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O dramático panorama da segurança pública foi discutido em debate promovido pela Adufrj, na quinta-feira, 26, com a presença de dois estudiosos da área, professores Luiz Eduardo Soares e Michel Misse. Antropólogo e ex-subsecretário de Segurança do Rio, Soares apresentou dados da criminalidade e mostrou que o sistema penal explicita distorções. “Temos 60 mil assassinatos por ano, mas só 12% dos presos são homicidas”, contou. “Por que não há indignação com essa chacina? Porque são vidas negras, pobres e da periferia”, avalia. Outra distorção, segundo Soares, é o trabalho policial. Por lei, a investigação cabe à Polícia Civil. “A Polícia Mililitar é instada a apresentar resultados à sociedade. Como não pode investigar, o mais imediato que pode apresentar é a prisão em flagrante”, explicou. “Quem é preso em flagrante? O pequeno operador do tráfico, o ‘aviãozinho’. Esse lota os presídios. Contabilizamos violência futura”. INTERVENÇÃO É ELEITORAL “Quando a intervenção iniciou, senti cansaço”, desabafou o sociólogo Michel Misse, professor do IFCS. “Como um quadro de cultura de violência e de corrupção policial poderia ser modificado pelas Forças Armadas?”, questionou. “Por melhores que sejam as intenções, militares não têm atribuição nem recursos para realizar investigações”, avaliou. Na visão de Misse, a intervenção é uma ação eleitoral. “A intervenção não é solução e, talvez, nem seja problema, porque não dura”, disse. “Os militares entraram a contragosto, numa situação emergencial, diante da perda política que seria para Temer não aprovar a reforma da Previdência”, justificou. “Por outro lado, ela responde à crise do estado do Rio, liberando recursos”, observou. A proposta da mesa “Intervenção: solução ou problema?” era um debate que contemplasse o contradório, com discussão entre defensores e críticos da intervenção decretada em fevereiro. A Adufrj lamentou a ausência de última hora do antropólogo e ex-diretor do Viva Rio Rubem César Fernandes, favorável à política. Ele faltou por problemas de saúde. “Acreditamos ser papel de uma entidade de base heterogênea contribuir para o melhor esclarecimento possível em temas complexos”, afirmou Maria Lúcia Werneck, presidente da Adufrj.

Professora e antropóloga Rosana Pinheiro Machado, da Universidade Federal de Santa Maria, analisa opressão e sofrimento mental no ambiente universitário Um lugar de vaidades contínuas e humilhações cotidianas, onde a sensação de poder ilimitado de uns contribui para o sofrimento intenso de outros. Que lugar é esse? Acertou quem respondeu universidade. A análise é feita pela antropóloga Rosana Pinheiro Machado, uma estudiosa do ethos universitário, o modo como a instituição se constrói. Professora da Universidade de Oxford e professora visitante da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), Rosana palestrou na Faculdade de Letras da UFRJ. Ao longo dos últimos anos, ela observou o ambiente universitário no Brasil e no exterior. Sua palestra expõe depoimentos que soam como velhos conhecidos a quem batalha por um título acadêmico. “O professor falou que citar Foucault não era pra qualquer um não.” “Disseram que minha escrita acadêmica não é legítima.” Sem jamais esquecer os donos de Bourdieu, que se acham os únicos a entender o sociólogo francês. Para citar, quem diria, Bourdieu, o campo acadêmico escrutinado pela pesquisadora é marcado pela opressão de professores sobre alunos. “O ethos da universidade esmaga os estudantes”, diz Rosana. Ao mesmo tempo, formam-se redes de patronagem acadêmica, que incluem desde favorecimento dos pupilos até citações cruzadas em trabalhos científicos, num nepotismo acadêmico em que amigos citam amigos. Segundo Rosana, figuras comuns nesse mundo são os “fracos” – que não aguentam a pressão –  e os “fodas” –  que publicam, orientam e podem tudo. Para quem não se liga aos patronos nem é “foda”, mesmo sem ser fraco, a pós se torna difícil. Surgem depressão, sofrimento mental e suicídios tentados ou consumados. Estudo da Nature Biotechnology citado por Rosana aponta que 39% dos universitários têm depressão. “Fatores sincrônicos e diacrônicos fazem com que o mundo acadêmico seja uma bomba para estourar. É um lugar em ruínas”, afirma Rosana, que este ano lança o livro “Pequena História da Opressão Acadêmica”. Para tranquilizar quem leu até aqui, há, sim, orientadores generosos e orientandos disciplinados que escrevem uma página por dia. Afinal, até Max Weber procrastinava a entrega de textos e tomava ópio contra o bloqueio na hora de escrever.   ENTREVISTA ROSANA PINHEIRO MACHADO Antropóloga, professora da UFSM Por que a universidade, um lugar de conhecimento, se transformou nesse lugar de opressão apontado em suas pesquisas? Temos um sistema produtivo que se transformou e demanda mais produção acadêmica em tempo mais curto. Temos uma universidade, especialmente no Brasil, que incorporou novos grupos sem desenvolver capacidade de ampará-los. Ao mesmo tempo, mantém um ethos que não se modifica. Qual o papel do professor diante do sofrimento de alunos? De modo geral, o professor tem que tirar essa coisa de proteger, de modo privilegiado, seus alunos, seus pupilos, tornar isso uma questão metodológica, de didática. É papel dos professores ensinar a escrever bem, ensinar técnicas, ensinar a fazer um debate, quais os caminhos de emprego – coisas que os alunos têm que descobrir sozinhos. A outra coisa é o papel do orientador. Os orientadores, muitas vezes, não estão preocupados com orientandos, estão preocupados com seu currículo. Qual tem sido a reação da universidade? Entre estudantes, a reação é muito boa. Reações positivas, extremas, de chorar. Uma reação muito boa, profunda. Por outro lado, na universidade, dizem que, se quero emprego, fazer concurso, não deveria fazer esse debate.  

