de modo diferente, encorajando aquelas mulheres que não veem nessas trajetórias consolidadas um lugar de reconhecimento.

E quando você fala que já existe bastante material contando a história de mulheres nessas que são as maiores universidades, significa que a discussão sobre a presença feminina já está mais avançada em lugares como a UFRJ, a USP ou a Unicamp?
De modo algum. É que já existem alguns documentários sobre as mulheres na Ciência que apresentam a proposta de um trabalho muito bom nesse sentido. De falar de grandes mulheres cientistas. Nós sabemos que mulheres podem ser grandes cientistas, então não precisávamos provar isso no filme. Nossa intenção é dialogar com as diversidades. O documentário vem como um incentivo para que as mulheres, em toda a sua diversidade, continuem nessa luta. Queremos atingir um público jovem, esperando que o filme funcione como um incentivo para eles, reconhecendo esses obstáculos e não fazendo vista grossa, e mostrar que é possível ter estratégias de superação. Queremos falar com mulheres que já estão no processo, mas que estão se sentindo desestimuladas a atravessar os obstáculos da vida acadêmica. Por isso o nome “Ciência: luta de mulher”.

Estamos em um cenário de ataque à Ciência e ao seu financiamento. Como este momento político aparece no filme?
Nós procuramos abordar o contexto político de maneira colateral. Ele aparece, mas não é o mote do nosso documentário, exatamente porque a gente acha que esse é um contexto que pode ser superado, e vai ser superado. E nem por isso a vida das mulheres vai se tornar mais fácil, já que os obstáculos que elas encontram para serem reconhecidas como cientistas transcendem o bolsonarismo, o que não significa negar seu caráter intrinsecamente misógino. Não é tanto falar de rupturas, mas da importância da continuidade, de continuar a nossa luta pela Ciência.

E essa é uma das lutas que devem ser travadas por cientistas no Brasil hoje?
Exatamente. É uma das lutas. Vamos ter que disputar dentro do campo com os homens, e vamos ter que disputar fora do campo junto com os homens. São lutas que se sobrepõem.

WhatsApp Image 2022 04 26 at 17.28.04Como uma mulher enfrenta a estrutura machista da sociedade brasileira para desenvolver com sucesso uma carreira de pesquisadora científica? O filme “Ciência: luta de mulher”, produzido pelo Observatório do Conhecimento, tenta responder a essa pergunta contando as vivências de quatro pesquisadoras. O documentário, lançado em Brasília no dia 26, será exibido no Rio de Janeiro na sexta (29), no Fórum de Ciência e Cultura, e vai percorrer todas as associações docentes que integram o Observatório. Depois ficará disponível no YouTube.
A produção dá voz a quatro personagens: Helena Padilha, professora aposentada da UFPE, Maria da Glória Teixeira, professora de Medicina da UFBA, Isis Abel, professora da UFPA, e Nina da Hora, cientista da Computação e pesquisadora de temas ligados à segurança digital e hackativista. As quatro são de diferentes gerações, mas têm em comum uma carreira bem-sucedida desenvolvendo conhecimento.WhatsApp Image 2022 04 20 at 16.04.48
As personagens foram escolhidas no intuito de que suas histórias servissem de espelho e incentivo para outras mulheres. O que explica também a presença de duas mulheres pretas, Isis e Nina, entre as protagonistas. A professora Nedir do Espirito Santo, diretora da AdUFRJ, concorda que o perfil das personagens retratadas pode aumentar nas jovens o desejo de ingressar na carreira acadêmica, graças a uma forte identificação. “Existem diversas iniciativas contando a história de grandes cientistas, mas às vezes o sucesso da pessoa é tão grande que uma trajetória parecida parece utópica para quem assiste. Se você conta uma história real, atingível, a jovem vê ali uma oportunidade mais clara, uma perspectiva real de carreira, de sucesso”, ponderou a professora.
O documentário levou dois meses e meio de produção, com dez dias de filmagens na Bahia, Pernambuco, Pará e Rio de Janeiro. E estar na presença daquelas quatro mulheres e ouvir as suas histórias foi um processo enriquecedor para a diretora do filme, Rithyele Dantas. Ver que na Ciência as mulheres passam por desafios semelhantes aos impostos a elas em toda a sociedade provocou na diretora uma profunda reflexão. “Observei como existe de fato uma sensibilidade, uma garra na mulher que está na Ciência. Sem romantizar isso. Ela enfrenta os desafios particulares daquele espaço e da sociedade”, contou.
Jornalista de formação, Rithyele trabalha com Comunicação e Política. Para ela, ouvir aquelas histórias foi a oportunidade de registrar as memórias daquelas mulheres, e ainda transformou sua percepção sobre outros temas. “Fortaleceu a minha vontade de defender o que é público. As universidades públicas têm um papel fundamental no desenvolvimento humano, do país e do mundo. E nós temos visto o que elas têm passado aqui no Brasil”, explicou.
WhatsApp Image 2022 04 20 at 16.06.15Contar a própria história fez a professora Isis Abel refletir sobre a sua vida e sobre as dificuldades que ela enfrentou na trajetória acadêmica. Formada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, ela fez o mestrado na USP e voltou a sua alma mater para o doutorado. Há dez anos é professora da UFPA, onde coordena o Laboratório de Epidemiologia e Geoprocessamento do Instituto de Medicina Veterinária, no campus de Castanhal, a 70 quilômetros de Belém. “As entrevistas me fizeram revisitar a minha história, me fizeram refletir e me enxergar nesse processo, como se estivesse vendo de fora tudo que aconteceu”, contou. Essa perspectiva a fez perceber dificuldades que ela não tinha percebido até então, e a ausência de mulheres em cargos de referência nos espaços que frequentava.
Sua expectativa é de que sua história possa servir de inspiração e motivação para outras mulheres, especialmente as jovens. “Eu fico imaginando que outras mulheres podem olhar para a minha história e acreditar que podem”, contou. “Espero que as meninas que estão no processo de conhecer, ou que estejam se sentindo impotentes ou incapazes, vejam que é possível, porque as mulheres negras precisam dessa inspiração”.

