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FSOU1908 01Foto: Fernando SouzaO calendário acadêmico da UFRJ será preservado sem qualquer alteração no “superferiado” aprovado esta semana pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. No período entre sexta (26) e o início da Semana Santa (2), somente ficarão suspensas as atividades presenciais não essenciais. As informações foram confirmadas ao Jornal da AdUFRJ pela reitora, a professora Denise Pires de Carvalho.

As medidas são respaldadas pela Advocacia-Geral da União: “Há entendimento da AGU que as federais têm autonomia para decidir de maneira discricionária”, afirmou a reitora. A decisão também reflete a atuação institucional até o momento, sempre consultando os especialistas do Grupo de Trabalho sobre o coronavírus: “A UFRJ está com suas atividades presenciais não essenciais suspensas há mais de um ano. Temos sido exemplo de atuação no combate à covid-19, protegendo nossa comunidade acadêmica. Não há casos de transmissão interna. Mesmo os casos que ocorreram no ambiente acadêmico, por contágio externo, foram rapidamente diagnosticados, e os contactantes rastreados, como deveria ocorrer com a população em geral”.

Em nota divulgada na noite do dia 23, a administração central estabeleceu que as aulas, a Jornada de Iniciação Científica e as ações de extensão remotas estão mantidas até o dia 4 — prazo final estabelecido na lei estadual e também no decreto municipal da capital com as medidas restritivas. Mas a reitora esclareceu que o feriado religioso já estava previsto na resolução do Consuni sobre o calendário acadêmico. “Imaginamos que a comunidade acadêmica esteja bem informada sobre o calendário interno que prevê a Semana Santa. As atividades presenciais não essenciais estão suspensas, inclusive os estágios de término de curso, a menos que sejam consideradas essenciais pelos coordenadores”.

No acesso aos laboratórios, nenhuma mudança. “Atividades essenciais, como o cuidado com a vida de animais de experimentação, a limpeza dos ambientes, o cultivo de células e agentes infecciosos, vão continuar como vêm ocorrendo neste último ano. Na verdade, nunca houve feriados garantidos para as pessoas que trabalham com essas atividades, independentemente de pandemia”. Não há atividades de extensão presenciais autorizadas no momento. As remotas prosseguem.

Entre as ações administrativas, a novidade é a suspensão das provas de concursos previstas para o período. “Cerca de dois a três concursos”. Os colegiados seguirão se reunindo virtualmente. “Apenas atividades administrativas essenciais serão presenciais. Retornamos para as mesmas medidas de março de 2020”.

Linha de frente no combate à pandemia, a universidade também não terá qualquer mudança na rotina das unidades hospitalares e do Centro de Triagem Diagnóstica (CTD). Muito menos no funcionamento dos postos de vacinação drive-thru do Fundão, Praia Vermelha e Sambódromo, coordenados pela UFRJ. Nem mesmo no sábado da Semana Santa (3). “A Secretaria Municipal de Saúde confirmou vacinação nos drive-thrus no Sábado de Aleluia. A vacinação é atividade essencial. Se houver vacinas, haverá funcionamento. A UFRJ estará sempre, mais ainda agora, a serviço da sociedade. Agradecemos todos os voluntários, à Escola de Enfermagem e à Prefeitura Universitária”, disse a dirigente. O restaurante universitário central, no Fundão, segue a operação adotada durante a pandemia, com delivery e sem salão aberto.

Médica, a reitora considera que as medidas adotadas pela Prefeitura do Rio são necessárias, mas ainda insuficientes. “Enquanto a população acima de 60 anos não estiver toda vacinada com as duas doses, o país deveria entrar em lockdown. As pessoas devem permanecer em casa, em trabalho remoto”, avalia. “Há vários serviços que não são essenciais e deveriam estar fechados, para diminuir a circulação de pessoas que são as fontes virais”, completa. A professora cita as feiras livres e móveis e a hotelaria como atividades que deveriam ser suspensas.

REPERCUSSÃO
Presidente da AdUFRJ, a professora Eleonora Ziller destacou que o Governo do Estado está alinhado ao Executivo federal na política de recusar e boicotar ações mais efetivas de combate à pandemia. “Esse feriadão é um arremedo criado por quem não tem a coragem política de enfrentar a discussão principal, de medidas claras de orientação e restrição das atividades”. Entre os professores, Eleonora entende que uma grande parte não queria mudanças no calendário, mas outra parte ansiava pela suspensão total desses dias de atividades acadêmicas “para recompor as forças”. “São compreensões absolutamente legítimas do problema. Foi importante a reitoria tomar uma decisão rapidamente, qualquer que fosse, para não tumultuar mais ainda a vida das pessoas”, avaliou.

