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WhatsApp Image 2020 12 12 at 14.49.04Os assassinatos da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes completaram mil dias na terça-feira (8). Acusados como executores, o policial militar da reserva Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz aguardam julgamento em um presídio em Rondônia. Seguem sem resposta duas perguntas. Quem mandou matar Marielle? E por quê? Uma coisa é certa: a morte da vereadora amplificou a luta pelos direitos humanos no Brasil.
E isso os algozes de Marielle não poderão calar.

WhatsApp Image 2020 12 12 at 14.49.03No Tamo Junto que encerrou o ciclo 2020, o professor Josué Medeiros, cientista político e diretor da AdUFRJ, puxou a conversa para falar de eleições. Coordenador do Núcleo de Estudos Sobre a Democracia Brasileira, Josué analisou o cenário político nacional, a partir não só do resultado das urnas no último dia 29, mas projetando as eleições de 2022. E não foi bom o cenário desenhado pelo professor. “Eu não queria, mas estou pessimista”, disse Josué no começo da conversa.
Segundo ele, o resultado das eleições municipais não foi uma derrota de Bolsonaro, porque o presidente não entrou efetivamente na disputa. O voto de direita continua forte, embora tenha se dispersado para 2020. Contudo, Bolsonaro, com máquina federal, tem todas as condições de manter a sua base para 2022. As disputas deste ano servem de alerta para a esquerda, que em muitas cidades ficou disputando entre si, enquanto viu candidatos da direita tradicional irem ao segundo turno. Para Josué, a esquerda tem uma base de 40% dos votos, patamar histórico, e não consegue ir além disso atualmente. “As pessoas perderam a crença de que o campo progressista pode governar”, disse.
Dentro desse cenário, é possível até que a esquerda se una em 2022, e chegue ao segundo turno, mas, se não expandir sua base de eleitores, provavelmente vai ser derrotada por Bolsonaro, que agregará os votos da direita moderada. “As eleições confirmaram esse quadro”, resumiu.
E o cenário pode piorar. “O esgarçamento do nosso tecido social continua. A inflação dos alimentos é muito forte na base, e o fim do auxílio emergencial vai piorar a situação do ponto de vista social”, falou. A saída não parece tão simples. Josué usou como exemplo as eleições norte-americanas. “O que venceu Trump não foi só o Biden, mas também um enorme movimento civil, que começou com o Black Lives Matter”, explicou. “Precisamos produzir algo de baixo pra cima se quisermos mesmo derrotar o bolsonarismo.”
Antes de começar a conversa, a simples presença da professora Ligia Bahia foi o suficiente para um papo sobre as possíveis vacinas contra a covid-19. Especialista em saúde pública, Ligia explicou que a vacina é muito importante, mas a erradicação de algumas doenças depende de uma mudança social. “A sociedade tem que mudar. Erradicamos a varíola, mas foi necessário um enorme esforço para isso”, disse a professora. “Doenças como a tuberculose e o sarampo foram combatidas também com combate à pobreza”.

semana nacional ciencia tecnologia mcamgo abr 081220201818 16Miinistro da Educação, Milton Ribeiro - Foto: Marcelo Camargo/Agência BrasilO Ministério da Educação recuou duas vezes em cinco dias. Em 7 dezembro, após diversas manifestações de repúdio da comunidade acadêmica, o ministro Milton Ribeiro adiou a data de retorno das aulas presenciais nas universidades do dia 4 de janeiro para 1º de março. Quarenta e oito horas depois, O MEC também homologou uma resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE), que autoriza as atividades remotas em escolas e universidades por tempo indeterminado. A flexibilização atende ao pedido de representantes das instituições de ensino do setor público e privado, que se reuniram com o ministro no dia 4 para debater a questão.
