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1127WEBP5PixabayA reitoria apresentou aos diretores e decanos, na última terça-feira (5), uma portaria para regulamentar o trabalho remoto na UFRJ. De acordo com a norma, o objetivo é comprovar que o período de pandemia se constitui de efetivo exercício por parte dos professores e técnicos-administrativos, mesmo afastados fisicamente de seus locais de trabalho pelo estado de emergência. A preocupação da comunidade acadêmica é que as diretrizes conduzam a um corte de benefícios, como o auxílio-transporte. A supressão dos valores para quem está em teletrabalho já foi determinada pelo Ministério da Economia.  
A realização do trabalho remoto é indicada para todos os servidores que não estão envolvidos em atividades essenciais — como o trabalho em hospitais e laboratórios de pesquisa — e para aqueles pertencentes aos grupos de pessoas vulneráveis à Covid-19. São todos aqueles com sessenta anos ou mais de idade; imunodeficientes ou com doenças preexistentes crônicas ou graves; responsáveis pelo cuidado de uma ou mais pessoas com suspeita ou confirmação de diagnóstico de infecção por Covid e quem apresente sinais e sintomas gripais, enquanto perdurar esta condição. Também são enquadrados: servidoras gestantes ou lactantes e servidores que possuam filhos em idade escolar ou inferior e que necessitem da assistência de um dos pais. Há autodeclarações previstas para atestar algumas destas condições.
A portaria também confirma o que já estava sendo feito pelos docentes, após a suspensão do calendário acadêmico. Eles “desenvolverão remotamente ativides como planejamento, pesquisa, orientação, extensão, gestão/representação e capacitação/qualificação”.
Diretoras da AdUFRJ, as professoras Eleonora Ziller e Christine Ruta acompanharam a plenária de decanos e diretores. “Com a pandemia, temos de lidar com algo completamente novo que é o trabalho remoto. A universidade nunca quis discutir isso, que poderia ter sido regulamentado antes. O problema é consertar o avião com ele voando. É muito difícil”, afirma a presidente da associação docente, Eleonora. “E fica ainda mais complicado pois o governo responsabiliza os servidores públicos por tudo, chantageando o Congresso e a sociedade. A ameaça de tirar todos os benefícios aumenta toda a tensão”, critica.

As vítimas da Covid que homenageamos nesta edição não são números. Elas têm rostos, nomes e sobrenomes, histórias. Foram interrompidas. Em comum, a vida, os sonhos e o trabalho dedicado à universidade. Helmuth, Marcelo, Thaina e Alan não resistiram à devastação da traiçoeira doença. Deixaram familiares e amigos saudosos. E um luto em toda a instituição. Cada um, à sua maneira, contribuiu para fazer da UFRJ uma instituição de excelência. Na vida acadêmica, orgulhavam a universidade. No trabalho, ajudaram a construir a universidade que conhecemos hoje. Eram pessoas  importantes para a comunidade acadêmica e deixaram legados que não serão esquecidos.

Helmuth Gustavo Treitler

1127WEBP4AO engenheiro civil tem sua trajetória misturada à história da UFRJ. Foi contratado pelo Escritório Técnico da então Universidade do Brasil, em 1952, como um dos responsáveis pelas obras de construção da Cidade Universitária. Treitler chegou a morar durante sete anos com a família numa casa que ficava localizada onde hoje há uma cancela, próxima à atual Prefeitura Universitária, para acompanhar mais de perto as obras. Para receber correspondências, instituiu seu endereço como Avenida Brigadeiro Trompowsky s/nº, Ilha do Fundão, que foi adotado oficialmente pela universidade. Foi superintendente do CT entre 1986 e 1990. Faleceu no último domingo, dia 3.

Thaina Coelho de Lima

1127WEBP5BAos 24 anos, Thaina é uma das mais jovens vidas interrompidas pelo coronavírus na UFRJ. Era funcionária terceirizada da limpeza do CCMN e querida pelos colegas de trabalho. Ela faleceu no dia 30 de abril. Estava internada desde o dia 26.

 

Alan do Patrocínio Venancio

1127WEBP5DAlunos partindo antes de seus mestres é um sinal de que a lógica da vida está invertida. Aos 35 anos, Alan concluiria neste ano a graduação em Libras, na Faculdade de Letras. Chegou a ser internado com sintomas da Covid-19, mas não resistiu.