WhatsApp Image 2021 03 26 at 20.24.33Já para o vice-presidente da AdUFRJ, o professor Felipe Rosa, apoiou a decisão da universidade pela manutenção do calendário acadêmico. “A decisão da Alerj fez a diferenciação que a antecipação dos feriados não vale para os serviços remotos, onde está a maioria dos docentes. A suspensão das aulas remotas só iria atrapalhar os planos dos professores em um semestre já apertado”, disse. Felipe também se manifestou sobre o adiamento das provas de concursos marcadas para os próximos dias. “Adiamento de concursos é sempre uma pena. Mas é totalmente compreensível. Neste contexto, o combate à pandemia é muito mais importante”, afirmou.

Representante do DCE Mário Prata, Antônia Velloso disse que a entidade não teve tempo de discutir o tema. Mas os relatos recebidos dos colegas estudantes mostram realidades distintas. Uma parte defendia a continuidade do calendário, pois temia uma redução ainda maior do semestre . Outra parte gostaria da aplicação dos feriados para descansar a mente e também para se estruturar melhor para o ensino remoto. “A discussão fica prejudicada pela forma atropelada como o calendário foi construído na UFRJ, com períodos muito curtos de aulas e de recessos, e pela irresponsabilidade do governo federal, que desestabiliza a saúde dos estudantes”, completou.

A AdUFRJ e o Sintufrj divulgaram nesta quinta (25) uma nota conjunta em que defendem que a universidade matenha o trabalho presencial “somente para combater a pandemia, salvar vidas e proteger a UFRJ de perdas irreparáveis”. As entidades se solidarizam com as famílias de vítimas da covid-19 e conclamam a reitoria a instituir uma Coordenação de Biossegurança, com a participação de representantes dos diversos centros e unidades, “para tratar das ações de combate à pandemia na UFRJ”.

 

O QUE OUTRAS UNIVERSIDADES DECIDIRAM

UERJ
Não terá expediente do dia 26 de março a 4 de abril, sendo suspenso inclusive o trabalho remoto. Também não deverão ser realizadas atividades acadêmicas. A vacinação no campus Maracanã, tanto no posto de pedestres (primeira dose) quanto no drive-thru (segunda dose), será mantida de segunda a sexta-feira, das 9h às 15h, exceto no dia 2 de abril.

UFF
Calendário acadêmico remoto prossegue sem alteração. Somente as atividades acadêmicas relacionadas ao estágio/internato da área de Saúde continuarão em funcionamento.

UFRRJ
Continua em bandeira vermelha, conforme definido pelo Comitê Coronavírus, o que restringe as rotinas presenciais às atividades essenciais como segurança, posto médico e algumas ações em pró-reitorias. O calendário de atividades remotas permanece inalterado. As atividades de limpeza e obras serão interrompidas.

UNIRIO
Calendário acadêmico continua sem alteração. Recomenda que, preferencialmente, as atividades acadêmicas e pedagógicas, nesse período municipal regulamentado, ocorram de maneira assíncrona. Algumas ações administrativas desenvolvidas presencialmente deverão ser reformuladas durante o “superferiado”.

USP
Em São Paulo, a antecipação dos feriados ocorreu por decreto municipal. Mas, de qualquer forma, não haveria interferência. As aulas de graduação terão início em 12 de abril. Em função do decreto da fase de emergência pelo Governo do Estado, as atividades presenciais já haviam sido suspensas. Somente as atividades essenciais vinculadas à Saúde são mantidas.

WhatsApp Image 2021 03 26 at 20.23.39Com uma previsão de receitas já bastante reduzida para funcionar em 2021, a UFRJ perdeu mais R$ 6,8 milhões de suas receitas discricionárias. Ou seja, da verba voltada para a manutenção das atividades acadêmicas e administrativas. O corte na maior universidade federal do país foi um dos muitos resultados desastrosos da aprovação da lei orçamentária, dia 25, no Congresso.

