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08aWEB menor1139PAJÉ ANTONIO BOLÍVAR no filme O abraço da Serpente“São 520 anos do maior genocídio da humanidade, que nunca parou”. A constatação da antropóloga visual Chang Maia, curadora do Museu do Índio e consultora da Unesco para documentação de línguas e culturas indígenas, foi feita no terceiro cinedebate da série Racismo e Democracia. No dia 29, o evento promovido pela AdUFRJ e pelo Grupo de Educação Multimídia da Faculdade de Letras teve como tema a produção audiovisual na luta indígena.
Foram selecionados 5 filmes para o debate, dois com enredo ficcional e três documentários: “O Abraço da Serpente”, de Ciro Guerra (2015); “Índio Cidadão?”, de Rodrigo Siqueira (2015); “Martírio”, de Vincent Carelli (2016); “Ex-Pajé e Guerras do Brasil.Doc”, de Luiz Bolognesi (2018).
“A escolha desses filmes foi para abrir o horizonte. São mais de 500 anos contados, é uma redescoberta da história do Brasil”, explicou a indígena e artista plástica Daiara Tukano, descendente da etnia Tukano, que vive na fronteira do Brasil com a Colômbia, e coordenadora da Rádio Yandê. Ela acredita que os povos indígenas não podem ser definidos pela raça.”Indígena não é uma raça. Estamos em todos os continentes”, afirmou. “Nossa identidade é definida por nossa relação com o mundo, pela nossa cosmovisão. Isso vai de encontro com o pensamento antropocêntrico”, definiu.
Daiara se sentiu representada pelo teor documental e realista da seleção. Os filmes questionam a perspectiva ocidental de tempo e lugar. E, para os indígenas, esses conceitos são interpretados de maneira não linear. “Partindo do princípio dos não-lugares e não-tempos, esses filmes começam a dialogar de outras formas”, disse. “Eu me identifiquei, eu fiquei triste. São fatos reais, consigo ir naquele território, entender aquela mata”.
Para o pesquisador em linguística e professor da UFRJ, Marcus Maia, os indígenas possuem uma qualidade primordial. “São capazes de escutar, e não apenas ouvir. Essa capacidade de escuta é o que gera saberes”, afirmou. Os saberes são passados de geração em geração por um pajé. A recente morte do pajé e ator de “O abraço da serpente”, Antonio Bolívar, em decorrência do coronavírus, foi lembrada no evento. “A doença chegou naquele lugar pela fronteira. Ele era um pajé, participou da produção sendo ele mesmo, para além do documentário”, lamentou Daiara.

