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Lucas Abreu e Isadora Camargo

A universidade saiu dos seus muros, cruzou a Zona Norte e pousou em Madureira. No sábado (25), a Praça Olímpica do Parque Madureira Mestre Monarco foi palco de um alegre encontro entre a população e professores e estudantes de graduação e pós-graduação da UFRJ. Organizado pela AdUFRJ, o evento UFRJ na Praça levou ao parque mais de 20 atividades de várias áreas do conhecimento, mostrando ao público um pouco da produção científica da universidade, valorizando o papel das instituições públicas de ensino — tão atacadas pelo governo Bolsonaro — e revelando como a Ciência está presente em nosso cotidiano.
Para João Torres, presidente da AdUFRJ, a atividade foi um sucesso. “Foi muito importante trazer para a Zona Norte, para um equipamento tão bacana quanto o Parque Madureira, o que é feito na UFRJ”, celebrou o professor. No começo do evento, ele saudou os professores, os estudantes e o público. “É uma enorme satisfação para nós, da AdUFRJ, promover este encontro da UFRJ com a população da cidade do Rio”, disse João.
Quem passou pelo evento se encantou com a variedade de oficinas, apresentações e interações. O professor Fernando Santoro, diretor do IFCS, comandou a encenação da peça “Cortando a cabeça do tirano”. A companhia de dança Mova-se, que dá aulas no parque há nove anos, apresentou o espetáculo Ouro Negro. E a Ciência esteve muito bem representada em várias oficinas, distribuídas por tendas na Praça Olímpica.
Uma das tendas mais visitadas foi a do Laboratório de Répteis e Anfíbios, onde a coleção de sapos, rãs e pererecas fez a alegria da criançada. Na oficina DNA funcional, um jogo de amarelinha ajudou o público a entender as intrincadas estruturas genéticas do corpo humano. Já na oficina Formulando Literacia Científica, os visitantes puderam acompanhar, por meio de uma maquete, o processo de fabricação dos medicamentos, desde a extração de polímeros na natureza até seu uso na indústria farmacêutica. O processo de obtenção de água e nutrientes pela maioria das plantas nos ecossistemas terrestres — por meio de simbiose mutualística com fungos micorrízicos — foi o tema da oficina Glominho micorriza.
O professor Pedro Lagerblad levou seu objeto de estudos, o mosquito, para o UFRJ na Praça. Quem passou por ali pôde, na explicação do próprio professor, saber das dificuldades da vida do inseto. “A pessoa pode ver no microscópio como o mosquito se alimenta de verdade, não é um vídeo do YouTube”, ressaltou. Para ele, eventos como o UFRJ na Praça são “uma janelinha que se abre para que a população veja o que é feito na universidade”.
A Ciência também foi mostrada nas atividades interativas do projeto de extensão Tem Menina no Circuito, e ainda em um debate sobre as eleições e a democracia no Brasil, mediado pelo cientista político Josué Medeiros, professor do IFCS.
“Deu muito trabalho organizar tudo, mas acho que podemos dizer que foi um sucesso, não é?”, comemorou a professora Nedir do Espirito Santo, diretora da AdUFRJ e coordenadora do evento. “Foi um acerto a escolha do lugar. Nós trouxemos atividades de várias áreas de conhecimento, com o objetivo de motivar jovens e crianças da região a ingressar na universidade”, pontuou a professora. Ela também levou para o UFRJ na Praça atividades do Laboratório de Instrumentação do Ensino de Matemática, com atividades lúdicas que ajudaram os participantes a aprender Matemática brincando.
Quem estava no Parque Madureira e passou pelo UFRJ na Praça com certeza saiu com uma visão mais ampla da Ciência e das universidades. Foi o caso de Rogério Assis Corrêa, morador de Madureira e frequentador do parque. “Às vezes, as pessoas acabam tendo a impressão de que o ensino superior é algo distante e muito difícil. Então essas ações de aproximação com a comunidade acabam ajudando a derrubar isso”, disse Rogério, que celebrou ainda a oportunidade de conhecer um pouco mais do trabalho da UFRJ. “Eu vi crianças que tiveram contato com trabalho científico, com informação. Foi uma oportunidade de a universidade passar algumas orientações para comunidade. Para mim valeu muito a pena, gostei bastante”.