A proposta do governo reduzia R$ 64 milhões da verba discricionária da universidade em relação ao ano passado (de R$ 374 milhões para R$ R$ 310 milhões). Mas, durante a tramitação na Comissão Mista do Orçamento (CMO), a “tesourada” — confirmada depois no plenário — foi ampliada para R$ 71 milhões. E o montante total caiu para R$ 303 milhões.

O pró-reitor de Planejamento e Finanças da UFRJ, professor Eduardo Raupp, lamentou o resultado final. “A situação já era crítica e esperávamos recomposição no Congresso. As universidades estão com seu funcionamento em risco nestas condições”, disse. “Precisamos da recomposição do orçamento, que já era insuficiente em 2020, mas que ao menos nos permitiria cumprir contratos.  Nestas condições, teremos que reduzir ainda mais nossos compromissos, colocando em risco atividades acadêmicas e administrativas”, completou.

Raupp chamou atenção para falsas compensações financeiras. “Existe uma tendência a se buscar uma recomposição por outras vias, como emendas parlamentares. Mas, na prática, perdemos autonomia com isso, pois é um recurso com destinação já predefinida. O que não nos permite fazer os pagamentos de que precisamos”, explicou.

DEBATE
A votação demonstrou a influência que o governo Bolsonaro mantém sobre a maioria dos deputados e senadores. O documento recebeu 346 votos favoráveis, 110 contrários e uma abstenção, na Câmara; e 60 favoráveis, 12 contrários e uma abstenção, no Senado. Parlamentares de diversos partidos destacaram os prejuízos às políticas de Educação, Meio Ambiente, Direitos Humanos e Saúde, entre outras áreas. Por outro lado, sobraram críticas à preservação de vultosos investimentos na construção de submarinos e aquisição de aeronaves de caça, na pasta da Defesa.

Na proposta do governo enviada ao Congresso, as universidades já sofriam uma perda de R$ 1 bilhão em relação do ano passado. Ainda na semana passada (veja abaixo), a associação dos reitores (Andifes) denunciou o risco de colapso das atividades acadêmicas e administrativas, se a redução fosse confirmada pelos parlamentares. Mas a situação piorou durante a tramitação da matéria: o relator da Comissão Mista de Orçamento, senador Márcio Bittar (MDB-AC), subtraiu ainda mais recursos das instituições.

“Segundo a Andifes, não vamos conseguir manter as universidades funcionando a partir de agosto”, criticou a deputada Professora Dorinha Rezende (DEM-TO). “Educação não é questão de preferência. É uma área estratégica”.

A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) observou que há aproximadamente um ano o país está em guerra contra o coronavírus. “Mas o governo Bolsonaro, quando lembra de guerra, só vê coturno e farda e isso se reflete no orçamento”, disse, em referência aos R$ 8,3 bilhões de investimentos previstos para o Ministério da Defesa. E a reserva de R$ 7,1 bilhões para reajuste dos militares, enquanto o funcionalismo público está com salários congelados.

Gervásio Maia (PSB-SP) foi enfático: “No meio de uma pandemia, sem vacinas e leitos, faltando oxigênio, pessoas morrendo na porta dos hospitais, vamos aprovar R$ 8 bilhões para a Defesa?  R$ 2,9 bilhões para submarinos e caças? Esses números não podem estar certos”, disse.

O deputado Nilto Tatto (PT-RS) criticou o subfinanciamento dos mecanismos de proteção ao meio ambiente: “Todos vêm acompanhando, nos últimos anos, o aumento exponencial do número de queimadas e desmatamentos. Isso é consequência de uma falta de política ambiental. Nos últimos dois anos, no orçamento da área ambiental, temos uma redução de quase 40%”, disse.

OBSERVATÓRIO PRESSIONOU
O Observatório do Conhecimento, rede de associações e sindicatos docentes formada para defender as universidades públicas, promoveu a campanha “Educação tem valor”, ao longo da tramitação do orçamento. Deputados e senadores foram pressionados com mensagens em suas redes sociais para recompor as verbas da educação superior.

Diretor da AdUFRJ — que integra o Observatório —, o professor Josué Medeiros ressaltou as dificuldades da iniciativa durante a pandemia. “Sem atividades de rua e sem poder pressionar lá, no dia a dia do Congresso, tudo fica mais difícil. Nossa voz aparece forte nas redes, mas o que pressiona mesmo é quando juntamos ruas e redes”, disse. “O orçamento aprovado para 2021 com corte nas verbas da Saúde, Educação e das universidades, em plena pandemia, reforça o quanto esse governo negacionista quer destruir o Brasil”, avaliou Josué. “O pior é o Congresso aceitar ser cúmplice desse projeto”.