“Essa nova portaria é uma tentativa de não passar vexame, porque a primeira foi fortemente rechaçada pelo conjunto da universidade de forma muito firme e ágil”, descreve Eleonora Ziller, presidente da AdUFRJ. A professora reforça que já existe um estudo em desenvolvimento sobre como e quando realizar esse retorno, e que cabe ao MEC responder às questões orçamentárias de realização desse processo. “O MEC, covardemente, não apenas deixa de responder isso, como também se esconde atrás de um projeto de lei orçamentária vergonhoso, que leva as universidades ao estrangulamento e à paralisia das suas atividades”, critica.
Carlos Frederico Leão Rocha, vice-reitor da UFRJ, destaca que a portaria anterior previa o uso de recursos digitais e tecnológicos apenas de forma “complementar”, palavra que foi omitida no novo texto. “Isso é bastante relevante, porque de acordo com a outra portaria nós só poderíamos usar as formas de ensino a distância de uma maneira excepcional, mas a atual situação sanitária do Rio de Janeiro deve ser entendida como tal”, comenta.
Na nova portaria, o MEC autoriza o uso das ferramentas de ensino remoto de forma integral nos casos de suspensão das atividades presenciais por determinação das autoridades locais, ou de condições sanitárias que tragam riscos à saúde. “Nós temos salas de aula em subsolos, com condições de ventilação precárias, apenas com ar-condicionado”, lembra o vice-reitor. “E já foi verificado que, nessas condições, a existência de indivíduos infectados pode gerar um surto entre os participantes da aula. Então, mesmo com taxas baixas de contaminação, essas salas não poderão ser usadas”, completa. Segundo ele, é compreensível a ansiedade da população e do governo para o retorno presencial, mas é preciso uma análise criteriosa das condições.
“O retorno presencial é vinculado com critérios técnico-científicos. Quando nós tivermos uma transmissão de baixo risco da doença, esse retorno pode ser pensado”, aponta a professora Fátima Bruno, integrante do GT Pós-Pandemia da UFRJ. Superintendente de Planejamento Institucional, ela relata o mapeamento que está sendo realizado dos espaços da universidade, para que sejam feitas as respectivas classificações e indicações de EPI necessários. “Ainda estamos esperando o retorno de todos os centros e campi com essas informações. Qualquer decisão que a reitoria tomar levará em consideração as condições sanitárias e, principalmente, o avanço da ciência”.

FRENTE PARLAMENTAR
A deputada federal Margarida Salomão, coordenadora da Frente Parlamentar em Defesa das Universidades Federais, entende a nova portaria como um ato de ignorância do governo. “Em termos formais, ela não tem impacto nenhum, porque se os Conselhos Universitários deliberarem por uma outra alternativa, a portaria é simplesmente vazia de efeitos”, aponta. Prefeita eleita em Juiz de Fora, Margarida ressalta que as universidades devem proceder com autonomia para essa tomada de decisão, em conformidade com a ciência. “Os dados que nós temos no mundo mostram que o retorno presencial sem vacina sempre acarreta uma aceleração da pandemia”.

cgu 600x320Ofício da CGU foi motivo de reunião entre PR4 e unidades no dia 11A Pró-reitoria de pessoal chega a dezembro despertando mais uma insatisfação nos servidores. Em documento enviado aos diretores de unidade no dia 4 de dezembro, a PR-4 solicitou informações sobre servidores que receberam o auxíliotransporte, adicionais ocupacionais e/ou serviço extraordinário, nos meses de maio e junho de 2020.
O pedido atende ao ofício nº 11316/2020, da Controladoria Geral da União (CGU), que exigiu a apuração imediata dos casos. O documento contém a relação de 2.650 servidores divididos por 86 setores/Unidades, e pede justificativas para o lançamento de frequência regular nos meses citados, mediante o preenchimento de uma planilha e a apresentação de documentação comprobatória.
O ofício da CGU data de 14 de julho, e demandava a resposta da UFRJ até o dia 7 de agosto. No entanto, o documento foi extraviado. Após duas prorrogações, a PR-4 aguardará pelas respostas das unidades até o dia 18 de dezembro. Em nota, a direção do Sintufrj cobrou explicações da pró-reitoria. “A nossa expectativa é que a PR-4 dê uma orientação unificada e institucional, para que as respostas sejam dadas na linha da resolução do Consuni, que deliberou a organização do trabalho remoto ao longo da pandemia”, ponderou Neuza Luzia, coordenadora geral do sindicato.
