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Estudantes protestam contra atraso na reforma do alojamento

Texto e fotos: Samantha Su (estagiária) 

A sexta-feira, 20 de maio, era o último prazo anunciado para a conclusão da reforma do bloco feminino da Residência Estudantil da UFRJ.  A obra, iniciada em março de 2013, deveria ter sido concluída em dezembro de 2014. Após sucessivos adiamentos, os estudantes perderam a paciência e resolveram aproveitar a data para um ato na reitoria. Para lá, levaram um caixão simbolizando “o enterro da dignidade do estudante do alojamento”.

O bloco, que já conta, inclusive, com mobiliário, ainda aguarda finalizações. O último ajuste dependia da conclusão da parte elétrica do prédio. Enquanto isso, estudantes superlotam a ala masculina.

Aos manifestantes, a reitoria sinalizou novo prazo de conclusão para o segundo semestre deste ano. A administração alegou que os cortes no orçamento do ano passado, além do início de gestão atribulado por conta da greve dos docentes e técnicos-administrativos, teriam dificultado o acompanhamento da reforma, que só foi retomada em outubro do ano passado. 

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UFRJ quita dívidas de 2015 com a Light

Desafio agora é pagar as contas deste ano. Esforço consiste em liquidar janeiro e fevereiro

Silvana Sá
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Continuam as negociações da UFRJ com a concessionária de energia elétrica Light. A universidade quitou as faturas de 2015 no último mês e meio (faltavam as de setembro, outubro, novembro e dezembro). “Conseguimos, em 45 dias, com recursos do orçamento — ou seja, sem dotações extraordinárias —, zerar o ano de 2015. Quando a gestão do professor Roberto Leher começou, a UFRJ só havia acertado a fatura de janeiro (daquele ano)”, disse o pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento, Roberto Gambine. O montante foi de aproximadamente R$ 20 milhões.

Gambine informou que a concessionária fez uma proposta de escalonar a dívida de 2015 com juros que não cabiam no orçamento da universidade. Então, a solução foi pedir um prazo maior para conseguir levantar o dinheiro. Agora está em negociação o prazo para pagamento dos meses de janeiro e fevereiro deste ano. A universidade pediu a liberação de R$ 10 milhões para quitar estas faturas. “Estamos dependendo da resposta do MEC. Caso consigamos avançar até a de março, a Light ficará no mesmo patamar dos outros fornecedores. Estamos trabalhando com um prazo de dois meses entre a prestação do serviço e a liquidação da nota”, disse. Ele garantiu que não há mais riscos de novas interrupções no fornecimento de energia.

Gambine acrescentou, ainda, que o episódio do apagão em diversas unidades da universidade, ocorrido em abril, contribuiu para o levantamento e planejamento de ações de modernização de algumas instalações. “Serviu para ocorrerem negociações com a empresa, envolvendo a área técnica da universidade e Prefeitura Universitária para o ajuste de áreas muito antigas. Montamos um grupo de trabalho para levantar essas situações”, contou.

 

 

Novo Jornal da Adufrj agora em formato digital

Já distribuído pelos campi da UFRJ, o novo Jornal da Adufrj agora pode ser conferido em formato digital. Leia em: http://issuu.com/adufrj/docs/adufrj_01_digital/1

O número um da publicação — que será trimestral— traz um artigo da ex-pró-reitora de Graduação da UFRJ, Angela Rocha dos Santos, que fala sobre a mudança radical no perfil dos alunos da universidade, graças às políticas afirmativas.

Em entrevista, Giovana Xavier, professora Adjunta de Prática de Ensino de História na Faculdade de Educação (FE), trata do racismo na universidade. E artigo do professor Marcelo Paixão, do Instituto de Economia, narra a batalha pelas ações afirmativas na UFRJ, nos últimos anos. Integrantes do Coletivo Negro Carolina de Jesus (Caroline Borges, Denílson Souza e Ilka Dias) também apresentam suas impressões diante do quadro atual das universidades.

Completam a edição: uma reportagem sobre as pesquisas da UFRJ sobre o combate ao vírus zika; e um artigo do professor João Fragoso sobre a controvérsia em torno da Base Nacional Curricular Comum de História.

