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Na era Bolsonaro, política para ciência deve apostar em estimular apenas pesquisa aplicada contra pensamento crítico no ensino superior. Comunidade acadêmica se preocupa com primeiras decisões para área científica Ameaça à liberdade de cátedra, enfraquecimento das ciências básicas e desarticulação entre todos os níveis de ensino. Essas são algumas consequências das medidas anunciadas pela equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro que atingem a Academia e transformam as universidades brasileiras em cobaias de um projeto pouco debatido com a população e nada testado em experiências anteriores. A avaliação é de respeitados especialistas em Educação ouvidos pelo Boletim da Adufrj. No dia 5, Bolsonaro afirmou ser favorável à gravação de professores em sala de aula, prática recentemente rejeitada pela Justiça de Santa Catarina. Para Gaudêncio Frigotto, Titular da Faculdade de Educação da Uerj, a filmagem “é absolutamente inconstitucional” sem a autorização docente. “É uma forma de acuar, de fazer cair na pedagogia do medo”, alerta. Emérito da Faculdade de Educação da Unicamp, Dermeval Saviani também critica: “O problema é a tentativa de censura. Aí entra essa visão da Escola sem Partido que, na verdade, é uma escola dos partidos conservadores e reacionários”. Professor Titular da Faculdade de Educação da UFRJ, Luiz Antônio Cunha considera o Escola Sem Partido um movimento implícito contra a laicidade do Estado: “As páginas do movimento ESP trazem exemplos caricatos de professores que usam a sala de aula como espaço de doutrinação político-ideológica, mas é significativo que nenhum caso é divulgado sobre a doutrinação religiosa, muito comum no ensino fundamental e no médio”. Ele completa: “Contendas não faltarão no campo educacional, no cruzamento entre os campos político e religioso”. Outra contenda é a transferência das universidades do MEC para o da Ciência e Tecnologia, medida anunciada Bolsonaro logo depois da eleição. No dia 6, Marcos Pontes, futuro ministro da Ciência e Tecnologia, disse não saber se as universidades seriam incorporadas à pasta. Mas defendeu mudanças na legislação para as instituições receberem recursos privados. Dermeval Saviani se assusta com a proposta: “Querem vincular as universidades às demandas de mercado, encaminhar a eliminação do ensino gratuito e, por fim, privatizar as instituições”. Para o docente, as ciências básicas, especialmente das áreas de humanas, passarão para segundo plano. “É um grande prejuízo para a pesquisa e a educação do país”. O sucateamento das universidades estaduais fluminenses, vinculadas à Secretaria de C&T, é lembrado pelo professor Frigotto. “Já tem o modelito aqui do Rio”. O professor Cunha mostra preocupação com a própria concepção do processo educacional: “Quem pensa educação como um todo e a necessária articulação entre os níveis do ensino não aceita essa fragmentação”, disse.

Valorizar a UFRJ e defender a universidade pública, gratuita e de qualidade é o objetivo da nova campanha da Adufrj. Apresentado ao Conselho de Representantes, o material começa a ser instalado nas próximas semanas. Valorizar a UFRJ e defender a universidade pública, gratuita e de qualidade é o objetivo da nova campanha da Adufrj. Apresentado ao Conselho de Representantes, o material está em fase de produção e começa a ser instalado nas próximas semanas. Com o título UFRJ SEMPRE, a campanha tem três eixos: Sou o(a) Primeiro (a), sobre estudantes que são pioneiros em suas famílias a cursar o ensino superior. Só aqui tem, sobre projetos de pesquisa inovadores realizados nas mais diversas áreas do conhecimento. E UFRJ SIM, sobre atividades de extensão que melhoram diretamente a vida das pessoas. As peças da campanha foram idealizadas pelo premiado designer André Hippertt e incluem outdoor, busdoor, livretos, adesivos, banners e cartazes: “O foco principal da campanha era criar peças que dialogassem não só com o público interno, mas principalmente com o público externo. Mostrar a cara dos estudantes, suas realizações, mostrar os grandes projetos e pesquisas desenvolvidos em todos os campi, mostrar as ações sociais e democráticas que são práticas diárias na UFRJ. O visual alegre e despojado foi criado para que este diálogo se desse da forma mais direta e emocionante possível”, explica. Diretor da Adufrj, Felipe Rosa observa que a campanha surgiu a partir dos últimos acontecimentos que atingiram a UFRJ, especialmente o incêndio no Museu Nacional: “Isso gerou uma repercussão negativa muito grande”. Ele completa: “Com a campanha, vamos mostrar que UFRJ é esse lugar onde acontece pesquisa e ensino de qualidade, extensão ampla e essa integração de alunos, das mais diferentes proveniências sociais e geográficas”, afirma. “Não será apenas uma campanha de comunicação. Na segunda fase da campanha, faremos vários eventos”, explica a presidente da Adufrj, Maria Lúcia Werneck. Larissa Rios é a primeira integrante da família a cursar o ensino superior. Moradora de Nova Iguaçu, gasta duas horas e meia para ir até a Escola de Comunicação da UFRJ, na Zona Sul do Rio. Entrou no curso de Jornalismo no início de 2017, graças às cotas. Agora, Larissa empresta seu rosto e sua história para a campanha “UFRJ Sempre”. “Considero a campanha superimportante para mostrar a diversidade e tudo de maravilhoso que existe na UFRJ”, elogia.

