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Milene Gabriela

A julgar pela procura, a mais nova iniciativa da AdUFRJ para seus filiados já é um sucesso.WhatsApp Image 2023 04 20 at 20.50.32 Em menos de uma semana, todas as vagas para a visita guiada à região conhecida como Pequena África, na zona portuária do Rio, foram preenchidas pelos docentes e seus acompanhantes. O primeiro passeio acontecerá no último sábado de abril (29), com duração de três horas. Será possível conhecer um pouco mais do local que marcou a história e a memória da cultura africana no país, e que ainda é pouco conhecido por boa parte da população.

A programação foi anunciada no café da manhã oferecido pela AdUFRJ aos professores aposentados, no último dia 10. A ideia da visita partiu da professora Ana Lúcia Fernandes, da Faculdade de Educação e diretora da AdUFRJ. “Eu já fiz a visita. É interessante e emocionante. É uma parte do Rio que ainda não é muito conhecida e traz para a atualidade uma vivência que sempre foi silenciada e apagada”, diz.

WhatsApp Image 2023 04 20 at 20.50.33A mostra será guiada pelo professor Gabriel Siqueira (foto abaixo), capoeirista e autor do livro “Cativeiro Carioca”, que também atua como guia de turismo em espaços não formais de aprendizagem. “Acredito que o Rio é um museu a céu aberto. É uma sala de aula interativa, e por isso estou aqui contando a história do nosso povo negro”, explica o professor de História, doutor pelo Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas e Formação Humana (PPFH - UERJ).

Fernando Cardoso, docente aposentado da Faculdade de Odontologia, conta que já cogitou fazer uma programação em áreas históricas portuárias e viu uma oportunidade para vivenciar a experiência. “Eu estava presente ao café da manhã feito com muito capricho e esmero, quando foi perguntado quem poderia se interessar pelo passeio”, lembrou ele, que aceitou o convite. Ele não se recorda de programas semelhantes feitos pelo sindicato. “Também acho interessante a forma pela qual a AdUFRJ tenta ser um suporte social de convívio com o grupo de aposentados”, elogiou. “Eu achei ótima a iniciativa da AdUFRJ”, vibrou Sandra Torres, também docente aposentada da Faculdade de Odontologia.

O termo “Pequena África” foi criado pelo sambista Heitor dos Prazeres, e hoje se refere à área composta pelos bairros da Saúde, Gamboa, Estácio, parte do Centro e de Santo Cristo, desde a Praça Mauá até a Cidade Nova, na região portuária do Rio de Janeiro.

Gilda Santos, docente aposentada da Faculdade de Letras, declarou o seu entusiasmo com a história do Rio de Janeiro. “Há tempos que não vou pelas redondezas daquela região. Acho que as visitas poderiam ser feitas mais vezes, porque há outros locais do Rio que mereceriam essa programação”, recomendou a docente. “Achei legal a iniciativa. E gostei que o sindicato lembrou dos professores por motivos culturais, e não políticos”, destacou Helena Ibiapina, docente aposentada da Faculdade de Educação.

O ponto de encontro do passeio será no Museu de Arte do Rio (MAR), às 9h. O trajeto terá cinco pontos de parada, começando pelo Largo de São Francisco da Prainha, reduto de moradia de ex-escravizados. A segunda parada é na Pedra do Sal, onde são feitas festas e rodas de samba que celebram a herança cultural africana na região. O Cais do Valongo, local de chegada ao país de cerca de dois milhões de africanos, é a terceira parada, seguida pelo Cemitério dos Pretos Novos, único sítio arqueológico de cemitério de escravizados preservado no continente americano. Por fim, o Morro da Conceição, local que possui ateliês de artistas locais e vistas privilegiadas do Centro, da Baía de Guanabara e do Morro da Providência, onde fica a primeira favela do Brasil.

