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WhatsApp Image 2023 03 30 at 20.18.47 2ADUFRJ PRESENTE: Mayra falou aos novos colegas sobre o sindicato - Fotos: Fernando SouzaIgor Vieira

Eles são professores e são calouros. Estudaram, estudaram e estudaram, fizeram graduação, mestrado e doutorado. Pesquisaram, escreveram, vararam dias e noites se preparando para o concurso de docência na maior universidade federal do país. O esforço foi recompensado numa cerimônia simples, mas carregada de simbolismo, nesta última quinta-feira (30), na Cidade Universitária. Ali, na Sala do Conselho Universitário, dez docentes assinaram o contrato de professor permanente da universidade.
“Entrar na UFRJ é um sonho”, resumiu Juliana Trindade, 30 anos, professora da Engenharia Civil, lotada em Macaé. “Vou dar aula de estruturas de concreto e estou muito feliz porque dar aula na universidade sempre foi meu principal objetivo”, completou a jovem docente, ao lado da mãe e do pai. “Eles me surpreenderam, não imaginei que viriam aqui”.
A AdUFRJ também foi à cerimônia dar boas-vindas aos colegas. “Parabéns por ingressarem na universidade. Mesmo para quem já dava aula antes, é um dia emocionante. Eu me transferi da Rural, mas o sentimento foi o mesmo”, resumiu Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ, que aproveitou o encontro para apresentar o sindicato aos jovens professores.
“O sindicato é um espaço de acolhimento e proteção, com a oportunidade de amizades na vida adulta e acadêmica”, disse Mayra. “A AdUFRJ disponibiliza ainda serviço de proteção jurídica e descontos em planos de saúde. Temos um sindicato forte e atuante”, explicou Mayra Goulart, esclarecendo as condições de filiação para os novatos.
Os professores calouros podem se filiar sem pagar a contribuição durante dois anos, e pelos dois anos seguintes a taxa é de 0,4%, em vez dos 0,8% cobrados atualmente.
“Os professores têm que plantar uma semente de inspiração nos alunos. São os alunos que vão construir o Brasil do futuro”, resumiu Roberto Tarazi, 40 anos, novo professor de Biologia e Biotecnologia Vegetal, do campus de Duque de Caxias. “Estou muito feliz, tenho vocação para ensinar”.

DEPOIMENTOS

WhatsApp Image 2023 03 30 at 20.18.47 4foto: acervo pessoalCAMILA AZEVEDO SOUZA
Instituto de Química (Macaé)

Estou muito feliz de ser professora universitária, e mais ainda por ser da UFRJ, é uma honra imensa. Vou lecionar “Educação Brasileira” na licenciatura do Instituto de Química em Macaé. Toda a minha trajetória foi em educação pública. Fiz a graduação em Pedagogia na Universidade Federal de Juiz de Fora, no meu estado de Minas Gerais, e mestrado e doutorado na UFF. A escolha do curso foi motivada pelos professores da minha vida escolar, que foram referências. Logo na graduação me encontrei no grupo de pesquisa, e entendi a questão ético-política da formação de professores. Quero dar o retorno social e estou feliz em agregar forças à universidade pública, que sofreu com todos os desafios do desmonte do governo anterior, mas que segue firme. O sentimento se resume na frase do filósofo italiano Antonio Gramsci: “Temos que ter o pessimismo da razão e o otimismo da vontade”.

 

WhatsApp Image 2023 03 30 at 20.18.47 3Foto: Fernando SouzaVINICIUS BOUCA
MARQUES DA COSTA
Instituto de Matemática

Sou cria do Fundão: fiz graduação, mestrado e doutorado. Agora volto como docente, um sonho de criança. Queria ser professor de escola. Mas, ao ingressar na universidade, me apaixonei pelo mundo da docência universitária e da pesquisa. Farei parte do Instituto de Matemática, e vou ensinar Cálculo IV para as engenharias. Professor novo não tem muita escolha, mas, para mim, não é um problema: ensinei essa matéria no Cefet de Nova Friburgo. Fui professor substituto da UFRJ durante o meu doutorado, onde lecionei Matemática II para a Economia. Agora, três anos depois de terminar meu doutorado, é o momento de celebração da vitória de entrar no corpo docente da maior universidade do Brasil. Admito que sou suspeito para falar porque nutro paixão e carinho pela UFRJ, mas é verdade. Volto para a universidade com energia para devolver tudo o que aprendi lá, tanto da minha área quanto de outras áreas da vida.

