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WhatsApp Image 2023 08 28 at 20.47.41Uma boa notícia para todos os professores das universidades federais. Após muita pressão da comunidade acadêmica e seguidas derrotas na Justiça, a Advocacia-Geral da União acaba de emitir dois novos pareceres que favorecem a progressão docente. É uma revisão da interpretação restritiva de direitos adotada nos governos Temer e Bolsonaro.
A AGU agora concorda com a progressão múltipla — ou seja, quando o docente acumula mais de um interstício de trabalho antes de fazer o pedido para avançar na carreira. O órgão do governo também passa a reconhecer os efeitos financeiros das progressões a partir da data do requerimento do professor. Na UFRJ, após resolução do Consuni aprovada no final do ano passado, eles só valem a partir da data da aprovação da banca avaliadora.
A mudança atende a um pleito sindical e institucional. Em março deste ano, as reitoras da Universidade de Brasília, Márcia Abrahão — hoje presidente da Andifes —, e da Federal de Rondônia, Marcele Pereira, já haviam solicitado ao Ministério da Gestão a revisão da interpretação da AGU. A AdUFRJ vem desempenhando um papel de destaque nessa articulação.
“Existe a mobilização de todos os setores, mas é preciso dizer que há um protagonismo importante da AdUFRJ. Estamos litigando individualmente e coletivamente, produzimos pareceres, estamos atuando para que isso se modifique há muito tempo”, explica o assessor jurídico Halley de Souza. “Ainda não é tudo que defendemos, pois a AGU não reconhece os efeitos financeiros retroativos à data do preenchimento dos requisitos”, completa.
Em reunião agendada com a reitoria nesta terça-feira (29), a direção do sindicato solicitará que pelo menos o novo entendimento da AGU já seja aplicado na UFRJ, a partir de mudanças nas resoluções do Consuni. Mas o sindicato seguirá defendendo, internamente ou na Justiça, que os docentes tenham direito aos efeitos financeiros a partir do momento em que preencherem os requisitos de tempo e produção acadêmica suficiente para avançar na carreira.

obs bsbFoto: Fernando Piva/ADunicampDurante dois dias, Brasília se transformou no centro dos debates sobre o futuro das universidades públicas. Em três audiências públicas na Câmara dos Deputados, representantes dos movimento sindical, estudantil, do governo e da Academia dialogaram com deputados federais sobre eleição de reitores, dificuldades das mulheres cientistas e o papel das instituições de educação superior no combate às desigualdades do país.
Foi a Jornada de Mobilização em Defesa das Universidades Públicas, organizada pelo Observatório do Conhecimento, em 23 e 24 de agosto. E estava todo mundo lá: UNE, ANPG, Andes, Proifes, SBPC, Andifes, Parent in Science, SESu, Capes, MCTI e CNPq. “Foi um sucesso. A gente mostrou que o Observatório consegue articular com todo o campo relativo à universidade”, afirmou a vice-presidente da AdUFRJ e coordenadora da rede de associações e sindicatos docentes, professora Mayra Goulart. “O Observatório se consolida como um ator muito relevante da área não só junto aos tomadores de decisão mas também junto à sociedade civil e seus representantes”.
A empreitada na capital federal culminou com o lançamento da Frente Parlamentar em Defesa das Universidades Pública, liderada pelos deputados Tadeu Veneri (PT-PR) e Ana Pimentel (PT-MG). No mesmo evento, houve a comemoração dos quatro anos do Observatório.
Antes das audiências públicas na Câmara, o Observatório também se reuniu com representantes do governo. No dia 21, houve um encontro com a Diretoria de Programas e Políticas de Educação Superior do MEC. “Cobramos a instalação de uma mesa setorial de negociação para tratar das especificidades da carreira do magistério federal”, disse Mayra. “Levamos a proposta de criação de um grupo de trabalho para lidar com questões como progressões e insalubridade”.
Na mesma data, os representantes do Observatório discutiram com a Secretária Adjunta de Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho do Ministério da Gestão, Marilene Alves Filha, como contribuir para a realização de uma pesquisa sobre assédio dentro do serviço público. A reunião contou com a mediação do gabinete da deputada Ana Pimentel.

