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Por Renan Fernandes

 

Dois meses após a primeira visita, a reitoria e a comunidade acadêmica dos Institutos de Filosofia e Ciências Sociais e de História marcaram nova reunião para tratar do andamento dos projetos de reformas no prédio histórico. Sem dinheiro disponível no orçamento da UFRJ, a vice-reitora Cássia Turci apresentou a proposta de utilizar recursos do Custo Indireto de Projetos (CIP), oriundos da Agência Nacional do Petróleo, via Fundação Coppetec, para financiar a reforma elétrica do edifício. O andamento dos trâmites legais para a realização das obras depende da liberação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A previsão de início dos trabalhos de recuperação da unidade é para o segundo semestre de 2024.

As verbas do CIP são de uso exclusivo para financiamento de infraestrutura de pesquisa. Para a aplicação desses recursos no IFCS, será necessário que docentes e pesquisadores da unidade elaborem um laudo provando que a situação da rede elétrica do prédio compromete a pesquisa. O professor Fernando Santoro, diretor da unidade, convocou os professores presentes na reunião a iniciarem a redação do parecer.

A reitoria trabalha com outras possibilidades de custeio. A professora Turci levantou alternativas criativas para captar os recursos necessários. “Não podemos estourar o teto do orçamento de 2023. A partir de abril, podemos usar parte do orçamento de 2024 para complementar a verba do CIP, caso seja necessário”, afirmou a vice-reitora. “Saiu um edital da FINEP que a UFRJ pode pedir R$ 25 milhões. Em geral, eles financiam a compra de equipamentos, mas existe um precedente. Como diretora, ganhei um projeto da FINEP para fazer a manta asfáltica do Bloco A do CT”, completou.

A falta de recursos no orçamento da universidade para a reformas estruturais foi ponto central no discurso da reitoria. O reitor Roberto Medronho destacou a crise financeira que a instituição atravessa desde 2017. “Temos uma situação de subfinanciamento crônica agravada nos últimos seis anos. A pandemia ajudou a deteriorar as instalações sem uso e o retorno ao presencial provocou uma sobrecarga em nossos serviços de edificações” alertou o reitor.

Os docentes da Comissão de Acompanhamento de Obras presentes no encontro cobraram mais transparência nas ações. O professor Guilherme Marcondes, do departamento de Sociologia, pediu medidas efetivas para solucionar problemas menores. “Foi estabelecido na última reunião que uma comissão de manutenção ficaria aqui por 15 dias e eles ficaram apenas um dia. Entendo a existência de processos que são maiores, com projetos, autorizações, liberação de verba, mas precisamos de obras básicas, como o conserto de paredes que estão descascando, durante o recesso”, disse Marcondes.

Santoro adiantou que há um acordo com o Escritório Técnico da Universidade (ETU) para que um engenheiro, atualmente lotado no posto avançado da Escola de Música, atue também no IFCS. “Precisamos de alguém aqui com competência técnica para dizer o que pode e o que não pode ser feito até a reforma geral. O engenheiro vai apontar intervenções pontuais que podemos fazer e vamos mobilizar recursos para a compra de material”, afirmou o diretor. A reitoria garantiu o retorno à unidade no mês de abril de 2024, a fim de rediscutir o cronograma de ações.

A professora Veronica Damasceno representou a AdUFRJ na reunião e mostrou solidariedade à comunidade acadêmica da unidade. "Sou muito solidária à causa porque a Escola de Belas Artes passou por um incêndio há sete anos e sofremos as consequências até hoje", disse a professora. "A AdUFRJ está na luta por novos recursos para a universidade ampliar o orçamento", completou

IPHAN

O prédio do Largo do São Francisco, construído no século XVIII, foi projetado para ser a Sé do Rio Janeiro, mas ao longo do tempo abrigou a Academia Militar e a Escola Politécnica. Desde 1960, sedia o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. O processo de tombamento do edifício foi iniciado em 1983 e definido em 1989.

“O emergencial é conseguir as liberações do Iphan”, avisou o professor Fernando Santoro. Há duas reformas aguardando aprovação: as intervenções de combate a incêndio e a reforma elétrica. “É importante que todas as instâncias estejam trabalhando junto para acelerar as liberações”, completou o diretor.