Teatro e dança
FSOU7831O professor Fernando Santoro, diretor do IFCS, apresentou a peça WhatsApp Image 2022 07 01 at 18.35.54 16 “Cortando a cabeça do tirano”. O espetáculo Ouro Negro (à direita), encenado pela companhia Mova-se, reuniu dezenas de  pessoas no fim da manhã. O grupo atua há nove anos no Parque Madueira, com aulas de dança para a comunidade.

Facetas do corpo humano
WhatsApp Image 2022 07 01 at 18.35.54 12A oficina “Conhecendo o sistema imune através do microscópio” (àWhatsApp Image 2022 07 01 at 18.35.54 13 esquerda) mostrou as diferentes células de defesa do corpo humano atuando contra bactérias e outros invasores. Os olhos gigantes (à direita) mostraram como a visão humana é formada e como os padrões diferentes de visão, como miopia e hipermetropia, funcionam, com câmaras escuras e lentes especiais. As oficinas foram apresentadas pelo IBCCF e pelo Espaço Ciência Viva.

AdUFRJ presente
WhatsApp Image 2022 07 01 at 18.35.54 10A professora Nedir do Espirito Santo, diretora da AdUFRJ, e Meriane Paula, foram incansáveis na organização do UFRJ na Praça. Foram dois meses de planejamento para que tudo desse certo no Parque Madureira. “Deu muito trabalho organizar tudo, mas acho que podemos dizer que foi um sucesso”, disse Nedir, que ainda comemorou a escolha do parque para sediar o evento. “Trouxemos atividades de várias áreas de conhecimento, com o objetivo de motivar os jovens e as crianças”.


WhatsApp Image 2022 07 01 at 18.35.54 14Sapos, rãs e pererecas conservados em formol, da coleção doWhatsApp Image 2022 07 01 at 18.35.54 6 Laboratório de Répteis e Anfíbios, despertaram a curiosidade dos que passavam pela barraquinha (à direita). Crianças brincaram com o jogo de modelar proteínas (à esquerda). “Nossa ideia é mostrar a estrutura e a função das proteínas para um público infantil”, contou o professor do IBCCF, Bruno Torres. “Uma vez que eles entrem na faculdade, lá na frente, esse assunto vai ser mais familiar para eles”, animou-se.

Nutrição e Física
WhatsApp Image 2022 07 01 at 18.35.54 20As quantidades de sal, açúcar e gordura dos alimentosWhatsApp Image 2022 07 01 at 18.35.54 21 industralizados impressionaram quem passou pela barraquinha do Laboratório de Endocrinologia (à esquerda). Os alunos do projeto de extensão Tem Menina no Circuito e do Museu Interativo da Física (Ladif) divertiram o público, explicando fenômenos físicos com atividades lúdicas, como bolhas de sabão, cadeira de pregos e circuitos de massinha. As experiências com nitrogênio líquido foram destaque

Realidadeem discussão
WhatsApp Image 2022 07 01 at 18.35.54 1As professoras da Faculdade de Pedagogia convidaram oWhatsApp Image 2022 07 01 at 18.35.54 27 público a escrever nos jornais as manchetes que gostariam de ler. A maioria pautou a derrota de Bolsonaro e a valorização da Educação no próximo governo (à esquerda). Os alunos de Farmácia levaram o quiz “fato ou mito” sobre asWhatsApp Image 2022 07 01 at 18.35.54 23 vacinas, desmentindo as informações falsas que chegam à população e conscientizando sobre a importância de se imunizar (ao lado acima). Professores da Ciência Política apresentam a pesquisa de Monitoramento Eleitoral 2022

Contato com a Ciência
WhatsApp Image 2022 07 01 at 18.35.54 24Exposição de insetos preservados e vivos, mostrando a diversidade de espécies do grupo. Quem visitou a tenda ouviu explicaçõesWhatsApp Image 2022 07 01 at 18.35.54 26 sobre a importância dos insetos para os ecossistemas, iniciativa da professora Daniela Takiya, do Instituto de Biologia (à esquerda). Aprendendo Matemática de maneira lúdica, desenvolvendo expertises como o raciocínio lógico e a visão espacial, foi a proposta das atividades desenvolvidas no Laboratório de Instrumentação do Ensino de Matemática. Ela foi uma das tendas que mais recebeu visitas de jovens e crianças

