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Bruno Rodrigues e Lupis Ribeiro pesquisadores do NUPEM UFRJ realizando a análise dos genomas do Sars Cov2 de MacaéBruno Rodrigues e Lupis Ribeiro, pesquisadores do NUPEM, realizando a análise dos genomas do Sars Cov2 de Macaé - Foto: DivulgaçãoUma pesquisa do Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (Nupem), em conjunto com o Instituto de Biologia da UFRJ, identificou quatro linhagens diferentes do coronavírus na cidade de Macaé, no Norte Fluminense. No curto prazo, a descoberta pode ajudar a elaborar testes de detecção mais precisos. No médio prazo, a identificação das linhagens contribuirá para a criação de vacinas e tratamentos mais eficazes contra a covid-19.
Para sequenciar o genoma dos vírus foi utilizada pela primeira vez na UFRJ o sequenciador portátil Oxford Nanopore, comprado no início do ano e cedido pelo Laboratório de Biodiversidade Genômica da universidade.
Em convênio com a prefeitura do município, órgãos públicos e empresas privadas, a UFRJ é responsável pela testagem para covid-19 em Macaé, o que propiciou o material para a pesquisa. Desde abril, já foram feitos mais de 12 mil exames na cidade. “Nós não queríamos só testar, mas também entender a distribuição da covid-19 no município. Sequenciamos 96 genomas. Em abril tínhamos uma única linhagem presente em Macaé. Hoje são duas, mas já foram quatro linhagens em circulação”, contou o professor Rodrigo Nunes da Fonseca, coordenador do trabalho e diretor do Nupem.
A intenção é fazer um monitoramento de linhagens do vírus, aproveitando o perfil socioeconômico de Macaé, fortemente ligado à indústria do petróleo e com intenso fluxo de pessoas de diferentes lugares do mundo. “Esse procedimento de saber quais vírus estão circulando é utilizado em países que estão controlando bem a pandemia, como a Nova Zelândia”, destacou Rodrigo. A identificação de linhagens segue uma nomenclatura padrão e fica disponível em bancos de dados na internet. “Todo mundo que sequencia vírus divulga essas informações, então você sabe quando surgiram determinadas linhagens ao longo do tempo”, detalhou.
Todos os exames passam por uma triagem feita pelos médicos da prefeitura. Com isso, o grupo consegue mapear o número de casos na cidade, a localização por bairro de cada um e ter a ficha médica do paciente testado, verificando se ele manifestou sintomas, e com qual intensidade, e se veio a falecer. “Estamos analisando essas sintomatologias para saber se existe uma correlação entre o quadro clínico e a linhagem do vírus”, disse o coordenador. Os 96 genomas foram escolhidos considerando o grau de severidade da doença nos pacientes e a distribuição espacial dos casos pela cidade.
De acordo com o pesquisador, as mutações entre as linhagens podem ter consequências para a testagem. “Se as mutações acontecem na região do RNA do vírus que utilizamos para fazer o teste, podemos ter um aumento de falsos negativos”, explicou o professor, reiterando a importância do monitoramento dos genomas. Essa é uma aplicação prática de curto prazo proporcionada pelo mapeamento. Futuramente, vacinas poderão ser ajustadas para mais eficácia contra determinadas linhagens do vírus.
Rodrigo Nunes da Fonseca celebra o trabalho conjunto dos professores do Nupem e o apoio que recebeu do Instituto de Biologia da UFRJ, especialmente dos laboratórios de Virologia Molecular e de Biodiversidade Genômica, coordenados respectivamente por Amilcar Tanuri e Cristiano Lazoski. “A dedicação e o empenho de todos mostram o apreço que todos têm pela vida e pela missão social que a universidade tem”.
O professor Cristiano Lazoski, coordenador do Laboratório de Biodiversidade Genômica, ajudou a preparar a equipe do Nupem para operar o Oxford Nanopore, equipamento utilizado na pesquisa, e a preparar as amostras para o sequenciamento. “Eu fiquei muito feliz que o equipamento tenha sido utilizado pela primeira vez em uma pesquisa dessa importância”, celebrou Cristiano, destacando que todo o processo foi feito em Macaé. “Eu queria que tudo fosse feito lá, porque a gente tem que dar apoio à universidade como um todo”, disse o professor.
Bruno Rodrigues é tecnólogo do Nupem e um dos responsáveis por estar à frente das testagens. “Eu conhecia a parte teórica, mas foram meses de estudos prévios para colocar o sequenciador em operação”, relatou Bruno. Desde a fase de testagem, a rotina de trabalho do grupo é intensa. “Chegávamos sete da manhã ao laboratório, e não era incomum saírmos de madrugada”, contou. Bruno é doutorando na UFRJ, mas em uma área diferente da Biologia. Para ele, trabalhar no combate à pandemia foi gratificante. “Eu tenho orgulho de poder ajudar a população. Essa é a ciência mais imediatista, do ponto de vista prático, que eu já pratiquei”.
O pesquisador Lupis Ribeiro faz pós-doutorado no Nupem. Por ter experiência com genomas e atuar na área de Biologia Molecular, aceitou fazer parte da equipe coordenada pelo professor Rodrigo. Lupis atua diretamente nas etapas de preparação para o sequenciamento, quando o material genético do vírus precisa ser convertido de RNA para DNA, procedimento chamado de “reação de transcrição reversa”. Para Lupis, a pesquisa também está sendo uma experiência gratificante. “É uma coisa que inspira a gente, né? Estou acostumado a fazer uma ciência um pouco mais distante da sociedade. Mas agora estou trabalhando em algo que favorece diretamente a população”, refletiu.
A junção de talentos diversos é um dos pilares do sucesso da pesquisa. “A gente conseguiu agregar nesse projeto até pessoas que nunca trabalharam com Biologia Molecular na vida”, contou o professor Jackson Menezes, responsável pela emissão dos laudos dos testes de covid-19 e integrante do grupo desde a origem. “Por trás desses testes e do sequenciamento há um trabalho de manutenção e limpeza dos laboratórios, que foi feito voluntariamente por colegas pesquisadores”, destacou. Segundo Jackson, a união da equipe foi fundamental para o sucesso do projeto: “O grupo tinha a dupla missão de prestar um serviço à sociedade e de produzir conhecimento”, pontuou ele, que também é diretor da AdUFRJ.

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