Caso haja mais interessados pelo passeio, o sindicato irá compor uma lista de espera para uma visita futura. A manifestação de interesse deve ser feita pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.. O programa é gratuito para os sindicalizados. Os acompanhantes pagam R$ 30. Os professores aposentados terão direito a um acompanhante com gratuidade.

bandeira adufrjDois temas centrais no dia a dia da AdUFRJ são os destaques desta edição, abordados na página 3: a proibição ao direito de progressões acumuladas, que tanto aflige os professores da UFRJ, e a recomposição orçamentária nas instituições federais de ensino. No caso das progressões, o governo Lula dá sinais de que pode mudar o injusto entendimento inaugurado em 2018, no governo Temer, e mantido na nefasta gestão Bolsonaro, de que o direito à progressão funcional só é efetivamente constituído após análise favorável de comissão avaliadora. E que a avaliação depende do interstício de 24 meses de efetivo exercício do docente em cada nível. As universidades federais, sobretudo UFRJ, UnB e Unir, estão mobilizadas para pôr fim a essa injustiça.
O tema das progressões é uma prioridade da AdUFRJ. No final do ano passado, o sindicato entrou na Justiça para garantir esse direito dos docentes. “Essa é uma reivindicação muito importante para os nossos filiados. Do ponto de vista formal, se o professor alcança produção suficiente nos interstícios, ele tem direito às progressões acumuladas”, defende o professor João Torres, presidente da AdUFRJ. No fim de março, em encontro na Universidade Federal de Rondônia, o procurador Jezihel Pena Lima, da AGU, deu indícios de que o governo pode mudar seu posicionamento: “A matéria voltou a ser discutida dentro da casa. Não me parece, sem demérito ao que foi feito no passado, que o entendimento deva ser mantido. Esperamos ter, em breve, um cenário diferente e mais justo para os docentes”.
A recomposição do orçamento das instituições federais de ensino, ignorado pelo governo Bolsonaro, começou a sair do limbo na quarta-feira (19), quando o presidente Lula e o ministro da Educação, Camilo Santana, anunciaram um aporte de R$ 2,44 bilhões para universidades e institutos federais. Os valores retomam o orçamento global das instituições em 2019, último ano antes da pandemia. “A nossa expectativa, em janeiro, era receber o orçamento de 2019, corrigido pela inflação. Recebemos o orçamento de 2019 a preços correntes”, resumiu o reitor da UFRJ, Carlos Frederico Leão Rocha. O orçamento de 2019 corrigido pela inflação seria um suplemento de R$ 1,7 bi. Sem a correção, as universidades vão receber R$ 1,3 bi.
A retomada do orçamento aos patamares de 2019 foi também objeto de intensa campanha do Observatório do Conhecimento. A professora Mayra Goulart, coordenadora da rede e vice-presidente da AdUFRJ, estava em Brasília no anúncio da recomposição: “Este é o melhor presente que o Observatório poderia ter ganho no seu aniversário de quatro anos. É uma conquista nossa, no tocante ao orçamento geral para pesquisa, Ciência, Tecnologia e ensino superior”, comemorou Mayra.
Também esta semana, o Observatório lançou um relatório sobre o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) e intensificou sua campanha pela ampliação dos esforços de inclusão de alunos de baixa renda no ensino público superior. O documento foi entregue a membros do Executivo e do Legislativo, além de representantes de entidades ligadas ao campo da Ciência e Tecnologia. Veja mais informações na página 7.
Nas páginas 4 e 5, o assunto é a eleição para a reitoria da UFRJ, com um resumo dos últimos debates entre as duas chapas concorrentes. Orçamento, questões ligadas à graduação, pós-graduação e extensão, e problemas de infraestrutura são alguns dos temas abordados nos encontros. Por falar em infraestrutura, nossa matéria da página 6 mostra que a UFRJ contratou bombeiros civis profissionais para reduzir os riscos de incêndios na universidade. Esta semana, mais um deles destruiu uma sala de aula no CCMN.
A edição traz ainda uma iniciativa da AdUFRJ surgida no café da manhã com os professores aposentados: uma programação de visita guiada à Pequena África, região que guarda parte de nossa memória africana na zona portuária do Rio de Janeiro. Em poucos dias, as vagas para o passeio foram preenchidas, o que mostra que a iniciativa tem potencial de crescimento. Confira na página 8.
No fechamento desta edição, recebemos a ótima notícia de que a professora emérita Heloisa Buarque de Hollanda, da Escola de Comunicação, fora eleita para a cadeira número 30 da Academia Brasileira de Letras, que era da escritora Nélida Pinõn. Parabéns, professora!