Quem quer bacalhau?
WhatsApp Image 2022 07 01 at 18.35.54 19Dinâmica do Cenimp explicou como identificar o pescado do qualWhatsApp Image 2022 07 01 at 18.35.54 15 é feito o bacalhau com análises do DNA, com direito a uma prova de bolinho de bacalhau. “Estimular a curiosidade para que as pessoas aprendam como se faz Ciência”, explicou o professor Antônio Solé Cava (à esquerda). O presidente da AdUFRJ, João Torres, saudou os presentes na abertura do UFRJ na Praça. “Um sucesso”, avaliou.

Para dialogar com a população contra os cortes na Educação e na Ciência, professores e estudantes da UFRJ estiveram no Parque Madureira, no último sábado (25). A convite da AdUFRJ, eles organizaram atividades interativas com o público para mostrar a importância das pesquisas e das universidades públicas para o país. Confira alguns registros do "UFRJ na Praça" feitos pelo fotógrafo Fernando Souza e leia a cobertura completa do evento na próxima edição do Jornal da AdUFRJ. 
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WhatsApp Image 2022 06 24 at 21.11.49Isadora Camargo

O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho vai receber o primeiro Centro Nacional de Transplantes complexos (CTNc) pelo SUS. A previsão é que os primeiros atendimentos ocorram já em agosto. “Um projeto desse porte só poderia ser recebido pelo HU, um hospital generalista capaz de suprir as demandas complexas de estrutura e atendimento, e com o diferencial de trabalhar com formação e pesquisa”, comenta Marcos André Santos, nefrologista do Centro de Transplante Renal da unidade.
O CTNc realizará transplantes combinados de coração, pulmão, rim, pâncreas e fígado, transplantes em pacientes com problemas imunológicos, além do desenvolvimento de um programa de reabilitação intestinal e transplante intestinal e multivisceral. Para isso, o HUCFF receberá do Ministério da Saúde R$ 30 milhões em equipamentos, como ultrassom, além de materiais de laboratório, e mais R$ 50 milhões ao ano para a contratação de 200 novos profissionais. Serão realizadas, ainda, com apoio financeiro da rede privada Dasa, reformas no setor F do sétimo andar, onde será alocado o centro. Inicialmente, serão seis leitos de terapia intensiva (CTI) e oito de enfermaria. As contratações e reforma terão início em julho, e a compra dos equipamentos já está em andamento.
Idealizado em setembro de 2021, o projeto foi apresentado à Secretaria de Atenção Especial à Saúde, do Ministério da Saúde, ainda na gestão de Eduardo Pazuello. A princípio, o CTNc não teria a UFRJ como destino. Foram cotados inicialmente os institutos nacionais de Cardiologia e o de Traumatologia e Ortopedia, além do Hospital Federal da Lagoa. No final do ano passado, a proposta chegou ao HU, que a recebeu de braços abertos.
O CTNc cumprirá um papel fundamental nacionalmente, tanto no atendimento a pacientes de todos os estados da federação, quanto na formação de profissionais. Para isso, contará com a parceria da Universidade de Nebraska, dos Estados Unidos, que enviará, ao longo do ano, especialistas para assessorar na capacitação da equipe do programa de reabilitação intestinal e transplante multivisceral.
“É uma das maiores vitórias do SUS no tocante aos transplantes, um investimento milionário num hospital federal. Demonstra a importância do Hospital Universitário no ensino, pesquisa e no protagonismo de uma medicina de excelência no Brasil. Será uma referência na América Latina”, declara Eduardo Fernandes, professor do Departamento de Cirurgia da UFRJ e um dos idealizadores do projeto.