 

WhatsApp Image 2023 03 30 at 20.18.47 6Foto: acervo pessoalROBERTO TARAZI
Biologia e Biotecnologia
Vegetal (Caxias)

Sempre fui apaixonado pela Ciência e por ensinar às pessoas coisas novas, é uma vocação. Trabalhei em duas multinacionais, com o desafio de reduzir a quantidade de agrotóxicos utilizados no algodão. O método era usar os próprios genes de resistência das plantas, pois fiz graduação e mestrado em Biologia na UFSC, em minha cidade, sempre pensando no meio ambiente e na sustentabilidade. No mestrado, estudei a Mata Atlântica e, no doutorado, o cerrado, na USP, além do meu pós-doutorado em Ilhéus, na Bahia. Fui professor visitante lá, e depois da iniciativa privada, fui professor substituto da UFRJ, no CCS. Estou muito ansioso para lecionar como professor efetivo. Quero conhecer os alunos e fazer com que eles se empolguem e se desenvolvam como acadêmicos e profissionais, porque acredito que nossas ideias são sementes que podem germinar nos alunos, que são a força motriz do futuro, vão desafiar o status quo e mudar o Brasil. Nós professores temos que ensinar os alunos para a vida.

 

WhatsApp Image 2023 03 30 at 20.18.47 5Foto: Fernando SouzaJORGE FELIPE MARÇAL
Biologia (Colégio de Aplicação)

Eu tive toda a minha trajetória acadêmica na UFRJ, da graduação ao doutorado, na área da Biologia. Agora vou ensinar essa matéria para o ensino médio, no Colégio de Aplicação, que foi onde fiz meu estágio obrigatório. Não é nada novo, tivemos um período difícil, com ensino remoto por conta da pandemia, as coisas estão voltando ao normal. Mas temos muitos desafios pela frente, com a sede do CAp no Fundão fechada e as aulas transferidas para a Lagoa. Também temos outros desafios para a educação, como a recente tragédia em São Paulo, que é fruto da política armamentista alimentada mesmo antes do governo Bolsonaro, e também uma desvalorização do próprio trabalho da educação. Precisamos de um enfrentamento político, tanto na escola quanto na sociedade. A minha vaga existe graças à luta do coletivo que ajudo a construir, o Coletivo de Docentes Negras/os da UFRJ, por conta das vitórias conquistadas na aplicação das cotas raciais da UFRJ. As aulas já estão acontecendo, mas estou muito animado para entrar lá amanhã de manhã como professor efetivo de forma oficial.

 

WhatsApp Image 2023 03 30 at 20.18.47 7Foto: Fernando SouzaJULIANA TRINDADE
Centro Multidisciplinar de Macaé

Eu sou de Campos dos Goytacazes e cursei a Universidade Estadual do Norte Fluminense. Entrei no Serviço Público em 2020, na pandemia, no Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), em que vou pedir vacância. Sou engenheira civil e vou lecionar na área de Estruturas. Serão três matérias: Estruturas de Concreto, Projetos de Sistemas Estruturais, e outra que ainda não está definida. Estou tranquila, pois já dou essas matérias no IFES, tanto para a graduação quanto para o nível técnico. São poucas diferenças de ementa. Mas quanto à UFRJ, estou muito feliz de ter entrado. O Instituto Federal não é ruim de trabalhar, mas a universidade federal sempre foi meu objetivo, e agora o realizei, e ainda posso morar mais perto da minha cidade natal. Eu fiz uma viagem muito longa para estar presente na cerimônia e encontrei os meus pais aqui, me esperando, foi uma ótima surpresa. Tive contato com os professores porque fui substituta da UFRJ em 2017, então conheço alguns deles, mas agora é diferente porque estou como efetiva, e muito feliz.

