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WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.31.09Uma hora e vinte minutos. Esse foi o tempo que o professor Cláudio Cerqueira Lopes, titular do Instituto de Química, ficou preso no único elevador que funcionava no Bloco A do Centro de Tecnologia. O incidente aconteceu no final da tarde da terça-feira, 10. O resgate foi realizado pelos bombeiros que atuam na Brigada de Incêndio do CT. Ele e outras quatro pessoas – duas professoras e duas alunas – tentavam se deslocar do quinto andar ao térreo do edifício quando o elevador não obedeceu ao comando, subiu até o sexto andar, desceu até o terceiro e novamente subiu até o sexto andar, onde travou com as portas fechadas.
“Eu me senti muito mal, fiquei com medo pela minha segurança e das pessoas que estavam comigo”, desabafa o professor. “Tive muito medo que o elevador se desprendesse. Eu uso aquele elevador há 47 anos e quase não houve reformas desde então. É um equipamento muito obsoleto”, afirma.
Ele critica a gestão da decania do CT em relação aos elevadores e ao prédio como um todo. “O elevador é só um reflexo da precarização a que o CT submete os ocupantes do Bloco A. A limpeza também está um caos. Quando dá 17h, os banheiros estão em situação da maior precariedade”.
Aos 65 anos, Cláudio Cerqueira é cardíaco e tem problema crônico num dos joelhos, condições que o levam a depender dos elevadores para trabalhar. Ele coordena o Laboratório de Síntese e Análise de Produtos Estratégicos, no quinto andar. “Com os entrepisos que existem no prédio, são dez lances de escadas, equivalentes à subida de dez andares, até chegar ao meu laboratório”, ilustra o professor. “Expus minha condição física, minha vida e das minhas alunas”.
Respeitado no meio científico e forense, o docente sentiu-se abandonado pela instituição. “As pessoas da minha idade estão sendo muito desrespeitadas. Eu perdi minha forma física porque vivi uma vida inteira para a pesquisa, para o ensino, para esta universidade”.
A estudante de iniciação científica Anna Carolina Marques também estava no elevador. “Outra menina aqui do laboratório já tinha ficado presa antes da pandemia e ficou bem mais tempo que a gente”, relata. Ela denuncia que dentro do elevador não havia telefone de emergência e nem botão de alarme funcionando. “Se eu estivesse sozinha, não teria conseguido chamar socorro, porque meu celular estava fora de área”, conta.
Quem chamou o resgate foi o próprio professor Cláudio. “O bombeiro que nos atendeu disse que estamos muito próximos de uma tragédia, porque não há mais o que fazer com aqueles elevadores”, conclui o professor.
“O elevador tremia, fazia barulho como se estivesse funcionando e parava. A gente não sabe como está a estrutura dos cabos. Nosso medo era que ele despencasse”, completa Thiana Santiago, pós-doc do laboratório, que também ficou presa.
O problema havia sido denunciado na edição passada do Jornal da AdUFRJ. Na ocasião, a administração do CT informou que não tem ingerência sobre a manutenção desses elevadores, porque o contrato foi firmado diretamente com a Pró-reitoria de Gestão e Governança (PR-6). O pró-reitor da área deu esclarecimentos sobre o assunto no Conselho Universitário do dia 12 (leia AQUI).
De acordo com a administração central, não faltam recursos do orçamento participativo para manutenção. Ainda segundo a reitoria, não houve pedido da decania para que os elevadores fossem priorizados. “Não recebi nenhum pedido formal para priorizar a reforma do elevador do CT. A iniciativa foi nossa”, afirma o vice-reitor da UFRJ, professor Carlos Frederico Leão Rocha. “Isso não significa que estejamos nos eximindo da responsabilidade”, reconhece. “Um caso como esse é muito sério e prejudica a todos: a nós, na reitoria, à decania do CT e, principalmente, às vítimas, às cinco pessoas que ficaram presas. A elas, quero pedir desculpas em nome da universidade”.
O professor Walter Suemitsu, decano do CT, explicita a posição da decania sobre o assunto. “A última reforma que aconteceu, há 15 anos, foi financiada pelo CT, com recursos de projetos da Coppetec”, esclarece o dirigente. “Infelizmente não temos mais esse dinheiro. Nos últimos dois anos, não houve recursos no orçamento para materiais permanentes e equipamentos”, afirma.
Os elevadores do Bloco A estão no limite da vida útil, segundo o decano. “Fizemos um orçamento e a empresa nos deu o parecer de que é mais barato trocar os elevadores do que consertá-los. Estimamos que a reforma completa custe em torno de R$ 2 milhões. A decania realmente não tem recursos para essa reforma. A gente conta com o apoio da reitoria”, finaliza.