Com o objetivo de esclarecer o tema, a PR-4 debateu o assunto em uma reunião no dia 11 com os diretores, decanos e chefes de DP, mas o clima foi tenso. “O documento original por algum motivo foi extraviado, e no dia 30 de novembro nós recebemos a reiteração da solicitação por e-mail, com o mesmo ofício”, explicou Luzia Araújo, pró-reitora da PR-4. Ela descreveu a origem do processo.
“A CGU observou a persistência das referidas rubricas de frequência nos meses de maio e junho, o que significa que as nossas folhas de frequência já têm sido auditadas há algum tempo”.
Muitos questionaram por que não foi dada uma resposta unificada por parte da administração central. “O que a PR-4 entende como pagamento indevido, uma vez que nos baseamos todos na decisão do Consuni?”, perguntou uma professora pelo chat da reunião.
“A PR-4 não tem condição de dizer se um determinado lançamento de frequência foi por um erro, ou se a pessoa realmente estava em frequência integral. Esses erros de lançamento são comuns, e nós não temos outra maneira de identificá-los”, afirmou Maria Tereza Ramos, superintendente administrativa da PR-4.
Outra reunião será marcada ainda antes do dia 18, para dar continuidade ao debate e esclarecer eventuais dúvidas relativas ao envio das respostas.
“Em conversa com a CGU, foi solicitado que esse encaminhamento das respostas aconteça tão logo elas sejam produzidas, sem a necessidade de aguardar por todas”, afirmou a pró-reitora Luzia Araújo.

Bruno Rodrigues e Lupis Ribeiro pesquisadores do NUPEM UFRJ realizando a análise dos genomas do Sars Cov2 de MacaéBruno Rodrigues e Lupis Ribeiro, pesquisadores do NUPEM, realizando a análise dos genomas do Sars Cov2 de Macaé - Foto: DivulgaçãoUma pesquisa do Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (Nupem), em conjunto com o Instituto de Biologia da UFRJ, identificou quatro linhagens diferentes do coronavírus na cidade de Macaé, no Norte Fluminense. No curto prazo, a descoberta pode ajudar a elaborar testes de detecção mais precisos. No médio prazo, a identificação das linhagens contribuirá para a criação de vacinas e tratamentos mais eficazes contra a covid-19.
Para sequenciar o genoma dos vírus foi utilizada pela primeira vez na UFRJ o sequenciador portátil Oxford Nanopore, comprado no início do ano e cedido pelo Laboratório de Biodiversidade Genômica da universidade.
Em convênio com a prefeitura do município, órgãos públicos e empresas privadas, a UFRJ é responsável pela testagem para covid-19 em Macaé, o que propiciou o material para a pesquisa. Desde abril, já foram feitos mais de 12 mil exames na cidade. “Nós não queríamos só testar, mas também entender a distribuição da covid-19 no município. Sequenciamos 96 genomas. Em abril tínhamos uma única linhagem presente em Macaé. Hoje são duas, mas já foram quatro linhagens em circulação”, contou o professor Rodrigo Nunes da Fonseca, coordenador do trabalho e diretor do Nupem.
A intenção é fazer um monitoramento de linhagens do vírus, aproveitando o perfil socioeconômico de Macaé, fortemente ligado à indústria do petróleo e com intenso fluxo de pessoas de diferentes lugares do mundo. “Esse procedimento de saber quais vírus estão circulando é utilizado em países que estão controlando bem a pandemia, como a Nova Zelândia”, destacou Rodrigo. A identificação de linhagens segue uma nomenclatura padrão e fica disponível em bancos de dados na internet. “Todo mundo que sequencia vírus divulga essas informações, então você sabe quando surgiram determinadas linhagens ao longo do tempo”, detalhou.