 

D3 2804Fotos: Fernando Souza‘Se me pedissem para escolher uma palavra para descrever o professor Maculan, ela seria generosidade”. Foi assim, emocionado, que o professor Victor Giraldo, do Instituto de Matemática, resumiu sua gratidão de ex-aluno ao mestre Nelson Maculan Filho, na cerimônia de homenagem aos 80 anos de um dos mais destacados docentes e pesquisadores da UFRJ e do Brasil, na manhã de quarta-feira (29). Não havia um só assento vazio no auditório do CT-2, e muita gente teve de acompanhar a solenidade de pé.
A lotação deu a dimensão da gratidão e da admiração da comunidade acadêmica a Maculan — havia representantes de várias universidades na plateia —, mas o que mais se destacou foi mesmo a generosidade do homenageado. Aplaudido de pé em sua entrada no auditório, ao som do Trenzinho do Caipira, de Heitor Villa-Lobos, Maculan parou várias vezes do trajeto até a mesa do palco, cumprimentando amigos de décadas e jovens alunos. E fez questão de aplaudir de pé os que o aplaudiam.

TRAJETÓRIA
Ao abrir a cerimônia, o reitor da UFRJ, professor Carlos Frederico Leão Rocha, lembrou que quando o Conselho Universitário concedeu o título de professor emérito a Maculan, em 2013, estava, na essência, integrando o homenageado ao seu DNA. “Quem se sente honrado com esse título somos nós, que absorvemos todo esse conhecimento. São 80 anos em atividade, ainda trabalhando e orientando alunos. É um grande orgulho para nós”, disse o reitor.
Presente à cerimônia, o presidente da AdUFRJ, professor João Torres, disse que Maculan é uma fonte inspiração para todos os docentes: “É muito raro alguém se destacar na pesquisa, na formação de recursos humanos, tanto no Brasil quanto no exterior, e na alta administração universitária, concomitantemente. Ele conseguiu essa proeza. Para mim, ele é a encarnação da imagem ideal de um professor emérito, ou seja, alguém que queremos conservar na universidade e usufruir da sua presença o máximo possível”.WhatsApp Image 2023 03 30 at 20.18.47 13
Em nome de mais de 200 ex-orientados de Maculan, o professor e ex-reitor da Universidade Federal de Ouro Preto, Marcone Souza, elencou algumas das principais contribuições do mestre ao ensino superior do país. Entre elas, a criação da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), da qual Maculan foi presidente, e cujo embrião foi concebido em uma reunião na casa do mestre.
Marcone também lembrou a passagem de Maculan pela Secretaria de Educação Superior (Sesu) do MEC, de 2004 a 2006, quando teve efetiva participação na consolidação de programas como o Reuni, o Prouni e também na lei de cotas. “A expansão do ensino superior que vemos hoje se deve muito ao trabalho do professor Maculan. Ele sempre esteve à frente do nosso tempo”, observou Marcone, que ainda destacou o início da trajetória do mestre em Ouro Preto. Maculan se formou em Engenharia de Minas e Metalurgia pela prestigiosa Escola Nacional de Minas da cidade mineira, em 1965.
Professor do Instituto de Matemática (CCMN) e da Coppe (CT) desde 1971, Maculan teve sua dedicação aos orientandos lembrada com carinho pelo professor Luidi Simonetti, da Escola Politécnica, que foi aluno do mestre na Iniciação Científica, no mestrado e no doutorado: “Ele costuma dizer que não é um orientador, mas sim um desorientador. Faz parte da generosidade dele, que vai muito além da formação acadêmica. Com ele você aprende a ser uma pessoa melhor”.
O professor Victor Giraldo, que já havia emocionado a todos ao falar da generosidade de Maculan, pontuou que foi durante a gestão do mestre como reitor (1990 a 1994) que a UFRJ criou cursos noturnos de licenciatura em áreas como Matemática, Física e Biologia, entre outras, democratizando o acesso a esses cursos. Decano do CCMN, o professor Josefino Cabral Melo Lima endossou a importância de Maculan como docente, pesquisador (nível 1A do CNPq) e gestor: “Quase todo time de futebol tem um craque que faz a diferença. Maculan faz a diferença na UFRJ”.
A impressionante capacidade de trabalhar e de cumprir rotinas foi destacada por outros dois colegas de Maculan. Diretor do Instituto de Matemática, o professor Wladimir Neves disse que busca inspiração sempre que passa pela sala de Maculan e o vê trabalhando, orientando algum aluno: “Ele é um farol que ilumina a todos nós, professores”. Já o decano do CT, professor Walter Suemitsu, arrancou risadas da plateia ao contar que sempre que vai se ausentar do trabalho para alguma viagem, Maculan lhe manda um comunicado formal pedindo autorização: “Eu recebo aqui e fico admirado com essa disciplina à hierarquia. Aí respondo ‘boa viagem’”, contou Suemitsu.