Passada a euforia do retorno, o choque de realidade. Assim como retratou em suas páginas a alegria do reencontro, simbolizada pelos abraços guardados na saudade acalentada por dois anos de afastamento na pandemia, o Jornal da AdUFRJ inicia nesta edição, nas páginas 4 e 5, uma série de reportagens sobre os problemas enfrentados pela comunidade acadêmica em pouco menos de um mês de volta às aulas presenciais. Muitos não são novos. Ao contrário, são velhos conhecidos. As más condições de trabalho foram o principal assunto tratado pelo Conselho de Representantes da AdUFRJ, realizado de forma híbrida na quarta-feira (4), tema de nossa matéria da página 3. Representante de Macaé, a professora Lais Buriti, resumiu bem o cenário: “Não parece que se passaram dois anos, porque estamos com os mesmos problemas, só que agravados”.

Vamos começar a série falando de uma unanimidade em termos de desolação: o transporte público. A Ilha do Fundão, em particular, padece nessa seara. Já com parcas opções de acesso, alunos, professores e funcionários enfrentam a escassez de ônibus nas poucas linhas disponíveis, sobretudo no período noturno; encaram a superlotação nos horários de pico — algo particularmente preocupante no momento em que a curva de casos de covid-19 volta a dar mostras de reavivamento — e sofrem diariamente com o sucateamento da frota. “No intervalo de uma semana, eu presenciei duas quebras de ônibus. Tem que descer, pegar outro e gera um transtorno muito grande”, conta o professor Fernando Duda, da Coppe, que mora em Copacabana e é um usuário sofredor da combalida linha 485.

Em muitos casos, a locomoção é uma loteria. Brenda Tosi, mestranda do programa de Linguística, que o diga. Na tarde de terça-feira (3), ela esperava um ônibus da linha 410T para voltar para casa, em Rocha Miranda, na Zona Norte. Depois de 40 minutos sob um calor de 34 graus no ponto em frente à Faculdade de Letras, ela desistiu e tentou a “sorte”: pegou um ônibus interno e resolveu encarar o BRT. Lá estava o caos habitual: plataforma abarrotada de gente, mais tempo de espera, veículos lotados, com pessoas penduradas nas portas abertas. A estudante Mariana Victorino, do 7º período de Engenharia de Alimentos, moradora da Penha Circular, na Zona Norte, deu um diagnóstico preciso do BRT: “Antes da pandemia, era cheio tolerável. Agora, está superlotado”. Na primeira semana de aula, Mariana precisou descer de um BRT com pneu furado, em Olaria.

Para quem trabalha ou estuda no CT, superar os problemas do transporte público é uma espécie de “treino” para enfrentar outro obstáculo: os elevadores. No bloco H, os dois estão parados. Dos quatro do bloco A, só um funciona para atender a sete andares. “É uma situação vexaminosa para uma universidade e de desrespeito para com sua comunidade”, reclama o professor Ildeu Moreira, do Instituto de Física. Esse é um problema que entra no rol dos clássicos. “Trabalho aqui há 30 anos. Só uma vez vi todos os elevadores funcionando”, relata Dalva Lúcia Rossotti, servidora do Instituto de Química.

O medo e a insegurança, que foram objeto de recente matéria do Jornal da AdUFRJ por conta dos arrastões e assaltos na primeira semana de aulas presenciais na Praia Vermelha, rondam também o CT. O breu no estacionamento entre os blocos A e H reforça o temor que o professor Papa Matar Ndiaye, da Escola de Química, descreve em poucas palavras: “É dramático porque, das unidades do CT, somente a Escola de Química tem cursos noturnos. Isso gera um problema também emocional, de saber que você está se arriscando em um lugar que não deveria oferecer essa preocupação. Você pode ser roubado, agredido e ninguém verá”, diz o professor.