MUITO POR FAZER

Após quatro anos de desgoverno Bolsonaro, o país tem pela frente um árduo trabalho de recuperação das universidades. Secretária de Educação Superior do MEC, a professora Denise Pires de Carvalho enfileirou dados e gráficos que mostram o tamanho do desafio, durante a audiência pública do dia 23. Uma parte deles ilustra esta página.
“O Brasil está muito longe da média da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, que congrega 35 países), que é de 47% da população mais jovem, entre 25 e 34 anos, com educação superior. Estamos com 23%” (quadro 1).

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Para conseguir esse aumento, será preciso muito trabalho de convencimento. “Toda essa política de desqualificar a educação superior fez com que houvesse um decréscimo importante no número de candidatos inscritos no SiSU”, lamentou (quadro 2).“Em 2023, houve uma ligeira retomada”.

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Para receber bem esses futuros alunos, o MEC tenta reverter o sucateamento das instituições públicas federais. “Fizemos a recomposição do orçamento das universidades, dentro do que pôde ser feito, devido à PEC da transição. Conseguimos voltar para valores de 2019 (nominais), mas precisamos voltar para valores reajustados pelo IPCA. Estamos trabalhando para isso (quadro 3).

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Apesar de todas as dificuldades, a dirigente trouxe uma boa notícia. A política de interiorização e expansão das federais (iniciada nos primeiros governos Lula) transformou o mapa da produção científica nacional nos últimos anos. O eixo Rio-São Paulo, que antes concentrava as pesquisas, foi superado pelo conjunto das demais unidades da federação desde 2010, de acordo com levantamento realizado pelo presidente da Fapergs, Odir Dellagostin (quadro 4).

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REITOR ELEITO,
REITOR NOMEADO

‘Pelo fim da lista tríplice. Nomear um reitor que não foi escolhido pela comunidade acadêmica não fere apenas a autonomia universitária em seus preceitos constitucionais”, afirmou a vice-presidente da AdUFRJ, professora Mayra Goulart, em uma das audiências do dia 23 na Câmara dos Deputados.
“É um arbítrio que abre flancos para toda sorte de intervenções, que vão muito além da escolha de um dirigente e alcançam a delicada e essencial produção livre de conhecimento e saberes”. A vice-presidente da AdUFRJ representou o Observatório do Conhecimento na mesa que discutiu a autonomia universitária na escolha dos reitores.
A discussão é antiga no meio universitário, mas as 20 intervenções ocorridas durante o governo Bolsonaro (veja quadro) aceleraram a necessidade de mudança da legislação atual. “Tivemos que passar por estes quatro anos para nos dar conta da fragilidade dessa legislação”, disse a professora Francieli Rebelatto, representante do Andes na reunião.WhatsApp Image 2023 08 28 at 20.44.36
Presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), a professora Márcia Abrahão concorda. “Para nós da Andifes, é fundamental essa pauta. É uma das prioridades da gestão que acabamos de assumir”, disse.
A proposta da Andifes exige o fim da lista tríplice, mas deixa que cada universidade regulamente o formato da eleição. “Que se pare de chamar de consulta. E que se torne realmente uma eleição. E que o mais votado ou votada seja nomeado ou nomeada, respeitando a autonomia das universidades na forma de decisão”, completou Márcia.
Por parte gestão Lula, as universidades podem respirar tranquilas. “Somos instituições do Estado brasileiro, que não devem sofrer intervenção de nenhum governo”, afirmou a secretária de Educação Superior e ex-reitora da UFRJ, professora Denise Pires de Carvalho. “Há compromisso do atual governo em nomearmos somente o primeiro colocado da lista, o que tem sido feito”. A dirigente, no entanto, reforça o pleito das comunidades acadêmicas pelo fim da lista tríplice. “Para que não haja mais ameaças a essas instituições de Estado por nenhum governo no futuro”.
Existem 16 projetos em tramitação na Câmara sobre o tema, mas a esperança de mudança reside no PL 2699/2011, sob relatoria do deputado federal Patrus Ananias (PT-MG). “Ele pretende apresentar seu parecer, em no máximo 15 dias, à comissão de Educação”, informou a deputada federal Ana Pimentel, também do PT mineiro.