CORAGEM
Ao agradecer as homenagens, o professor Maculan disse que sente orgulho em ser professor de Cálculo porque assim conseguiu circular por várias áreas, da Matemática à Geologia. “Cheguei a dar 20 horas de aula por semana. Nós temos quase cinco mil professores na UFRJ, e acho que temos poucos alunos. Precisamos ter mais alunos. A minha briga é que acho que temos poucas universidades no Brasil. Temos que ter mais”, discursou o mestre, mais uma vez aplaudido de pé.
Maculan agradeceu a presença de tantas pessoas queridas na plateia. “Minha família está aqui, meus colegas professores de tantos lugares, ex-reitores, alunos, ex-alunos. Foi uma grande surpresa para mim esta homenagem, me deixou muito feliz”, disse o mestre. Ele fez questão de nomear alguns amigos de velhas jornadas, como o professor Paulo Alcântara Gomes, ex-diretor da Coppe (1978 a 1982) e ex-reitor da UFRJ (1994-1998). “Paulo salvou meu pai na ditadura. Quando o governo expulsou todos os pesquisadores da Finep sob a acusação de serem comunistas, o Paulo contratou todos na UFRJ. Na época da ditadura, não era fácil fazer isso, não”.
Paulo, amigo de Maculan há mais de 50 anos, foi vice-reitor na gestão do homenageado. “A gestão dele foi marcada pelo desenvolvimento da pós-graduação e da pesquisa, além de melhoria de infraestrutura da universidade”, lembrou Paulo. E inverteu a história contada pelo amigo pouco antes. “Quem salvou o pai do Maculan não fui eu. Foi o pai dele, o senador Nelson Maculan, que salvou a Coppe. Ele organizou ciclos de conferências e visitas para tirar a Coppe de uma crise enorme nos anos 1970”.
Além da generosidade, citada em muitos discursos, o professor Walter Suemitsu destacou outra característica marcante de Maculan: a coragem. “Eu estava aqui em 1975, quando a ditadura assassinou na cadeia o jornalista Vladimir Herzog. E vivíamos aqui uma crise com o valor das bolsas na Coppe, de valor muito baixo, sobretudo para alunos que vinham de fora do Rio. Estourou uma greve, e eu vinha do movimento estudantil da USP, logo me envolvi na greve, falava nas assembleias. A Polícia Federal veio até aqui, buscando meu endereço, e o professor Maculan se recusou a dar. Foi um ato de coragem enfrentar o regime. Devo ao professor Maculan estar aqui hoje”, contou Suemitsu, emocionado.
Vida longa, mestre Maculan. Com generosidade e coragem, sempre.

Às vésperas do início de mais um semestre letivo na UFRJ — as aulas da graduação começam na próxima segunda-feira —, esta edição do Jornal da AdUFRJ aborda por diferentes ângulos o ofício de ensinar. Um deles é o oposto do que se espera de um ambiente escolar: a exposição à violência. E tem como mote um crime que chocou o país esta semana: o assassinato da professora de Ciências Elizabeth Tenreiro, de 71 anos, morta a facadas por um adolescente de 13 anos em sala de aula na Escola Estadual Thomazia Montoro, na Zona Leste de São Paulo, na segunda-feira (27).
A morte da professora está longe de ser um fato isolado, como mostra nossa reportagem nas páginas 4 e 5. Uma pesquisa da Unicamp, à qual o Jornal da AdUFRJ teve acesso, revela uma tendência preocupante: dos 23 ataques de alunos ou ex-alunos a escolas no Brasil nos últimos 21 anos, mais de um terço ocorreu apenas do segundo semestre de 2022 para cá. Especialistas ouvidos pela reportagem tentam decifrar as motivações desse crescimento da violência em escolas e os caminhos que podem levar à redução de crimes como o da escola da Zona Leste paulista.
No velório da professora Beth, como era conhecida, colegas de profissão e alunos lembraram a dedicação da docente ao trabalho, seu amor por ensinar e sua generosidade, traços que servem de inspiração aos que ficaram. E são essas também as características marcantes do professor emérito Nelson Maculan Filho, que esta semana foi homenageado por seus 80 anos. Aposentado — assim como era Beth —, Maculan segue ativo em sala de aula, com fôlego de menino, espalhando seu vasto conhecimento e inspirando novas gerações de professores. A merecida homenagem ao mestre, um ícone da UFRJ e da Ciência brasileira, está na página 7.
Inspiração não tem idade. Nossa matéria da página 6 traz o exemplo da doutoranda Luana Braga, de 28 anos, aluna do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social (PPGAS) do Museu Nacional. Em vídeo que viralizou semana passada, Luana conta ao presidente Lula, durante a visita do petista ao Museu Nacional, no dia 23, como as políticas públicas criadas pelos primeiros governos do PT mudaram sua vida e a de sua família. “Todas as oportunidades a que tive acesso fizeram de mim um instrumento de justiça social”, disse Luana ao Jornal da AdUFRJ. Filha de agricultores analfabetos, Luana nasceu em Pradópolis, no interior de São Paulo, foi criada em Iaçu, pequeno município da Bahia, e é a primeira pessoa da família a entrar em uma universidade. Um exemplo inspirador.
Para os novos professores da UFRJ que farão sua estreia em sala de aula a partir da próxima segunda-feira, a AdUFRJ dá boas-vindas, convida a conhecerem os convênios e serviços oferecidos pelo sindicato e a filiarem-se para que juntos possamos buscar a melhoria contínua do trabalho docente. Os docentes “calouros” são tema de nossa matéria da página 3. Um deles é Vinicius Marques da Costa, do Instituto de Matemática. “Sou cria do Fundão: fiz graduação, mestrado e doutorado. Agora volto como docente, um sonho de criança”, diz Vinicius.
Que esse sonho seja mais uma inspiração para todos nós.
Boa leitura!