As filas gigantes para os bandejões, problemas de infraestrutura no prédio do CT e buracos nas pistas e no estacionamentos do CT são outros problemas abordados nesse primeiro capítulo da série. No dia 24, a diretoria da AdUFRJ terá uma reunião com a reitoria para tratar dos problemas abordados nesta edição, apresentar as demandas dos docentes e cobrar prazos para as soluções.

Silvana Sá e Kelvin Melo
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Primeiro capítulo de série de reportagens sobre condições de trabalho, pesquisa e estudo após retorno presencial mostra problemas do Centro de Tecnologia, no Bandejão e do transporte para o Fundão

ESTACIONAMENTO DO CT NO BREU

WhatsApp Image 2022 05 06 at 20.44.26Quem precisa sair à noite do Centro de Tecnologia enfrenta um verdadeiro breu no estacionamento. O motivo: o furto de cabos de energia e reatores. “É dramático”, lamenta o professor Papa Matar Ndiaye. “Isso gera um problema também emocional, de saber que você está se arriscando em um lugar que não deveria oferecer essa preocupação. Você pode ser roubado, agredido e ninguém verá”, diz.

Papa Ndiaye é um dos 21 professores que assinam uma carta de cobrança por soluções para a situação do estacionamento e por regularização das linhas de ônibus que rodam à noite no campus. “Os alunos do noturno têm um prejuízo também acadêmico porque, depois das 20h, o transporte fica muito irregular, o que nos obriga a terminar as aulas mais cedo”, explica o docente. O documento elaborado pelos professores da Escola de Química foi encaminhado à Ouvidoria da UFRJ, direção da EQ, chefias de departamentos da unidade e diretoria da AdUFRJ.

De acordo com o superintendente do CT, Agnaldo Fernandes, a decania depende de fornecedores. “Nossa perspectiva é que a iluminação seja toda trocada ainda neste semestre”, diz. “O orçamento já está autorizado, mas a empresa alega atrasos do fornecedor”, revela. Como medida paliativa, a decania instalou refletores na fachada de alguns blocos, virados para o estacionamento. “Já foram instalados nos fundos do Bloco A, nos blocos C, D, E e H. Haverá também na frente do Bloco A”, completa o administrador do centro, André Ferraz.

Os furtos também atingiram a concessionária que geria o estacionamento. “Houve furtos de cabos, câmeras e cancelas. Esse material ainda está sendo reposto pela empresa”, conta André. A expectativa é que a cobrança seja restabelecida até junho.

RISCO NO CORREDOR
Outro problema identificado pela reportagem da AdUFRJ é a falta de conservação nos corredores do CT. Em alguns pontos falta proteção de corpo; em outros, corrimão. Ainda há risco de queda de lâmpadas e infiltração em luminárias. Agnaldo Fernandes informa que a prioridade da decania são as obras do telhado e que estão previstas as trocas das lâmpadas, mas não comentou sobre os guarda-corpos e corrimões destruídos.

AUDIÊNCIA
A AdUFRJ solicitou audiência com a reitora para tratar das condições de trabalho dos professores. O encontro será dia 24. O objetivo é apresentar as demandas e cobrar prazos para que os problemas sejam solucionados.

ELEVADORES QUEBRADOS GERAM MAIS TRANSTORNOS
Outro problema sem data para acabar é a crise dos elevadores do CT. Os dois do bloco H não funcionam. Dos quatro do bloco A, só um funciona para atender a sete WhatsApp Image 2022 05 06 at 20.44.262andares e de forma precária. “Para que ele pare no terceiro andar, há que fazer truques. É uma situação vexaminosa para uma universidade e de desrespeito para com sua comunidade”, reclama o professor Ildeu Moreira, do Instituto de Física.

Servidora do Instituto de Química, Dalva Lúcia Rossotti conta que já ficou presa no elevador. “Foi um pânico, fiquei 40 minutos no escuro. Outras pessoas também já ficaram presas. Não é difícil de acontecer”, afirma. Ela também reclama das péssimas condições do único elevador em funcionamento. “O painel interno é muito precário e ele só para no térreo se alguém apertar o botão por dentro”. O problema é antigo, anterior à pandemia. “Trabalho aqui há 30 anos. Só uma vez vi todos os elevadores funcionando”.

As filas enormes no horário da manhã atrasam vários estudantes e professores. “A espera é longa, a fila é muito grande”, conta Vinícius Lima, aluno do quinto período de engenharia naval. “Espero que corrijam até as provas unificadas de cálculo e física”, conclui o estudante.