Proposta que altera resolução do Consuni sobre critérios de progressão e promoção provocou intensa polêmica entre professores. Pró-reitoria de Extensão defende a mudança Uma proposta de mudança na resolução do Consuni que trata do desenvolvimento na carreira docente provoca polêmica na UFRJ. O documento, que circula nas unidades e centros, mexe na parte de Extensão da universidade e muitos professores manifestaram preocupação com um possível cerceamento às atividades da área. Já a Pró-reitoria de Extensão (PR-5) argumenta que o objetivo é aperfeiçoar a legislação. A professora Denise Pires de Carvalho, do Instituto de Biofísica, estava no Conselho Universitário quando a resolução nº 08, de 2014, foi aprovada. Segundo ela, após muita discussão: “Tentamos que o texto ficasse o mais amplo possível, mas sem deixar muito livre. A UFRJ é muito grande, muito diversa”, afirmou. Denise não entende a iniciativa para reformulação do texto, sem demanda das unidades. Para a professora, a proposta restringe o número de atividades que hoje são consideradas de Extensão. Diretora do Instituto de Matemática, a professora Walcy Santos critica a obrigatoriedade de registro no sistema da PR-5 para a progressão na carreira. Ela deu como exemplo a palestra que fez em uma escola, a pedido de um colega que possui projeto na área: “Atualmente, essa atividade conta; não sei como ficará com as novas regras”, observou. Hoje quando um docente apresenta um relatório de progressão, a pontuação referente a projetos de extensão relativos à integração com a comunidade, como aulas em escolas públicas, pode ser aprovada tanto pela unidade quanto pelo sistema da reitoria. Com a mudança proposta, a pontuação só ocorrerá para projetos registrados na PR-5. A pró-reitora Maria Malta esclarece que haverá pontuação se o projeto estiver cadastrado no sistema e que isso é uma forma de dar transparência e institucionalidade ao processo. Segundo ela, o trecho da resolução está sendo discutido desde 2016 num fórum de coordenadores da área, a chamada Plenária de Extensão. “Estamos nos preparando para quando a discussão retornar ao Consuni”, disse. A proposta, formulada por uma comissão com um representante de cada Centro, foi distribuída às unidades em agosto, mas sucessivos pedidos de adiamento impediram uma definição. Em 7 de maio, será feito um novo cronograma. Maria Malta diz que os novos parâmetros, se aprovados, respeitam a diversidade das unidades.

