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Eu era tenente do Exército quando ocorreu o golpe. Meu comandante reuniu os oficiais para informar que João Goulart tinha viajado para o Rio Grande do Sul e que o presidente do Senado havia declarado vaga a Presidência da República. Nesta reunião, eu me manifestei que, se Jango estava no Rio Grande do Sul, continuava no território nacional e presidente, pela Constituição. Ele imediatamente me colocou em regime de detenção no quartel, por algumas semanas. Já fora do Exército e professor da UFRJ, participei da fundação da Adufrj num período posterior, em 1979. Havia aqui um reitor progressista, o Luís Renato Caldas. Ele chamou a comunidade a fazer um grande debate sobre os rumos da universidade, em plena ditadura. Nós nos reunimos e daí saiu a ideia de fundar uma associação docente. Esse movimento estava ocorrendo no Brasil inteiro. A principal bandeira, a ideia dominante, era a defesa da universidade. Fui o primeiro presidente da Adufrj. Em seguida, veio a Associação Nacional dos Docentes. Fui o primeiro secretário-geral da Andes e, numa segunda diretoria, presidente. A Andes teve um papel muito importante na luta pelas Diretas Já. Participava do comitê nacional junto da UNE, OAB, ABI. Nas eleições atuais, pelas declarações do candidato que tende a ser o vitorioso, infelizmente, acho que vamos ter a volta de um autoritarismo muito grande. Para a universidade, as declarações da campanha também são muito hostis ao ensino gratuito. Não sei até que ponto Bolsonaro também vai seguir as regras para eleição de reitores. Vejo dias difíceis à frente. Até domingo, é tentar virar o jogo. Houve um crescimento do Haddad e a surpreendente notícia de que, pelo Ibope, na cidade de São Paulo, ele superou o Bolsonaro. Isso dá esperança. Depois de 28, se o resultado não for favorável, é tentar resistir ao autoritarismo, como fizemos no tempo da ditadura. A associação terá um papel muito importante. Contamos com um problema sério, pois Bolsonaro está sendo eleito. Não é como o golpe da ditadura. Mas a eleição dele está no encadeamento do golpe que derrubou a Dilma. Temos de lutar, pois Hitler também foi eleito. Depois, no poder, deu o golpe e criou a pior ditadura da história do Ocidente. LUIZ PINGUELLI ROSA Professor Emérito da Coppe/UFRJ

Ronaldo Lima Lins, professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ O golpe de 2016, derrubando uma presidente eleita, não obstante o disfarce parlamentar e jurídico que o sustentou, abriu a Caixa de Pandora dos horrores que, à espreita, apenas aguardam uma oportunidade de agir. É comum que a exibição de força provoque a exibição de força em sentido contrário. Na ditadura militar de 1964, não nos esqueçamos, assistimos a fenômenos semelhantes. O fascismo, desde o seu nascedouro no século passado, possui capacidade de voo e contaminação, incluindo os mais dóceis e acomodados setores da sociedade. Logo se veem senhoras e senhores da classe média, com expressões indignadas, somarem-se a ele como seus combatentes... Nem as escandalosas evidências da opressão por vir os levam a hesitar. O que fazer em tais circunstâncias? Antes que os piores terrores nos cerquem e tornem o ar irrespirável (com suas bravatas, seus preconceitos, suas manobras, sua brutalidade), A caixa de Pandora cumpre erguer barreiras, porque, uma vez o leite derramado, impossível recolocá-lo na garrafa. É da vocação da universidade pública, bem como dos intelectuais, alinhar-se aos progressistas, refletir sobre os fatos, denunciar malfeitos e se somar, de peito aberto, aos jovens, aos homens maduros e de visão para que os nazifascistas se recolham e a História nos poupe do desastre. Nossa Autonomia, entre outras coisas, serve para isso. Ainda há tempo. Apostemos!