 

WhatsApp Image 2022 04 15 at 09.55.54Professora Ana Lúcia Cunha Fernandes - Foto: Márcio MercanteDiretoria da AdUFRJ

Felicidade, acolhimento, alegria, conforto, emoção, ansiedade, integração, reencontro, apoio, interação, saudade... A profusão de sentimentos que invadiu professores, alunos e técnicos da UFRJ, expressa nos depoimentos que compõem esta edição especial do Jornal da AdUFRJ dedicada ao retorno das aulas presenciais, não pode ser medida em uma só palavra. Na segunda-feira (11), ao colocar de novo os pés nos campi do Fundão e da Praia Vermelha, de Caxias e Macaé, no IFCS, na Faculdade de Direito e em outras unidades da universidade, todos experimentaram a mesma sensação de pertencimento a um lugar do qual jamais gostariam de ter se afastado. O samba “Voltei”, cujos versos encabeçam as páginas a seguir, talvez resuma essa profusão de sentimentos em uma frase tão simples quanto definitiva: “Aqui é o meu lugar”.
Ana Lúcia Cunha Fernandes, professora da Faculdade de Educação e diretora da AdUFRJ, acha que essa sensação vai perdurar ainda algum tempo. “A sensação que eu tenho é de que será assim, ao longo desta semana, vários primeiros dias. Porque a cada dia que eu encontrar alguém, algum professor ou aluno diferente, será um novo primeiro dia”, disse a professora, que conciliou o retorno às salas de aula com o “plantão” de dirigente sindical na banca da AdUFRJ na Praia Vermelha, onde antigos e novos professores, e também alunos e técnicos, puderam conhecer um pouco mais sobre as ações do maior sindicato de docentes de universidades federais do país.
Mesmo docentes experientes viveram momentos de estreantes. “Dou aulas há 40 anos e fiquei ansioso como jamais fiquei. Acho que nunca demorei tanto para preparar uma aula”, confessou o presidente da AdUFRJ, João Torres, professor do Instituto de Física. A ansiedade foi cedendo a cada cumprimento, punho com punho, a alunos que João só conhecia pela tela do computador, e foi se transformando em uma sensação que o experiente professor não vai esquecer. “A alegria de estar de novo com os alunos em sala de aula superou tudo”.
A alegria teve que superar até mesmo alguns problemas no retorno às aulas. As imensas filas para os bandejões do Fundão e da Praia Vermelha, por exemplo, que o digam. Claro que o bate-papo na fila de espera, tão adiado, ajudou a passar o tempo, mas teve gente que ficou duas horas em pé para conseguir comer — com o agravante de ficar debaixo de sol forte. As filas nos bandejões foram tema levado pelos estudantes ao Conselho Universitário da quinta-feira (14). O reitor em exercício, professor Carlos Frederico Leão Rocha, informou que a reitoria corre para abrir um novo restaurante universitário no espaço do antigo Burguesão, no CT, busca outros pontos de alimentação e pretende criar um sistema online para fazer o agendamento da refeição nos bandejões.
O transporte foi outro problema evidente nos primeiros dias do retorno, sobretudo para o acesso e a circulação interna na Cidade Universitária. A linha que faz o itinerário Nova América-Cidade Universitária, por exemplo, estava com intervalos de uma hora e meia na segunda-feira (11). Nos horários de pico, os ônibus internos ficaram lotados. O prefeito da Cidade Universitária, Marcos Maldonado, disse que veículos lotados não são um problema só de sua área de atuação, mas de todo o Rio de Janeiro. “O trem está assim, o BRT está assim”, ponderou ele, que garantiu intervalos regularizados, com saídas a cada oito minutos, para os ônibus internos. Sobre as linhas regulares, o prefeito disse que a universidade está pressionando as empresas a aumentar o número de ônibus e a reduzir os intervalos.
Se os problemas de transporte e alimentação restaram claros nos primeiros dias do retorno, o mesmo se pode dizer das manifestações de afeto. Do pai que foi deixar a filha na porta do CT levando o cachorro de casa a tiracolo, e ainda fez questão de tirar uma selfie, todo orgulhoso. Da mãe que levou o filho até o primeiro degrau da escada e deu um abraço tão apertado, como se não fosse mais vê-lo. O acolhimento foi o mote no Fundão, na Praia Vermelha, em todo o canto da UFRJ. A Escola de Química, por exemplo, preparou um café da manhã para alunos, professores e técnicos. “Mesmo com as máscaras, a gente percebe os olhinhos emocionados. As salas estão todas cheias, os alunos vieram no primeiro dia e isso é muito gratificante”, disse a diretora, professora Fabiana Valéria da Fonseca.
Não teve mesmo máscara que escondesse a emoção. A professora Juliany Rodrigues, diretora do Campus Caxias, lembrou que os que ali estavam sobreviveram à covid-19. “Pela vida das pessoas que estamos recebendo, pela minha vida e a vida dos meus colegas. Porque sobrevivemos e temos a oportunidade de retornar ao presencial”, disse ela, emocionada. “Uma parcela dos nossos alunos teve muitas dificuldades com o ensino remoto, outros sofreram perdas nos desastres recentes em Petrópolis e na Baixada. Então tê-los aqui é muito bom”, lembrou Vania Godinho, técnica-adiministrativa da decania do CLA. “É uma mistura de felicidade e saudade de uma coisa que não aconteceu”, resumiu o aluno Thales Barreto Gonçalves, do 5° período de Filosofia.
Mais uma vez o samba pode nos ajudar. Quem sabe todos os que estão voltando não pudessem cantar: “Minha emoção é grande, a saudade era maior”.