O custo final da reforma ainda é desconhecido. Apenas a reforma elétrica é estimada em R$ 6 milhões. O engenheiro Roberto Machado Corrêa, diretor do ETU, destacou que a reforma só poderá ser orçada após a aprovação do projeto executivo. “Nosso projeto básico já foi aprovado, mas só com a autorização de execução do projeto executivo vamos poder levantar os custos de todos os detalhes exigidos pelo Iphan”, disse Corrêa.

Conselho Universitário define datas da graduação, pós-graduação e educação básica.
Aulas começam em 18 de março para a maioria

WhatsApp Image 2023 12 19 at 16.54.57GRADUAÇÃO

Primeiro período letivo
- Para os alunos dos Cursos da Faculdade de Medicina, do Curso de Medicina (ICM), e do Curso de Enfermagem (IEnf): de 19 de fevereiro a 13 de julho;
- Para os alunos dos Cursos de Graduação em geral: de 18 de março a 20 de julho;
- Para os ingressantes de todos os cursos: de 18 de março a 20 de julho.

Segundo período letivo
- Para os alunos dos Cursos da Faculdade de Medicina, do Curso de Medicina (ICM), e do Curso de Enfermagem (IEnf): de 30 de julho a 21 de dezembro;
- Para os alunos dos Cursos de Graduação em geral: de 12 de agosto a 14 de dezembro;
- Para os ingressantes de todos os cursos: de 12 de agosto a 14 de dezembro.

Período Letivo Especial: de 06 de janeiro de 2025 a 22 de fevereiro de 2025.

COLÉGIO DE APLICAÇÃO
Primeiro período: de 06 de fevereiro a 13 de julho;
Segundo período: de 30 de julho a 20 de dezembro.

PÓS-GRADUAÇÃO

Regime semestral
Primeiro período: de 11 de março a 20 de julho;
Segundo período: de 12 de agosto a 14 de dezembro.

Regime bimestral
Primeiro período: de 11 de março a 18 de maio;
Segundo período: de 27 de maio a 27 de julho;
Terceiro período: de 12 de agosto a 11 de outubro;
Quarto período: de 21 de outubro a 14 de dezembro.

Regime trimestral
Primeiro período: de 11 de março a 15 de junho;
 Segundo período: de 24 de junho a 14 de setembro;
Terceiro período: de 23 de setembro a 14 de dezembro;
Quarto período: de 02 de janeiro de 2025 a 28 de março de 2025.

Para Residências
 Período letivo único: de 11 de março de 2024 a 28 de fevereiro de 2025

fachada PVFoto: Arquivo AdUFRJA UFRJ recebeu 27 emendas parlamentares durante a tramitação do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) no Congresso Nacional. São duas emendas de bancada e 25 individuais. Se aprovadas, a universidade conquistará recursos extras da ordem de R$ 125,86 milhões. Esse valor corresponde a um terço de todo o orçamento da instituição para 2024 e representará um importante fôlego para a universidade.
A AdUFRJ, o Observatório do Conhecimento e a reitoria da UFRJ, com sua Coordenação de Relações Externas, foram atores fundamentais na conquista das emendas e diretamente responsáveis pelo aporte de R$ 50 milhões. “Em 28 de novembro tivemos uma audiência com o coordenador da bancada parlamentar do Rio de Janeiro no Congresso, deputado Áureo Ribeiro”, lembra a professora Mayra Goulart, presidenta da AdUFRJ e coordenadora do Observatório. “Apresentamos para ele a difícil situação da UFRJ em termos de infraestrutura. Nossa intenção era sensibilizar a bancada do Rio a fim de pressionarmos o governo por um plano de recuperação das instalações da nossa universidade”, explica a docente.
O valor já vinha sendo pleiteado pela reitoria da UFRJ, conta Mayra. “Recebemos a confirmação que a emenda consta no sistema da Comissão Mista de Orçamento”, comemora. “Essa conquista reforça que temos que agir juntos para garantir melhores condições para a nossa universidade”, afirma. “A aposta no trabalho de advocacy do Observatório tem se mostrado um acerto. Com ele, conquistamos confiança, credibilidade e reconhecimento no Congresso”, conclui Mayra.
Uma das emendas de maior vulto foi conseguida pela Coppe, no valor de R$ 61,27 milhões. A bancada do Rio de Janeiro direcionou esses recursos para os estudos para a implantação da Linha 3 do metrô, que ligará os municípios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí.

