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A UFRJ divulga na próxima quarta-feira (31) o edital para o preenchimento de 289 vagas docentes. Será a primeira vez que um concurso vai aplicar, de forma integral, as regras estabelecidas pelo Conselho Universitário em 2020 para efetivar as cotas para negros (20%) e para pessoas com deficiência (5%).
“Isso deve nos levar ao que mais queremos: uma universidade mais diversa no corpo dos seus servidores, da mesma forma que já tem sido alcançado entre os estudantes com as ações afirmativas”, diz a reitora em exercício, professora Cássia Turci.
Antes de 2020, as políticas afirmativas praticamente não eram aplicadas nas contratações de professores para a UFRJ. Criada em 2014, a lei que reserva vagas aos negros em concursos públicos prescreve que a ação afirmativa só existe onde há disputa por três vagas ou mais. No caso das pessoas com deficiência, a legislação aponta a obrigatoriedade da cota em concursos com cinco vagas ou mais. Mas, na UFRJ, o cálculo era feito em cada local — e raramente um departamento oferecia mais de três oportunidades por edital.
No concurso de 2022, houve um avanço: a conta passou a ser feita sobre o número total de vagas de um edital, com sorteio das vagas destinadas às cotas entre todas as unidades contempladas. Mas havia risco de desequilíbrio, com as vagas podendo ser distribuídas em locais onde já trabalhavam mais docentes negros ou pessoas com deficiência.
E é exatamente essa a novidade a partir de agora. A distribuição das vagas de ação afirmativa passa a considerar um ranqueamento entre as unidades, priorizando as unidades acadêmicas ou departamentos com a menor proporção de docentes negros e pessoas com deficiência.Uma classificação que só se tornou possível graças à criação de um painel estatístico lançado pela pró-reitoria de Pessoal (PR-4) no início de dezembro — a nova ferramenta, noticiada no Jornal da AdUFRJ nº 1.301, possibilita conhecer os mais variados dados de professores e técnicos da universidade. Na ocasião, quase 80% dos docentes em atividade se declaravam brancos.
O novo sistema auxilia a modificar este cenário. “Este Painel tem nos ajudado a conhecer melhor a UFRJ e a tratar de forma mais justa a distribuição de servidores, não apenas dos docentes, mas também dos servidores técnico-administrativos em educação”, afirma Cássia.
Exemplo: o Instituto de Geociências apresenta a menor proporção de docentes negros entre as unidades do atual edital (4,05%). Com 74 professores no total, deveria ter, no mínimo, 15 docentes negros. Mas só três se declararam pretos ou pardos. O percentual faltante para alcançar o número mínimo é de 15,95%. Esse índice, somado com o estabelecido em lei (20%), é multiplicado pelo número de vagas a que teve direito (6 x 35,95%) e, assim, o IGEO terá duas delas reservadas para as cotas.
Quer dizer, teria. O instituto ficou com três cotas graças a um segundo dispositivo para garantir a aplicação mínima das ações afirmativas em cada edital. Considerando o total de vagas ofertadas (289), 58 (ou 20%) devem ser reservadas para negros. Seguindo o cálculo anterior, apenas 54 seriam distribuídas. Das quatro restantes, o IGEO ganhou mais uma cota pela ordem de prioridade (veja a distribuição por unidade no quadro).
O saldo de quatro vagas se explica por que nem todas as unidades da UFRJ ganharam vagas no atual concurso e, entre as que ganharam, há aquelas com percentual superior a 20%. Última no ranking, por exemplo, a Escola de Serviço Social tem 32,73% de docentes negros ou pardos e não vai oferecer cota por este critério.
Como a pró-reitoria de Pessoal não possui os dados de etnia por departamento, um sorteio público ainda foi realizado para definir a setorização das três cotas entre as seis vagas do instituto. O mesmo procedimento se repetiu para as demais unidades.

