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Texto: Samantha Su

Após dois meses de atraso nos salários de terceirizados que atuam na UFRJ, a empresa Higi Time será convocada a dar explicações no Ministério Público do Trabalho — será a segunda vez que isso ocorre este ano; em maio, a convocada foi a Qualitécnica, também de serviços de limpeza. Segundo a universidade, os repasses à firma, que não comunica a razão da falta de pagamento aos funcionários, estão regulares.

A Escola de Serviço Social, uma das unidades atendidas pela Higi Time, chegou a fechar as portas em 26 de junho por conta desta situação. Mas reabriu no último dia 10, em esquema de plantão. A decisão foi tomada após o depósito do salário do mês de maio aos servidores — o pagamento de junho permanece atrasado.

A unidade, que conta com seis trabalhadores da empresa, hoje funciona com o revezamento de apenas duas pessoas por dia. Segundo a diretora, Andréa Teixeira, a situação só não está pior porque a Escola está com os três setores em greve: “Estamos longe de estar em pleno funcionamento, mas como professores, técnicos e alunos estão em greve, reduzimos os horários em que eles (funcionários) necessitam trabalhar. Foram eles que sugeriram entrar em regime de plantão, mas, para nós, a situação é clara: se este mês ainda não forem pagos, voltaremos a fechar”, comunicou.

 

Sessenta e cinco funcionários da Higi Time atuam em todo o campus da Praia Vermelha. O chefe de gabinete da reitoria, Agnaldo Fernandes, disse à reportagem do Jornal da Adufrj que a UFRJ pedirá explicações à empresa, via Ministério Público do Trabalho, e terá mais informações sobre o caso ainda esta semana. 

Em frente à FND, conversa entre alunos, docentes e terceirizados unifica a greve e fortalece a universidade

Samantha Su. Estagiária e Redação

Qual a relação entre cortes no orçamento, terceirização, (falta de) assistência estudantil e direito de greve? Para responder a esta pergunta, professores, alunos e terceirizados reuniram-se em frente à Faculdade Nacional de Direito, no último dia 10. 

Para Cleusa Santos, diretora da Adufrj-SSind, a universidade enfrenta uma forte crise em função das (más) escolhas do governo federal, com o aprofundamento do neoliberalismo. O corte anunciado de R$ 9,4 bilhões deste ano é mais um elemento desta conjuntura. “O Estado neoliberal exige novas formas de gestão, hierarquizando as atividades e tornando o trabalho cada vez mais fragmentado em busca de uma maior produtividade”, afirmou.

A terceirização no Brasil, um dos maiores exemplos dessa fragmentação, emprega 12,7 milhões de trabalhadores. Desses, 73% recebem até dois salários mínimos. A Associação de Trabalhadores Terceirizados da UFRJ (ATTUFRJ) é uma organização que tenta ir na contramão do cerceamento de mecanismos de mobilização para esses trabalhadores, alvos mais frágeis de políticas punitivas de controle social.  Uma das diretoras da ATTUFRJ, Terezinha da Costa explicitou a situação dos terceirizados: “Antes eu não tinha consciência. Eu achava que eu era livre, hoje eu vejo que estou acorrentada. Tiraram meus sonhos e meus direitos, mas não basta que eu tenha um prato de comida, os meus irmãos também precisam ter. Ninguém vai fiscalizar se a gente tem o que comer, mas tem supervisor para ver se estamos trabalhando bem”, desabafou.

Outro segmento da universidade bastante afetado em momentos de contigenciamento é o dos estudantes. Gabriel Guimarães, pelo DCE Mário Prata, criticou a falta de assistência: “Bolsa, por exemplo, é uma das primeiras coisas a ser cortada quando há crise. Isso tem que estar garantido nos fundos da universidade. O PNAES (Programa Nacional de Assistência Estudantil) precisa garantir bandejões, alojamentos e bibliotecas em quantidade proporcional ao número de alunos e que não sejam retiráveis, como são os contêineres”, afirmou. “Queremos uma universidade que seja realmente universalizada, principalmente em condições de permanência”, concluiu.

Quando servidores e alunos resolvem reagir à precarização de suas condições de trabalho e estudo, um dos instrumentos de luta é a greve: “A greve organiza a classe trabalhadora e torna mais evidentes as contradições entre a política institucional e a realidade social. Ela dá forma a esse sentimento de insatisfação e não representatividade, exterioriza o conflito e aglutina a classe”, pontuou o estudante Thiago Gondim, da FND, que recentemente defendeu sua monografia de fim de curso sobre direito de greve. 

A professora Sayonara Grillo, da FND, saudou a atividade: “Estamos dando à Faculdade de Direito um momento de reflexão. Isso é simbólico para a Unidade, porque traz uma leitura não normativa do que é o Direito. Posso dizer que aqui ouvimos explicações melhores sobre direito de greve do que na própria Constituição. É necessário entender o direito como mais do que um manual de regras”, declarou. 