Todos os exames passam por uma triagem feita pelos médicos da prefeitura. Com isso, o grupo consegue mapear o número de casos na cidade, a localização por bairro de cada um e ter a ficha médica do paciente testado, verificando se ele manifestou sintomas, e com qual intensidade, e se veio a falecer. “Estamos analisando essas sintomatologias para saber se existe uma correlação entre o quadro clínico e a linhagem do vírus”, disse o coordenador. Os 96 genomas foram escolhidos considerando o grau de severidade da doença nos pacientes e a distribuição espacial dos casos pela cidade.
De acordo com o pesquisador, as mutações entre as linhagens podem ter consequências para a testagem. “Se as mutações acontecem na região do RNA do vírus que utilizamos para fazer o teste, podemos ter um aumento de falsos negativos”, explicou o professor, reiterando a importância do monitoramento dos genomas. Essa é uma aplicação prática de curto prazo proporcionada pelo mapeamento. Futuramente, vacinas poderão ser ajustadas para mais eficácia contra determinadas linhagens do vírus.
Rodrigo Nunes da Fonseca celebra o trabalho conjunto dos professores do Nupem e o apoio que recebeu do Instituto de Biologia da UFRJ, especialmente dos laboratórios de Virologia Molecular e de Biodiversidade Genômica, coordenados respectivamente por Amilcar Tanuri e Cristiano Lazoski. “A dedicação e o empenho de todos mostram o apreço que todos têm pela vida e pela missão social que a universidade tem”.
O professor Cristiano Lazoski, coordenador do Laboratório de Biodiversidade Genômica, ajudou a preparar a equipe do Nupem para operar o Oxford Nanopore, equipamento utilizado na pesquisa, e a preparar as amostras para o sequenciamento. “Eu fiquei muito feliz que o equipamento tenha sido utilizado pela primeira vez em uma pesquisa dessa importância”, celebrou Cristiano, destacando que todo o processo foi feito em Macaé. “Eu queria que tudo fosse feito lá, porque a gente tem que dar apoio à universidade como um todo”, disse o professor.
Bruno Rodrigues é tecnólogo do Nupem e um dos responsáveis por estar à frente das testagens. “Eu conhecia a parte teórica, mas foram meses de estudos prévios para colocar o sequenciador em operação”, relatou Bruno. Desde a fase de testagem, a rotina de trabalho do grupo é intensa. “Chegávamos sete da manhã ao laboratório, e não era incomum saírmos de madrugada”, contou. Bruno é doutorando na UFRJ, mas em uma área diferente da Biologia. Para ele, trabalhar no combate à pandemia foi gratificante. “Eu tenho orgulho de poder ajudar a população. Essa é a ciência mais imediatista, do ponto de vista prático, que eu já pratiquei”.
O pesquisador Lupis Ribeiro faz pós-doutorado no Nupem. Por ter experiência com genomas e atuar na área de Biologia Molecular, aceitou fazer parte da equipe coordenada pelo professor Rodrigo. Lupis atua diretamente nas etapas de preparação para o sequenciamento, quando o material genético do vírus precisa ser convertido de RNA para DNA, procedimento chamado de “reação de transcrição reversa”. Para Lupis, a pesquisa também está sendo uma experiência gratificante. “É uma coisa que inspira a gente, né? Estou acostumado a fazer uma ciência um pouco mais distante da sociedade. Mas agora estou trabalhando em algo que favorece diretamente a população”, refletiu.
A junção de talentos diversos é um dos pilares do sucesso da pesquisa. “A gente conseguiu agregar nesse projeto até pessoas que nunca trabalharam com Biologia Molecular na vida”, contou o professor Jackson Menezes, responsável pela emissão dos laudos dos testes de covid-19 e integrante do grupo desde a origem. “Por trás desses testes e do sequenciamento há um trabalho de manutenção e limpeza dos laboratórios, que foi feito voluntariamente por colegas pesquisadores”, destacou. Segundo Jackson, a união da equipe foi fundamental para o sucesso do projeto: “O grupo tinha a dupla missão de prestar um serviço à sociedade e de produzir conhecimento”, pontuou ele, que também é diretor da AdUFRJ.

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