Diante da urna, teremos que tomar uma decisão gravíssima ao indicar o candidato à Presidência que melhor conduzirá o Brasil na trilha do processo civilizatório. Faz parte desse processo a abertura de oportunidades para que nós, brasileiros, possamos cooperar com as outras nações com contribuições que sejam frutos da nossa capacidade de inventar e de inovar, de descobrir e de construir. É importantíssimo evitar o mergulho no poço dos fracassados, onde prevalece o aborto das boas ideias e a destruição das heroicas iniciativas industriais. Vivemos nesse inferno já faz quase três anos após um período de doze anos de recuperação da nossa capacidade industrial (Petrobras, Embraer, agronegócios, indústria naval, veículos, eletrodomésticos, incubadoras de empresas, Embrapa, parques tecnológicos, entre outros). Diante da urna, da urna de restos mortais, vemos Celma, Engesa, FNM, Metal Leve, Gurgel, e muitas outras empresas que foram “assassinadas” por equivocados planos econômicos de governos que não veem o Brasil capaz de levantar a cabeça. Vemos ainda nessa urna os projetos natimortos, Fotografia (Hercules Florence), Dirigível e aviação (Santos Dumont), Câmbio automático (Fernando Iehly de Lemos e José Braz Araripe), Radiotransmissão (Roberto Landell de Moura), Motor a álcool (Urbano Ernesto Stumpf). Finalmente estão sendo lavradas em novas lápides os nomes de Embraer, Petrobras, Eletrobrás, entre outras, com o cinzel fabricado pela atual administração. É impossível que a comunidade científica brasileira - os professores e pesquisadores, os estudantes sejam de graduação ou pós-graduação, os técnicos e administradores - seja incapaz de distinguir a diferença entre as condições de trabalho e a política de P&D entre 2003 e 2015, com a qual colaborou ativamente o candidato Haddad, e as condições de trabalho e a política de P&D que prevalece desde 2016, e que é a preferencial do candidato Bolsonaro e sua equipe econômica. Mas também faz parte do processo civilizatório o respeito à liberdade de expressão, a justiça sem justiceiros, os tribunais sem medo, a preservação da História, a rejeição de processos de confusão de informações, a rejeição a ameaças a instituições legitimamente constituídas. O candidato Haddad demonstra respeito pelo processo civilizatório, e o candidato Bolsonaro promete no seu plano de governo “expurgar” ideias de Paulo Freire, cujo nome está entre os três autores mais citados no mundo em matéria de educação. Não se pode confundir concordar ou discordar de ideias com a queima de livros. Os correligionários do candidato Bolsonaro, inclusive parlamentares eleitos que o apoiam, já violam os mais elementares princípios de civilidade, em declarações que ameaçam o fechamento de tribunais de justiça, violência física e gravações de símbolos nazistas em prédios que abrigam pessoas que não os apoiam, além de outros atos simbólicos de violência. Não há voz no mundo civilizado, abrangendo todo o espectro de opções político-econômicas, que não discorde explicitamente da atitude e das ameaças do candidato Bolsonaro. Ele está distintamente na contramão da história. Caso eleito colocará o Brasil numa posição ridícula, no poço de um primitivismo intelectual muito mais significativo do que o avaliado pelo programa internacional PISA com o qual o candidato tanto se escandaliza. Finalmente quero dizer que a construção iniciada pelo saudoso professor Alberto Luiz Coimbra, faz 55 anos, não pode ser destruída sem que haja uma debâcle geral e irrecuperável na educação universitária brasileira. E que não se venha com a justificativa infantil de que depois de quatro anos se corrige. Muitos de nós que dedicamos mais de 30, 40, 50 anos de nossas vidas não estamos dispostos a desrespeitar Alberto Coimbra, a colaborar com o covarde desmonte do Brasil para ficarmos com restos que sobram do prato dos países centrais, como já foi proclamado: This division of labor tends to have engineering and scientific research take place in more mature nations while prototyping, scale-up, and manufacturing occur in what he called “catch-up” economies. Só o candidato Fernando Haddad será capaz de conduzir o Brasil com dignidade e cabeça erguida participando no concerto das nações como todos nós merecemos. Façamos da urna um berço de renascimento e não um caixão de restos mortais. Luiz Bevilacqua Professor Emérito da Coppe

Por que voto em Haddad

Convidado, no início de 2004, pelo Ministro da Educação Tarso Genro para o cargo de Secretário de Educação Superior do seu ministério, aceitei o convite e pude conviver de fevereiro de 2004 a dezembro de 2006 com Fernando Haddad. Inicialmente, Haddad era o Secretário Geral do MEC e, a partir de 2005, como Ministro da Educação, quando, por dever de ética, entreguei-lhe minha carta de demissão, disse-me que eu continuaria no cargo de Secretário de Educação Superior. Nessa convivência diária com Haddad, nasceu um grande e mútuo respeito profissional entre nós dois. Haddad sempre animando e cobrando os planos que havíamos estabelecido para a Educação no Brasil. Grande gestor, fez com que as diferentes secretarias do MEC trabalhassem em conjunto. Respeitávamos muito a liderança desse jovem ministro. Tendo começado na gestão do Ministro Tarso Genro a expansão das instituições federais de educação superior (IFES), visando à sua interiorização e à criação de novas IFES em cidades não capitais estaduais, Fernando Haddad deu continuidade a essa tarefa hercúlea e criou novos desafios para todas as secretarias do MEC. Não devemos esquecer a sua luta para a criação dos institutos de tecnologia em todo o nosso imenso território. Haddad é uma pessoa democrática e ética, respeitando todos os partidos políticos, aberto para discussões. Sempre recebeu todas as pessoas eleitas que nos procuravam (governadores, senadores, deputados federais e estaduais, prefeitos, vereadores), assim como dirigentes de organizações não governamentais. Tivemos algumas discussões acaloradas em relação à maneira de realizar os projetos educacionais; no entanto, sempre foram no plano profissional, nunca no plano pessoal. Além do Ensino, sempre teve muita preocupação com a Pesquisa e a Cultura nas universidades. Foi um Ministro que deixou, após 7 anos no MEC, um trabalho imenso em prol da Educação: criação de novas IFES, novos campi universitários federais, implementou a avaliação de todos os cursos de instituições de educação superior particulares e federais, trouxe para muitos estudantes de camadas mais desfavorecidas novas maneiras para a sua permanência nos estudos e para o seu ingresso nas instituições de educação superior. É um estadista. NELSON MACULAN FILHO Professor Emérito e ex-reitor da UFRJ

Roberto Leher, reitor da UFRJ Não há neutralidade possível diante da ascensão do fascismo e de agrupamentos que pregam a aniquilação dos que deles divergem. Infelizmente, o ano em que celebramos os 30 anos da promulgação da Constituição Federal é um tempo perigoso para a democracia. Das liberdades individuais aos direitos sociais que consubstanciam a liberdade, todas as cláusulas pétreas da Constituição estão sendo aviltadas. A Emenda Constitucional 95 ganha sustentação nas narrativas irracionalistas, nas fake news veiculadas e impulsionadas por grandes grupos econômicos que querem um país sem leis trabalhistas justas, educação pública, laica, gratuita e de elevada qualidade. É preciso reivindicar os valores iluministas, estimular o uso crítico e autônomo da razão para que, por meio do voto esclarecido, cada cidadã e cidadão possa afirmar a democracia e a justiça social.

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