Professores articulam reuniões de unidade até 12 de novembro. Nova assembleia está prevista para o dia 13, na Praia Vermelha Professores articulam reuniões de unidade até 12 de novembro. Nova assembleia está prevista para o dia 13, na Praia Vermelha Unidade e organização: essas são as palavras que resumem a assembleia de professores realizada neste dia 31. Os docentes avaliaram que é preciso construir uma ampla frente em defesa da democracia para resistir aos ataques em curso contra as universidades e os trabalhadores. “Temos de dar conta de muitos desafios daqui por diante. Para isso, é necessário dialogar com nossos colegas e ampliar o alcance de nossas ações”, defendeu a presidente da Adufrj, Maria Lúcia Werneck Vianna. Um exemplo que afeta diretamente o dia a dia docente é o projeto Escola Sem Partido, que ganhou força na Câmara dos Deputados. Para resistir a este e a outros difíceis temas, uma das propostas da diretoria, defendida por diferentes participantes, é fortalecer o Conselho de Representantes da Adufrj e realizar reuniões de Unidade. “Essas reuniões nos ajudarão a levar informação aos nossos colegas que ainda não estão mobilizados. Precisamos nos fortalecer para enfrentarmos o que vem”, disse a professora Luciana Boiteux, do Direito. A rodada de reuniões deve ocorrer até o dia 12 de novembro. No dia 13, a Adufrj realizará uma nova assembleia, ainda sem horário definido, na Praia Vermelha. Outras ações aprovadas na assembleia preveem a criação de uma comissão jurídica, articulada com o Andes, para organizar a defesa de professores que sejam ameaçados por sua posição político-ideológica; a realização de atividades dentro e fora da UFRJ, que dialoguem com a população e com a comunidade acadêmica sobre os temas que afetam os trabalhadores; levar ao Consuni a reivindicação de que a universidade se posicione em defesa da liberdade de cátedra. A preocupação dos professores tem fundamento: após a vitória de Jair Bolsonaro (PSL), uma série de ações começou a ganhar corpo no parlamento nacional. Está na ordem do dia a aprovação da reforma da previdência, com aumento do tempo de contribuição e idade mínima para a aposentadoria. “Do ponto de vista da luta concreta, a reforma da Previdência – no momento – é a mais importante para nós, professores, e para toda a classe trabalhadora”, alertou o professor José Miguel Saldanha, da Escola Politécnica. Para ele, este ponto é um dos principais a ser esclarecido junto à sociedade. “As pessoas precisam entender o que vai significar a reforma para suas aposentadorias”, completou. Vera Salim, professora da Coppe, ponderou que os docentes devem agir em diferentes frentes e níveis. “Precisaremos atuar desde a defesa dos professores até a defesa da Amazônia. E por isso precisamos nos organizar”, afirmou. Ela sugeriu a formação de pequenas comissões que se articulem localmente para tratar as questões que afetam a universidade e o país. E também apontou a necessidade de construir a mobilização dos docentes para as disputas com o futuro governo. “Eu, particularmente, sou favorável à greve como forma de onerar o capital. Mas já aprendemos que greve da educação não causa esse impacto. Então é preciso construir esse movimento junto aos trabalhadores”. Para Felipe Rosa, diretor da Adufrj, as reuniões de unidade podem ajudar a aproximar professores do campo progressista, mesmo que não tenham votado na esquerda nessas eleições. “Há muitos colegas nesse meio de campo, que não votaram na esquerda, alguns anularam o voto, outros votaram na direita, mas são comprometidos com a democracia. Precisamos nos aproximar deles e construir o diálogo”.