Educação fortalecida
Além dos recursos destinados individualmente à UFRJ e a outras instituições, as universidades federais do Rio receberão mais um aporte de R$ 205 milhões, encaminhados pela bancada do Rio de Janeiro ao Ministério da Educação para redistribuição.
Na quinta-feira (14), a Comissão Mista de Orçamento concluiu a votação dos 16 relatórios setoriais do Orçamento de 2024. Agora, a expectativa é que o plenário do Congresso vote o relatório final no dia 21, próxima quinta-feira.

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Apesar das ótimas notícias, as emendas parlamentares não resolvem um gargalo: o orçamento de custeio das universidades. Isto porque boa parte dos recursos tem destinação específica e não pode ser remanejada. “É preciso frisar que a reitoria e todas as unidades estão de parabéns pela conquista das emendas. É um valor muito superior ao recebido nos anos anteriores”, afirma o professor Carlos Frederico Leão Rocha, diretor do Instituto de Economia. “A parte negativa é que muitos dos projetos apoiados preveem novas instalações, o que causa mais gasto de manutenção para a universidade. Outro ponto é que as emendas não resolvem o problema de custeio”, afirma. “De todo modo, é preciso celebrar. É um valor muito importante para a universidade”.

WhatsApp Image 2023 12 19 at 16.56.41Pró-reitor de Finanças - Foto: Fernando SouzaA UFRJ começará 2024 com R$ 152 milhões a menos do que precisaria para o funcionamento adequado das atividades, sem nenhuma expansão. Seriam necessários R$ 540 milhões, mas a proposta do governo, em tramitação no Congresso Nacional, reserva apenas R$ 388,3 milhões para a maior federal do país.
Como se não bastasse, a instituição levará para o próximo exercício todas as despesas não honradas em 2023. A reitoria já trabalha com a possibilidade de uma moratória parcial do atual déficit de R$ 230 milhões. “Não sabemos como, mas não pagaremos”, afirmou o pró-reitor de Finanças, professor Helios Malebranche, ao Consuni do dia 14.“Nós não cabemos neste orçamento. O ano de 2024 será um ano muito pior que 2023”, completou.
Tentando minimizar os prejuízos deste futuro muito próximo, o reitor Roberto Medronho solicitou uma emenda de R$ 50 milhões para a UFRJ, com apoio da AdUFRJ, junto à bancada federal do Rio. A proposta foi acatada, mas não como emenda impositiva, que seria obrigatória. “Ainda vai depender de negociação para ser liberada ou não”.
Toda ajuda será bem-vinda. Uma alternativa em estudo é a possível alienação dos 11 andares que a UFRJ possui no edifício Ventura, no Centro do Rio. Hoje, a instituição gasta R$ 5 milhões com o condomínio daquele espaço por ano. A estimativa do BNDES éque o negócio poderá render R$ 285 milhões. Mas, em vez do dinheiro, o comprador pagaria o valor equivalente em obras e reformas na universidade.