É MAIS DIFÍCIL PARA ELAS

Descaso da Academia com a maternidade, sub-representação em cargos de liderança acadêmica, menor número de contratações e assédio. Os problemas que as pesquisadoras enfrentam no cotidiano das universidades e institutos de pesquisa foram o destaque da última audiência pública organizada pelo Observatório do Conhecimento na Câmara dos Deputados, no dia 24.
Apesar da média nacional de inserção das professoras nos programas de pós-graduação girar em torno de 42%, a participação feminina é ainda menor nos doutorados acadêmico e profissional: 38% e 35%, respectivamente. “As mulheres estão menos envolvidas como docentes nos níveis mais altos da formação dentro da pós-graduação”, informou a presidente da Capes, professora Mercedes Bustamente. “Há uma defasagem. Elas já são a maioria entre os titulados no doutorado desde 2003, mas as universidades têm contratado menos mulheres através do concurso público”, completou.
Reitora da Universidade Federal de Pelotas e representante da Andifes na reunião, a professora Isabela Fernandes Andrade relatou uma medida que tenta contribuir para a mudança deste cenário. “A gente instituiu em 2022 uma resolução de que a banca examinadora (de concurso público para docente) passou a ser diversa. Ou seja, há uma exigência de ter ou uma mulher ou um negro ou um indígena na banca”, disse. “Porque o olhar é diferenciado quando a gente tem uma banca somente de homens em relação aos possíveis candidatos ou candidatas que estão em exame”.
Além da pós, a dirigente lembrou o menor número de mulheres em posições de chefia nas universidades. “Nós ainda somos muito poucas reitoras em universidades federais, assim como nos demais cargos de liderança”.
O assédio é um fator que dificulta esta chegada ao topo. “Não só assédio sexual, mas também o assédio moral, que são muito comuns e são colocados como uma coisa normalizada no nosso ambiente acadêmico”, criticou Cristiane Ferreira Alves de Brito, representante da SBPC. “Eles afetam negativamente a carreira das mulheres e a capacidade de formação de redes, de networking”.
Já a maternidade das pesquisadoras não recebe a devida atenção da Academia. Eles são tachadas como pouco produtivas e sofrem mais dificuldades para conseguir financiamento. “Eu vivi isso na minha carreira. Engravidei no meio do meu doutorado e atrasei a minha meu pós-doc no exterior por quase 18 anos”, contou. “Quando meu filho fez 18 anos, ele foi comigo para o exterior. Então certamente esse impacto da maternidade na vida profissional é ao longo de toda a carreira”, completou a representante da SBPC.

WhatsApp Image 2023 08 18 at 12.33.21 4Por Igor Vieira e Silvana Sá

Depois de dez anos em vigor, a Lei de Cotas foi rediscutida e modificada na Câmara dos Deputados. Agora, cotistas disputarão as vagas ofertadas à ampla concorrência. Caso não alcancem nota suficiente, passam a concorrer pelo critério de cotas. “O fato de deixar de restringir os cotistas a 50% das vagas tende a aumentar a presença desses grupos no ensino superior, o que é muito positivo”, analisa a professora Nedir do Espirito Santo, presidente da AdUFRJ. “Os quilombolas também são um grupo negligenciado há muitos anos. Importante a inclusão”, destaca a professora.
O Projeto de Lei 5384/20 foi aprovado no dia 9 e agosto e celebrado também por especialistas. “Os críticos sempre utilizaram a meritocracia para combater as cotas. Agora, o cotista vai concorrer com todo mundo. E muitos vão conseguir acessar sem as cotas, abrindo vaga para quem precisa mais”, avalia o professor Gabriel Siqueira, militante do movimento negro e especialista em políticas públicas. “A lei é uma reparação histórica”, ele afirma.
A revisão da Lei 12.711/2012 deveria ter acontecido no ano passado, mas os movimentos sociais avaliaram que o cenário político – pré-eleições e com Bolsonaro ainda no poder – era hostil a proposições progressistas. “Houve revisão e houve aprimoramento da lei, que era omissa em algums questões, como, por exemplo, assistência estudantil, bancas de heteroidentificação”, argumenta Gabriel Siqueira.WhatsApp Image 2023 08 18 at 12.45.03