O professor destacou que a pressão sobre o Congresso deve continuar e ainda pode dar resultado. “O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), já anunciou que quer conversar com os presidentes da Câmara e do Senado sobre essa recomposição. É hora de intensificar a pressão sobre os deputados e senadores”, disse. “Precisamos cobrá-los para que não sejam parceiros de Bolsonaro na destruição do país”, completou.  (colaborou Elisa Monteiro)

Reitores preveem apagão do funcionamento

Elisa Monteiro
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O risco é de colapso, avisaram os reitores das universidades federais, uma semana antes de o Congresso confirmar a redução de mais de  R$ 1 bilhão no orçamento da Educação Superior. “Isso inviabiliza o funcionamento das nossas instituições, porque muitas já se mostram em situação de dívidas anteriores, resultado de um orçamento congelado há cinco anos”, alertou o presidente da Andifes, Edward Madureira Brasil (UFG), durante coletiva de imprensa realizada na quinta-feira (18).

Segundo dados da Andifes, os valores destinados às despesas cotidianas acumulam uma perda de 25% apenas nos últimos dois anos. E isso sem considerar a inflação. Em 2020, o orçamento das universidades teve uma queda de 8,64% na variação anual em relação ao ano anterior, retrocedendo de R$ 6,06 bilhões (2019) para R$ 5,54 bilhões. “E a universidade pública não parou um minuto sequer nesse um ano de pandemia”, acrescenta o reitor da UFG.

O dirigente também destacou como o corte nas universidades afeta o combate à pandemia. Desde o ano passado, as instituições se tornaram linha de frente na luta contra a covid. Produziram álcool, equipamentos de proteção individual e respiradores, desenvolveram testes de diagnósticos, treinaram profissionais de saúde, assessoraram gestores e realizaram pesquisas sobre o vírus. Além de prestarem atendimento direto ao público. “Os 45 hospitais universitários foram, são e serão decisivos para enfrentamento da doença. Fomos os primeiros a ser acionados, por exemplo, na crise de Manaus”, exemplificou Edward.

“O que eu queria discutir, nesse momento, era o planejamento de retorno com 20% a mais de orçamento, não a menos, para garantir as atividades práticas tão necessárias”, disse a reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, durante a reunião. A reitora da UFRJ falou ainda sobre a sobrecarga nos hospitais universitários: “A UFRJ conta com nove unidades de saúde. É preciso lembrar que as outras doenças continuam. O que vimos foi um acréscimo importante no fluxo de pacientes de covid-19 que demanda leitos isolados e um aumento do custo hospitalar, que dependem do orçamento da universidade”.

A preocupação em relação ao destino da assistência estudantil também tira o sono dos reitores. O impacto previsto é uma redução de 20% para valores ou tempo de duração das bolsas. Representantes de universidades de diferentes regiões do país dizem temer retrocessos nas políticas de inclusão social praticadas no país, nos últimos anos, a partir da implantação do sistema de cotas.

Silvana Sá
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Abrir turmas, receber os inscritos, preparar e dar aulas, seminários, estar atento aos estudantes, responder dúvidas, corrigir trabalhos, provas, exercícios, lançar nota, orientar… tarefas comuns à rotina dos professores, mas que foram dificultadas na pandemia. As relações entre docentes e alunos da UFRJ passaram a ser mediadas, desde agosto, por uma tela. Se, por um lado, não havia mais como permanecer com aulas suspensas, por outro, o retorno presencial continua impensável.

Uma das razões é o gigantismo da universidade. Não é exagero considerar que a UFRJ é uma cidade. São 4.218 docentes e cerca de 65 mil estudantes de graduação e de pós-graduação. Além de 9.153 técnicos-administrativos. Para efeitos de comparação, dos 92 municípios do Rio, 59 têm populações menores do que o somatório de alunos, docentes e técnicos da instituição. “O ensino remoto foi o jeito possível de retomar as aulas”, defende o professor Jorge Moraes, do curso de Farmácia de Macaé. “Mas não há como comparar com o presencial. A gente sabe pelo olhar do aluno quando ele está entendendo, quando não está entendendo, quando está disperso. A gente não tem esse feedback na aula virtual”, avalia o professor.