Anúncio de que Bolsonaro transferirá ensino superior do Ministério da Educação para o de Ciência e Tecnologia surpreendeu comunidade acadêmica. Medida veio acompanhada do anúncio do novo ministro de C&T, o astronauta Marcos Pontes. Ana Beatriz Magno e Silvana Sá   O anúncio de que o futuro governo Bolsonaro pretende transferir o ensino superior do Ministério da Educação para o de Ciência e Tecnologia surpreendeu e preocupou a comunidade acadêmica. As reações ocorrem tanto pela mudança em si como pela falta de diálogo com instituições do setor. A medida veio acompanhada do anúncio do novo ministro de C&T, o astronauta Marcos Pontes. Em entrevista ao Boletim da Adufrj, Pontes disse que quer aumentar investimentos em CT&I e recuperar a infraestrutura das universidades. A meta é passar dos atuais R$ 2,9 bi para até R$ 15 bi a partir de 2020, destinando 3% do PIB à área até o fim do governo. “Precisamos descontigenciar fundos e ampliar investimentos. Queremos integrar ensino e pesquisa”, disse. Especialistas ouvidos pelo Boletim da Adufrj veem as propostas com ceticismo. “Pode gerar instabilidade. Ninguém sabe como será a migração”, diz o diretor de Tecnologia e Inovação da Coppe, Fernando Rochinha. Segundo ele, mudanças assim exigem certeza de retornos maiores que transtornos. Levar universidades para o MCTI foi uma proposta do governo Itamar Franco (1992-1994). Projeto do ex-senador Cristovam Buarque (PPS) previa o mesmo, mas não avançou. “Esperamos que o tema seja reexaminado com o aprofundamento que exige, e que se abandone esta ideia”, disse o reitor da UFRJ, Roberto Leher. Especialista em políticas para Educação, ele vê com preocupação a mudança. “É negativo do ponto de vista da articulação entre educação básica e ensino superior”, afirmou. Para o reitor, manter as universidades no MEC melhora a educação básica. “Políticas para educação básica são exitosas quando investimos em formação de professores nas universidades”. O presidente da SBPC, Ildeu Moreira, informa que a entidade prepara um estudo sobre vantagens e desvantagens da transferência e que convidará o novo ministro para um encontro com a comunidade científica. Ele ressalta a importância da manutenção das agências de fomento — Capes, CNPq e Finep — atuando separadamente. Sobre orçamento, há dúvida se os números anunciados incluem gasto com pessoal. “Se aumentar investimento será substancial, mas se incluir recursos de pessoal não mudará praticamente nada”, pontua Ildeu. Ex-reitor da UFRJ e ex-secretário de Ensino Superior do MEC, Nelson Maculan Filho alerta para a questão do financiamento. “A questão não é onde a universidade vai ficar, mas a garantia de recursos de investimento para ela”. Outra questão sensível é a autonomia universitária. A equipe de Bolsonaro sinalizou que quer interferir na escolha dos reitores. Esta semana, o Supremo Tribunal Federal proibiu ações que firam a autonomia universitária e as liberdades de cátedra e de pensamento.

Polícia atuando sem mandado no campus, justiça suspendendo debate, violência física contra integrantes da comunidade acadêmica, retirada de faixas, recolhimento de material por agentes federais e pichações agressivas. Em coletiva à imprensa nesta sexta-feira (26), representantes de entidades sindicais da educação e do movimento estudantil denunciaram aproximadamente 40 ações arbitrárias em diferentes universidades públicas do país nos últimos dias. “É fundamental dar visibilidade a esses ataques às universidades e às pessoas da comunidade acadêmica”, afirmou Eblin Farage, secretária-geral do Sindicato Nacional dos Docentes de Ensino Superior (Andes). “Estamos sendo acusados de fazer campanha por pregar bandeira antifascista. Ora, o antifascismo deveria ser o princípio de um Estado Democrático de Direito. Pelo menos é isso que está na Constituição. Não é a nós que devem perseguir”, completou. Para Magda Furtado, representante do Sinasefe, sindicato dos servidores da educação básica, profissional e tecnológica, “só é possível pensamento crítico sem que as liberdades democráticas estejam ameaçadas”. Valdenise Ribeiro, coordenadora da Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil, reforçou as críticas: “Isso ocorreu no país todo. Nosso entendimento é que são ações arbitrárias, pois são materiais em defesa da democracia e contra o fascismo”. Os ataques às universidades representam afronta à Constituição, na avaliação de Giovanna Almeida, da Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (Fenet).: “De forma recorrente, a Constituição Federal está sendo deixada de lado”. Rafael Souza, da Associação Nacional dos Pós-graduandos e doutorando do Museu Nacional (ANPG), destacou: “O fantasma do fascismo bate à nossa porta. Os eventos que aconteceram nas universidades são orquestrados para impor uma determinada ideologia”. Documento conjunto Andes-SN, Fasubra, Sinasefe, UNE, Fenet e ANPG também divulgaram uma carta aberta à sociedade brasileira e à comunidade acadêmica para denunciar os ataques contra a Universidade Pública Brasileira.  

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