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WhatsApp Image 2023 06 29 at 21.15.02 3Foto: Renato Mariz (Ascom/CCS)Por Igor Vieira

O público presente no auditório da Inovateca na segunda-feira (23) era único e diverso: único pela vontade de estudar, e diverso em sua sexualidade, identidade de gênero e experiência, compondo as letras do LGBTQIA+ da sua maneira, em seus sonhos e projetos de vida. No evento de abertura da terceira Turma e do primeiro Seminário do Programa de Extensão TransGarçonne, professores, alunos, extensionistas, representantes de ONGs e do poder público se reuniram para celebrar a Educação e o orgulho.
O professor Renato Monteiro, do Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC), explicou os eixos de atuação do programa, voltado para pessoas trans, travestis e não-binárias. “Qualificamos os alunes para o mercado de trabalho em Gastronomia, com foco em bebidas. No eixo da empregabilidade, temos um banco de currículos compartilhado com empresas parceiras”.
Monteiro utilizou sua experiência no mercado e sua área de atuação na universidade para a capacitação. “Como professor do Departamento de Gastronomia, eu leciono a disciplina ‘Bebidas, bares e restaurantes’. Dentro da Gastronomia, essa é a área de hospitalidade e serviço de salão, que é o atendimento de clientes em bares, restaurantes e hotéis”.
O programa é ainda mais relevante, levando em conta que o Brasil é o país que mais mata pessoas trans, e que mais de 90% delas têm a prostituição como fonte de renda. “A ideia do curso veio da minha vivência, para pessoas que não tiveram as mesmas oportunidades”, contou Renato, homem trans e o primeiro professor a se assumir e fazer a transição dentro da UFRJ.
Os alunes também são preparados para entrevistas de empregos, aprendendo etiqueta de trabalho e cultura das empresas, com ajuda dos oito docentes e 17 extensionistas da equipe.
A professora Cristina Vermelho, do Instituto Nutes de Educação em Ciências da Saúde, do Centro de Ciências da Saúde, atua no eixo pedagógico. “Eu trabalho nos bastidores, fazendo a preparação pedagógica dos extensionistas da UFRJ. Ensino-os a preparar e ministrar aulas”, descreveu a professora, que entrou na extensão em 2021.
Essa é uma experiência enriquecedora para os estudantes do bacharelado. “Eles respondem super bem, o grupo atual já está trabalhando com a segunda turma. Há um nervosismo por serem da graduação. No final, porém, eles têm outra visão até do seu próprio processo de formação”, relatou a professora Cristina. Ela foi orientadora do professor Renato, e acompanhou todo o processo de transição.
A professora Verônica Oliveira, vice-diretora do INJC, desejou sucesso à nova turma do TransGarçonne. “A UFRJ tem responsabilidade social de promover esse curso: essa é uma universidade pública de todes para todes. Espero que a turma seja representante de tudo o que a universidade pode oferecer”.
A inauguração da nova turma no mês do orgulho é ainda mais emblemática. Os alunos extensionistas, do curso de Gastronomia, são aliados ou fazem parte da comunidade, representados em alguma das letras do LGBTQIA+. Eles atuam nas aulas, na comunicação, na organização, e nos diferentes eixos, como o de empregabilidade.
O estudante de Gastronomia Pedro Domingos entrou na extensão em 2021, e já atuou lecionando. “Ainda não tinha conhecimento em coquetelaria. No programa, ampliei a minha percepção da Gastronomia, tanto na parte prática quanto social, pela transformação da realidade através do trabalho conjunto”, disse o estudante.
Pedro agora trabalha na comunicação, junto com a aluna de Gastronomia do terceiro semestre Karina Lassala. “Entrei porque a área de bares e bebidas é a que mais me interessa na Gastronomia. Também me sensibilizo com a proposta e com o público”, contou Karina, que conhece o programa antes mesmo de ingressar na UFRJ, em 2022.
Karina já participou de algumas aulas. “Ampliei meu contato com pessoas da comunidade, que têm histórias de vida às vezes difíceis, mas inspiradoras. É um ambiente muito acolhedor”, disse Karina.
Graças ao TransGarçonne, a ex-alune e embaixadora do programa, Rochelly Rangel, hoje tem uma carreira de sucesso: já ganhou prêmios pelos seus drinks, assina a carta de bebidas do Hilton e venceu até mesmo um reality show. “O TransGarçonne foi a oportunidade que eu sempre busquei. Eu trabalhava como cabeleireira, mas não era o que eu queria. Hoje, tenho uma carreira, carteira assinada, nome retificado, e a lei é minha aliada, como qualquer trabalhadora, porque estou na formalidade e tenho direitos”, comemorou Rochelly. “A UFRJ também me abriu um universo diverso, da Educação. Nunca pensei que estaria em uma universidade, mesmo sendo curso de extensão”.
Rochelly dividiu a apresentação da nova turma e primeiro seminário com seu colega ex-alune Ary Santos, que hoje também está empregado. “A UFRJ é uma instituição centenária, e que se atualiza”, disse ele para nova turma da diversidade.
Presente ao evento, a procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT) do Rio de Janeiro, Fernanda Diniz explicou a atuação do MPT. “É um orgulho o Transgarçonne integrar nosso fundo de Destinação Substituta”, disse Fernanda. A verba do fundo é composta por meio de indenizações de empresas irregulares, e destinada a projetos e ONG’s por meio de edital.