REDUÇÃO DA RENDA
Outra mudança foi a redução da renda per capita familiar do candidato às cotas, de 1,5 para apenas 1 salário mínimo. “Não era isso que a gente queria, mas foi a mediação possível”, afirma o especialista. “Outros cálculos entraram no argumento da redução, mas queríamos que o valor aumentasse e não reduzisse”.
Diante da derrota pontual, os movimentos articulam que esteja em lei que todos os que ingressarem por ações afirmativas sejam contemplados com bolsa-permanência ao longo de todo o curso. Por enquanto, a lei fala em “prioridade”. “O custo desse aluno é um valor que retorna para o Estado depois que este estudante se forma”, afirma Gabriel.
WhatsApp Image 2023 08 18 at 12.45.03 2Sobre a redução do valor, a relatora do projeto aprovado, deputada Dandara (PT-MG), discorda de Gabriel. “Em 2012, no primeiro ano da lei de cotas, o salário mínimo tinha um valor muito menor do que o de hoje. Agora, quem ganha hoje um salário mínimo e meio, com quatro pessoas na família, tem uma renda familiar de R$ 6 mil. É preciso afunilar ainda mais para atingir as pessoas que realmente precisam”, defendeu.
Mas, entre 2012 e 2023 houve queda e não aumento do poder de compra do trabalhador. Em 2012, um salário mínimo (R$ 622) era capaz de comprar duas cestas básicas. Hoje, com R$ 1.302, um trabalhador brasileiro compra uma cesta e meia.
Na cotação do dólar, também houve redução do poder de compra. Em 2012, um salário mínimo equivalia a US$ 365; em 2023, US$ 260.

MAIS DIVERSIDADE
Para a parlamentar, que é professora e se define como “fruto das cotas”, a lei foi melhorada, já que os cotistas não estarão mais restritos a 50% das vagas. “Nós corrigimos uma distorção, para que mais dos nossos possam entrar na universidade, somos maioria no Brasil”, afirmou.
A deputada afirmou que ouviu as universidades e estudantes, que se queixaram principalmente da evasão e do acesso à pós-graduação. “Por isso, o texto estipula que os cotistas terão prioridade para receber bolsas afirmativas e de permanência dentro das universidades”.WhatsApp Image 2023 08 18 at 12.45.03 1
Superintendente de Ações Afirmativas, Diversidade e Acessibilidade, Denise Góes destaca que o ganho da nova lei é o aumento dos perfis de cotas. “É uma vitória, pois além dos pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência, tem os quilombolas”.
Outro ganho é que a lei estipula a prioridade de bolsas para os cotistas, além de ter expressado o seu caráter permanente, com atualização a cada dez anos. “É um grande avanço, porque agora estamos falando de permanência, não só de entrada”.

AUTONOMIA
A nova lei não determina como o processo seletivo vai acontecer ou como as vagas serão distribuídas. Cada universidade terá autonomia para definir seus critérios. Há dúvidas se haverá aumento da nota de corte da ampla concorrência, ou redução entre os cotistas.
A Superintendência Executiva de Acesso e Registro da UFRJ foi procurada para esclarecer o que pode mudar no ingresso na universidade, mas não respondeu aos questionamentos até o fechamento desta edição.
O projeto foi encaminhado em caráter conclusivo para o Senado e deve ser submetido apenas às comissões especiais, sem ir a plenário.

