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Voz potente sobre o tema da diversidade, a professora da Escola de Comunicação e primeira trans a completar o doutorado pela UFRJ, Dani Balbi participou do Festival  do Conhecimento e mostrou que a diversidade ainda está muito distante. “O projeto de exclusão sistemática das demandas reais de conjuntos e segmentos diversos da população vai ao encontro do projeto politico e ideológico vigente”, analisou a docente que, no dia 17, participou da mesa  “Pandemídia: Comunicar a diversidade”.
A docente acredita que existe uma narrativa midiática mentirosa sobre um Brasil homogêneo, onde a diversidade é celebrada. “Esse Brasil não existe”, criticou.
O Festival tratou o tema da diversidade e do preconceito  em várias mesas, como a do dia 21, “Conhecimentos, ativismos e subversão do normativo”, com  Mônica Benício, militante de Direitos Humanos e ativista LGBTI+.  “A gente está falando do país que mais mata pessoas trans no mundo. É isso que a gente chama de normal?”.
Para Mônica, a subversão à normalidade é uma afronta ao sistema. “Nós, LGBTS, somos lidos pela sociedade como os corpos que são os anormais, fora da norma”, contou. “Por si só, a nossa existência é uma afronta às normas da sociedade postas hoje”, afirmou.
A ativista é viúva de Marielle Franco, vereadora assassinada em março de 2018. “Entender o que está por trás do assassinato da Marielle é algo que dialoga muito com o sistema opressor e estrutural/estruturante da nossa sociedade”, explicou Mônica. Ela elogiou o Festival pela promoção do debate. “Para que a gente possa compreender que existe um sistema que está colocado em ordem, mas também existe um outro que está querendo fazer uma subversão dessa dita lógica normal”.
Drag queen e pessoa com deficiência, a produtora cultural Severa Paraguaçu representou o Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ no debate. Ela abordou, em uma perspectiva histórica, as raízes do normativo na sociedade. “A República e a democracia são processos”, disse.”A República tem uma estrutura que vem do século 18,construída pelas revoluções liberais”, explicou.   
Severa observou que o país apresenta vários problemas de politização.“É um terreno estéril, advindo de uma politica eleitoreira baseada em uma dinâmica de privilégios e carências”, afirmou. “Nosso trabalho é transformar esse terreno estéril em terreno fértil”, concluiu.

Ensino remoto para que e para quem? A pergunta norteou uma das lives do Festival do Conhecimento da UFRJ, no dia 21. Houve críticas à decisão do Conselho Universitário de iniciar o ensino remoto para a graduação e pós-graduação. “Todo mundo sabe quem é mais afetado pela pandemia, mas parece que a UFRJ não presta atenção nisso. Eu moro numa favela e a casa tem infiltração, tem internet instável, quando tem internet. Todas essas situações precisam ser levadas em conta. Não é só uma questão de modem, chip ou dinheiro para equipamento”, defendeu a estudante Thuane Nascimento. “Essa pandemia nos mostra quem vai ser excluído do ensino universitário”.
“Justamente por ser emergencial, (o ensino remoto) não é pensado, não tem uma metodologia bem construída, com professores e estudantes numa relação dialógica”, pontuou a professora Luciana Boiteux, da FND. Para a docente, o ensino superior brasileiro não pode voltar a ser um privilégio. “O que está colocado são falsas possibilidades de escolha que vão aprofundar desigualdades e impactar o futuro da universidade pública”.
Para a técnica e doutoranda da Faculdade de Educação, Daniele Grazinoli, o sistema educacional está abrindo espaço para a lógica privada. “Fomos deixando as lógicas do capital dominarem esta discussão”, disse, em referência ao produtivismo exigido de professores e estudantes na quarentena. “Deveríamos usar este tempo para pensar os processos de educação, não só os processos de ensino”.
A professora Fernanda Vieira (NEPP-DH) definiu o debate sobre aulas remotas como “acelerado e rebaixado”.  A docente criticou o parecer da Procuradoria da UFRJ sobre direito autoral e afirmou que entende a demanda estudantil sobre aulas gravadas, mas que não quer ser “a trabalhadora que está adensando a precarização do ensino”. A íntegra do debate está disponível em: https://youtu.be/KCBY5fLurpk.