 

Marcelo Bispo dos Santos

1127WEBP5CCom mais de 30 anos dedicados à UFRJ, Marcelo era técnico-administrativo no IPPMG. Ele e a esposa contraíram o coronavírus e foram internados no Hospital Universitário. Apesar das tentativas de tratamento, o servidor faleceu no último dia 4.

 

1127WEBP7BO Observatório do Conhecimento se reuniu virtualmente na última terça-feira para começar a preparação da ação do 15M, que vai marcar um ano dos protestos pela educação do 15 de maio passado, a maior manifestação popular contra o governo Bolsonaro até aqui.
A reunião contou com a participação de 15 representantes de seis diferentes associações de docentes, e começou com uma avaliação da conjuntura atual, tendo em vista a crise política e a pandemia. Depois foi formado um grupo de trabalho que vai ficar responsável pela produção da campanha que vai circular pelas redes sociais na próxima semana. A ideia é que as ações do governo contra a Educação sejam relembradas, e que um tuitaço seja formado no dia 15, sexta-feira. O grupo vai ficar responsável pelo planejamento e criação do material da manifestação, que vai ser feita integralmente através das redes, respeitando o isolamento social.
 “Precisamos trabalhar para unir os setores da Educação e, quem sabe a partir daí, começar a construir um movimento mais amplo capaz de enfrentar o governo”, explicou o diretor da AdUFRJ Josué Medeiros.

O dia 15 de maio nos mostrou o caminho para combater o bolsonarismo e sua necropolítica: sólida unidade, diálogo com a população, diversidade de formas de ação, presença importante dos sindicatos, associações, entidades estudantis. É fundamental que a gente mantenha essa experiência viva!

1127WEBP7A cidadania brasileira vive o seu maior desafio desde os tristes tempos ditatoriais abertos em 1964 e radicalizados em 1968. Enfrentamos, ao mesmo tempo, um governo que pretende recuperar o projeto autoritário da Ditadura em seu viés mais radicalizado e uma pandemia global que cresce vertiginosamente, sobretudo pela própria ação do presidente genocida, que minimiza a gravidade da Covid-19 e desorganiza as ações sanitárias que poderiam minimizar as dores humanas e sociais.
As entidades educacionais, especialmente as universidades, têm feito seu papel e contribuído com a sociedade, com produção de conhecimento (destacamos a produção de respiradores de baixo custo pela UFRJ) e articulação de redes de solidariedade – além das várias doações que fizemos enquanto ADUFRJ, é preciso ressaltar as iniciativas de intervenção nas favelas e periferias para mitigar o sofrimento das pessoas mais vulneráveis.
Quando começamos nossa gestão, em outubro de 2019, afirmamos que “nunca fomos tão necessários para a defesa da vida e do nosso país. E, para garantir nossos espaços de renovação e criação de conhecimento, precisamos recorrer à defesa dos mais tradicionais pilares da universidade moderna”. Jamais imaginávamos que essa necessidade teria as dimensões que alcançou nessa pandemia.
Sempre afirmamos também que as mobilizações de 15 de maio de 2019 nos inspiram a organizar e atuar na comunidade universitária e fora dela. Naquele dia nossa associação, após uma assembleia cheia, ocupou a praça XV com uma série de atividades, aulas públicas, exposições e debates para depois irmos em peso à passeata, contribuindo para a primeira grande derrota do governo Bolsonaro e do seu nefasto ministro Weintraub.
O dia 15 de maio nos mostrou o caminho para combater o bolsonarismo e sua necropolítica: sólida unidade, diálogo com a população, diversidade de formas de ação, presença importante dos sindicatos, associações, entidades estudantis. É fundamental que a gente mantenha essa experiência viva!
Por isso estamos convocando através do Observatório do Conhecimento um 15 M virtual em defesa da educação e da vida. Trata-se de uma ação de redes nestes tempos pandêmicos que servirá tanto para recuperar a memória das mobilizações do ano passado quanto para mostrar ainda mais à sociedade os esforços que a universidade está fazendo no combate à pandemia. E, por fim, mas não menos importante, também para denunciar os ataques do governo genocida de Bolsonaro e Weintraub.
Todas e todos às redes no 15 de Maio de 2020! Em defesa da educação e da vida.