JOSUÉ MEDEIROS
PROFESSSOR DE CIÊNCIA POLÍTICA DA UFRJ

No começo do mês de dezembro de 2021, eu ocupei este espaço trazendo as boas e más notícias que vinham do Chile. Àquela altura, chilenos tinham uma esquerda renovada com o então deputado federal Boric e uma extrema-direita fortalecida com o ex-senador Kast para o segundo turno. Faltavam ainda semanas para o pleito final e a boa notícia era a vitória de Boric, que se confirmou. A má notícia era a força da extrema-direita chilena, que acendeu um alerta para a América do Sul em geral e para o Brasil, em particular.
WhatsApp Image 2022 06 24 at 21.08.41Passados seis meses, o resultado do processo eleitoral na Colômbia me traz de volta a este jornal, mas agora munido somente de boas notícias: a eleição de Gustavo Petro como presidente da Colômbia e de Francia Marques como vice-presidente, em 19 de junho de 2022, é um evento histórico sem precedente para o povo colombiano e com um significado mais do que positivo para as eleições brasileiras deste ano.

Por que Petro e Francia
fizeram história?

Pela primeira vez na história, a Colômbia terá um governo progressista. No auge da “onda rosa” sulamericana dos anos 2000/2010, apenas o governo colombiano não foi ocupado por um presidente de esquerda. A Argentina teve Nestor Kirchner e Cristina Kirchner; a Bolívia teve Evo Morales; o Brasil teve Lula e Dilma Rousseff; o Chile teve Ricardo Lagos e Michelle Bachelet; o Equador teve Rafael Correa; o Paraguai teve Fernando Lugo; o Peru teve Ollanta Humala; o Uruguai teve Tabaré Vásquez e Pepe Mujica; a Venezuela teve Hugo Chávez e Nicolás Maduro.
Não se trata de comparar os projetos desses mandatários. Sabemos que Mujica e Maduro são quase que antagônicos; tampouco queremos aqui projetar o que será o governo Petro e Francia. Mas é preciso afirmar em alto e bom som que em nenhum país foi tão difícil conquistar a Presidência pelo voto como a Colômbia. Em nenhuma outra nação da América do Sul a violência política é tão aberta e institucionalizada como lá. E se foi possível derrotar a direita autoritária colombiana, também será possível derrotar Bolsonaro aqui.
A Colômbia é um dos países que mais mata sindicalistas, ambientalistas e defensores de direitos humanos no mundo. Sua economia e defesa são altamente dependentes dos Estados Unidos. É o país com mais bases militares estadunidenses na América do Sul. Sua política é dominada por debate securitário que estimula o medo e o autoritarismo. Diversos presidentes de direita buscaram legitimar a repressão aos movimentos sociais a partir de um suposto combate às guerrilhas e ao narcotráfico. As milícias paramilitares de direita sempre atuaram com liberdade, matando esquerdistas, como ocorreu no massacre de novembro de 1985.
Por fim, o quadro político colombiano é tão pautado pela extrema-direita que nem mesmo a paz com as FARC conseguiu maioria na sociedade. O acordo de paz entre a guerrilha e o governo colombiano foi mediado por Cuba, assinado em setembro de 2016, e em outubro do mesmo ano foi rechaçado pela população em um plebiscito, quando o Não venceu com 50,21% dos votos. A despeito do resultado, o então presidente Juan Manuel Santos manteve a negociação, consolidada em novembro de 2016. A paz se cristalizou em 2017, quando finalmente as FARC entregaram as armas e viraram um partido político — mas isso não fez cessar a violência política no país. Por tudo isso, o feito de Petro e Francia é histórico.