A administração do CT explica que os contratos dos elevadores fazem parte de um pacote de manutenção firmado diretamente com a Pró-reitoria de Gestão e Governança (PR-6). “Não temos prazo para resolução dessa questão”, revela André Ferraz. “Recentemente conseguimos tirar desse contrato o elevador de cargas, que foi reformado e está funcionando, e os elevadores do bloco H”, conta André Ferraz. “Hoje (dia 5 de maio) houve uma vistoria para fazer orçamento do elevador da frente. Já o dos fundos do bloco H passa por obras no fosso para contenção de água da chuva”, explica o administrador.

FALHAS EM ÔNIBUS PIORAM ACESSO AO FUNDÃO

WhatsApp Image 2022 05 06 at 20.44.272Desde o recomeço das aulas presenciais, o transporte público testa a paciência e preocupa quem estuda e trabalha no Fundão. Linhas com poucos ônibus principalmente no período noturno, superlotação nos horários de pico e sucateamento da frota desgastam professores, funcionários e estudantes.

“No intervalo de uma semana, eu presenciei duas quebras de ônibus. Tem que descer, pegar outro e gera um transtorno muito grande”, afirma o professor Fernando Duda, da Coppe, que usa a linha 485 nos deslocamentos entre a Cidade Universitária e sua casa, em Copacabana. “As condições da frota estão muito ruins. Sem falar nos vidros trepidando ou em algumas barras de segurar a mão, que estão frouxas”.

Brenda Tosi, mestranda do programa de Linguística, tem esperado mais de 35 minutos para pegar o 410T para voltar para casa, em Rocha Miranda. O ônibus é uma opção depois de experiências anteriores ruins com o BRT e de dificuldades para entrar no metrô. “O metrô é impossível no final da tarde”.

O PESADELO DO BRT
Uma das principais formas de entrar e sair da Ilha do Fundão, o BRT hoje é também um dos gargalos do transporte público da Cidade Universitária. No último dia 3, Mariana Victorino, do 7º período de Engenharia de Alimentos, estava perplexa diante do que via, antes das catracas de acesso ao BRT, atrás do Hospital Universitário. A plataforma dos ônibus articulados estava abarrotada de gente. Após muito tempo, um dos veículos que deveria providenciar um serviço de transporte rápido e confortável para moradores das Zonas Norte e Oeste da cidade chegou. E saiu lotado, com pessoas penduradas nas portas abertas.

“Antes da pandemia, era cheio tolerável. Agora, está superlotado”, critica a moradora da Penha Circular. A precariedade dos veículos é notória. Na primeira semana de aula, Mariana precisou descer de um BRT com pneu furado, em Olaria. “Todo transporte público está assim. É muito desgastante”, disse.

O aumento da frota de BRT ainda demora: fornecedores apresentaram propostas para licitações iniciadas em 13 de abril, mas o prazo de entrega dos primeiros ônibus é até dezembro deste ano.

PREFEITURA UNIVERSITÁRIA ORIENTA USUÁRIOS
Reclamações sobre os ônibus internos e intercampi devem ser enviadas para o Whatsapp da Prefeitura - (21) 969623203 - ou o e-mail da comunicação (Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.). Desde 25 de abril, a Prefeitura Universitária aplica uma logística de ônibus internos expressos nos horários de maior demanda. Os veículos rápidos, identificados com o número 5, partem da Estação UFRJ, ao lado do BRT, e seguem diretamente até o CCMN, CT e Letras (das 7h às 9h e das 17h às 19h30 — neste segundo intervalo, retornam à Estação). Já no horário de almoço (das 11h às 13h), os veículos expressos seguem da Faculdade de Letras, CT e CCMN até o Restaurante Universitário/Estação.

FILAS QUILOMÉTRICAS NOS BANDEJÕES
WhatsApp Image 2022 05 06 at 20.44.263Com quase um mês de aulas, os estudantes ainda enfrentam filas quilométricas nos bandejões. “Recolhemos mais de quatro mil assinaturas sobre esta questão dos bandejões”, disse Júlia Vilhena, uma das representantes do DCE, antes de uma sessão especial do Conselho Universitário, no dia 5. “Muitas vezes, não conseguimos almoçar no intervalo entre nossas aulas”, completou.