COTAS PARA PCD
Para as 15 vagas (5% das 289 oferecidas) reservadas às pessoas com deficiência, 27 unidades seriam elegíveis ao sorteio. Mas as unidades com apenas uma vaga alocada ficaram automaticamente com a cota. (veja a distribuição no quadro)
Todas as 27 ficaram empatadas por não ter nenhuma pessoa com deficiência no quadro docente. E apenas o Instituto de Macromoléculas, o Instituto de Pesquisas de Produtos Naturais (IPPN) e o Instituto de Psiquiatria apresentaram índices iguais ou superiores aos 5% mínimos estabelecidos em lei para o atual edital.
Com a universidade enfrentando escassez de pessoal e como os concursos demoram até o cumprimento de todas as etapas, o professor Habib Montoya, do Centro Multidisciplinar de Macaé e coordenador da comissão executiva e deliberativa de concursos públicos, recomenda agilidade de todos os setores. “Os concursos são organizados e executados pelos departamentos ou instâncias equivalentes. E somente após a etapa de homologação das inscrições, será definido o cronograma específico do concurso”, informa. “Dessa maneira, quanto mais cedo o departamento ou instância equivalente se organizar, mais cedo os candidatos aprovados (se houver) poderão tomar posse”.
Habib ressalta que as normas da resolução de 2020 referentes às ações afirmativas foram discutidas, antes de seu ingresso na comissão, com representantes do Coletivo Negro da UFRJ, da DIRAC – Divisão de Acessibilidade, da Pró-Reitoria de Pessoal, do gabinete da reitoria, da Comissão de Legislação e Normas do Consuni e da Procuradoria Federal da UFRJ, ouvidas demandas do Ministério Público Federal.
Mas o que acontece se não houver candidatos cotistas (ou mesmo aprovados) para as vagas destinadas às ações afirmativas? O professor Habib esclarece que, de acordo com a legislação vigente, elas se transformarão automaticamente em vagas de ampla concorrência. “As vagas de ações afirmativas não restringem os candidatos que podem se inscrever. A única diferença é que, na classificação, serão considerados primeiramente os candidatos de ações afirmativas aprovados, e logo em seguida, os candidatos não cotistas aprovados até o limite previsto na legislação vigente sobre o numero máximo de aprovados”. No caso de setorização com uma vaga, o máximo corresponde a cinco aprovados, por exemplo.
“A UFRJ está se empenhando em ser mais inclusiva no acesso ao magistério superior, o que possibilitará ocupar as unidades acadêmicas com pessoas negras e PCD de forma equalizada”, afirma Habib. “Isso permitirá que os docentes oriundos dessas opções de acesso ganhem mais voz, mais espaço de defesa e mais influência em cada unidade da UFRJ”, completa.

 

COTAS PARA NEGROS
(58 vagas)

Duque de Caxias (2);
Farmácia (1); Psiquiatria (1); Medicina (4); Odontologia (1); Biofísica (2); Biologia (2); Bioquímica Médica (1); ICB (1); IESC (1); Microbiologia (1); Nutrição (1); Coppead (3); FACC (1); FND (1);
Economia (3); Computação (2); Física (3); Geociências (3); Valongo (1); ECO (3); IFCS (1); Psicologia (2); EBA (2); Música (1); FAU (2);
Letras (2); Coppe (4); Escola de Química (1); Poli (4);
Museu Nacional (1).

COTAS PARA PCD
(15 vagas)

CENABIO (1); EEFD (1); Odontologia (1); Biologia (1); IESC (1); Nupem (1); FND (1); IPPUR (1); Física (1);
Matemática (1); Serviço
Social (1); Filosofia (1);
Psicologia (1); FAU (1);
Coppe (1).