Para ele, um dos grandes impactos das aulas on line é a perda da interação social. “Nós estamos acostumados a lidar com gente, não com tela. É muito cansativo. Eu considero importante respirar o ar acadêmico”, destaca o professor. Dar aulas em casa, com dois filhos, é outro desafio. “Tem variáveis que são impossíveis de controlar”.

O ensino remoto pode ser desafiador até para quem pesquisa o tema. “Não teria como pensar que, neste contexto que estamos vivendo, esta seria uma experiência tranquila”, revela Miriam Struchiner, professora Titular do Instituto Nutes de Educação em Ciências e Saúde. Coordenadora do Laboratório de Tecnologias Cognitivas, ela trabalha há 30 anos com tecnologias educacionais e foi grande defensora do retorno das aulas em meio remoto. “Era mais que uma questão curricular, era uma preocupação humana. A gente nunca iria saber como estavam nossos alunos sem realizar atividades didáticas com eles”, acredita a docente.

Durante o PLE, ela atuou na graduação. “Fiquei muito surpreendida com a adesão dos alunos. Acho que eles estavam precisando desse contato. Foi um acolhimento mútuo muito importante para nossas relações e para a aprendizagem”, avalia. Em paralelo, também dava aulas na pós. “Tive que me repensar toda, de forma que os alunos fossem protagonistas”, afirma. O aprendizado foi positivo. “Quero levar essas experiências para repensar a prática no ensino presencial”.

Além das aulas da graduação, da pós-graduação, da coordenação do laboratório, das pesquisas em andamento, a docente passou a ser convidada para lives e palestras sobre sua área de estudo: as tecnologias associadas ao ensino. “Foi muito gratificante acompanhar esse processo. Mas, ao mesmo tempo, trabalhar on line cansa muito mais. Falar com a tela do computador é muito mais desgastante. A extensão do horário de trabalho ao longo de um dia aumentou muito com a pandemia, não só pelas aulas, mas porque houve muito mais demandas”.

Se o ensino remoto já traz desafios para quem atua com jovens adultos, para professores da educação básica, as dificuldades são ainda maiores. “O primeiro sentimento foi um certo desespero”, relembra a professora Caroline Trapp de Queiroz, que dá aulas para o 5º ano do Colégio de Aplicação. “Uma série de dúvidas passou pela nossa cabeça. Desde as questões mais operacionais, até dúvidas conceituais. Como trabalhar a materialidade das coisas? Antes pegávamos, víamos as coisas, montávamos. E agora vemos tudo chapado no 2D da tela”, observa a professora.

Suas turmas são compostas por crianças de dez anos – que ilustram as páginas desta edição – e dar aulas sem ver o que elas estão fazendo é uma limitação. “Não temos como saber como a criança está escrevendo, nem conseguimos acompanhar como a criança está montando uma conta. Muita coisa do processo de aprendizagem fica pelo caminho”, lamenta. “Ainda assim, manter as aulas remotas é a decisão mais acertada”.

Caroline é substituta do CAp. Seu contrato se encerra em abril, no final do ano letivo de 2020. Ela concilia dois trabalhos. Em outra escola, atua de forma presencial. “O medo é uma constante”, lamenta. A escola onde trabalha é de elite e tem rígidos protocolos de segurança. “Ainda assim, é muito difícil controlar as crianças. Nossa cultura é a do toque, do afeto”. Para chegar ao trabalho, ela usa transporte coletivo. “A gente não tem um governo que entende que precisa auxiliar as pessoas num momento em que a taxa de desemprego está enorme e o custo de vida está caríssimo. Você se arrisca porque precisa”.

Diretoria da AdUFRJ

WhatsApp Image 2021 03 26 at 21.54.37Nenhum texto essa semana poderia começar sem a constatação da marca macabra de 300 mil mortes causadas pela covid-19 no Brasil. São mães, pais, filhos, cônjuges, avós que jamais voltarão para os braços de seus entes queridos, uma multidão que transformaria em cidades fantasmas mais de 98% dos municípios brasileiros. Uma tragédia. No entanto, um ano depois das primeiras suspensões das atividades presenciais, não dá mais para evitar o diagnóstico do mal que nos acomete. Não foi incompetência, ou falta de recursos. Não foi uma “fatalidade”, apenas. Houve ridicularização do uso de máscaras. Houve ataque às nações que produzem vacina. Houve dolo. E não tem outro nome para quem colabora para a disseminação de uma doença assassina: quem faz isso é genocida.