Quem são Petro e Francia?
Gustavo Petro, novo presidente eleito da Colômbia, é economista e ex-guerrilheiro. Sua organização, o M-19, atuou como guerrilha urbana (diferentemente das FARC, que era rural) nos anos 1970 e 1980 e, após muitas derrotas, assinou um acordo de paz em 1990. Logo no ano seguinte, iniciou sua carreira política, sendo eleito deputado federal diversas vezes entre os anos 1980 e 2000, duas vezes senador da República em 2006 e 2018, e prefeito de Bogotá em 2011, quando sua administração se tornou um modelo de governo progressista no país. Além disso, foi candidato derrotado a presidente da República em 2010 e 2018.
Francia Márquez, primeira mulher negra vice-presidenta da Colômbia, é uma ativista ambiental e antirracista. Liderou as lutas contra a mineração ilegal no norte do país e organizou em 2014 uma marcha de mulheres negras por mais de 500 quilômetros até a capital colombiana. Foi também protagonista dos acordos de paz entre o Estado e as FARC.
Petro e Francia disputaram em março de 2022 as prévias do Pacto Histórico, uma frente progressista de amplitude inédita. Francia era pré-candidata desde agosto de 2020, enquanto Petro anunciou sua campanha em novembro de 2021. As prévias contaram com outros três candidatos. Petro foi o mais votado e Francia ficou em segundo lugar. O feito da vice-presidenta foi ainda mais impressionante porque ela foi a terceira pessoa mais votada do país nas primárias, recebendo 750 mil votos, ficando atrás apenas de Petro e Frederico Gutierrez, que venceu as prévias da coalizão direitista.
Em grande medida, a aliança Petro e Francia foi mais imposta do que uma escolha. Diante da votação consagradora da ativista, não restou a Petro outra opção para a composição da chapa como vice-presidenta.
E agora, uma vez que eles venceram as eleições, os sentidos dessa composição impactam não apenas a Colômbia, mas também o Brasil, prestes a enfrentar as eleições mais importantes da nossa recente democracia

Qual é o significado da
vitória de Petro e Francia?

A composição entre Petro e Francia significa uma aliança entre os dois pilares do progressismo sulamericano. Petro representa o pilar que atuou pela redemocratização da região desde o final dos anos 1970 até os anos 1980 e que protagonizou o ciclo progressista do século XXI. Ele é da mesma geração de Lula, Mujica, Tabaré Vasquez e Bachelet. Já Francia é a expressão das novas personagens políticas que entraram em cena já no ciclo progressista, exigindo uma democracia mais substantiva não apenas na questão social, mas também na igualdade de gênero e raça, na defesa dos povos tradicionais e da natureza, na centralidade das pautas dos direitos humanos. Ela é da mesma geração que o presidente do Chile, Gabriel Boric.
A aliança entre esses dois pilares não é óbvia e, pelo contrário, em muitos países as tensões entre essas duas visões têm prevalecido aos acordos. Isso ocorreu sobretudo em momentos de choque quando o pilar da redemocratização estava no governo e as novas personagens começaram a entrar em cena. Foi assim no Chile com a Revolta dos Pinguins em 2006 e as Jornadas de Junho no Brasil, em 2013.
É por isso que as boas notícias que vêm da Colômbia vão além da vitória eleitoral. Essa aliança tem o potencial de não apenas reconquistar a direção do Estado — como já ocorreu no Chile e vai ocorrer no Brasil em outubro —, mas também de pautar os novos governos progressistas na direção de reformas sociais e políticas que aprofundem a democracia na América do Sul.
O atual ciclo de governos de direita e extrema-direita, do qual Bolsonaro é o caso mais emblemático, mas que tinha na Colômbia sua maior força, nos mostrou que não bastam instituições democráticas mais ou menos consolidadas. É preciso que a violência política e a desigualdade sejam de fato combatidas para que democratização não seja apenas institucional, mas se enraíze em uma cultura cidadã mais efetiva.