WhatsApp Image 2023 04 20 at 20.50.32 1Na semana em que completou quatro anos de existência, o Observatório do Conhecimento lançou, em Brasília, um relatório sobre o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES). O documento foi entregue a parlamentares, membros do Executivo e representantes de entidades ligadas à Ciência. Suas principais reivindicações são a recomposição do orçamento do programa, a universalização para todos os estudantes com renda familiar de até um salário mínimo, a garantia de um valor mínimo para as bolsas, atrelado ao salário mínimo estadual, e reajustes anuais com base no IPCA.
“As universidades são um caminho de inclusão, mas essa inclusão não vai acontecer sem que a universidade garanta aos estudantes políticas de permanência. Esse é um governo que tem compromisso com a renda básica. Estudantes que não têm renda não podem ficar sem essa renda básica”, explicou a professora Mayra Goulart, coordenadora do Observatório e vice-presidente da AdUFRJ. “Por isso precisamos de um desenho melhor para o PNAES, com garantias mínimas para que todos os estudantes que têm direito ao programa sejam contemplados, e com benefícios que garantam a sua subsistência de maneira digna”, acrescentou.
O PNAES foi criado em 2008, por um decreto presidencial, para oferecer apoio socioeconômico a estudantes de instituições federais de ensino superior que enfrentam dificuldades financeiras e sociais para permanecerem na universidade. O programa garante o direito à assistência estudantil a todo aluno que possua renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio, e prevê ações como o fornecimento de moradia estudantil, alimentação, transporte, assistência à saúde, inclusão digital, esporte, cultura e lazer.
Devido aos cortes no orçamento que as universidades vêm sofrendo nos últimos anos, o PNAES foi encolhendo e deixando as universidades sem mobilidade orçamentária para sua expansão. A queda no orçamento das universidades coincide com um período de escalada da inflação, que, desde 2015, está acumulada em 59,47%, de acordo com o IPCA medido pelo IBGE. Isso significa que o poder de compra da população foi reduzido a menos da metade, sem que as bolsas de auxílio pudessem ser reajustadas em um ritmo parecido.
“Nós vínhamos em um processo de crescimento da demanda pela assistência estudantil acompanhado de um crescimento dos recursos do PNAES. Os cortes na rubrica do programa começaram pequenos, mas em 2021 o orçamento foi reduzido em quase 20%. Em 2022 há uma pequena recomposição, mas o orçamento de 2023 foi elaborado com uma diminuição dos recursos”, contou a professora Maria Rita de Assis César, coordenadora do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace), ligado à Andifes, e pró-reitora de Assuntos Estudantis da Universidade Federal do Paraná.