Diferentes trajetórias e um sonho em comum finalmente realizado: ser professor da UFRJ. Cinco docentes empossados nos primeiros dias de 2024 falaram ao Jornal da AdUFRJ sobre suas trajetórias acadêmicas e expectativas para a carreira que acabam de iniciar.
Janaína Ferreira veio do Sul do país para reforçar o quadro da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis e ainda está se acostumando à cidade e aos problemas da universidade. No dia da posse, o sistema da UFRJ caiu. “No entanto, isso não diminuiu em nada a minha emoção e felicidade de iniciar a carreira “, afirma.
Andréa Parente, por sua vez, fez toda sua formação na Escola de Química, desde a graduação. Sua primeira experiência em sala de aula, como professora substituta, também aconteceu na unidade. “Faz muito sentido estar neste lugar e continuar o ciclo”, diz. “Acho que uma vez em sala de aula, a gente não larga mais”, brinca.
A ansiedade para dar as primeiras aulas como efetivo é uma sensação que todos parecem compartilhar. “Estou bastante ansioso e animado para o começo das aulas”, reforça Bóris Maia, da Faculdade de Educação. “A UFRJ sempre foi uma universidade de referência não só para mim, mas para o país inteiro”, completa.
O prestígio da maior federal do país é geral. “A posse significou a concretização de um antigo sonho, que é a possibilidade de atuar profissionalmente em uma universidade pública de reconhecida qualidade”, informa Tadeu Morato, do Instituto de Relações Internacionais e Defesa.
A possibilidade de retribuir para outras pessoas a formação recebida no ensino público é o que motiva Talis Uelisson, do Instituto de Química, que resume em uma frase o depoimento de todos os colegas. “Agora tenho o emprego dos meus sonhos”.

 

WhatsApp Image 2024 01 26 at 13.25.37 3Sou engenharia química formada pela Escola de Química, em 2011, onde também fiz mestrado e doutorado, de 2012 a 2019. É uma situação de volta para casa, no melhor sentido. Faz muito sentido estar neste lugar e continuar o ciclo.
Fui professora substituta na UFRJ, de 2014 a 2016. A primeira experiência em sala de aula marca muito a gente. Eu me lembro da empolgação e do nervosismo. E da sensação de gostar disso. Acho que uma vez em sala de aula, a gente não larga mais. Neste semestre, vou dar matéria sobre controle de processos para alunos do fim do curso e também vou dar metodologia científica, para os calouros. Será muito legal dar matéria para os dois “cenários”: o de pessoas entrando e o de gente já se formando.
Na pesquisa, vou seguir estudando o uso de inteligência artificial na detecção e predição de falhas em processos químicos. Por acaso, a IA está numa onda agora, mas já pesquiso isso há quase dez anos, desde o doutorado. Se a gente consegue fazer isso, a gente evita dano ao meio ambiente, perda econômica e perda de tempo.
A extensão é algo que estou mais curiosa para fazer. Tenho uma inspiração do pós-doutorado que fiz na PUC, onde havia um projeto de ensinar linguagem de programação Python para adolescentes da Rocinha. Será que a gente na UFRJ, perto da Maré, consegue fazer algo semelhante?

ANDRÉA PARENTE
Escola de Química

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Cursei Ciências Sociais na UFF, de 2008 a 2011. Fiz mestrado e doutorado também na UFF, em Antropologia, de 2012 a 2019. E, desde a graduação, comecei a estudar o campo da educação dentro da perspectiva das ciências sociais e, particularmente, da Antropologia.
No pós-doutorado, desenvolvi e participei de projetos que investigam a relação entre escola e violência, especialmente em escolas públicas do Rio de Janeiro, que são meu foco. Quais são os conflitos mais recorrentes? Como são administrados? Do ponto de vista da pesquisa, esse é um campo que considero muito importante para pensar a educação no Brasil. A situação aflige os professores e os estudantes e ganhou expressão mais dramática com os recentes atentados nas escolas. Precisamos ter políticas públicas atentas a esses fenômenos.
Neste semestre, darei três disciplinas: duas de fundamentos sociológicos da educação e educação e trabalho, na Praia Vermelha e no Fundão. Ainda na UFF, fui professor substituto durante a pandemia, mas apenas no remoto. Por isso, estou bastante ansioso e animado para o começo das aulas.
Espero que dê tudo certo. A UFRJ sempre foi uma universidade de referência não só para mim, mas para o país inteiro. Conheço vários professores da casa e já participei de muitos eventos aqui. É um momento de alegria muito grande.