Larissa Caetano* Pela primeira vez em 14 anos, duas chapas disputam a direção de um dos maiores sindicatos do Brasil, o Andes-SN, com 64.714 sindicalizados, entre professores ativos e aposentados de universidades públicas e privadas de todo o país. O pleito ocorre nos dias 9 e 10 de maio. A chapa 1, da situação, chama-se Andes Autônomo e de Luta. A oposição está representada na chapa 2, Renova Andes. A UFRJ tem o maior colégio eleitoral, com 3.481 docentes aptos a votar. As urnas serão espalhadas pelos campi. O material com propostas será distribuído para os sindicalizados nos próximos dias. Para a professora Ligia Bahia, vice-presidente da Adufrj e presidente da comissão eleitoral local, a eleição é importante exatamente por haver dois programas concorrendo. Ligia Bahia afirma que a comissão eleitoral está agindo para que o pleito transcorra da maneira mais ampla e transparente possível. Um debate foi planejado pela diretoria da Adufrj, mas em mensagem datada de 19 de abril e enviada para a direção da seção sindical, a chapa 1 declinou o convite, alegando falta de tempo para participar do evento. *Estagiária e estudante da ECO

O Salão Pedro Calmon, no campus da Praia Vermelha, foi o palco de uma celebração especial, na noite do último dia 24: o aniversário de 88 anos da ex-deputada federal e professora emérita da UFRJ, Maria da Conceição Tavares. Teve bolo e flores para a homenageada. Mas o grande presente, para ela e para o público, foi o lançamento de um documentário sobre sua vida e obra.

Ao longo de 72 minutos de “Livre Pensar”, título da recém-produzida cinebiografia, o espectador pode acompanhar a obstinada trajetória da economista em defesa da justiça social. Uma busca que acontece nas universidades onde deu aulas, no Congresso Nacional e no governo de José Sarney. Em uma das entrevistas, de 1995, reproduzidas no filme, a professora critica o discurso de que uma economia precisa, primeiro, estabilizar, depois crescer e depois distribuir: “Nem estabiliza, cresce aos solavancos, e não distribui. E essa é a história da economia brasileira desde o pós-guerra”, criticou à época. Ao final da exibição, a homenageada soprou as velinhas de um bolo, fez um breve discurso de agradecimento e elogiou o trabalho do cineasta José Mariani.

“No meu caso, os filmes vão se desdobrando, um vai gerando o outro. Fiz um filme sobre o Celso Furtado. Filmei um depoimento fantástico dela. Fiz outro filme, ‘Um Sonho Intenso’, filmei ela de novo. A gente vai descobrindo um caminho, essa mulher é um personagem, tem carisma”, explicou Mariani à reportagem da Adufrj. Ele contou que a cinebiografia consumiu dois anos de intenso trabalho. O alvo do filme é o público universitário, mas existem negociações para levar a obra para a TV fechada e para o circuito de cinema.

O diretor do Instituto de Economia, David Kupfer, foi só elogios para o filme e a homenageada: “A Conceição é a alma do Instituto de Economia. Sempre foi a vibração, a imaginação, o conhecimento e a combatividade das ideias daqui”, disse. Ele destacou que o filme é feito numa linguagem acessível para o público em geral. “Não é só para acadêmicos”, completou.

Maria da Conceição Tavares assistiu ao filme ao lado de Aloizio Mercadante, ex-ministro da Educação: “Eu conheci a professora Maria da Conceição Tavares, em 1975, quando ainda era estudante de Economia. São 43 anos de convivência”, afirmou. Segundo Aloizio, a economista contribuiu muito para o pensamento crítico brasileiro: “Extremamente combativa e sempre comprometida com o Brasil, com a distribuição de renda, com a justiça social. O filme vai servir como inspiração para a nova geração ter a mesma garra e o mesmo compromisso com o país”, observou.

As diretoras da Adufrj Maria Lúcia Werneck e Ligia Bahia prestigiaram o evento. Maria Lúcia Werneck, professora aposentada do Instituto de Economia, considerou muito justa a homenagem. “A própria ideia do Instituto foi dela. Ela montou isso aqui”, lembrou. Ela ressaltou a passagem do filme em que Maria da Conceição fala da tolerância com ideias diferentes: “Esse é o espírito da universidade, que, infelizmente, hoje está se perdendo”.

A vice-reitora da UFRJ, Denise Nascimento, ressaltou o simbolismo de Maria da Conceição Tavares como professora emérita da UFRJ: “Que nós possamos, esta noite, celebrar a trajetória de uma acadêmica que representa nossa universidade”.

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