1127WEBP7AJOSUÉ MEDEIROS
Professor do departamento de Ciência Política e diretor da AdUFRJ

WEB menorP10AProfessora emérita, a economista portuguesa Maria da Conceição Tavares completou 90 anos no último dia 24. Responsável pela formação de várias gerações de economistas na UFRJ e na Unicamp, ela acumula um legado de admiração e combatividade nas formulações sobre politicas econômicas. Ex-deputada pelo PT do Rio, Maria da Conceição é homenageada no Jornal da AdUFRJ por um de seus queridos ex-alunos, o agora professor Carlos Pinkusfeld, do Instituto de Economia.

 

Eu era um aluno da Escola de Química da UFRJ e aspirante a músico. Gostava muito de política, também, como a maioria dos jovens no início dos anos 1980 na efervescência do processo de redemocratização. Não entendia muito bem quando os políticos atacavam, com grande, imprecisão, o tal “modelo econômico brasileiro”. Para mim fez-se a luz quando comecei a ver as palestras da Prof. Conceição Tavares. Ou melhor, fez-se o brilho, o riso, a provocação e a ânsia por aprender mais.

Para mim ao ver suas palestras ficou claro que era aquilo que eu queria estudar o resto da vida. E de preferência com aquela professora. Dito e feito: entrei no IEI da UFRJ e além das aulas e palestras, acabei ganhando minha orientadora de mestrado e uma amiga.

Suas aulas e seminários eram um mini show, o tempo voava. No começo, se fossem pela manhã então, a expectativa era a pior possível. Afinal ela, normalmente, chegava resmungando, com sua voz grave: “estou péssima”. Não sem razão!!

WEB menorP10Crise dos anos 1980, ascensão do neoliberalismo... Mas a “promessa” era inteiramente falsa. Minutos depois estava lá a professora, gesticulando muito, gritando, fumando desesperadamente, andando de um lado para o outro na sala... Ensinando seus queridos Kalecki, Keynes, Marx e Schumpeter, misturados com referências ao filme que tinha visto na véspera do David Byrne e que pra ela, com razão, retratavam as transformações do capitalismo norte americano pós anos 1980.

Era muita coisa junta e misturada, tudo muito divertido; mas, mais importante: fazia todo sentido. Abria a nossa cabeça para a importante ligação entre teoria e mundo real e como essas conexões podem, e devem, ser captadas com a observação atenta das diversas formas de expressões culturais.

Ter sempre um olho de economista estruturalista na vida. A honra de ser orientado pela professora foi recheada de broncas homéricas, lições inestimáveis e descobertas curiosas: como sua paixão por ficção científica.

Mesmo a ruim. Num domingo que tínhamos marcado para discutir a dissertação, tive que assistir a boa parte do terceiro filme da série original do Planeta dos Macacos, sessão regada à sua inseparável Coca Cola. Acho que fazia parte do processo educacional, ainda que ela, volta e meia, reconhecesse: “Eu sei que esse filme é muito ruim!!” Nos nossos anos de convivência pude atestar a dimensão da sua voracidade pela leitura em geral e por ficção científica em especial. Mas não se deixem enganar pelas aparências. Mesmo a ficção científica não era apenas um espaço lúdico para descanso de uma mente brilhante. Lembro-me do seu entusiasmo em discutir Blade Runner, e como antevia um futuro distópico como consequência das contradições do capitalismo e da realidade dos anos 1980. Mais uma vez, a partir de um filme de imenso sucesso popular, encontrava espaço para dar mais uma “aula”, seguindo sua permanente orientação de partir da análise das contradições sociais e da evolução das condições materiais como forma de entendimento dos processos históricos concretos. “Como ensinou o velho barbas” (sic)

Além de famosa e querida no Brasil, Conceição também era admirada fora daqui. Durante um aula no doutorado a também grande e querida Prof. Alice Amsden ficou radiante ao saber que eu havia sido orientado pela Conceição. Contou alguns “causos”, típicos da mestra, e completou: “ She is crazy. I love her. Send my warmest regards when you see her”.

Quando visitei o Brasil, numas férias de verão, transmiti o abraço da Prof. Amsden e falei, com leve arrogância: “Poxa Conceição, tem umas coisas que a gente está estudando no curso de doutorado que eu já vi no mestrado”.

Ela deu um tapinha no meu ombro e falou com certo enfado: “Claro ué, você teve mestre”.

Tive mesmo. Obrigado professora.

CARLOS PINKUSFELD BASTOS
Professor do Instituto de Economia

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