Não estamos acostumados a esse tipo de governantes. Então é normal que a denominação possa causar algum desconforto. Genocídio, afinal, é coisa muito séria, e ninguém quer diminuir as horríveis matanças que macularam a humanidade ao fazermos comparações levianas com tal e qual posicionamento político com o qual não concordamos. Mas é preciso reconhecer que agora é diferente. Desde a redemocratização, fomos governados à direita e à esquerda, e muito embora a violência urbana e rural tenha sido um grave problema nesse período, nunca houve esse impulso de morte que caracteriza o governo Bolsonaro. A celebração de miliciano condenado, o desejo de mandar a “petralhada” para a “ponta da praia”, a exaltação de um infame torturador, tudo isso faz parte de uma paixão pela violência que, pelo menos demonstrada de forma tão explícita, é inédita. Quando, portanto, esse ímpeto belicoso encontra um vírus letal como o Sars-Cov-2, produzem-se as cenas deploráveis que vimos na nossa temporada de terror: “Não sou coveiro”, foi a resposta a 2.500 mortes. “E daí?”, quando chegamos a 5 mil. Ao passarmos de 90 mil fomos saudados com “Tá com medo de quê? Enfrenta!”, e, aos 160 mil mortos, recebemos “Tem que deixar de ser um país de maricas!”. Ou seja, temos um presidente que claramente não liga se teremos dez, mil, ou um milhão de mortos.WhatsApp Image 2021 03 26 at 20.23.16

Bom, poderia se argumentar aqui que temos apenas uma retórica do ódio, curada para saciar a sua base mais fiel (o que também é assustador), mas que as ações do governo não refletiriam as palavras do mandatário. Pois bem, hoje temos indicações consistentes – ver, por exemplo, o 10º Boletim Direitos na Pandemia, editado pelo CEPEDISA/FSP/USP – que as normas e atos do governo federal tinham por objetivo propagar o vírus o mais eficientemente possível, para que a economia (?) pudesse voltar ao normal (??) o mais rápido possível. Ou seja, temos um presidente que despreza a vida, cercado de subalternos que estão dispostos a fazer o trabalho sujo para que a pandemia no Brasil desapareça o mais rápido possível, mesmo que seja por um massacre a caminho da imunidade de rebanho sem vacina.

Felipe Neto estava certo.

Lucas Abreu
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Apandemia colocou a Ciência no centro das discussões da sociedade. O desenvolvimento científico é a maior arma para enfrentar a covid-19, e a rotina dos pesquisadores foi alterada em todos os campos do conhecimento. Quem lida diretamente com pesquisas ligadas ao combate à doença se viu diante de desafios urgentes, mas outras áreas de pesquisa também foram afetadas, seja por demandas da sociedade e até pelo isolamento social, que mudou o fluxo de trabalho. Todos têm em comum o cansaço nesse um ano de trabalho incessante e confinamento.

“Por uma razão boa, que é o fato de as pesquisas estarem dando certo e encontrando aplicações práticas, a carga de trabalho é imensa”, desabafou a professora Leda Castilho, do Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares da Coppe. As pesquisas em questão são a produção em escala piloto da proteína que recobre a superfície do vírus e seu uso no desenvolvimento de testes sorológicos e de uma vacina contra o coronavírus. Além disso, a proteína também tem sido usada pelo Instituto Vital Brazil para desenvolver um soro equino para combater a covid-19. “A gente sente uma responsabilidade de fazer tudo o melhor e o mais rápido possível para contribuir no enfrentamento da pandemia, com a consciência de que não podemos parar”, contou a professora, que disse tirar daí a força para uma densa rotina de trabalho: “Nos últimos 12 meses, o único dia em que não trabalhei foi em 1º de janeiro”.

Leda Castilho explicou que mudar o foco do seu trabalho para o coronavírus não foi tão complicado. “O que estamos fazendo é muito semelhante ao que já fazíamos para proteínas de outros vírus  e para outras proteínas que são usadas como medicamentos”, contou a professora. “O meu laboratório trabalha para desenvolver essas tecnologias”. A sequência com que as pesquisas aconteceram foi uma resposta às demandas mais urgentes. “No começo da pandemia, a primeira emergência era ter testes, então passamos a produzir a proteína e a trabalhar junto com o professor André Vale, da Biofísica, para desenvolver o teste S-UFRJ”, contou a professora.