Reitor em exercício, o professor Carlos Frederico Leão Rocha afirmou que a administração superior está comprometida com a ampliação da oferta de refeições aos alunos. “Filas nos bandejões sempre existiram, mas agora temos uma situação nova”. O número de matrículas ativas na graduação saltou de 45 mil para 63 mil, resultado da chegada de novos alunos e da reversão dos trancamentos autorizados durante a pandemia. “Um aumento de 40%, que rebate sobre a oferta de alimentação”. Também contribuiu para a procura dos bandejões o fechamento de alguns restaurantes particulares no campus, nos últimos dois anos.

BURACOS PARA TODOS OS (DES)GOSTOS
Dirigir na Cidade Universitária virou martírio. As vias apresentam irregularidades em diversos trechos e buracos de diferentes tamanhos. Qualquer descuido pode causar dano à suspensão do veículo ou até acidentes, quando o motorista tenta desviar de algumas “crateras”.

A Prefeitura da UFRJ solicitou apoio à Secretaria de Conservação do município, através da operação “tapa-buraco”. “Tivemos alguns pontos executados, porém a frequência de atendimento é esporádica, bem como a quantidade disponibilizada de asfalto é muito pequena para minimizar os transtornos”, respondeu, via assessoria.

Já noticiados na edição anterior do Jornal da AdUFRJ, os enormes buracos da entrada 3 da Cidade Universitária, ao lado do CCMN, foram fechados nesta sexta, 6. A concessionária Lamsa se recusava a assumir o problema. Uma equipe da prefeitura municipal fechou estes e outros buracos nas vias do Fundão.

VAZAMENTO DE GÁS ASSUSTA CCS
Um vazamento de gás no CCS na manhã da quarta-feira, 4, assustou professores, técnicos e estudantes. O acidente ocorreu às 8h10 no Instituto de Microbiologia Paulo de Góes e foi contido às 8h30 pela Brigada Voluntária de Incêndio do CCS, com o auxílio da Biossegurança. A decania informou que não houve vítimas nem prejuízos materiais. “Apenas foi necessária a interdição momentânea de parte do Bloco I, visando à contenção e à segurança da nossa comunidade. Todas as atividades no prédio já voltaram à normalidade”, disse, por meio de nota, divulgada ainda pela manhã.

Quase um mês após a volta das aulas presenciais da graduação, não são poucos os relatos sobre as más condições de trabalho e ensino a que professores, técnicos e estudantes estão submetidos. “Uma servidora caiu e se machucou numa cratera aberta no estacionamento do CCS. É uma cratera. Não dá sequer para chamar de buraco”, desabafou uma das professoras do Instituto de Biologia, na reunião do Conselho de Representantes da AdUFRJ, que ocorreu na última quarta-feira (4).

As salas de aula do subsolo do Centro de Ciências da Saúde têm sido motivo de insônia dos professores. “Infelizmente há docentes dando aulas no subsolo, em condições extremamente insalubres”, diz trecho do documento enviado pelos professores da Biologia. O conjunto de reclamações e reivindicações foi coletado por formulário eletrônico e será encaminhado à diretoria da AdUFRJ. “Pedimos empenho da diretoria para que as demandas dos docentes do Instituto de Biologia sejam repassadas à reitoria. Vivemos uma situação dramática”, pediu.

Uma das solicitações dos conselheiros é que a AdUFRJ realize uma assembleia para discutir exclusivamente os problemas estruturais e as condições de trabalho dos professores. “Na Faculdade de Educação, nós não conseguimos fazer uma reunião com deliberações, mas houve esse entendimento sobre a necessidade de uma assembleia geral para discutir os pontos urgentes enfrentados pelos docentes nessa volta ao presencial”, defendeu a professora Marinalva Oliveira. A fala foi reforçada por outros colegas.

A professora Lais Buriti, representante de Macaé, também relatou dificuldades em realizar uma reunião presencial em seu campus e destacou as más condições de trabalho. “Não parece que se passaram dois anos, porque estamos com os mesmos problemas, só que agravados”, disse. “Precisamos realmente debater os desafios do retorno presencial”, sublinhou.