AGENDA DA EDUCAÇÃO
Os representantes do Observatório que estiveram em Brasília participaram, na terça-feira (18), do lançamento da Frente Parlamentar Mista da Educação, que será presidida pela deputada Tábata Amaral (PSB-SP) e terá a deputada Ana Pimentel (PT-MG), professora da Universidade Federal de São João del-Rei, na vice-presidência de Educação Superior. No encontro, além da celebração pelo lançamento da frente, também foi lembrada a parceria entre os parlamentares e o Observatório.
“Foi, como sempre, uma agenda muito profícua. A Frente Parlamentar da Educação tem uma nova composição, mas a parceria com o Observatório continua”, comentou a professora Mayra Goulart.
Na manhã de terça-feira, o grupo também participou da reunião do Fórum Interconselhos Nacional. As reuniões do fórum foram interrompidas em 2017, e este foi o primeiro encontro desde então, onde começou a ser debatido o Plano Plurianual Participativo, em que a sociedade opina sobre as prioridades para investimento de recursos em políticas públicas nos próximos quatro anos.
No encontro estavam presentes representantes da sociedade civil. Representando a Ciência estavam o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Renato Janine Ribeiro, e da Academia Brasileira de Ciências, Helena Nader. “Há aqui representações com muita preocupação com a reinclusão social, tirar de novo o Brasil do mapa da fome”, contou Janine Ribeiro.
A agenda de atividades na capital também teve encontros com parlamentares no Congresso Nacional. Para a professora Mayra, a agenda foi produtiva por manter o Observatório do Conhecimento como um agente importante na discussão sobre políticas públicas para as universidades e para a área de Ciência e Tecnologia. “O processo de reconstrução do Brasil vai exigir esforços da classe política, no Executivo e no Legislativo, e da sociedade civil. Nesse novo cenário, o papel do Observatório será continuar propondo, a partir de dados concretos, ações que fortaleçam a universidade e Ciência, que terão papel crucial nessa reconstrução”, avaliou.

Parte das medidas é a recarga de extintores: Huascar Filho, coordenador da Segurança e Saúde do Trabalho do CT, ensina como usá-losIgor Vieira

Eram 6h40 da manhã de quarta-feira (19) quando funcionários da limpeza do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN) sentiram cheiro de fumaça no bloco H. Eles acionaram os bombeiros imediatamente, mas uma sala foi queimada. Assim começou mais um incêndio na UFRJ, o segundo em duas semanas e o mais recente de um histórico que inclui a tragédia do Museu Nacional e a destruição de parte do prédio da reitoria.
De 2018 para cá, aconteceram grandes e pequenos incêndios: na Ala F no Hospital Universitário; no Laboratório Central Analítica de Graduação, do Instituto de Química, localizado no bloco A do CT; mais um no edifício Jorge Machado Moreira (JMM), da reitoria, desta vez, no primeiro andar; e em duas salas da Coppe no bloco H, também no CT.
Mas há uma luz indicando a saída de emergência: a UFRJ contratou, por meio de licitação, brigadas de bombeiros civis profissionais. Eles serão alocados em diversos campi, sendo divididos em turnos, fechando uma cobertura de 24h. O incidente no CCMN ocorreu pouco antes da instalação das brigadas.
O decano em exercício do CCMN, professor Cabral Lima, explicou o “desencontro”: “Ainda faltam algumas questões de infraestrutura, como, por exemplo, comprar maca e equipamentos para primeiros socorros”.
Carlos Eduardo, assessor de segurança do trabalho da decania do CCMN, lamentou a perda do patrimônio: “Os bombeiros, já estando aqui, poderiam não só ter percebido o fogo durante uma ronda, como ter feito o primeiro combate, mitigando os efeitos e controlando-o”.WhatsApp Image 2023 04 20 at 20.21.36 5O FOGO consumiu uma sala de aula do CCMN na quarta-feira (19) - Foto: Silvana Sá
O superintendente da pró-reitoria de Gestão e Governança (PR-6), Rodrigo Gama, detalhou a alocação de bombeiros: “Para o dimensionamento dos postos de trabalho, a Coordenação de Projetos contra Incêndio/Escritório Técnico Universitário fez o estudo, que teve como base a área de cada edificação, as características de uso e o fluxo de pessoas, de acordo com a legislação”.
O superintendente também mencionou datas e valores: “Nos próximos 30 dias, ocorrerá a implantação de mais dois contratos para a operacionalização da brigada de incêndio em diversas unidades, o que custará R$ 7 milhões por ano”. Ele afirma que serão, no total, 104 bombeiros, em escala de 12 x 36 horas.
A diretora da Escola de Belas Artes (EBA), professora Madalena Grimaldi, comentou a importância da brigada para o prédio JMM, que abriga a EBA e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU): “Os seguranças do prédio perceberam o fogo, evacuaram as pessoas e chamaram os bombeiros. Mas a brigada, além de evacuar, pode agir no foco do incêndio na hora, assim como realizar resgates de pessoas presas no elevador e cuidar das vidas, não só do patrimônio”, detalhou Madalena.
Em 2016, o sétimo e oitavo andares queimaram, e estão danificados até hoje: “O incêndio foi na madrugada, mas eu só cheguei lá às 5h. Ainda tinha uma fumaça horrível, tudo queimado, corredor preto, salas pretas. Minha grande preocupação era o Museu D. João VI, com o acervo mais precioso da UFRJ depois do Museu Nacional. Felizmente, o fogo não chegou nessa área”, desabafou.
O museu mais precioso da UFRJ também queimou, em 2018. O diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, disse que a brigada é bem-vinda: “Recebemos dois postos de 24h, mas para o museu são necessários três por turno. Mas não estou reclamando, agradeço à atual reitoria”, disse Kellner. Ele comentou sobre a fatídica noite: “Caso tivéssemos bombeiros em 2018, o fogo seria dominado. Eu assumi a diretoria do Museu Nacional seis meses antes do incêndio. Vou lutar para reconstruir o museu. Se as pessoas que podem fazer a diferença se omitirem, nada muda”.
O professor Kellner está otimista com o novo governo: “Bati em muitas portas, tomei chá de cadeira e café frio. No governo Bolsonaro, eu nem tinha onde bater. O presidente Lula disse que agora não receberei um ‘não’, e o café vai estar quente (risos)”, relembrou.
Apesar da dificuldade, há avanços: “Em 6 de junho de 2024, quando o Museu completar 206 anos, abriremos a sala central do meteorito e a escada monumental, com baleia e claraboia. As pessoas vão poder entrar, não só olhar. Estou orgulhoso em anunciar isso”, revelou.
O campus Duque de Caxias também será contemplado com as brigadas: “Nos contemplaram com um edital, ainda aberto, porque estamos em outro município”, explicou a diretora do campus, Juliany Rodrigues. “É obrigação ter uma brigada em prédio público, para a segurança patrimonial e das pessoas. Temos nossa Comissão de Biossegurança de técnicos e professores, mas a brigada é um alívio também”.
O superintendente do Centro de Tecnologia, Agnaldo Fernandes, comentou sobre a brigada da Coppe: “Nossa ideia é trabalhar em conjunto com essa experiência acumulada pela equipe da Coppe e com a nova brigada, seja na execução ou na estrutura da universidade”.