WhatsApp Image 2023 03 30 at 20.18.47 12Foto: Felipe Cohen/divulgação Museu NacionalMilene Gabriela

Um vídeo do encontro entre a doutoranda Luana Braga e o presidente Lula viralizou na semana passada. Durante a visita do petista ao Museu Nacional no dia 23, a estudante do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social (PPGAS) emocionou a todos ao contar como as políticas públicas criadas pelos primeiros governos do PT mudaram sua vida e a de sua família. “Todas as oportunidades a que tive acesso fizeram de mim um instrumento de justiça social. O governo mudou a história da minha vida, que está ajudando a transformar a história de muitas pessoas”, disse ela ao Jornal da AdUFRJ. “Quando eu e Lula tiramos a foto, ele disse que virou meu fã. E que nós vamos mudar a vida de muitas pessoas”.
Há mais de 50 anos, o museu não recebia a visita de um presidente da República. Para marcar o evento, a direção decidiu presentear Lula com uma placa feita com a madeira de reconstrução do prédio, incendiado em 2018. E solicitou a indicação de um aluno do PPGAS para a entrega do mimo: alguém que representasse o corpo social e tivesse a trajetória de vida influenciada pelos governos petistas. O nome de Luana surgiu com naturalidade.
A jovem de 28 anos é a primeira pessoa da família a entrar em uma universidade. Filha de agricultores analfabetos, nasceu em Pradópolis, no interior de São Paulo, mas foi criada em Iaçu e se considera filha do pequeno município da Bahia, de aproximadamente 24 mil habitantes. “A gente não escolhe onde nasce, mas escolhemos as histórias que queremos contar e construir. Identidade é sobre os processos que vivemos e as histórias que construímos e não sobre os documentos”.
O encontro com o presidente repercutiu na cidade que adotou Luana ainda criança. “Iaçu fez uma festa. Recebi muitas homenagens dos conterrâneos”, contou. José dos Reis Braga, avô da antropóloga e fundador do sindicato de trabalhadores rurais local, chora toda vez que assiste ao vídeo da neta falando com Lula. “Meu avô ligou para contar que as pessoas vão até a sua casa para agradecer pelo que eu estou fazendo pela comunidade, por estar levando o nome de Iaçu, nossa história e da população rural para o mundo” disse. “Eles disseram que o abraço que eu dei no presidente gerou muita emoção, que foi um abraço de muitas pessoas, que representa muitas histórias e que se sentiram representados por mim”, completou.
Luana já participou de workshops em países como México, China, Alemanha e África do Sul para apresentar suas pesquisas com temas relacionados à revolução da terra, reforma agrária e sobre o povo preto, periférico e pobre do Brasil. A estudante foi selecionada para estar em Harvard no próximo mês no workshop “Afro-latin American Research Institute”, que conta com pesquisadores de todo o mundo. O evento irá debater mulheres negras e a concentração de terras no Brasil. “Se eu tenho um calo no dedo por usar a caneta é porque as mãos ao meu lado e atrás de mim são calejadas por enxada”.
Confira a entrevista de Luana.