WhatsApp Image 2023 08 18 at 12.33.21 5A portaria conjunta da Capes e do CNPq que flexibiliza o acúmulo de bolsas com atividade remunerada ou outros rendimentos divide opiniões na UFRJ. De um lado, parte dos professores está preocupada com uma eventual queda de qualidade na formação dos alunos. Do outro, pós-graduandos comemoram a possibilidade de uma renda extra para seguir nos estudos. Na sexta (11), o Conselho de Ensino para Graduados (CEPG) começou a discutir a norma, que entrará em vigor a partir de 1º de outubro.
“Os estudantes de pós deveriam receber melhor e se dedicarem em tempo integral. Mas, diante do que está posto, é uma regularização de uma situação de fato, onde muitos doutorandos trabalham ilegalmente”, argumenta o pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa, professor João Torres. “Alguns programas com mais conexão com o mercado, menos acadêmicos, gostaram muito. Os mais acadêmicos gostaram menos”, observa o dirigente.
A universidade agora se movimenta para organizar o novo cenário. A medida impacta um contingente expressivo na maior federal do país: há 4.924 bolsistas Capes e CNPq de mestrado, doutorado e pós-doutorado (veja quadro). “Vamos tentar que não haja uma competição predatória entre um programa que libera o acúmulo e um que não libera”, diz o pró-reitor. Um grupo de trabalho organizado pela PR-2 vai redigir uma proposta de resolução para apreciação do CEPG.
Pela portaria que ainda está valendo, de 2010, não pode haver qualquer vínculo empregatício anterior à bolsa. Já depois do termo de compromisso com a Capes ou CNPq — e somente com anuência do orientador e ciência da coordenação — há algumas situações muito específicas em que se permite o acúmulo. As mais comuns são: tutoria na Universidade Aberta do Brasil (no caso do Rio, via Cederj); contratação como docente substituto no ensino superior; ou atuação na rede básica em regime de 20 horas. O critério mais genérico é exercer atividade remunerada que tenha relação direta com o tema da pesquisa.WhatsApp Image 2023 08 18 at 12.47.22
A nova legislação vai liberar quase todas as possibilidades, antes ou depois do contrato com as agências de fomento. A única vedação geral é acumular bolsas com outras, nacionais ou internacionais, de mesmo nível, financiadas com recursos públicos federais. O coordenador do programa ou do projeto registrará os casos de acúmulo e manterá as informações atualizadas na plataforma de concessão e acompanhamento. As instituições ou os programas poderão regulamentar ou atualizar os critérios para permissão ou vedação do acúmulo em seus regimentos internos. Exatamente como a UFRJ pensa em fazer. “Entendemos que, se o CEPG normatizar, os programas devem seguir. Caso não o façamos, os programas podem decidir por eles mesmos”, esclarece João Torres.
O primeiro debate no CEPG indica que não será fácil chegar a um consenso. “Se o aluno vai trabalhar em uma empresa, a empresa vai querer que ele fique lá. Por 40 horas, 30 horas. Meu receio é que haja um esvaziamento e o aluno não fique no laboratório”, disse a professora Verônica Calado, representante do CT no colegiado. “Se não houver uma limitação do tempo que o aluno pode se ausentar da universidade, vai ficar muito ruim”.
“Não acho que necessariamente seja ruim o mestrando ou doutorando ter uma inserção profissional. Às vezes, isso pode ser um ganho para a própria pesquisa. Mas acho, de fato, que a gente precisa de um regramento”, afirmou a professora Juliana Beatriz, representante do CFCH no CEPG. “A priorização na distribuição de bolsas me parece ser o ponto mais sensível”, completou.
Representante dos pós-graduandos, Natália Trindade defende que a flexibilização vem para atender um novo perfil socioeconômico dos mestrandos e doutorandos, que não é mais elitizado como era há 13 anos — data da atual portaria. Além disso, a mudança ampliaria as possibilidades da pós-graduação brasileira. “Ser pós-graduando não é estar atrelado obrigatoriamente a uma carreira acadêmica mais à frente. Isso restringe a potencialidade da pesquisa do Brasil”, diz a estudante. “Para nós, passou da hora de o setor produtivo entender que precisa contratar mestres, doutores e já construir esta relação desde a pós. E estar no mercado de trabalho não impede o pós-graduando de produzir com qualidade”.
A única certeza entre os conselheiros do CEPG é sobre o ainda reduzido valor das bolsas, mesmo com o reajuste de fevereiro. Hoje, as bolsas de mestrado valem R$ 1,5 mil; e as de doutorado, R$ 3,1 mil. “No fundo, essa permissão (do acúmulo) é um reconhecimento de que a bolsa hoje é absolutamente insuficiente. Temos alunos em tempo integral que, se recebem só a bolsa, precisam estar na casa dos pais. Porque muito dificilmente vão estar se sustentando ou montando uma família”, observou o professor Marcelo Miguez, representante do CT.