MÚLTIPLAS DEMANDAS
Hoje, as verbas são poucas e as necessidades são muitas. O diretor do IFCS, professor Fernando Santoro, apresentou ao Consuni um pleito de R$ 6 milhões para a reforma elétrica do histórico prédio do Largo de São Francisco. “O projeto está pronto. Precisamos de uma aprovação do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que deve ser resolvida este mês”.WhatsApp Image 2023 12 19 at 17.00.12
Representante dos pós-graduandos, Natália Trindade criticou a ausência de recursos para apoio aos mestrandos e doutorandos. Neste ano, a UFRJ não conseguiu gastar, mas ao menos havia previsto R$ 1 milhão para a rubrica no orçamento. “Nós ainda não somos contemplados pelo PNAES”, lembrou. Hoje o programa nacional de assistência estudantil é restrito aos graduandos. A reitoria acatou a solicitação de incluir a mesma verba no orçamento de 2024, mas sem garantir a despesa.
Por falar em PNAES, o programa ganhou aumento de R$ 8,63 milhões (16,43%), de R$ 52,5 milhões para R$ 61,2 milhões. Mas tudo leva a crer que o montante continuará insuficiente para atender milhares de estudantes de baixa renda da UFRJ. “A nova lei de cotas implica em aumento de gastos do PNAES, porque ela abaixa a cota de renda de 1,5 salário mínimo para 1 (renda familiar per capita) e possibilita que alunos pré-inscritos para cota de renda ocupem vagas da ampla concorrência”, informou o pró-reitor de Politicas de Assistência Estudantil, professor Eduardo Mach. “Isso quer dizer que vai aumentar o número de alunos de zero a 0,5 salário mínimo que têm direito automático ao auxílio-permanência. A gente não consegue prever quanto. Isso preocupa muito”.
As dificuldades estão espalhadas por todos os espaços da universidade. “Gerir um Centro a 200 quilômetros da sede com cursos de complexidade da área da Saúde mais as Engenharias é muito difícil com o orçamento participativo que temos hoje”, disse o decano do Centro Multidisciplinar da UFRJ-Macaé, professor Irnak Barbosa, em referência aos recursos que as decanias e unidades dispõem para o pagamento de pequenos serviços e compra de materiais de consumo. O Centro de Macaé só recebeu R$ 358 mil em 2023.

ORÇAMENTO PARTICIPATIVO
Os conselheiros e a própria reitoria deixaram para o início do próximo ano a discussão do orçamento participativo de 2024. A reitoria estuda uma mudança dos critérios de divisão dos recursos, mas a primeira proposta apresentada não agradou ao colegiado.
“Como este orçamento só começa a chegar em março, teremos condições de discutir qual o melhor desenho em algumas sessões de fevereiro e março”, anunciou o reitor Roberto Medronho.

FALTAM SUBSTITUTOS

Além do orçamento reduzido, a falta de professores é outra preocupação para 2024. Algumas unidades solicitaram ao Consuni a contratação de substitutos para iniciar o próximo semestre letivo. “Na Faculdade Nacional de Direito, temos uma grande tensão pela falta de 16 professores substitutos, o que acarreta o impacto de aproximadamente 1,8 mil alunos sem aula”, afirmou o professor Carlos Bolonha, diretor da FND.
Os pedidos ao Consuni são recursos à distribuição já realizada pelo Conselho de Ensino de Graduação. O CEG recebeu 933 pedidos de professor substituto, mas a universidade só pode disponibilizar 757 vagas. O CEG deferiu 720 solicitações e foram reservadas 37 vagas para emergências— falecimentos, acidentes ou gravidez, por exemplo — ao longo do próximo ano.
Com a sessão do dia 14 encerrada por falta de quórum, o Consuni debaterá os recursos em reunião extraordinária, na próxima semana. A professora Georgia Atella, representante da pró-reitoria de Graduação, explicou à reportagem que a concessão de mais vagas diminuirá esta reserva técnica e poderá prejudicar o atendimento dos pleitos emergenciais em 2024.

WhatsApp Image 2023 12 11 at 20.34.29 2Fotos: Fernando SouzaAlexander W. A. Kellner
Diretor do Museu Nacional/UFRJ