BÓRIS MAIA
Faculdade de Educação

 

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Fiz toda a graduação e pós-graduação na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Minha trajetória acadêmica começa quando percebo que minha vida profissional não seria em escritórios ou empresas, mas vinculada à educação. É onde me sinto acolhida e onde consigo transmitir meus conhecimentos e habilidades de modo mais completo e significativo.
Minha primeira experiência profissional na educação foi como professora substituta na UFSC em 2018 e, depois, na Universidade Positivo, em Curitiba, em 2020. No ano seguinte, trabalhei como colaboradora na Universidade Estadual do Paraná, em Campo Mourão. Como atuei em vários lugares, com culturas e pessoas diferentes, tive que aprender a me adaptar. Depois dessa jornada de aprendizado, acho que a UFRJ veio para mim como um presente.
Vou lecionar sobre análise econômica financeira e aspectos contábeis de instituições financeiras no período da noite, no campus Fundão. Na pesquisa, minha área é contabilidade financeira, e como assumi o concurso na parte de instituições financeiras e seguradoras, pretendo me aprofundar neste tema.
Estou no Rio há uma semana. Estou adorando a cultura. As pessoas são muito calorosas. A parte ruim é que é tudo mais caro e estou apavorada com o calor (risos). Me orgulha muito fazer parte de uma instituição de excelência como a UFRJ.

JANAÍNA FERREIRA
FACC

  

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Grande parte da minha formação ocorreu em São Paulo. No final do doutorado, devido a questões familiares e ao desejo de focar na carreira acadêmica, acabei me mudando para o Rio de Janeiro. Assim que cheguei, em 2018, consegui atuar como professor colaborador na graduação de Relações Internacionais da UFF. No ano seguinte, recebi uma bolsa de pós-doutorado da Capes para desenvolver uma pesquisa sobre as Forças Armadas brasileiras em processos contemporâneos de estabilização/pacificação, como forma de identificar e problematizar possíveis sinergias entre a segurança pública, defesa nacional e segurança internacional. Com a minha entrada na UFRJ, pretendo não apenas aprofundar minhas pesquisas nessa mesma temática, como também analisar outros processos de pacificação para além da experiência brasileira. Além das disciplinas que irei lecionar (já me atribuíram duas obrigatórias), gostaria de estruturar um projeto de extensão de educação e divulgação científica a respeito de temas centrais para as graduações vinculadas ao IRID (Relações Internacionais e DGEI — Defesa e Gestão Estratégica Internacional). Estou extremamente animado para iniciar minhas atividades. A posse significou a concretização de um antigo sonho, que é a possibilidade de atuar profissionalmente em uma universidade pública de reconhecida qualidade.

TADEU MORATO MACIEL
Instituto de Relações Internacionais e Defesa

  

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Não esperava ser professor da UFRJ, mas, de alguma forma, a vida sempre me trouxe para cá. Fiz curso técnico no Instituto Federal do Rio de Janeiro, em Nilópolis, minha cidade natal e onde continuo morando, mas estagiei e trabalhei no Ladetec (Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico), no Fundão, de 2008 a 2010. Em 2012, ingressei na Licenciatura em Química do IFRJ, em Nilópolis novamente, mas depois fiz mestrado e doutorado aqui no Instituto de Química, de 2016 a 2022. Já de 2021 a 2023, fui substituto na Rural, o que consolidou minha vontade de ser professor. Agora tenho o emprego dos meus sonhos.
Na pesquisa, vou continuar com o trabalho iniciado na pós-graduação de desenvolver cálculos para tentar explicar certos fenômenos em química inorgânica. Na graduação, no primeiro período, vou pegar duas disciplinas de Química Geral I, no período da noite. A existência dos cursos noturnos é fantástica, pois possibilita aos alunos que trabalham o acesso a uma educação superior de qualidade em uma universidade pública. Também cursei o noturno e talvez ajude nessa interação com os alunos o fato de eu ter passado pelas mesmas dificuldades. A formação que tive foi proporcionada pelo ensino público, tanto pelo IFRJ como pela própria UFRJ. Agora terei a chance de retribuir, ajudando a formar outras pessoas.