WhatsApp Image 2023 06 29 at 21.15.02 4Microalga amazônica ainda não identificada. Autoria: Aldenora Vasconcelos/Centro Multiusuário para Análise de Fenômenos Biomédicos da Universidade do Estado do Amazonas/CenabioQuem frequenta a Cidade Universitária pode trocar a paisagem inóspita do Fundão pela rara beleza das imagens produzidas em pesquisas acadêmicas. Uma exposição de cartazes coloridos e surpreendentes acaba de ser inaugurada no bloco K do Centro de Ciências da Saúde. São análises microscópicas, exames de ressonância, ilustrações e pinturas que aproximam os espectadores do trabalho realizado em laboratórios e ateliês.
As reproduções — parte delas ilustra esta página — foram escolhidas a partir de uma disciplina oferecida pelo Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE) da UFRJ. As aulas, que ocorreram em 2022, discutiram as “Imagens dos Mundos Reais e Imaginários” como ponto de convergência de diferentes saberes.
“Fomos à procura de imagens da música, da pintura, da arquitetura e das ciências sociais. Fomos atrás de imagens de explosões que ocorrem no universo”, cita o idealizador da iniciativa e diretor do Centro Nacional de Biologia Estrutural e de Bioimagem, professor Adalberto Vieyra. “Foi um encontro extremamente rico, variado, e acredito que todos nós crescemos muito a partir dessa experiência”.
Diretora do CBAE, a professora Ana Célia Castro convida toda a comunidade acadêmica a conhecer o trabalho. “Acho que todo mundo deveria ver. Ficou de uma beleza indescritível e inesperada”.WhatsApp Image 2023 06 29 at 21.16.45 1A espera/Série Melancolia - Autoria: Lícius Bossolan - Curso de Pintura - Escola de Belas Artes/UFRJ
Mas quem não puder ir ao CCS não precisa se preocupar. Após 15 dias, a exposição irá para a sede do próprio Colégio, no Flamengo. E, num futuro próximo, talvez para a Casa da Ciência. “Acho que a Casa da Ciência é o local natural para ela. Porque os alunos das escolas poderiam ver. Isso é uma grande motivação para que as pessoas venham fazer cursos. É um apelo enorme para os estudantes do ensino médio”.
Cada cartaz é acompanhado de um QR code, que conduz o internauta para a aula em que aquela imagem foi discutida. E todas elas estão disponíveis no canal do CBAE, no Youtube. “Tão importantes quanto as imagens são as aulas que falam delas”, reforçou Ana Célia.
WhatsApp Image 2023 06 29 at 21.16.45grãos de pólen da espécie Ixora coccinea. Autoria: Aldenora Vasconcelos/Centro Multiusuário para Análise de Fenômenos Biomédicos da Universidade do Estado do Amazonas/Cenabio A professora Débora Foguel, do Instituto de Bioquímica Médica, ministrou uma das aulas da disciplina, e recomendou a exposição: “Muito bonita e interessante a iniciativa. É uma experiência única onde a ciência encontra a arte, onde a ciência encontra cor. Fiquei muito emocionada”, disse.
A professora Claudia Mermelstein, organizadora da exposição ao lado do professor Manoel Luis Costa — ambos do Instituto de Ciências Biomédicas —, convida todos a visitarem as imagens da vida mostradas nesta exposição. "São imagens lindas do ponto de vista estético e além disso ricas em conteúdo".