Ingressei no Museu Nacional/UFRJ em 21 de agosto de 1997 e acabo de completar 26 anos nessa instituição bicentenária. Na realidade, como talvez alguns possam imaginar, pensei em escrever esse texto no ano passado, mas simplesmente fui atropelado pelo trabalho e pela vida...
Quando passei no concurso, não conseguia esconder minha felicidade! Como já disse diversas vezes, a instituição que mais me encantava para trabalhar no Brasil era justamente o primeiro museu fundado no país. Muitos eram os sonhos, mesmo consciente dos enormes desafios que a instituição enfrentava. Na minha avaliação, a solução para uma melhoria das condições do Museu estava diretamente relacionada a um trabalho intenso na sua marca, algo que não estava sendo feito de forma efetiva. A meu ver, não seria possível que a sociedade, sabendo da importância da instituição, não procurasse ajudar a resolver as questões prementes de infraestrutura. E era necessário mostrar as condições precárias juntamente com o enorme potencial deste que é o maior museu de história natural e antropologia da América do Sul.
Aqueles primeiros meses não foram tão fáceis. Eu tinha voltado dos Estados Unidos, tendo realizado o doutorado em Nova Iorque, na Columbia University que mantinha um programa de pós com o American Museum of Natural History. Havia passado cinco anos em um escritório destinado aos estudantes que tinha vista para o Central Park. Sei que parecerá difícil acreditar, mas eu tinha à minha disposição recursos para desenvolver qualquer pesquisa na minha área (paleontologia), desde que justificasse e produzisse resultados (em tempo, foi ali que, ainda aluno de doutorado, publiquei o meu primeiro paper na Nature).
A realidade no Museu Nacional me trouxe algum choque. Para começar, o meu escritório, compartilhado com outros, ficava em um ambiente “dominado” por gatos, com todos os ônus (e sem muitos bônus) que se pode imaginar... Importante frisar que, na época, fui muito bem acolhido pelos meus colegas de setor, talvez já acostumados e ambientados com aquela situação, que era estranha para mim. Depois de algum tempo, chegamos a um acordo, limpamos e reformamos o Setor de Paleovertebrados, com divisões minimamente decentes e um (micro!) espaço para alunos.
Ainda no início, houve a minha primeira experiência com o perigo de um incêndio. Estava em meu escritório e uma gritaria fez com que eu fosse para a área de coleção: fumaça saindo de uma daquelas lâmpadas fluorescentes! Felizmente, ela parou logo, sem nenhuma intervenção. No dia seguinte, o administrador da época explicou, para um “novato desconfiado”, que não havia risco real e que era normal que essas lâmpadas, quando queimavam, soltassem aquela fumaça...WhatsApp Image 2023 12 11 at 20.34.29 3
Não me perguntem o porquê, mas, mal havia chegado, fui convidado para me tornar chefe do departamento de Geologia e Paleontologia (DGP). Quem me incentivou — e fez a campanha — foi a minha querida amiga Beth Zucolotto. Nessa época também veio a oportunidade de fazer uma exposição — uma longa história... Depois de idas e vindas, No Tempo dos Dinossauros abriu na quinta-feira, 10 de junho de 1999, alguns dias depois do aniversário de 181 anos da instituição, se transformando em um sucesso instantâneo! Filas no parque da Quinta da Boa Vista! Foi a mostra de paleontologia de maior sucesso realizada até aquela data. Juntava a marca Museu Nacional/UFRJ com ações na mídia (não havia mídias sociais naqueles anos) graças ao assessor de imprensa, o querido Pedrosa. Ele foi levado para o Museu pela colega Simone Mesquita (uma lutadora, sempre procurando modernizar a instituição), que convenceu o melhor diretor do Museu das últimas décadas, Prof. Luiz Fernando Dias Duarte (que, entre outras conquistas, batalhou a verba para essa exposição e outras iniciativas com a PETROBRAS, e, também, foi quem trouxe a fundação VITAE de volta para o Museu), da necessidade de ter um canal mais direto com a sociedade através da mídia! Óbvio? Não para a instituição até aquele tempo. Essa exposição também possibilitou a montagem de uma réplica do primeiro dinossauro brasileiro — Staurikosaurus pricei — um trabalho de Helder de Paula Silva, um preparador de mão cheia que fez escola na preparação de fósseis a nível nacional. Outro destaque que veio com a exposição foi o talentoso Maurílio Oliveira — grande artista que, de certa forma, pode ser considerado uma espécie de “pai da paleoarte brasileira”! A arte de Maurílio foi fundamental para o sucesso da exposição. E tantos outros trabalharam muito para aquela iniciativa!