Jornal da AdUFRJ - Como o governo do PT mudou a sua vida e a de sua família?
Luana Braga
- Eu tive acesso a uma série de políticas públicas criadas pelo pelo governo do PT. Não só eu, toda minha família. Tivemos acesso ao ID jovem (que dá desconto em eventos artístico-culturais e esportivos e no transporte coletivo interestadual) e políticas de cotas. O curso de pós-graduação em Antropologia Social é um programa pioneiro das ações afirmativas da pós-graduação no Brasil. A minha família teve acesso ao programa de cisternas, ao Luz para Todos, ao programa de aquisição de alimentos e a várias políticas públicas de agricultura familiar.

Qual a sua área de pesquisa?
Quando eu cheguei ao mestrado de Antropologia Social decidi pesquisar sobre a história da minha família, que é de sindicalistas. O meu avô é um sindicalista rural, que lutou bravamente contra a ditadura militar. Fundou o Sindicato de Trabalhadores Rurais durante esse período. Eles precisaram ficar dois anos na clandestinidade. Foram queimados muitos roçados, queimaram casas dos nossos amigos. Muitas histórias são de resistência da família, do roçado e da cultura. Para que essas pessoas pudessem existir no mundo e diante desse cenário todo, elas não puderam eestar nos bancos escolares e eu sou a primeira geração que consegue esse feito. Pesquiso sobre as memórias do meu avô, sindicalismo rural e as lutas pela terra na Bahia. Essa é minha pesquisa de doutorado.

Como foi a sua reação ao saber que iria para Harvard?
Estou no processo para entender tudo o que está acontecendo. Não tenho noção de que conquistei coisas tão grandes. Nem nos meus maiores sonhos imaginaria Harvard. Quando eu era menina, lembro que cheguei à escola e as pessoas chutavam meu material, riam de mim. Parecia tudo tão distante. Achava que, quando eu conseguisse um dia fazer um doutorado, teria vencido muito na vida. Só que, de repente, fiz muito mais que tudo isso. E parece que estou só começando. Eu já nem sei mais para onde é que posso ir. Parece que o mundo ficou pequeno para mim.

E se você pudesse dar um conselho para quem está começando a estudar agora?
Tenham propósitos e não desistam dos seus sonhos. Por muito tempo na vida, às vezes a única coisa que temos é o sonho. E quando a gente vai atrás dele, ele pode fazer coisas inimagináveis com a gente. Então agarra as oportunidades que a vida te dá. Muitas pessoas vão falar que você não vai conseguir, vão falar que você sonha alto demais, mas podemos fazer muito pela nossa história, pela história dos nossos, precisamos acreditar e seguir caminhando. Tem muito trabalho, há muitos bastidores que ninguém vê, mas o importante é confiar. Guimarães Rosa fala “o que a vida quer da gente é coragem”. Então coragem e ‘bora’.

Por Igor Vieira

Em meio à euforia com as primeiras medidas do novo governo Lula, com ações em várias áreas — inimagináveis no período de trevas de Jair Bolsonaro —, não é incomum perder de vista que a reforma do Ensino Médio está em vigor. Ela foi instituída no governo Michel Temer, por meio da Medida Provisória 746), e o primeiro ciclo de implantação gradual começou no ano passado e vai até 2024. Mas cresce um movimento pela revogação da medida.

Para o professor Roberto Leher, ex-reitor da UFRJ e especialista em Educação, a reforma teve um erro de origem. “Ela foi instaurada após o golpe de 2016 (quer levou ao impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff) por meio de uma medida provisória. O que é uma impropriedade. Um tema como a reforma do Ensino Médio não pode ser objeto de medida provisória”, diz Leher.

Segundo o professor, a reforma carece de conteúdo. “O conceito geral dos empresários é de que o país vai precisar apenas de trabalho simples, de técnicos, com uma formação mais utilitarista e pouca fundamentação científica e tecnológica. A reforma trabalha com conceitos gelatinosos e sem uma formação humana, que prepare os jovens para o século XXI”, argumenta.