WhatsApp Image 2023 06 29 at 21.15.02 2Foto: Fernando SouzaA manhã de 29 de junho foi intensa e festiva no Fórum de Ciência e Cultura. O histórico prédio da Avenida Rui Barbosa sediou o Primeiro Encontro Presencial de Divulgação Científica da UFRJ. O evento foi organizado pela professora Christine Ruta, coordenadora do fórum, e apoiado pelas pró-reitorias de Pesquisa e de Extensão. Cem divulgadores científicos da universidade se inscreveram no encontro e 20 projetos foram apresentados ao público.
Um deles foi o Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada, projeto coordenado pela professora Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ. “Nosso objetivo é ampliar o acesso a análises do sistema político brasileiro e suas instituições”, disse. “Política tem que ser discutida com dados”, defendeu Mayra, que é professora de Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS). O projeto é ligado ao IFCS e à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
No início do encontro, a pró-reitora de Extensão, professora Ivana Bentes, defendeu a integração entre os saberes acadêmicos e tradicionais. E apontou a linguagem como um desafio a ser superado. “A gente precisa ainda aprimorar a comunicação numa linguagem digital que chegue na população em geral”, observou. “A cultura letrada nos formou, mas a gente descuidou da oralidade. A gente tem que aprender a linguagem digital que foi popularizada pela anticiência. Há uma linguagem das redes que precisa ser apropriada e ampliada por nós”.
Representante da Pró-reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, o professor Rafael Cavalcante observou que a cultura da divulgação científica precisa ser incentivada desde a base. Não somente por meio de atividades de extensão. “Talvez esse seja o maior desafio. Temos 132 cursos de pós-graduação, mais de 1.450 laboratórios de pesquisa, uma produção científica enorme”, elencou. “A forma de disponibilizar todo esse conhecimento faz, certamente, toda a diferença”.
Coordenadora do Fórum de ciência e Cultura, a professora Christine Ruta – que permanece no cargo na nova gestão da universidade – destacou a representatividade dos projetos apresentados no encontro. “Tivemos projetos de todos os centros da universidade, de Caxias, de Macaé”, celebrou. “Esta é uma sementinha que estamos plantando. A gente pretende ser ponto de encontro da divulgação científica da UFRJ. O fórum, de maneira geral, se sente extremamente feliz em acolher essa semente”, afirmou.
O primeiro desdobramento do encontro desta quinta-feira foi anunciado ao final do evento. Todos os docentes, técnicos e estudantes que apresentaram seus projetos de divulgação científica foram convidados a escrever artigos para a terceira edição da revista digital do FCC. “Os projetos foram tão bacanas que resolvemos fazer um terceiro volume temático com os projetos aqui apresentados”, contou Christine Ruta.Outro plano é realizar um novo encontro de divulgadores, ainda maior, e aberto a instituições externas à UFRJ.
O encontro também celebrou o aniversário de um ano de criação da Superintendência de Divulgação Científica do FCC.