DISCORDÂNCIAS
O professor Pedro Lagerblad, do Instituto de Bioquímica Médica e ex-diretor da AdUFRJ, apresentou uma visão diferente: “Uma brigada profissional, no modelo da Coppe, é muito cara; custa mais que o treinamento para voluntários”. Ele considera a brigada voluntária do CCS um caso de sucesso: “Ela é formada por docentes, técnicos e estudantes que passaram pelo treinamento, possuem uma familiaridade maior com a estrutura, e se comprometem com a defesa e manutenção da UFRJ”.
“A ideia, então, é complementar a brigada voluntária com a profissional, que ainda é necessária: o incêndio no Museu Nacional, por exemplo, ocorreu no domingo de madrugada”, afirma Lagerblad. “Penso no componente social e na sustentabilidade. No governo Bolsonaro, estivemos aqui, não dependemos de nenhum ministério”.
O técnico Lucas Pinho, chefe da brigada voluntária do CCS, concorda: “Um mês de pagamento de brigadista é o suficiente para pagar o treinamento de cerca de mil pessoas”. Ele defende que pode ser ainda mais barato: “Estamos estudando, junto com o ETU, a criação de um centro de treinamento no Fundão, por volta de R$ 1,5 milhão”.
“A brigada voluntária existe há 10 anos, feita de baixo para cima, pelos próprios servidores. Depois do episódio do Museu Nacional, diversas universidades expandiram suas brigadas, e a UFRJ não aumentou a sua”. Mesmo assim, tanto ele quanto o professor Lagerblad consideram a brigada profissional bem-vinda, por “dar cobertura” à universidade e evitar um desastre com vidas da comunidade acadêmica.