Em defesa das políticas afirmativas

Mesa aprecia importância da realização do EECUN, com 1500 estudantes negros do país inteiro

Texto: Elisa Monteiro

“Nesse dia difícil para a universidade pública, é revigorante estar com uma juventude que transgride a máxima da sociedade brasileira de cada um no seu quadrado, de que cada um tem o seu lugar. Conhecemos o peso disto para a questão racial”. Essas afirmações, feitas pela professora Giovana Xavier, da Faculdade de Educação e do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, sintetizou o sentimento de vários participantes das duas mesas de abertura do Encontro de Estudantes e Coletivos Universitários Negros, realizado entre 13 e 15 de maio, no Quinhentão (CCS).  Continuou: “A universidade está mais potente principalmente pela presença de vocês, estudantes negros, que carregam ainda outros recortes: pobres, favelados, com múltiplas vivências de sexualidade, gênero etc”.

Em sua visão, os avanços em termos de direitos sociais no último período são inegáveis: “Eles poderiam ter vindo em maior quantidade, fato. Mas também é (verdade) que eles chegaram, caso contrário não estaríamos aqui”. Por outro lado, afirmou as favelas como “quilombos contemporâneos”. E destacou as dificuldades. “Eu também não me esqueço de que foram ocupadas nos últimos anos pelo Exército, que a população carcerária do país cresceu 400% e que, em grandes universidades, como a USP e a UFRJ, as cotas sociais são adotadas em detrimento das raciais”, criticou. “Tudo isso nos faz atualizar a constatação de que escrevemos nossa trajetória ainda à margem”.

A professora problematizou o discurso de posse do novo governo federal que sugere o apagamento do passado nacional em benefício de uma pretensa valorização do “presente e futuro”. Criticou, ainda, a absorção das secretarias de combate à desigualdade racial e de gênero pelo Ministério da Justiça: “Não gosto da expressão ‘minoria’, mas, no Brasil, o que vemos são as questões das minorias políticas serem tratadas com descaso ou pressupostas como problema a ser tratado no âmbito de uma Justiça composta por homens brancos”.

A historiadora propõe uma reflexão que atualize o debate racial, avaliando no tempo presente os legados da escravidão no século XXI: “A pós-Abolição investiu no reforço de assimetrias entre negros e brancos no mercado de trabalho, na saúde, na universidade e afins. A responsabilidade é a de sempre, seguir na luta e construir o lugar do negro dentro dos nossos próprios termos. E o desafio é saber viver para além de enfrentar a dor”, concluiu.

Reitor critica medidas do governo interino

Pela UFRJ, o reitor Roberto Leher celebrou o trabalho de “cada companheiro e companheira mobilizados para viabilizar o EECUN”.  “A vitalidade desta instituição (UFRJ) está nos movimentos que possibilitaram as mudanças, ainda que tímidas, de transformação do perfil social da universidade. Isso é maravilhoso e fabuloso sob todos os pontos de vista. Quero saudar particularmente a organização do robusto, impetuoso e criativo movimento em torno de coletivos negros nas universidades e na UFRJ”, disse.

“A história fez com que esse encontro acontecesse em um momento de muita preocupação para todos lutadores sociais”, disse, ainda, aos jovens: “É muito emocionante, neste momento de tantas dificuldades políticas, encontrar uma capacidade tão grande de auto-organização da juventude e dos coletivos de universitários negros e negras lutando pela educação pública”.

O reitor fez referência direta à extinção do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos pelo governo Temer, à revisão de lei de cotas e ao anúncio de mudanças na política de assistência estudantil: “Que, na prática, extingue o programa de bolsas de permanência, pois ainda que sejam mantidas bolsas para quilombolas, retira as destinadas aos pobres. E todos sabem que os pobres no Brasil têm cor”, complementou.

Um passo à frente para a Academia

Diretora da Adufrj e organizadora da edição brasileira de textos do teórico cultural jamaicano Stuart Hall, Liv Sovik apresentou a nova revista da Seção Sindical, que dedicou seu número de estreia ao tema da democratização da UFRJ por meio da adoção de cotas e da substituição do vestibular pelo ENEM. “A atual diretoria da Adufrj é composta por defensores das cotas raciais desde o início deste debate. Achamos que são justas, corretas e frutíferas para o conhecimento universitário. Não se pode falar em democracia sem enfrentar o racismo e o preconceito”, acrescentou. “Este encontro me parece uma demonstração das mudanças que se processaram no último período.”