WhatsApp Image 2022 04 15 at 10.22.51“Aquele tempo todo que passamos distanciados acabou, retomamos aquela vida que ficou parada, adormecida, em suspenso. Eu fiquei eufórica! Para mim, o mais emocionante foi reencontrar alunos para quem dei uma disciplina do primeiro período antes da pandemia. Cheguei em sala e encontrei meus alunos, eu fiquei emocionada em poder ver aqueles rostos de novo. A vida voltou com toda força. Foi um êxtase estar de volta”

NEDIR DO ESPIRITO SANTO
Professora do Instituto de Matemática e diretora da AdUFRJ

 WhatsApp Image 2022 04 15 at 10.29.03

WhatsApp Image 2022 04 15 at 10.17.32WhatsApp Image 2022 04 15 at 10.14.35WhatsApp Image 2022 04 15 at 10.15.11WhatsApp Image 2022 04 15 at 10.20.23

WhatsApp Image 2022 04 15 at 10.23.51WhatsApp Image 2022 04 15 at 10.16.08WhatsApp Image 2022 04 15 at 10.22.35

 

 

WhatsApp Image 2022 04 15 at 09.54.28Alexandre Medeiros, Ana Beatriz Magno, Beatriz Coutinho, Estela Magalhães Ribeiro, Kelvin Melo, Lucas Abreu e Silvana Sá

Campus da inspiração, das novas alegrias e dos velhos problemas

 A vida voltou à UFRJ em forma de abraço e em corpo de alun@s, professores e técnicos. Na última segunda-feira, 11, a graduação retornou integralmente ao presencial na maior federal do país. São mais de 60 mil estudantes, quatro mil docentes e nove mil servidores administrativos pelos campi, todos juntos e misturados num burburinho que não silencia os velhos problemas estruturais da universidade, mas ameniza a dor de dois anos de pandemia e ensino remoto.