O ex-reitor sustenta que faltou diálogo para a elaboração da proposta e defende a revogação da MP. “A reforma do Ensino Médio caminha junto com a nova Base Nacional Comum Curricular, também apresentada no governo Temer. Ela inclui técnicas de como fazer brigadeiros, e não um processo formativo de maior complexidade. É um ataque à cidadania. Não há uma proposta verdadeira de diálogo com universidades, empresariado, movimentos sociais e estudantis”.

Leher considera a educação fundamental para o jovem: “Temos que abrir os horizontes dos estudantes para que, ao terminarem o EM, façam escolhas consolidadas. Por exemplo, defendo que o jovem tenha uma educação artística geral, mas não significa que todos serão artistas. Também devem saber sobre as questões ambientais atuais, a matriz energética, a economia em crise. O Novo Ensino Médio não coloca os jovens no século XXI”.

A reforma é um debate complexo, que tem diversos pontos de vista. Professora da Faculdade de Educação e diretora da AdUFRJ, Ana Lúcia Fernandes considera que as críticas são válidas, mas faz algumas ponderações: “Há estados que estão na metade da implementação do ciclo 2022-2024. Revogar significa interromper esse processo em curso e entrar em um vazio legal, ou voltar para o que era antes, que também não era bom”, pontua.
“É verdade que a carga horária foi aumentada em escolas que têm pouca infraestrutura, e existem muitos exemplos de oferta de matérias esdrúxulas e fora do contexto escolar. Porém, tais circunstâncias não devem servir para condenar uma tentativa de mudança em curso, mas sim para fomentar um aprofundamento da reflexão sobre a grade curricular”, complementa a professora.

Ana Lúcia vê um aspecto positivo na reforma: “A possibilidade de os estudantes estabelecerem seus projetos de vida, pensando nas suas trajetórias de forma autônoma e diversificada, é algo inédito no país. Em termos de extensão territorial e diversidade cultural, será mesmo que tudo tem que ser igual?”, observa.

PROTESTOS
O Novo Ensino Médio vem sendo alvo de manifestações em todo país. Na quarta-feira (22), professores, alunos e movimentos sociais se reuniram em frente ao MASP, na capital paulista, para exigir a revogação da reforma. Os manifestantes chegaram a bloquear a Avenida Paulista. As primeiras manifestações ocorreram em 15 de março, convocadas por entidades estudantis como a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES).

No Rio, a Cinelândia foi o palco de uma grande manifestação no dia 15. Ao lado de professores e de entidades sindicais, estudantes de escolas públicas como o Colégio Pedro II e a Faetec protestaram diante da Secretaria de Educação do estado e ocuparam as escadarias da Assembleia Legislativa (Alerj).

O professor Jaber Câmara, que ensina Filosofia na rede pública estadual, constatou a piora do ensino com o Novo Ensino Médio. “Na rede privada, as aulas eletivas estão acontecendo no contraturno. Já na rede pública, muitos estudantes têm que trabalhar à tarde porque não podem permanecer apenas na escola”.

O docente observou que as escolas não têm infraestrutura adequada para suportar as mudanças. “Ocorre uma perpetuação da desigualdade, porque o aluno não vai ingressar no Ensino Superior e mudar seu cenário de vida. As escolas públicas ainda contam com falta de pessoal e de infraestrutura. Não adianta reformar o modelo se a estrutura continua sucateada”, disse Jaber.

REVOGAÇÃO
A estudante Vivian Werneck, representante do grêmio da Faetec, deu seu relato: “Temos matérias com nomes vagos, como ‘Projeto de Vida’, em que conversamos sobre questões pessoais que não são pauta para sala de aula. Os professores que dão a matéria não estão preparados, pois antes ensinavam outros assuntos, bem mais importantes”. Ela pede a revogação do que vê como “uma elitização do ensino”.

Ex-presidente do grêmio do Colégio Pedro II de Realengo, Jamily Roberta, que acabou de se formar, foi apoiar os colegas: “O Pedro II é conhecido por ter uma educação de excelência e libertadora. A reforma ainda não nos afetou, mas caso continue, vai substituir a educação de qualidade por uma educação de lógica neoliberal”, destacou.

Lucas Peruzzi, coordenador do DCE Mário Prata da UFRJ, seguiu a mesma linha de Jamily: “Muitos dos universitários, futuramente, estarão licenciados para dar aula nessas escolas que estão cada vez mais sucateadas. A reforma foi pensada para atender grandes empresários e bancos, e não uma educação gratuita e de qualidade”.

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