TALIS UELISSON DA SILVA
Instituto de Química

WhatsApp Image 2024 01 19 at 12.06.39 1A prática do bullying ganhou outra dimensão no Brasil pós-pandemia. O chamado cyberbullying se alastrou pelas redes sociais, expondo situações antes restritas ao ambiente escolar e levando muitas crianças e adolescentes à automutilação e até ao suicídio. Esta semana, a legislação que trata dos crimes de bullying e cyberbullying avançou. Na segunda-feira (15), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei 14.811, que inclui os dois crimes no Código Penal. Eles passam a ser tratados como constrangimento ilegal, com a aplicação de multa para quem cometer bullying, e reclusão e multa para quem cometer o mesmo crime por meios virtuais — a pena pode chegar a quatro anos de prisão.
A nova lei define que o cyberbullying inclui a intimidação sistemática feita em redes sociais, aplicativos, jogos online ou “qualquer meio ou ambiente digital”. Prevê, ainda, que no crime de indução ou auxílio ao suicídio, a pena pode dobrar se o autor é “líder, coordenador ou administrador de grupo, de comunidade ou de rede virtual, ou por estes é responsável”.

PROTEÇÃO
Vice-diretora da Faculdade de Educação da UFRJ, a professora Silvina Fernández vê avanços na nova legislação. “Vejo essa nova lei com bons olhos, pois ela ressalta o cuidado necessário com que gestores, professores e outros agentes precisam tratar esses eventos que estão presentes dentro e fora dos muros da escola. Que podem chegar às redes, por meio do cyberbullying. As mediações pedagógicas têm que estar pautadas nessas novas relações, e essa nova legislação vem reafirmar esse cuidado, de proteção ao educando no processo educacional”, acredita a professora.
Silvina sustenta que a expansão das redes sociais, principalmente no mundo pós-pandemia, exigia adequações na legislação. “Já havia uma lei de 2015 (lei 13.185) que definia o que é bullying e previa todo um movimento preventivo e pró-ativo no campo educacional, sobretudo na educação básica. Com a pandemia, novos cenários no espaço digital, com as mídias sociais, criaram um novo contexto escolar, para além da escola. As relações do cotidiano escolar reverberam em outra dimensão, com outra proliferação, pela internet. Isso trouxe situações até então desconhecidas. O espaço da escola é um espaço protegido, cuidado por adultos, mas ele passa a tomar outra dimensão, que é incontrolável. Nesse contexto, a nova lei vem redimensionar o que a gente vinha entendendo como bullying”.
Para a professora Cristiana Carneiro, também da Faculdade de Educação da UFRJ, a nova lei “tenta aprofundar o sentido da proteção à infância e à adolescência”. Coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa na Infância e Adolescência Contemporâneas (Nipiac), Cristiana observa que o cyberbullying pode ocultar outras práticas criminosas. “Muitas vezes, o cyberbullying pode estar ligado à exploração sexual de crianças e adolescentes. É um crime que precisa ser combatido firmemente”, diz.
A professora acredita que a nova lei abre espaço para reflexões sobre o papel dos adultos — e não apenas dos educadores — nos ambientes de convívio não tradicionais. “A partir do momento em a vida virtual rompe o espaço geográfico da casa, da família e da escola, como criar regimes de acesso para crianças e adolescentes, que têm acesso quase ilimitado a conteúdos no mundo virtual? Se o índice de suicídios na infância e na adolescência é crescente, no Brasil e no mundo ocidental, o que estamos produzindo enquanto sociedade que não está sendo favorável à vida? Nós estamos produzindo essas mortes, essa é uma reflexão fundamental, para além da letra lei. Precisamos nos perguntar em que medida nós, adultos, estamos exercendo esse papel de proteção. Não é só no campo policialesco que vão se resolver todas as questões. Esse é um papel muito importante, em paralelo ao papel do Estado”.