Entre os resultados, tivemos verba para instalar um laboratório de preparação de vertebrados fósseis (a sala habitada por dois morcegos que eu havia batizado de Minnie e Mickey) e reformar a área de coleções. Saíram armários infestados de cupins e entraram os primeiros arquivos deslizantes modernos — hoje comuns. Acredito que essa iniciativa modificou a paleontologia no Brasil, uma vez que despertou o interesse da imprensa pela pesquisa de fósseis, que se expandiu para as pesquisas realizadas por paleontólogos em outros estados brasileiros. E para o Museu, uma dotação orçamentária mais expressiva. Uma verdadeira revolução em diferentes campos!
Logo depois da abertura dessa mostra, muitos colegas vieram conversar comigo se eu não queria me candidatar para a direção do Museu. Até mesmo o diretor Luiz Fernando havia comentado em uma ocasião que seria algo em que eu deveria pensar. No entanto, por mais que muitos imaginassem que eu nutria essa ambição, sempre me esquivei da ideia. Vim da experiência da iniciativa privada, havia passado pelos Estados Unidos, onde direitos e deveres são conceitos bem definidos, e estava iniciando no serviço público, um ambiente muito diferente. Não ia dar certo. Ademais, era muito jovem, e queria desenvolver a minha carreira.
Até que, na reunião magna da Academia Brasileira de Ciências (na qual ingressei em 1996 como Membro Correspondente e em 2003, como Membro Titular), realizada em 06 de maio de 2015, após uma palestra sobre o Museu, acadêmicos me perguntaram o que poderia ser resumido assim: o que você está fazendo pelo Museu Nacional? Por mais que me esquivasse e desse as já tradicionais explicações (ministrar aulas, orientar alunos, realizar pesquisa e proferir palestras críticas sobre a situação do Museu), eles me convenceram a pelo menos pensar no assunto da direção.
Depois de algum tempo (não sou muito impulsivo para uma tomada de decisões de grande impacto pessoal e costumo analisar prós e contras), resolvi me preparar para uma candidatura que ocorreu em 2017. Antes da primeira apresentação pública (uma longa história) que acabei fazendo para técnicos-administrativos em educação, um deles, que torcia pelo sucesso da candidatura, me aconselhou a não falar em mudanças, pois as pessoas são refratárias a transformações, mesmo ele sabendo que eu iria mudar muita coisa. Não pude seguir esse conselho: na minha apresentação, improvisada, deixei claro para todos que precisaríamos mudar a maneira com a qual nos relacionávamos com a sociedade! Isso teria que passar por questões internas, caso contrário, uma candidatura como a minha não valeria a pena para ninguém: nem para o eleitorado e nem para o candidato. Na época, eu previ que iria haver uma segunda chapa, com perfil mais ameno e que não iria mudar muita coisa. Houve. E o resultado da eleição: com 63,72% (contra 32,24% da outra chapa; 0,12% brancos; 3.92% nulos) a chapa “Para além dos 200 anos – revitalizando o Museu Nacional” venceu a consulta. A instituição ansiava por mudanças — isto bem antes da tragédia (ao contrário da afirmação de alguns)!
Logo no início, muitas transformações — demais para listar aqui (sim, estou escrevendo um livro a respeito): organização administrativa, incluindo a instituição de uma chefia de gabinete; início de um plano museológico; fortalecimento do setor de museologia com foco nas exposições — uma das maneiras de diálogo com a sociedade; funções gratificadas — mais raras na instituição do que os fósseis que pesquiso; cursos teóricos e práticos ministrados pela Defesa Civil para medidas preventivas e primeiras ações no caso de incêndio (mais de 90 foram treinados); abertura para segmentos da sociedade, mostrando o potencial de uma parceria com o Museu; contatos com o entorno; dedicação integral para a viabilização do projeto do BNDES — que já tramitava, morosamente, por alguns anos; e muito mais! Até mesmo o antigo gabinete do diretor foi reaberto, mostrando a realidade da instituição: grandeza, refletida pela imponência da sala e do mobiliário, com problemas, retratados pelas paredes descascadas por conta das infiltrações. Era necessário tratar dos problemas e havia a necessidade de envolver a sociedade.