Para receber novos e velhos alunos, todos os cursos passaram a primeira semana com intensa programação de acolhimento que incluiu desde trotes e aulas inaugurais até concertos. Um dos momentos mais emocionantes ocorreu na quarta-feira, 13, no Palácio Universitário, com o coletivo Choro na Rua que celebrou Pixinguinha, gênio da nossa cultura: uma das formas de a universidade inspirar e ser inspirada por múltiplas manifestações de afeto, cultura e saber.WhatsApp Image 2022 04 15 at 10.31.11
No Fundão, a Escola de Química, por exemplo, preparou um café da manhã para alunos, professores e técnicos. “Foram dois anos de afastamento, estamos recebendo ‘calouros’ do quinto período até o primeiro, que nunca estiveram na Escola”, lembrou a diretora, professora Fabiana Valéria da Fonseca. “A gente percebe os olhinhos emocionados”.
Mas nem todas as emoções foram boas nessa primeira semana em que, segundo estimativa da Prefeitura Universitária, circularam em média 60 mil pessoas por dia somente no Fundão. Muita gente e pouca alternativa para a alimentação. Todos os bandejões do Fundão, Centro e Praia Vermelha apresentaram filas gigantescas, com espera de até duas horas. “Cheguei às 11h no bandejão que estava absurdamente lotado para esse horário, comparado com 2019: 1h20 depois consegui entrar. Uma amiga minha demorou duas horas até poder almoçar”, contou Gabriel Fernandes, do 6º período da Escola de Belas Artes.
O assunto foi levado pelos estudantes ao Conselho Universitário do dia 14. O reitor em exercício, professor Carlos Frederico Leão Rocha, atribuiu o problema à crise econômica do país. “Acho que isso aumentou a demanda pelo bandejão”, disse. A reitoria tenta abrir um restaurante universitário no antigo Burguesão (no Bloco H do CT) e procura outros pontos de distribuição da alimentação. “Vamos ativar um sistema online para fazer o agendamento da refeição”, completou.
O acesso à Cidade Universitária também foi dificultado nos primeiros dias. “Os ônibus estão muito cheios”, reclamou a aluna Larissa Andrade, do 5º período da Faculdade de Letras. “Este não é só um problema da Cidade Universitária, é de todo o Rio de Janeiro”, justifica o prefeito Marcos Maldonado. “Estamos tentando solucionar com as empresas, mas os intervalos dos ônibus internos estão regularizados, com saídas a cada oito minutos”.
Apesar dos “perrengues”, os estudantes são unânimes ao afirmarem que nada substitui o encontro. “Estou na metade do meu curso e nunca consegui me sentir aluna da UFRJ”, disse a estudante Heloísa Lacerda, da Biologia. “Hoje, pisando aqui, tenho a sensação de ter sido roubada da vivência que eu tinha direito de experimentar, mas finalmente me sinto parte da universidade”.
Para a professora Juliany Rodrigues, diretora de Caxias, gratidão é a palavra do momento. “Pela vida das pessoas que estamos recebendo, pela minha vida e a vida dos meus colegas. Porque sobrevivemos”. Naquele campus, as máscaras se tornaram um dilema para alguns professores durante as aulas, por conta do calor excessivo. A climatização das salas ainda é um problema devido a falhas elétricas. “Está tudo funcionando dentro das possibilidades”.
Em Macaé, a saudade deu lugar à alegria, mas o momento também é de readaptação. “Procuramos seguir as recomendações do GT Pós-Pandemia dentro das possibilidades de nossa realidade. Não há muito o que se fazer com relação à estrutura”, pontuou Karine Verdoorn, diretora da AdUFRJ e professora de Macaé. Os corredores cheios acalentam o coração. “É muito bom presenciar esse movimento”.
A empolgação da volta não apaga as preocupações com a pandemia. Ainda restam dúvidas sobre a aplicação de regras sanitárias. “Temos uma portaria que diz que é necessário usar máscaras nos prédios, mas estamos vendo pessoas sem máscaras. O que se faz nessa situação?”, questionou o professor Antonio José de Oliveira, diretor da Faculdade de Administração. Também há dificuldades na verificação da vacina nos acessos à Praia Vermelha. No IFCS, Direito e reitoria, a cobrança das doses foi realizada na entrada.WhatsApp Image 2022 04 15 at 10.00.09
Apesar dos pesares, a universidade está viva e se mostra como lugar de encontro dos saberes. E isso se manifesta às vezes de forma inesperada. Os estudantes que aguardavam na fila para o bandejão da Letras foram brindados com uma apresentação de piano do estudante João Mello, do Instituto de Química. Hoje no 8º período, ele descobriu o piano — no pátio interno da Letras — há alguns anos e, sempre que pode, vai lá praticar. “Já fiz muitas amizades ali. Esperava que ele estivesse desafinado após dois anos de pandemia. Mas ele está afinado”, comemorou.

Topo