D3 9123Foto: Fernando SouzaENTREVISTA I ADOLPHO POLILLO, REITOR DA UFRJ DE 1981 A 1985

O professor Adolpho Polillo encantou a plateia do café organizado pela AdUFRJ (link) com sua discreta elegância e com a força de sua história. Aos 95 anos, o último reitor dos tempos da ditadura militar contou as agruras de seu reitorado, entre 1981 a 1985, e rememorou como, de um lado, administrou a pressão do governo Figueiredo e, do outro, o braço crítico da comunidade acadêmica. "Foi um período difícil. Eu tinha que defender aqui os dirigentes perante os professores. E, lá em Brasília, tinha que defender os professores perante o presidente", lembrou o docente, que passou o cargo para o primeiro reitor eleito, o comunista Horácio Macedo.

Jornal da AdUFRJ: Quando o senhor ingressou na UFRJ?
Adolpho Polillo:
Ingressei como aluno, em 1948, e em 1953 comecei a dar aulas. Fiquei 49 anos sendo docente.

O que o senhor acha que é diferente hoje na universidade, da época que o senhor era estudante?
A universidade mudou bastante. A Engenharia era um curso muito difícil. Só existia uma escola de Engenharia no Rio de Janeiro todo. Era a Escola Politécnica, da Universidade Federal, que funcionava no Largo do São Francisco. Só depois a PUC criou um curso de engenharia também.

Como docente o senhor era de qual unidade acadêmica?
Eu era da Escola de Engenharia e da Faculdade de Arquitetura. Eu dava aula de Estruturas, na Engenharia, e na Arquitetura também havia essa disciplina. Então, eu dava aula das 7h às 9h e caminhava da Escola de Engenharia até a Faculdade de Arquitetura, para dar aula de 10h às 12h. Era o momento que eu tinha para dar a minha caminhada, pegar um sol. À tarde, eu me dedicava a escrever alguns livros e fazer minhas pesquisas.

O senhor foi reitor de 1981 a 1985. Quem era seu vice-reitor?
Uma pessoa muito leal, muito dedicada. Era o professor Jorge Abreu Coutinho.

Quem lhe sucedeu na reitoria?
Foi o professor Horácio (Macedo – reitor de 1985 a 1989).

Como foi esse processo?
O Horácio surgiu primeiro como candidato a decano do CCMN, disputando com Emídio [Paulo Emídio Barbosa, que tentava a reeleição, em 1982]. Ganhou. E o pessoal achava que o reitor não iria nomeá-lo como decano. Eu o nomeei tranquilamente. E assim ele foi crescendo politicamente e se tornou candidato a reitor. Havia algumas lideranças que imaginavam que eu teria um candidato, mas eu não tinha candidato algum.

Nessa época o senhor ainda não era eleito, era nomeado, certo?
Sim, eu era nomeado pelo presidente a partir de uma lista sêxtupla. Lista que era escolhida pela universidade nos moldes da legislação da época, via Colégio Eleitoral.

Quem era o presidente?
O presidente da República era o (João) Figueiredo. Ele assumiu comigo o compromisso de que faria a abertura. Eu perguntei a ele: “Presidente, é pra valer?” E ele me respondeu: “É pra valer! Vamos fazer a abertura. Faça muito diálogo.” Essa foi a única recomendação.

Como foi ser reitor nesse momento político?
Foi um período difícil, porque eu tinha que defender, de alguma forma, os dirigentes perante os professores e, lá em Brasília, defender os professores perante o presidente. Então, era uma coisa muito delicada. Mas deu tudo certo.

Como foi o diálogo com a comunidade universitária?
No início, foi um pouquinho complicado, mas aos poucos a gente foi conquistando as pessoas. Agora há pouco tive um testemunho da nossa companheira, a professora Eleonora Ziller, que era aluna da Faculdade de Letras. Nós terminamos o prédio da Faculdade de Letras. Ela lembra daquele momento. Ela até se emocionou. E, para mim, é emocionante também.

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