bandeira adufrjTerminamos junho com muitas notícias. Quase todas boas. A melhor de todas nasceu de uma construção coletiva que, desde 2015, busca novas formas de luta sindical na UFRJ. Os frutos dessa articulação aparecem numa AdUFRJ mais conectada ao cotidiano dos docentes e comprometida com a universidade pública e com a valorização do trabalho dos professores. Acreditamos que o sindicalismo contemporâneo precisa dessa oxigenação que combina a luta histórica por um mundo menos desigual com ferramentas contemporâneas de construção social.
A última assembleia de docentes, realizada na manhã de quarta-feira (28), fortaleceu nossa compreensão de sindicalismo. Por 74 a 24 votos, os professores aposentaram as urnas de papel e aprovaram que as eleições da AdUFRJ passarão a ser virtuais. O novo regimento eleitoral começa a valer já no próximo pleito, em setembro. A diretoria compreende que o novo método fortalece a democracia sindical e amplia a participação.
Desde 2015, quando duas chapas passaram a disputar a direção da AdUFRJ, o número de eleitores se mantém estável. No entanto, em 2021, quando houve a primeira eleição remota, ainda em situação excepcional, por conta da pandemia, houve substantivo crescimento de votantes. Eles passaram de 1.239, em 2019, para 1.643, em 2021.
“Houve grande crescimento de votos, mas, proporcionalmente, esse crescimento foi estável entre situação e oposição. A proporção se manteve a mesma”, disse o professor João Torres, presidente da AdUFRJ, durante a assembleia. “Portanto, houve a ampliação de votantes dos dois campos, algo que consideramos muito benéfico para o nosso movimento docente”, afirmou.
A outra boa nova da semana foi a nomeação oficial do reitor eleito, professor Roberto Medronho. Ele tomará posse em Brasília na próxima segunda-feira. Os novos pró-reitores serão aprovados em reunião extraordinária do Consuni, na terça-feira. Nas páginas 4 e 5 do Jornal da AdUFRJ, apresentamos um perfil do primeiro escalão da nova reitoria.
Aqui, a notícia é boa, mas altera profundamente a rotina da diretoria.
Entre os nomeados está o professor João Torres, atual presidente da AdUFRJ. Todo a diretoria entendeu a escolha como um reconhecimento de sua competência, mas lamenta a saída. Professor titular do Instituto de Física, Torres conta que os 21 meses na presidência da AdUFRJ mudaram sua visão sobre o sindicato.
“O que eu levo de mais precioso do exercício da presidência da AdUFRJ é que agora realmente entendi a importância do sindicato. Entrei ainda no governo Bolsonaro. Ter um sindicato forte e independente, que possa representar bem os docentes e fazer uma luta política em favor dos professores, foi meu maior aprendizado. Confesso que sair da AdUFRJ agora nunca esteve nos meus planos, mas participar da administração central da UFRJ na PR-2 é uma honra e vou fazer o melhor possível”, resumiu Torres.
A substituição na diretoria da AdUFRJ será chancelada na próxima segunda-feira. Faremos duas assembleias. As duas virtuais. A segunda, extraordinária.
Na primeira, vamos discutir o edital das eleições da AdUFRJ. Na segunda, apresentaremos a indicação da professora Nedir do Espírito Santo para a presidência da AdUFRJ.

 Por fim, a notícia ruim da semana vem da educação estadual. O governador do Rio, Cláudio Castro, tem se mostrado inflexível na proposta de maquiar o cumprimento da lei do piso nacional do magistério e paga o pior salário do país aos professores. Pior: acionou a Justiça contra a legítima greve da categoria. Nossa diretoria repudia essa prática antissindical e conclama o governador a estabelecer uma efetiva mesa de negociação com os educadores, em nota divulgada na página 6.
Desejamos dias melhores para os colegas do magistério estadual e cobramos responsabilidade do governador Cláudio Castro com a educação pública. Porque, afinal, como mostramos na reportagem da página 7, sobre o programa do Instituto de Nutrição para profissionais trans, a Educação é a melhor e mais potente forma de mudar destinos.
Boa leitura!