A ex-presidente Dilma Rousseff foi uma das convidadas de honra do Festival do Conhecimento da UFRJ. Dilma deu uma palestra sobre o chamado capitalismo de vigilância, gênero em que grandes corporações financeiras e empresariais monetizam dados de cidadãos em todo o mundo, que são recolhidos por redes sociais e equipamentos eletrônicos. Os dados, defendeu a ex-presidente, geram “mais lucro, mais poder, mais conhecimento para as empresas”. Quanto maior o número de dados dos algoritmos, “mais preciso o processo para o qual ele está sendo aplicado”.
Os dados extraídos de redes sociais, jogos on line e equipamentos eletrônicos têm poder maior do que o de simples geração de demanda de consumo. Podem – e já se comprovou que fazem – interferir decisivamente em padrões de comportamento e até definir eleições. “O capitalismo de vigilância não diz respeito só a consumo, mas se aplica a áreas muito mais amplas, assim como o fordismo não se aplicava apenas à produção de um determinado modelo de carro”, ressaltou.
O capitalismo de vigilância integra a fase neoliberal financeirizada do capitalismo. A ex-presidente explicou que os principais desdobramentos deste modelo são: predição de comportamentos e demandas; capacidade de manipulação de dados eleitorais; controle e propriedade dos canais digitais de participação social; vasta reserva de capitais. “O objeto do negócio passa a ser as próprias informações obtidas do consumidor, porque serão usadas para criar novas demandas em diferentes áreas, não só no consumo”, afirmou.
Diante da pandemia da Covid-19 e da crise financeira global, defendeu Dilma, alguns setores seguem ganhando muito. São setores com grande capacidade de atender à demanda e responder “pela oferta necessária neste momento”. A presidente listou Amazon, Google, Apple, Microsoft e as empresas chinesas, como Alibaba e Baidu. “E também todas as empresas ligadas a e-commerce. Ganham tanto em volume de lucros, quanto em valorização na Bolsa”.
Dilma defendeu que esta modalidade do capitalismo vai interferir brutalmente em duas áreas: democracia e trabalho. “Eles conhecem mais sobre nós do que nós conhecemos sobre nós mesmos ou sobre eles. Essa desigualdade de informação vai gerar consequentemente mais desigualdade social”. A palestra completa está disponível no canal da Pró-reitoria de Extensão, no Youtube: https://youtu.be/N6CMgzkeAgg.

Os desafios da gestão universitária em tempos de pandemia mobilizaram um dos concorridos painéis do festival. “Não podemos, nessa pandemia, retroceder nos avanços que tivemos com relação à diminuição da desigualdade brasileira pela via da Educação”, alertou Margarida Salomão, ex-reitora da Federal de Juiz de Fora e atualmente deputada federal pelo PT-MG. Márcia Abrahão, reitora da UnB, na mesma linha, destacou as políticas públicas que democratizaram o acesso ao ensino superior público: “Precisamos garantir que todos os estudantes possam concluir sua jornada acadêmica com sucesso”. O professor Eduardo Raupp, pró-reitor de Planejamento da UFRJ, observou como a autonomia universitária é importante na defesa da sociedade em momentos como esse, em que falta uma liderança governamental na Educação. Mas também cobrou políticas econômicas que respaldem esta autonomia.

“É preciso que esse período sirva para extrair reflexões profundas sobre o papel da Ciência, da Educação e da saúde pública”, disse Ricardo Lodi, reitor da UERJ, em live do Festival do Conhecimento no dia 21 de julho. A conversa entre reitores do Rio de Janeiro discutiu a importância das instituições de ensino. “O avanço do mundo contemporâneo dependeu de conhecimento”, afirmou Antônio Cláudio, reitor da UFF. Rafael Almada, reitor do IFRJ, parabenizou o evento. “Esse é o diferencial, pensar o conhecimento com pluralidade”, destacou. “Só a educação causa a mobilidade social que fará o Brasil avançar como uma nação mais igualitária”, finalizou Denise Pires de Carvalho, reitora da UFRJ.

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