A pandemia exigiu o melhor da Ciência em todas as suas áreas. Guilherme Horta Travassos é professor do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da Coppe, e faz parte do GT Coronavírus da UFRJ desde o primeiro momento. Sua principal colaboração foi a criação do covidímetro, ferramenta utilizada para monitorar a pandemia no Rio de Janeiro. “Eu sempre estive envolvido com a solução de problemas, mas nunca de um problema tão insano quanto essa pandemia”, contou o professor. “Caí na vertente tecnológica do grupo, e busquei contribuir trazendo a pegada tecnológica. É um grupo formado por mentes brilhantes, que buscou se antecipar às questões da pandemia”, elogiou o professor.

A experiência de trabalho multidisciplinar é um dos trunfos apontados pelo docente para o sucesso do GT. “É um problema extremamente grave, que afeta a todos, o que nos permitiu ter uma agenda de trabalho comum”, exaltou Travassos, que vê no aprendizado coletivo um ganho para o futuro. “Foi um ano desafiador e de transformações. Problemas extremamente complexos ficaram menos complexos graças à soma das cabeças brilhantes que temos nos diferentes centros da UFRJ. Se tirarmos proveito disso, teremos uma revolução científica na UFRJ, porque quebramos o conceito das ilhas, e estabelecemos um continente científico dentro da nossa universidade”.

O combate à doença exigiu pesquisas, mas não foram as únicas demandas geradas pela pandemia. “Nós, economistas, fomos chamados a responder a questões bastante imediatas”, contou a professora Marta Castilho, do Instituto de Economia. “A covid-19 entrou na vida do meu grupo de pesquisa, não só nas vidas pessoais, mas como tema de estudos. Estudamos os impactos da pandemia na economia brasileira, analisando aspectos macroeconômicos e setoriais”, explicou ela, que ainda lembrou da centralidade das discussões econômicas e do falso dilema criado entre a vida e a economia. “Em economia somos chamados o tempo todo para o debate público. Tínhamos o desafio de mostrar que não existe essa contradição, e que devemos buscar formas de minimizar os custos econômicos da pandemia”.

Na avaliação da professora Marta, foram dois os principais problemas enfrentados pelos pesquisadores durante o isolamento social. “Perdemos uma parte do convívio que era frutífero para as reflexões e para o desenvolvimento dos trabalhos. A falta de convívio social atrapalha um pouco por tirar essa possibilidade de troca”, observou. O segundo problema é o que ela chamou de “perda das fronteiras do que é tempo e lugar de trabalho”, o que faz com que as jornadas de trabalho sejam mais intensas e mais longas. “Estamos trabalhando mais e necessariamente estamos sendo mais produtivos”, resumiu.

Para o diretor do Instituto de História, Antônio Carlos Jucá Sampaio, os arquivos públicos fechados estão atrapalhando as pesquisas de sua área. “Há muitos pesquisadores que estão com as suas pesquisas paradas por não poder acessar documentos históricos”, contou. Outro problema relatado pelo diretor é a falta dos eventos tradicionais da área. Mas, ao mesmo tempo, o isolamento social e a adoção de tecnologias de comunicação trouxeram uma nova possibilidade. “Estamos fazendo outros tipos de eventos, virtuais, com a presença de convidados internacionais, inclusive. E esse tipo de evento tem possibilitado mais ações de extensão ligadas à história pública. Nesse diálogo com a sociedade, o historiador constitui e reconstitui seus objetos de estudo”.

Na avaliação do professor Ildeu de Castro Moreira, presidente da Sociedade Brasileira para Progresso da Ciência, o saldo é de um ano ruim para a ciência brasileira. “Um ano extremamente complicado. Ruim do ponto de vista da postura do governo e dos cortes no investimento em Ciência, apesar da pandemia”, criticou o professor. “As universidades, institutos de pesquisa e pesquisadores estão tentando se desdobrar para enfrentar a pandemia em condições muito difíceis, porque é um governo federal negacionista”. Ildeu defendeu que os investimentos em Ciência e Tecnologia são um caminho não só para a saída da pandemia, mas para o avanço do país. “A Ciência e Tecnologia são importantes para a sociedade, para a economia do país, para o uso sustentável das suas riquezas e potencialidades. Espera-se que, em um momento como esse, a maior parte da sociedade brasileira se dê conta disso”.

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