08WEB menor1139O autoritarismo cresce cada vez mais no governo Bolsonaro. O Ministério da Justiça e Segurança Pública criou um dossiê com os nomes e, em alguns casos, fotografias e endereços das redes sociais de 579 servidores federais e estaduais de segurança identificados como “integrantes do movimento antifascista”. Três professores universitários também são citados no documento, produzido em junho pela Secretaria de Operações Integradas (Seopi).
Os professores universitários na mira do governo são: Paulo Sérgio Pinheiro, ex-secretário nacional de Direitos Humanos no governo FHC e ex-integrante da Comissão da Verdade; Luiz Eduardo Soares, cientista político e ex-secretário nacional de Segurança Pública no governo Lula; e Ricardo Balestreri, secretário estadual de Articulação da Cidadania do governo do Pará e ex-presidente da Anistia Internacional no Brasil.
“É particularmente grave que um dos alvos desse monitoramento seja o professor Paulo Sérgio Pinheiro, que foi ministro, membro da Comissão Nacional da Verdade e atualmente tem posições importantíssimas no âmbito da ONU”, apontou Lucas Pedretti, doutorando no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ. “É uma pessoa que tem uma trajetória inequívoca de defesa dos direitos humanos”, completou o pesquisador.
Além de uma “relação de servidores da área de segurança pública identificados como mais atuantes”, montada a partir das assinaturas de dois manifestos policiais em defesa da democracia, o relatório da Seopi também inclui cópias em PDF do livro “Antifa – o manual antifascista”, do professor de história Mark Bray, e de um “manual de terrorismo BR”.
“A gente tem visto uma escalada autoritária do governo. Acontece na área ambiental, nas periferias, e atinge também a nós nas Universidades”, disse o cientista político Josué Medeiros, diretor da AdUFRJ. Segundo o professor, o dossiê é apenas mais um capítulo deste movimento. “Essa é a característica principal desse governo, a tentativa de silenciar, ou mesmo destruir, todo mundo que pensa diferente”, completou.
Pedretti entende que o foco do dossiê é revelador. “Sinaliza que o governo tem muito interesse em manter certo controle ideológico sobre as forças de segurança pública”, disse. “Bolsonaro acredita que pode controlar e mobilizar essas bases armadas em um eventual momento em que deseje avançar na direção de uma ruptura institucional”.
O dossiê foi endereçado a diversas instituições, como a Polícia Federal, o Centro de Inteligência do Exército, a Polícia Rodoviária Federal, a Casa Civil da Presidência da República, a Agência Brasileira de Inteligência e a Força Nacional.
Há o receio de que essa disseminação das informações possa desencadear perseguições políticas e retaliações dentro dos órgãos públicos. “Muitos podem considerar esse monitoramento inofensivo, mas a gente sabe que antes do golpe de 64 houve uma série de iniciativas de montagem de dossiês”, lembrou Pedretti. Para ele, os indícios dessa mentalidade autoritária são muito perigosos, e devem ser combatidos e repudiados. “A gente nunca sabe aonde esses dossiês vão dar”, alertou.
Dirigida por um delegado da Polícia Civil do Distrito Federal, nomeado em maio pelo ministro André Mendonça, a Seopi tentou contornar a Lei de Acesso à Informação carimbando os documentos como de “acesso restrito”. Esse critério adotado pela secretaria prevê que, somente em um prazo de cem anos, o dossiê poderia ser acessado pelos agentes públicos legalmente autorizados e pelas pessoas a que se referir. Mas o Portal UOL conseguiu acessar o material e noticiou o fato no dia 24.
Maria Paula Araújo, professora do Instituto de História, destaca a incongruência na ação do governo. “É como se os direitos humanos fossem inimigos, e a defesa deles vista como uma prática condenável, que torna uma pessoa perigosa”, disse. Ela critica o uso de instrumentos de Estado pelo governo para perseguição de seus inimigos políticos e ideológicos. “Remete às práticas da ditadura”, finalizou.
Em nota à imprensa, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, da qual Paulo Sérgio Pinheiro foi o primeiro presidente, repudiou a ação secreta por agentes de Estado, e exigiu resposta do ministro da Justiça, André Mendonça.

06WEB menor1139“Como aproveitar esse momento para introduzir algumas modificações a partir de uma reflexão sobre a pedagogia no ensino superior?”, indagou Ana Lucia Fernandes, professora da Faculdade de Educação no “Tamo Junto”. O bate-papo virtual, promovido todas as sextas-feiras pela AdUFRJ, discutiu o ensino remoto e a educação no pós-pandemia, no último dia 24.
Ana Lucia exibiu aos participantes do encontro a gravura francesa de uma sala de aula, pintada ao final do século XIX. “A configuração de aula é igual”, apontou. “Como professores, nós deixamos de estar de um lado da sala e passamos a estar no outro. Mas as práticas tendem a ser as mesmas”, completou.
As circunstâncias da pandemia, de acordo com a a docente, impõem uma necessidade de se repensar essas práticas de ensino. “O quadro de giz foi a grande tecnologia de aprendizagem da escola. Foi ele que configurou o ensino na forma como a gente tem até hoje”, afirmou. Ana acredita que o ensino remoto pode modificar isso. “Não se trata de uma mera soma de ensino remoto com ensino presencial, mas pode se tratar de uma nova forma de trabalhar”, declarou a docente.
Segundo ela, só essas reflexões poderão solucionar problemas como a alta taxa de evasão de alguns cursos. “Aquilo que chamamos de didática no ensino superior está muito mais ligada a como o professor pode mediar o processo de construção do conhecimento do aluno”, disse Ana.
“Porém, todas essas mudanças só podem acontecer de forma coletiva. A questão é pensar como, na nossa instituição, nós podemos ter outro tipo de aula e de ensino-aprendizagem”, finalizou Ana Lucia.
A presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller, vê caminhos possíveis para as mudanças dentro da UFRJ. “O Complexo de Formação de Professores podia ser um lugar em que a gente começasse a transformar essa discussão”, disse, em referência à política institucional de organização da formação inicial e continuada de professores da educação básica.