WhatsApp Image 2023 08 18 at 12.33.23Fotos: Alessandro CostaSe pudessem ser analisadas com rigor científico, não seriam exatamente ternas as lembranças do físico alemão Albert Einstein de sua visita ao Brasil, entre 4 e 12 de maio de 1925. Aos 46 anos, já agraciado com o Nobel de Física de 1921 — por suas pesquisas sobre o efeito fotoelétrico — e consagrado pela Teoria da Relatividade, comprovada em 1919, o cientista achou que o Brasil era “quente e úmido demais para se efetuar qualquer trabalho intelectual” e foi apresentado, sem teste prévio, a um vatapá com pimenta, qual fosse um nativo do Recôncavo. Mas, entre uma visita protocolar ao presidente Arthur Bernardes e uma palestra sufocante em auditório superlotado no Clube de Engenharia, Einstein conheceu a sede da Rádio Sociedade, fundada apenas dois anos antes. E, aí sim, ficou encantado com o que viu — e ouviu.
“Após minha visita a esta Rádio Sociedade, não posso deixar de mais uma vez admirar os esplêndidos resultados a que chegou a ciência aliada à técnica, permitindo aos que vivem isolados os melhores frutos da civilização”, discursou Einstein, em alemão, no estúdio da rádio, depois de ouvir uma apresentação da orquestra da emissora. “Na cultura levada pela radiotelefonia, desde que sejam pessoas qualificadas que se encarreguem das divulgações, quem ouve recebe além de uma escolha judiciosa, opiniões pessoais e comentários que aplainam os caminhos e facilitam a compreensão: esta é grande obra da Rádio Sociedade”, completou.
A visita de Einstein ao Brasil tem lugar de destaque na exposição “Rádio Sociedade: 100 anos de rádio no Brasil”, aberta esta semana na Casa da Ciência da UFRJ. Emissora pioneira do país e uma das primeiras do mundo, a rádio teve sua irradiação experimental em 1º de maio de 1923, e passou a transmitir regularmente a partir de 19 de maio daquele ano. Não foi criada por obra e graça do governo nem da iniciativa privada. Foi concebida para ser um veículo de divulgação científica e cultural por um movimento de cientistas e intelectuais do Rio de Janeiro, reunidos na Academia Brasileira de Ciências (ABC) e capitaneados por Edgard Roquette-Pinto, considerado o “pai da radiodifusão no Brasil”.WhatsApp Image 2023 08 18 at 12.33.57CHRISTINE RUTA “enquadra” o diretor da Casa da Ciência, Ismar Carvalho - Foto: Divulgação
“Ao mesmo tempo em que relembra o processo de criação, amadurecimento e transformação da rádio no Brasil, essa exposição retrata um momento muito interessante da história, no qual a Ciência estava se consolidando no país. E sendo reconhecida, como vemos na exposição com os registros das visitas de Albert Einstein e Marie Curie, em 1925 e 1926, dois expoentes mundiais da Ciência até hoje”, destaca a professora Christine Ruta, coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura, ao qual a Casa da Ciência está vinculada.
Para a pesquisadora Luisa Massarani, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), a criação da Rádio Sociedade se deu em um contexto de ebulição da Ciência. “Ela foi criada apenas um par de anos depois da primeira rádio no mundo. Além disso, foi concebida no escopo da Academia Brasileira de Ciências por cientistas e intelectuais, tendo entre seus objetivos divulgar a ciência. Sua criação teve grande relevância tanto na história da rádio como da divulgação científica, em um momento de efervescência como a década de 1920”, lembrou Luisa, que é curadora da exposição, ao lado do professor Ildeu Moreira, do Instituto de Física da UFRJ.
A pesquisadora também coordena o Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT/Fiocruz), que digitalizou todo o acervo da Rádio Sociedade, base da exposição. É possível ao visitante ouvir áudios originais da emissora, como o “Quarto de Hora Infantil”, voltado às crianças. A emissora também transmitia palestras de diversos cientistas, como as conferências feitas pela física e química polonesa, naturalizada francesa, Marie Curie, em sua visita ao Brasil, em 1926. Ela também visitou a Rádio Sociedade e, assim como Einstein, ficou encantada.
WhatsApp Image 2023 08 18 at 12.33.59 1 equipamentos e objetos usados em estúdios de rádios nas décadas de 1920, 1930 e 1940, assim como dezenas de fotos de época. Uma parada obrigatória é a seção dedicada a cartas dos ouvintes.
Depois do auge dos anos 1920, a Rádio Sociedade começou a enfrentar a concorrência das rádios comerciais a partir dos anos 1930. Em 1936, com o compromisso do presidente Getúlio Vargas de manter suas características originais, a rádio foi doada à União e passou a se chamar Rádio MEC — que se mantém até hoje.
De acordo com Luciane Correia, diretora da Divisão de Programas da Casa da Ciência, a exposição conduz o leitor à reflexão. “Pretendemos mostrar a evolução tecnológica que o conhecimento científico traz no seu embrião. Por isso a exposição termina com os podcasts, que nada mais são do que programas de rádio”, diz Luciane.
O estúdio é o ponto final da mostra, onde mediadores ajudam os visitantes a criarem podcasts. “Você sabia que essa casa em que estamos foi um alojamento de pacientes tuberculosas do antigo Hospital Nacional dos Alienados e foi inaugurado em 1926?”, diz logo na entrada o mediador João Pedro Fernandes de Melo, de 20 anos, aluno de Psicologia da UFRJ, com o mesmo brilho nos olhos que Roquette-Pinto deve ter ostentado ao conceber a Rádio Sociedade.