WhatsApp Image 2024 01 26 at 13.26.30A plataforma de criomicroscopia eletrônica do Cenabio trabalha em escala nanométrica com imagens de alta definição de moléculas biológicas, tecidos, vírus e células.Renan Fernandes


Dois novos equipamentos de última geração prometem ampliar as possibilidades de pesquisa na UFRJ. O Centro Nacional de Biologia Estrutural e Bioimagem (Cenabio) inaugurou no início de novembro uma plataforma de criomicroscopia eletrônica. Também no fim do ano passado, o Museu Nacional adquiriu um microtomógrafo. Em fase final de testes e calibragem, a expectativa é que as duas máquinas — únicas no Brasil — estejam em pleno funcionamento a partir de fevereiro.
A microscopia eletrônica com criogenia revolucionou o campo da biologia celular e estrutural. A tecnologia permite a obtenção de imagens de alta resolução de moléculas biológicas, vírus, células e até mesmo de tecidos, proporcionando avanços em diversas áreas da ciência, como a medicina, a farmacologia e a biotecnologia.
O professor Kildare de Miranda, vice-diretor do Cenabio e diretor da Unidade de Microscopia Avançada, comemorou a chegada do equipamento, comprado com recursos da Faperj. “Essa técnica se popularizou pelo mundo inteiro e o Brasil estava muito atrás. A gente não tinha essa tecnologia de ponta”, afirmou.
Já o microtomógrafo era um desejo dos professores e pesquisadores do Museu Nacional desde 2016. “Há uma enormidade de possibilidades de uso”, celebra o professor Cristiano Moreira, coordenador do Comitê Gestor dos Laboratórios do Museu Nacional.
Finalmente adquirido com os recursos de uma emenda parlamentar, o aparelho tira sucessivas radiografias do item analisado e possibilita a reconstrução tridimensional através de um programa. O método permite o estudo de peças raras sem a necessidade da utilização de técnicas destrutivas. WhatsApp Image 2024 01 26 at 13.26.30 3O microtomógrafo do Museu Nacional gera modelos tridimensionais de peças do acervo
A digitalização do acervo do Museu fará as peças existirem não apenas no mundo material, mas também no mundo virtual. Existe ainda a possibilidade de reprodução de itens do acervo por meio de impressão em três dimensões a fim de preservar as características originais.
“Pesquisadores que visitam o Museu e pedem material emprestado para pesquisa podem examinar uma imagem digital do objeto de estudo, o que proporciona maior longevidade ao nosso acervo”, apontou Moreira.
Kildare, docente do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, também integra o Comitê Gestor do Museu Nacional e destacou a cooperação entre as diferentes unidades da UFRJ.
“A conversa vai permitir que a gente faça estudos transescala, indo do átomo até o organismo inteiro. Esse microtomógrafo falta ao Cenabio para fazer a ligação entre as escalas de tecidos e de órgãos. Em breve, estaremos na fila do Museu para usar a ferramenta”, completou.