WhatsApp Image 2023 06 22 at 20.25.49 1Por Francisco Procópio

No mês em que o mundo celebra a diversidade sexual, o Jornal da AdUFRJ publica emocionantes depoimentos de docentes sobre o cotidiano da comunidade LGBTQIA+ nos campi. “No meu início, o ambiente não era muito receptivo. Ao longo dos anos, isso foi melhorando. Fui patrono e paraninfo por 14 vezes”, resume Ricardo Henry Dias, da FACC.
Marcelo Alexandre de Melo, da Letras, ressalta a importância de falar sobre o assunto em sala de aula. “É um movimento de afirmação, de orgulho. É um ato político. É importante que a gente fale sobre este tema também na sala de aula e em todos os lugares. Principalmente quando você é professor e está em uma situação de certo destaque”, pondera o docente.
Também da Letras, Katia Teonia reconhece que, recentemente, a universidade adotou uma série de medidas inclusivas, mas avalia que ainda há muito por fazer. “Como aluna, não me lembro de ter tido algum docente LGBTQIA+. Existe uma questão de representatividade aí. Tivemos mudanças institucionais importantes na UFRJ, como a resolução que assegura o nome social a pessoas trans. Vejo espaços de debates pautando o assunto na universidade. Existe a ouvidoria também, mas acho importante estarmos sempre pensando os mecanismos de combate às violências. Temos muito o que fazer ainda”, alerta.

DEPOIMENTOS

WhatsApp Image 2023 06 22 at 20.27.14 2Marcelo Alexandre
Lopes de Melo

Professor da Letras

Sou filho de pai militar e fiz colégio militar por sete anos. No fim dos anos 1980, início dos 1990, não havia discussões sobre questões LGBTQIA+. Instintivamente, desde a minha adolescência, fui aprendendo a me esconder dentro de uma identidade que não era minha. Era um sentimento de preservação, que me levava – sem perceber – a esconder gestos, a gesticular menos, a usar determinado tipo de roupa e a falar com determinado tom de voz. Essas pequenas violências diárias foram muito significativas. Eu me assumi no ano 2000, com 24 anos. Hoje tenho 46.
Entrei na UFRJ como professor substituto em 2015. Em 2016, um aluno da Letras, que era gay, o Diego Vieira, foi assassinado aqui no campus. Houve uma reunião na faculdade para cobrar as medidas cabíveis para a apuração do caso. Esse encontro iria ocorrer no dia da minha aula. Mandei um e-mail para os alunos e disse que não daria a aula porque como professor, aluno — eu era doutorando — e um homem gay dessa instituição, não poderia deixar de participar desta reunião. Muitos ficaram surpresos. Provavelmente essa surpresa se deu em razão do estranhamento causado pelo fato de muitos terem um professor gay que falasse abertamente sobre sua sexualidade. Acredito que a maioria nunca devia ter tido um professor abertamente gay que dialogasse sobre sua orientação sexual, ainda mais relacionando tudo isso a um episódio de tamanha violência. Assim como Diego, eu poderia ter sido alvo daquela violência toda. E o próprio choque já mostrou que eu precisava falar mais sobre isso.
É importante que a gente fale sobre este tema também na sala de aula e em todos os lugares: é um movimento de afirmação, de orgulho. É um ato político. Principalmente quando você é professor e está em uma situação de certo destaque. É importante falar do meu companheiro, dos meus afetos, assim como qualquer outro professor fala em sala de aula. Quem é LGBTQIA+ sabe da dificuldade de tornar isso um hábito diário. E muitos alunos LGBTQIA+ enxergam na gente uma possibilidade de existir, porque somos professores da UFRJ, a maior universidade federal do país. E podemos ocupar qualquer lugar.
Aqui na Letras, é mais tranquilo. É um ambiente muito mais plural e acolhedor do que fora da universidade. Temos um ambiente politizado em relação a essas e outras questões. Mas, infelizmente, acho que a universidade como um todo ainda discute muito pouco estas questões.