ROQUETTE-PINTO JOGAVA NAS 11

WhatsApp Image 2023 08 18 at 12.33.57 1Com seu vozeirão de locutor, seria mesmo uma injustiça se o antropólogo, escritor, etnólogo, professor e médico Edgard Roquette-Pinto não incorporasse ao seu currículo a atividade de radialista. A voz de locutor poderá ser conferida pelo visitante na entrada da exposição, onde áudios reproduzem narrações de Roquette-Pinto na Rádio Sociedade. Já o currículo mereceria uma exposição própria.
“Pai da radiodifusão” no Brasil, título ao qual fez jus com a criação da Rádio Sociedade, o carioca Roquette-Pinto (que dá nome à rádio oficial do governo do Rio de Janeiro) se graduou em Medicina na Universidade do Brasil em 1905 e conseguiu conciliar suas atividades na área médica com as de antropólogo. Foi diretor do Museu Nacional e coube a ele receber Albert Einstein em sua visita à instituição em 1925.
Em 1927, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras e, em 1932, criou o Instituto Nacional de Cinema Educativo. Foi também membro da Academia Brasileira de Ciências e um dos fundadores do Partido Socialista Brasileiro.
Mas sua paixão mesmo era o rádio. “Ele literalmente colocava a mão na massa, trazendo as notícias do dia para os ouvintes, com seu vozeirão potente”, diz Luisa Massarani, lembrando que Roquette-Pinto criou o setor educativo no Museu Nacional.
Um dos painéis da exposição traz o seguinte texto: “Rádio é o jornal de quem não sabe ler. É o mestre de quem não pode ir à escola. É o divertimento gratuito do pobre. É o animador de novas esperanças; o consolador dos enfermos; o guia dos sãos, desde que realizado com espírito altruísta e elevado”. Assinado: Edgard Roquette-Pinto.

SERVIÇO
- “Rádio Sociedade: 100 anos de rádio no Brasil”
- De 15 de agosto a 8 de outubro de 2023
- Terça a sexta, de 9h às 20h; sábados, domingos e feriados, de 10h às 17h
- Casa da Ciência da UFRJ: Rua Lauro Muller, 3 — Botafogo — Rio de Janeiro
- Agendamento de grupos e escolas pelo site www.casadaciencia.ufrj.br

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