Caminhando juntos

A professora Tatiana Brettas, da Escola de Serviço Social, reafirmou a importância daquele debate: “Precisamos romper com a hierarquia na Academia e nos reconhecer como sujeitos, que não têm homogeneidade entre todos os setores, mas ainda assim caminhamos juntos para fortalecer a perspectiva de uma universidade melhor e de uma sociedade melhor.”

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Prédio novo prometido à Gastronomia ainda não saiu do papel. Sala de reunião dos docentes é na biblioteca

Laboratórios são impróprios para o curso

Filipe Galvão. Especial para o Jornal da Adufrj

Das formas de luta à composição, vive-se uma greve nova. Com o fim do fôlego das políticas de expansão e o inchaço de trabalhadores terceirizados, a universidade experimenta hoje o seu limite.

A nova composição dos grevistas responde aos processos de mudança vividos pela universidade na última década. Não à toa têm se destacado nessa greve unificada dois grupos: os professores dos cursos novos e os alunos vindos de outros estados. Ambos resultantes da implementação do Reuni.

É o caso da Gastronomia. Criado em 2011, o curso nasceu com a promessa de um prédio próprio com laboratórios, salas de aula e espaços de convívio. Quatro anos depois e sem nem um tijolo para chamar de seu, docentes e alunos amargam uma situação de abandono. 

Viram-se como dá. Para o cafezinho dos intervalos, os professores precisam se abrigar entre estantes e livros. Sem espaço nem prédio, a sala de reunião foi improvisada em um espaço ao fundo da biblioteca do Centro de Ciências da Saúde. “Os alunos nunca reclamaram, mas a gente procura fazer silêncio para não atrapalhar”, assume Márcia Pimentel, primeira professora contratada pelo curso.

O espaço foi a solução provisória encontrada pela coordenação e direção do curso junto à decania do CCS. “Não é a melhor condição de trabalho do mundo e, agora com o corte, a gente fica sem saber o que vai acontecer. Se, como está, já foi um sacrifício muito grande para nos instalarmos, imagina no futuro”, pondera a professora.

As lições acontecem nos laboratórios do CCS. O problema é que a estrutura existente não comporta as necessidades do curso. Impróprios para as aulas, os laboratórios não possuem sistema de circulação de ar e qualquer vazamento de gás ou alimento alergênico pode ser desastroso.

Projetado para abrigar o Instituto de Nutrição Josué de Castro, o prédio-fantasma já tinha sido orçado e aprovado pelo orçamento da UFRJ. E sua ausência não prejudica só a Gastronomia. Taís de Souza Lopes, professora do curso de Nutrição (existente desde 1948), aponta que a situação dos laboratórios compartilhados está atrasando a reforma curricular do curso. “Hoje estamos fora das requisições do MEC por conta disso, nós não temos laboratórios suficientes para ter dois currículos andando juntos”, revela.

Desde janeiro desse ano, os cursos irmãos sobrevivem pelo trabalho duro, quase teimoso, de docentes e alunos. Taís revela que, sem verba, os alimentos necessários às aulas acabam vindo do salário de professores ou de vaquinhas de estudantes. “Já chegamos a esse ponto”, desabafa.

A paulista Kilvia Pereira, aluna do curso de Gastronomia, diz que às vezes falta até manteiga. “Sempre quis universidade pública, mas sabia que não seria fácil”, conta. Kilvia, que também está em greve, preparou com seus colegas uma aula pública na posse de Roberto Leher e Denise Nascimento, novos reitor e vice-reitora da UFRJ. Ao final da cerimônia, serviram aos presentes degustações de caponata de casca de banana, gaspacho feito com descartes de salada e doce de casca de melancia. A aula era sobre o aproveitamento integral dos alimentos. Pareciam experts.

A UFRJ vai ocupar a Cinelândia

Atividades começam ao meio-dia e envolvem professores, estudantes e técnico-administrativos da universidade

Diversas unidades da UFRJ farão atividades em praça pública na quinta-feira, 16 de julho. As atividades se iniciam ao meio-dia em tendas montadas na Cinelândia, Centro do Rio. mobilização envolve professores, estudantes e técnico-administrativos da universidade.

O ato “UFRJ na praça, contra os cortes no orçamento” discutirá com a população os efeitos do ajuste fiscal na Educação pública. Dentre as principais atividades, haverá exibição de filmes, debates, palestras, oficinas de dança e costura, saraus de poesia, instalações, cortejos, aulas-públicas. Tudo isto como forma de mostrar à população o que a universidade pública produz e o que está ameaçado com os mais de R$ 9 bilhões cortados da educação.

Após a série de experimentações e debates, haverá um ato-show unificado da educação federal em greve do Rio. O ato-show começa às 17h. Todas as atividades serão abertas ao público e gratuitas.

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