WhatsApp Image 2024 01 19 at 12.06.42 2"O CNPq reitera seu compromisso com a ciência diversa e inclusiva, considerando dimensões de gênero, étnico-raciais e assimetrias regionais, não tolerando atitudes que expressam preconceitos de qualquer natureza”. Com essas palavras, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico concluiu uma nota, no último dia 6, em que determina que todas as pesquisadoras mães terão a extensão de prazo de dois anos, a partir de cada parto ou adoção, para análise de sua produção científica.
A nota foi divulgada depois que a diretoria-executiva do órgão tomou ciência do parecer emitido por avaliadores do próprio CNPq para um pedido de bolsa de produtividade em pesquisa da professora Maria Carlotto, da Universidade Federal do ABC (UFABC). A avaliação dos pareceristas indicava que suas gestações a “atrapalharam” no desenvolvimento de sua carreira, como, por exemplo, a impedindo de realizar pós-doutoramento no exterior. As gestações foram indicadas, portanto, como motivo da recusa do pedido.
O caso veio à tona no dia 26 de dezembro. No dia seguinte à viralização do parecer, o CNPq emitiu uma primeira nota afirmando que o julgamento do pleito “é inadequado tanto porque um estágio no exterior não é requisito para a concorrência em tal edital (de bolsa de produtividade), quanto por expressar juízo preconceituoso com as circunstâncias associadas à gestação”. Agora, o órgão, além de tornar obrigatória a extensão do período de avaliação de produtividade para pesquisadoras mães, iniciou um procedimento investigativo sobre a execução dos pareceres do edital ao qual Carlotto participou. Outra medida do CNPq é a constituição de um grupo de trabalho para elaboração de um código de ética para análise de propostas submetidas.
Em entrevista ao Estadão no fim de dezembro, a pesquisadora afirmou que faltou 0,2 ponto para alcançar a pontuação necessária do edital e criticou o argumento usado pelo pesquisador que avaliou seu caso. “Usaram um parecer para recusar a minha bolsa. Isso é um absurdo”, disse. “Não é sobre mim, sobre a minha bolsa, é sobre um sistema que precisa mudar.”
A professora apresentou recurso formal contra o resultado de seu processo ao CNPq no último dia 6 de janeiro e comemorou as medidas anunciadas pelo órgão. “São avanços importantes. Espero que eles anunciem, em breve também, editais específicos para mães e mudanças no financiamento de bolsas no exterior que incluam recursos adicionais para que possamos levar nossos filhos e filhas. Em todo caso, hoje podemos comemorar essa vitória”.
Integrante do GT de Parentalidade e Equidade de Gênero da UFRJ, a professora Sabrina Baptista Ferreira, do Instituto de Química, considera a extensão do prazo um avanço, mas afirma que a medida, por si só, é insuficiente. “Ter essa regra escrita e notificada pelo CNPq é sem dúvidas um avanço, mas não vai funcionar se não houver treinamento do olhar dos pesquisadores ad hoc”, diz. “Quem elabora esses pareceres também são bolsistas do CNPq. Existe, então, uma negligência, eu diria, numa política de educação para os pesquisadores que fazem essas avaliações”, analisa.
Para a professora, é preciso haver uma política clara de orientação para que os pareceristas mudem o olhar sobre uma mulher que tem filhos. “O que significa a maternidade na vida dessa pesquisadora? É preciso um olhar diferenciado”, afirma a docente. “Se não houver esse treinamento, a regra vai ficar no papel ou pode ser aplicada de forma errada, como foi no caso da professora Maria Carlotto. O parecerista jamais deveria ter usado as gestações como justificativa para uma negativa”.

Licença-maternidade
Um primeiro avanço importante, destaca Sabrina Ferreira, foi poder adicionar ao Currículo Lattes os períodos de licença-maternidade. “Poder expor essa fase da vida no currículo foi um marco. A luta agora é para que este espaço não seja só mais uma linha no Lattes. É preciso ter um olhar diferenciado sobre o currículo de uma mãe”, reforça a pesquisadora. “Espero também que essa política anunciada pelo CNPq não se aplique somente a bolsas de produtividade, mas a qualquer edital disputado por pesquisadoras”.
O CNPq foi procurado pela reportagem, mas não respondeu aos questionamentos até o fechamento desta edição.

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