A reunião do CR foi híbrida: aconteceu presencialmente na sala 212 do Bloco E do Centro de Tecnologia e via plataforma Zoom. Ao todo, 23 conselheiros participaram, 18 deles de maneira remota. Um dos presentes era o professor Argimiro Secchi, da Coppe. “São muitas as preocupações: com a evasão de alunos, laboratórios vazios, interpretações heterogêneas sobre retorno presencial e híbrido”, elencou. “Um dos pontos que temos destacado é a baixa inscrição de alunos nos programas de pós-graduação; cerca de 20% do que era no pré-pandemia”, alertou.

Eleições para o CR
A reunião também aprovou o edital para as eleições complementares do Conselho de Representantes. A diretoria indicou os professores Felipe Rosa (Instituto de Física) e Angela Santi (Faculdade de Educação) para formarem a Comissão Eleitoral que conduzirá o pleito. O edital já pode ser encontrado no site da AdUFRJ. A diretoria também publicou o edital no jornal Extra, de grande circulação, conforme determina o regimento eleitoral.

As candidaturas devem se apresentar por listas com, no mínimo, um nome e, no máximo, o dobro do número de representantes titulares que os sindicalizados da unidade podem eleger. Por exemplo: unidades com até 60 sindicalizados têm direito a um representante, portanto as listas devem ter até dois nomes; de 61 a 120 sindicalizados, dois representantes e, assim, até quatro candidatos por lista. Já as unidades com mais de 120 sindicalizados têm direito a três representações e poderão apresentar listas com até seis nomes.

As eleições acontecem nos dias 6 e 7 de junho. As inscrições serão recebidas até o dia 27 de maio. Podem se candidatar os professores sindicalizados até 5 de fevereiro. São eleitores os docentes filiados até 6 de abril. As eleições vão acontecer de forma remota, via Sistema Helios.

Contas aprovadas
O CR também aprovou por consenso a prestação de contas da última gestão do sindicato. A professora Eleonora Ziller, ex-presidente da AdUFRJ, apresentou os gastos de sua gestão, que foi diretamente impactada pela pandemia de covid-19. “Recebemos o sindicato com um caixa de R$ 2,4 milhões e deixamos a gestão com um caixa de R$ 5,3 milhões”, disse. “Em parte conseguimos isso com a pandemia, já que a atuação remota fez com que a gente deixasse de ter muitos gastos. Por outro lado, também demos continuidade à proposta de ter um caixa robusto para que uma futura gestão consiga construir a sede da AdUFRJ”, esclareceu.

Se, por um lado, a pandemia colocou uma pá de cal numa série de projetos da gestão de Eleonora, por outro impôs uma série de novos desafios. “Nossos gastos na pandemia acabaram sendo necessários para responder às urgências daquele momento. Aumentamos nosso plantão jurídico, realizamos muitas doações”, lembrou. “O ponto mais polêmico foi em relação às doações a instituições da UFRJ. Entendemos que este não é o papel do sindicato, mas havia uma urgência em salvar vidas. E, nesse contexto de escassez de produtos e materiais, no início da pandemia, para salvar vidas, fizemos doações ao Hospital Universitário e ao IPPMG (pediatria)”, afirmou a ex-presidente.
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Estacionamento do CT no breu

WhatsApp Image 2022 04 26 at 09.01.21Depois dos assaltos, viatura foi posicionada na calçada ao lado do campus - Foto: Estela MagalhãesEstela Magalhães e Silvana Sá