WhatsApp Image 2023 06 22 at 20.27.14 1Katia Teonia
Professora da Letras

Estou aqui há 12 anos como professora efetiva e há mais tempo como substituta. E, desde antes disso, sou uma mulher casada com outra mulher. Mas só agora estou sendo convidada a falar sobre o tema em um espaço para docentes. Isso é uma prova de que as coisas estão mudando para melhor. Pode ser que eu esteja sendo injusta, mas não me lembro de ter visto uma matéria visibilizando os docentes e técnicos da UFRJ que são pessoas LGBTQIA+.
Sou muito grata o tempo todo às alunas, aos alunos e aos alunes por me ajudarem a reconhecer quem sou.
Quando estava acabando meu contrato como substituta lá em 2008, eles resolveram fazer uma homenagem para mim. Foram até meus pais, minha esposa e amigos e pegaram depoimentos e fotos para exibir em um auditório.
Um desses depoimentos foi o da minha esposa Renata. Só que eu não sabia que minha mãe estava lá atrás, no auditório. Foi um momento muito especial, porque eu nunca tinha conversado com ela sobre este assunto.
Sou bissexual. Eu era noiva de um rapaz e terminei com ele para ficar com a Renata, com quem estou casada há 21 anos. Eu saí de casa, falando: ‘mãe, vou morar com uma amiga’. Então esse momento de homenagem dos alunos foi também quando pude falar com a minha mãe abertamente sobre o tema e, a partir dali, tudo mudou.
Não existe nenhum coletivo LGBTQIA+ de docentes, pelo menos aqui na Faculdade de Letras. Não conheço na UFRJ. Está aí uma boa sugestão. Nesse aspecto, os alunos nos dão muitas aulas.
Como aluna, não me lembro de ter tido algum docente LGBTQIA+. Existe uma questão de representatividade aí. Em 2008, depois daquele episódio, fui procurada por uma aluna. Ela disse ter sido muito importante me ouvir naquela homenagem, porque estava passando por um momento de se reconhecer como uma mulher que gosta de mulher.
Tivemos mudanças institucionais importantes na UFRJ, como a resolução que assegura o nome social a pessoas trans. Vejo espaços de debates pautando o assunto na universidade. Existe a ouvidoria também, mas acho importante estarmos sempre pensando os mecanismos de combate às violências. Temos muito o que fazer ainda.

WhatsApp Image 2023 06 22 at 20.27.14Ricardo Henry Dias Rohm
Professor da FACC

Entendo que é publicamente sabido que não sou heterossexual. Até porque eu tenho sido uma referência para muitos alunos que me procuram com dificuldades de discriminação, não se sentindo bem na universidade. Eu oriento, converso, sempre foi assim.
Sofri homofobia diversas vezes. Na juventude, já vivi situações que precisei enfrentar fisicamente as pessoas, e não deixei de enfrentar, já que eu praticava artes marciais. Na UFRJ, mesmo como professor, o ambiente não era muito receptivo, no início, em 2006. Como eu comecei a orientar pesquisas na área da diversidade e isso não existia na FACC, percebi algumas reações veladas, alguns comportamentos de estranheza. Ao longo dos anos, isso foi melhorando. Felizmente, sou muito bem quisto. Fui patrono e paraninfo de turma de formatura por 14 vezes. Isso deve significar alguma coisa.
Evidentemente, no período bolsonarista, a situação voltou a piorar, até por parte de alguns alunos extremistas. Durante a pandemia, uma live de pesquisa da universidade sobre diversidade foi invadida por extremistas. Assustou inclusive os professores que não tinham vivência com esse tipo de discriminação e se solidarizam conosco. Mas não me deixo dobrar por esse tipo de coisa, não.
Não faço parte de nenhum coletivo, mas tenho um programa de pesquisa que criei há 14 anos, com uma parte de desenvolvimento humano na qual oriento alunos de graduação e pós-graduação que trabalham com o tema da diversidade.
Há um clima mais favorável e mais aberto, mas há muito trabalho a ser feito. Acho que deveria haver uma orientação, inclusive, do corpo docente da universidade. Não é simplesmente fazer uma palestra aqui, outra ali para todo mundo ficar politicamente correto, não. Vou além. Especificamente no caso de professores, deveria até contar para a progressão funcional. Para os professores fazerem progressão na universidade, independentemente da atividade de pesquisa, ensino, extensão, deveriam frequentar alguns cursos de formação ligados à diversidade e à sustentabilidade. Questões que são prementes no mundo contemporâneo.

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