07WEB menor1139Presidente da AdUFRJ, a professora Eleonora Ziller conta como foi o Conselho Nacional de Associações Docentes (Conad), primeiro grande evento virtual do Andes, entre os dias 30 e 31. Eleonora foi a delegada da AdUFRJ (com direito a voz e voto) ao evento. Também participaram os professores Luis Acosta, da Escola de Serviço Social, e Marinalva Oliveira, da Faculdade de Educação, como observadores (com direito a voz). O Conad reuniu 64 delegados, 133 observadores e 7 convidados, totalizando 204 participantes.

O que ficou decidido?
O texto de resolução 10, que prorroga o mandato da atual diretoria por até 90 dias, foi aprovado integralmente. Ao final desse período, um novo Conad reavalia a situação, podendo prorrogar a gestão por até mais 90 dias. Por 28 a 23, foi aprovado o entendimento de que não poderia haver alterações nos textos dos TRs, dificultando o surgimento de um texto unitário.

Qual a importância da realização do Conad?
É muito importante que não percamos o funcionamento das entidades sindicais, ainda que remotamente, como temos feito na AdUFRJ. O Conad deu a legitimidade política para o Sindicato Nacional continuar existindo.

05aWEB menor1139As aulas remotas estão tirando o sono de muita gente e deixando alunos ansiosos. Pensando nisso, Danielle Ramires (foto), estudante da Faculdade de Letras, resolveu elaborar um tutorial para partilhar com seus colegas os aprendizados que obteve no seu curso particular de línguas e na pós-graduação da Letras, que assistia como ouvinte. Ambos migraram totalmente para o ambiente virtual. O resultado foi um material com um bate-papo sério, mas com linguagem simples e muitos memes. “Meus colegas se mostraram preocupados, nervosos mesmo, com o início das aulas remotas. Então pensei em usar a minha experiência pra tentar ajudá-los a passar por esse processo”, explicou a estudante de 22 anos. “Eles estão tão desesperados quanto eu fiquei, no início”, contou.
O material é um livreto, em formato PDF, que explica o que é o período de aulas remotas, apresenta o calendário completo da graduação, com os períodos de inscrição e trancamento de disciplinas, dá dicas de como organizar a rotina de estudos, sugere critérios para que os alunos escolham melhor suas aulas, entre outros conselhos. “As informações oficiais estavam pulverizadas, as pessoas estavam com dificuldade de encontrar um conjunto seguro de informações. Então tive a ideia de reuni-las”, contou. “Além de tentar conscientizar de que a inscrição de disciplinas neste período requer responsabilidade e uma atitude mais coletiva, já que são poucas vagas e muitos formandos acabaram prejudicados porque não entraram nos critérios exigidos”, destacou a estudante.
O texto foca nas aulas remotas, mas a estudante fala também sobre a importância de separar momentos para a realização de atividades que deem prazer aos estudantes. “Estamos em casa para cuidar da nossa saúde. A nossa saúde mental também faz parte deste processo. Se você não cuidar da sua saúde mental, a sua saúde física fica prejudicada”.
O guia já é um sucesso. “Se a gente pudesse resumir em poucas palavras, eu diria que é leve, claro e objetivo”, elogiou Sara Raquel Araujo da Silva, também estudante da Faculdade de Letras. “Ele leva em consideração a nossa rotina, até em relação ao tempo de leitura do documento, que dura menos de cinco minutos. Com certeza é para ser lido e compartilhado”, defendeu. “O material da Danielle está aprovadíssimo! Já passei para todos os meus alunos”, contou a professora Juliana Esposito Marins, da Faculdade de Letras. “Ela mostra uma preocupação em ajudar as pessoas, que é algo muito relevante, sobretudo neste momento”, avaliou a docente. Para a professora, o tutorial elaborado pela estudante casa com as preocupações do corpo docente, sobre como melhorar suas práticas pedagógicas no Período Letivo Excepcional. “Temos discutido a linguagem, como nos aproximarmos mais dos nossos alunos, como restabelecer o vínculo afetivo tão fragilizado neste momento conturbado e o texto dela vai exatamente nesse sentido. É nota mil”.

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