Os furtos de celulares aumentaram 280% em março de 2022, em comparação com o mesmo período do ano passado, na região de Botafogo e Urca, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro. Foram 190 ocorrências contra 50 em março de 2021. Roubos a transeuntes, ou seja, a pessoas que se deslocam a pé, cresceram 100% e passaram de 34, em março de 2021, para 68, em março deste ano. Os dados de abril ainda não estão consolidados, mas a comunidade acadêmica da Praia Vermelha sentiu na pele o aumento desses crimes.
Nas primeiras semanas do retorno das aulas presenciais houve relatos de assaltos e arrastões nas ruas que contornam o campus, sobretudo na Avenida Venceslau Brás. Raíssa Rocha, aluna de Relações Internacionais, foi uma das vítimas. Já era noite e chovia quando ela esperava o ônibus com um grupo de aproximadamente oito pessoas no ponto próximo à saída do campus. “Parou um ônibus na nossa frente e saltaram três pessoas. Duas vieram para cima de mim, levaram a minha bolsa com absolutamente tudo: carteira, material da faculdade, caderno, perdi tudo”, contou. O curso é noturno, e as ocorrências são à noite em sua maioria. “Eu já estou com medo de andar por lá, justo na porta da minha faculdade. É assustador”, completou.
Sam Veras, outro estudante do curso de Relações Internacionais, presenciou o caso, mas conseguiu escapar sem perdas. “Na hora demorei a perceber, só quando um amigo gritou para correr que eu entendi que se tratava de assalto. Mas até isso acontecer eu já estava correndo. Dois amigos correram de volta para a Praia Vermelha e as outras pessoas fugiram no sentido Urca e depois atravessaram no sinal”, relatou.
“Agora estou voltando de Uber sempre. Acabo gastando bem mais dinheiro e fico aflita todos os dias antes de ir para a faculdade”, contou outra estudante de Relações Internacionais, que tem medo de se identificar. “Isso tem afetado muito meu rendimento em geral. Desde que as aulas voltaram e eu presenciei os assaltos, a minha saúde mental piorou muito, noto que eu estou bem mais estressada e não consigo mais focar em nada durante o dia”.
Pelas redes sociais, outros alunos relataram episódios semelhantes, com roubos inclusive dentro de coletivos. Os casos, infelizmente, não são novidade. Uma dessas abordagens terminou em tragédia. Em 2015, o estudante Alex Schomaker Bastos, de 23 anos, foi assassinado em uma tentativa de assalto em frente ao campus, do outro lado da rua. Os dois criminosos que estavam em uma moto fugiram, mas foram depois capturados e condenados por latrocínio.
Flávio Alves Martins, decano do CCJE, recebeu reclamações e relatos das ocorrências. “Por ser uma área externa, a gente precisa ter esse diálogo com as forças de segurança da cidade e do estado”, diz. O assunto também foi debatido em reunião do Conselho de Coordenação do CCJE, na semana passada. “É uma realidade que parece estar aumentando em toda cidade, não é uma questão só de polícia. A gente precisa saber o que pode ser feito também pelo estado para dar condições minimamente dignas para que as pessoas não abracem essas práticas criminosas como solução de vida”, completou o professor.
A 10ª DP (Botafogo) é a responsável por investigar ocorrências na região. O inspetor-chefe da delegacia, Johnny Deckers, reconheceu que aumentaram os registros de furtos e assaltos. “Ainda não temos as informações consolidadas do mês, mas houve aumento dos casos”, relatou. “Temos nos empenhado em reprimir essa atuação criminosa e conseguimos recuperar muitos aparelhos roubados”, afirmou o policial. “Nosso foco de atuação é identificar os receptadores. Hoje mesmo (quinta-feira, 28) já identificamos dois endereços pela localização dos aparelhos”.
O inspetor aconselhou não reagir a uma abordagem e reforçou que a principal medida a ser tomada pela vítima é registrar a ocorrência para que as investigações aconteçam. “Quando temos a informação completa, conseguimos oficiar a operadora, que nos passa todas as informações assim que aquele aparelho é religado para uso. Os furtos de celulares acontecem sobretudo porque existem pessoas que compram esses aparelhos roubados”.
Raíssa Rocha, nossa primeira personagem desta reportagem, registrou queixa no dia 15 de abril, na 10ª DP. A assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que “as investigações estão em andamento para identificar e localizar os autores do crime”.
Em reunião com representantes do 2º Batalhão de Polícia Militar, responsável pelo policiamento ostensivo da região, André Maximiano, subprefeito da Praia Vermelha, e Robson Gonçalves, assessor de Segurança da Prefeitura Universitária, solicitaram um aumento da patrulha na localidade. Uma viatura e duas motos vão rondar o entorno do campus. André destaca outras medidas que estão sendo tomadas para garantir a segurança também do lado de dentro dos muros. “Nós já abrimos o processo para comprar mais refletores para iluminar o campo (de futebol) e em torno do Palácio, para diminuir a sensação de insegurança”, explicou.
O 2º Batalhão confirmou que houve aumento dos registros em abril, mas os números só serão consolidados na próxima semana. Uma viatura já está permanentemente estacionada na calçada do campus. Já a Guarda Municipal do Rio de Janeiro e a Secretaria Municipal de Ordem Pública informaram que as instituições não têm previsão de ampliar suas atividades no local.

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