Sovik citou vários textos do novo Jornal da ADUFRJ, como a entrevista de Giovana Xavier à jornalista Flávia Oliveira, em que a docente afirma que “’a universidade é um campo de disputas. Pode ser tanto um espaço desacolhedor, que gera alto índice de evasão e afeta muitos negros que estão chegando mas não conseguem ficar, como o lugar de fortalecimento, empoderamento, e produção de outras leituras sobre de si mesmo e dos outros’”.

“Ser branco é um lugar de onde se opera e se vê a sociedade”, destacou a pesquisadora, “e nenhum branco sai de sua bolha de privilégio sem ter sido empurrado ou levado pela mão”, avaliou. Para a docente, a força da juventude negra, até há pouco tempo praticamente excluída da Academia, permite avançar na superação da supremacia branca e mudar o eurocentrismo ainda predominante nas universidades: “É preciso ler, aprender as sutilezas das disciplinas, falar usando sua linguagem, encontrar as brechas e contra-argumentos que permitem formar alianças com seus professores. Dessa maneira também, o sistema de conhecimento universitário pode se abrir e se adequar às novas realidades que vocês hoje evidenciam e reivindicam”.

Um quilombo em cada universidade

Hoje, 13 de maio é um dia de luta, de indignação e de resistência”, afirmou o advogado e ativista negro Thiago Thobias: “A liberdade não veio de graça e a dificuldade é desconstituir os resquícios da escravidão que a gente sente todos os dias”, avaliou. “É por isso que vocês, que estão fazendo de cada universidade um quilombo e de cada quilombo uma universidade, são extremamente importantes. Uma salva de palmas para vocês que estão fazendo a diferença”.

Para o ativista, o golpe à democracia em curso se soma aos assaltos aos direitos elementares que população afrodescendente sofre cotidianamente. “Existe sim um golpe na nossa democracia, como existe um golpe na juventude negra, como existe um golpe nas nossas universidades em relação à fraude nas cotas, como existe um golpe contra a saúde da mulher negra. Vamos continuar lutando contra todos esses golpes, mas principalmente contra o que tenta aniquilar nossa existência”, enfatizou.

Thobias resgatou o histórico de luta do movimento de negras e negros por espaço no ensino superior: “O debate pela democratização começou com a taxa do vestibular. A juventude negra sequer conseguia fazer a prova; foram centenas de mandados de segurança”.  Depois, a conquista de vagas para a juventude excluída nas instituições filantrópicas privadas e as cotas nas instituições públicas. Finalmente, a briga por políticas de permanência para garantir que os alunos pudessem terminar seu curso de graduação. Segundo o advogado, ex-assessor do MEC, 2 dos 8 milhões que prestam ENEM hoje são negras ou negros. Para ele, a inclusão de negros na formulação de políticas públicas, tais como as cotas, foi um problema difícil para formuladores de políticas públicas: “Eles não sabiam como construir um decreto ou portaria para regulamentar as cotas, porque ninguém ali nunca ficou de fora. Quem ficou de fora sabe buscar solução e alternativa”.

Thobias defendeu a conjugação do método à “heteroidentificação”, apoiada na decisão do Supremo Tribunal Federal a favor das cotas raciais.  A verificação por terceiros da autodeclaração tem sido controversa, mas seria necessária em função de fraudes. “Não queremos apontar quem é negro e quem não é. Apenas queremos a efetividade da política pública. Se a política pública é de promoção da igualdade racial, queremos usar todos os princípios da administração pública para sua efetividade”.

— Leia mais sobre o EECUN em http://goo.gl/uNG9r5.


O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação representou, nos últimos anos, uma visão sobre o desenvolvimento do Brasil, na qual o processo de desenvolvimento científico e tecnológico esteve associado à produção de conhecimento. A democratização do conhecimento e sua relação com a inovação são os campos férteis para nos tornarmos uma sociedade do século XXI. 

A extinção do MCTI  traz o risco da perda da força dessa visão, na qual um sistema de inovação e produção de conhecimento, relacionado ao desenvolvimento de novas tecnologias, produtos e serviços, deve ser prioridade. O sucesso da comunidade científica diante da crise do vírus zika mostra que a ciência e a tecnologia atuam de forma articulada com a sociedade e suas necessidades. O Ministério das Comunicações tem atribuições de garantia de acesso e regulação que não têm nenhuma conexão com o campo da ciência e tecnologia, sendo a fusão proposta uma desqualificação das políticas de ciência e tecnologia para o desenvolvimento do país.  

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