WhatsApp Image 2022 06 24 at 21.02.21Foto: Alessandro CostaA AdUFRJ realizou sua primeira assembleia híbrida nesta semana. O encontro aconteceu na quarta-feira, dia 22, e reuniu 47 professores de forma remota e presencial. Preocupados com os cortes do orçamento e com as condições de trabalho, os professores decidiram fortalecer a participação em eventos que denunciem a crise imposta às universidades públicas. Nesta sexta-feira, 24, o vice-reitor da UFRJ, professor Carlos Frederico Leão Rocha, confirmou o corte integral de 7,2% no orçamento, conforme o Jornal da AdUFRJ já havia antecipado na semana passada.
Portarias do Ministério da Economia remanejaram o percentual que ainda restava (3,6%) do orçamento bloqueado para o Proagro (Programa de Garantia de Atividade Agropecuária). “Este corte é perverso porque inviabiliza o término do ano letivo”, afirmou a reitora Denise Pires de Carvalho. “Se não houver recomposição, estaremos com o funcionamento comprometido o mais tardar em setembro”, completou o pró-reitor de Finanças, professor Eduardo Raupp.
A primeira atividade de moblização em defesa da universidade é a UFRJ na Praça. Organizado pela diretoria da AdUFRJ, o evento será sábado no Parque Madureira. Mais de 20 professores farão exposições, experiências científicas, palestras, oficinas e mostras. O objetivo é dialogar com a sociedade, apresentar a produção acadêmica e denunciar os cortes no orçamento.WhatsApp Image 2022 06 24 at 21.00.44
Já no dia 27, próxima segunda-feira, será a vez de a Praia Vermelha receber uma atividade de ocupação das universidades federais. O comitê de docentes daquele campus é o responsável pelos materiais de divulgação do ato e pela programação da tarde. Proposto pelo Andes, o dia 27 também é indicado para deflagração da greve nacional dos professores federais, mas os docentes da UFRJ já decidiram, em 18 de março, que não concordavam com a greve por tempo indeterminado. Naquela ocasião, mais de mil participaram da votação e 883 disseram não ao movimento paredista.
A tríade de eventos contra os cortes será concluída em julho. Ainda sem data, a atividade deverá envolver todas as entidades representativas da universidade: AdUFRJ, Sintufrj, DCE, APG e Attufrj. A reitoria será convidada para expor a situação orçamentária da UFRJ. Os professores também propuseram que reitores de outras federais participem do ato.

ASSEMBLEIA
O grupo de oposição à atual diretoria da AdUFRJ quis colocar em pauta a discussão sobre o indicativo de greve do Andes. O presidente João Torres, no entanto, rechaçou a proposta. “Programaticamente a nossa diretoria não vota greve nem paralisação sem os temas serem chamados na convocação”, disse. Além disso, Torres lembrou que os professores da UFRJ já se pronunciaram sobre greve. “Entendemos que não há fatos novos”. O presidente acrescentou que a discussão de uma nova rodada de assembleias para discutir a greve envolveu poucas associações docentes e só ganhou com um placar apertado. “Venceu por 7 a 6 na reunião do Andes. Esse é o cenário”.
Foi consenso entre os professores que a sensibilização da sociedade em defesa da Educação passe necessariamente pelo debate orçamentário. “O PIB brasileiro de 2021 foi de R$ 8,77 trilhões. A Educação recebeu R$ 96 bilhões. Isso representa 1,11% do PIB”, disse a professora Sara Granemann, do Serviço Social. “Eu não vejo como defender a Educação se não falarmos de dinheiro”, afirmou a professora.
Ildeu Moreira, professor do Instituto de Física e presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, defendeu a atuação da WhatsApp Image 2022 06 24 at 21.03.00AdUFRJ tanto no campo da articulação nacional, em defesa da Ciência e Tecnologia, quanto na atuação local, especialmente no que se refere aos direitos dos professores universitários. E pediu que a reitoria fosse mais pressionada a agir contra os cortes orçamentários. “Acho importante cobrar dos reitores uma mobilização mais intensa. É preciso que a universidade, como um todo, pare e reflita sobre os impactos desses cortes”, disse Ildeu. “Se a UFRJ fizer isso, ela vai impulsionar que outras universidades federais façam o mesmo”.
O professor Rogério Lustosa, da Escola de Serviço Social, lembrou que o inimigo da universidade é o atual presidente do país. “Nosso inimigo é Bolsonaro, é o mercado que quer nos privatizar”, afirmou. “Não podemos agir como a orquestra do Titanic”, disse. “Não podemos desprezar o Andes, não podemos desprezar a Andifes. Não podemos desprezar os parlamentares. Vamos unir forças”, exortou.

DELEGAÇÃO AO CONAD
A assembleia também definiu a delegação ao Conad, do Andes. A professora Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ, será a delegada. Luís Acosta, do Serviço Social, e Eleonora Ziller, da Letras, serão os observadores. Acosta será, ainda, o primeiro suplente.

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