A posse festiva da nova diretoria ocorreu na sexta-feira, 13 de abril de 2018, ilustrando bem que a instituição navegava por novos rumos: mais de 300 (!) pessoas em um auditório e salas anexas lotados, com, além de membros de diversas unidades da UFRJ, representantes da sociedade civil: empresários, políticos e representantes de governos estrangeiros! E muitas pessoas de bem, entusiasmadas com as mudanças em curso.
Então houve a festa dos 200 anos do Museu. Foi grandiosa, apesar da marcada ausência de ministros de Estado, ilustrando o contínuo descaso com o primeiro museu do Brasil! Um dia antes, 5 de junho, houve, finalmente, a assinatura do contrato com o BNDES, que traria o financiamento para dias melhores. E a abertura de uma exposição patrocinada pela PETROBRAS!
Tudo ia bem, até o início da noite do domingo de 2 de setembro de 2018, quando o maior pesadelo da instituição se concretizou. Menos de sete meses da posse... Pessoalmente defendo que essa data entre para o calendário nacional como um dia para a reflexão sobre a necessidade de proteção do patrimônio científico e cultural.
Desde então, o mundo para o corpo social do Museu mudou. Momentos de muita frustração, aliadas a demonstrações de muita solidariedade! A imagem do abraço dado ao palácio no dia seguinte pelo corpo social que envolveu estudantes das escolas públicas do entorno jamais deixará de emocionar... Como também deve ser vista com muito respeito e admiração a resiliência dos servidores da instituição: muitos não se deixaram abater, transformaram o luto em luta e poucos dias depois da tragédia surgiu o mote: O Museu Nacional VIVE!
Este mote se tornou o Projeto Museu Nacional Vive (https://museunacionalvive.org.br/), que está a frente da reconstrução principalmente do palácio e da biblioteca central. Nestes cinco anos, houve avanços: temos um terreno de 43.400 m² onde se projeta o futuro e esperança da instituição, pois ali serão construídos os novos laboratórios e edificações para abrigar as coleções! Nunca é demais enfatizar a necessidade de apoiar a pesquisa que é o grande diferencial deste museu para muitos outros. Também estão planejadas edificações contendo as salas de aula em um parque no qual o público poderá passar algumas horas e se inteirar um pouco sobre a atividade de pesquisa do Museu.
Como pode ser imaginado, nem tudo são flores... As dificuldades ainda são muitas e o governo que passou não facilitou em nada a reconstrução. Até mesmo acusações de que a direção fazia parte de um partido político e que estava construindo no lugar do palácio um Shopping Center com apoio da UNESCO — uma verdadeira aberração — foi difundido. E o pior: esse absurdo “colou’, atrasando em muito o projeto.
Porém, com o início deste ano, no qual estou há um quarto de século na instituição, a esperança voltou! Recebemos um apoio fundamental do Excelentíssimo Sr. Camilo Santana, Ministro da Educação, que trouxe o Presidente Lula para o Museu! E com o novo governo veio a promessa em auxiliar o Museu para que este reabra as portas em abril de 2026! Não será fácil e ainda há muito que fazer. Nem sempre encontramos o apoio que poderia nos ser dado, inclusive por unidades da própria universidade, seguindo (infelizmente) à risca o provérbio: ‘Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão’. Não existe possibilidade em declinar do apoio da iniciativa privada para evitar o estado de sucateamento das universidades. Também há que se pensar em maneiras diferentes para financiamentos, particularmente na questão da reconstrução de Museu Nacional/UFRJ, que requer uma quantidade de fundos considerável, inclusive para a sua manutenção. Teremos que ter mais apoio tanto do governo federal e da sociedade, incluindo o empresariado. Mas, olhando para os últimos cinco anos, tenho a percepção de que estamos na direção certa! Isso graças à UFRJ e aos parceiros como BNDES, UNESCO, Instituto Cultural Vale, Bradesco, governo da Alemanha e o governo brasileiro que, sobretudo através do MEC, tem nos permitido sonhar!

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