A UFRJ teve sua segunda leitura pública da Carta pela Democracia no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, tradicional ponto de concentração da universidade para manifestações no Centro. O diretor da unidade, professor Fernando Santoro, apresentou o texto. “Vamos celebrar esse rito de aclamação do Estado Democrátco de Direito repetindo, em todas as nossas vozes, a carta redigida pelos professores de Direito da USP e subscrita por um milhão de brasileiros”, exclamou.
Após a leitura, representantes da comunidade acadêmica e da sociedade civil discursaram. “Sabemos que a destruição da universidade é central no projeto bolsonarista. Apesar da história de violência do nosso país, temos que manter os pequenos avanços da sociedade brasileira e lutar para que eles sejam ampliados”, disse o professor João Torres, presidente da AdUFRJ. “Nós da AdUFRJ fomos eleitos com a plataforma de apoiar o candidato da frente democrática que tivesse maior viabilidade eleitoral, e é isso que estamos fazendo. Nosso dever democrático é tirar o bolsonarismo do Palácio do Planalto”, completou.
A estudante Dulce Adrieli, coordenadora geral do DCE, destacou a importância do 11 de agosto para a defesa da universidade. “Esta data é dia dos estudantes, trabalhadores e de todas as pessoas que lutaram para que a UFRJ esteja viva hoje”, disse.
“A carta fala de forma muito necessária sobre a importância do voto, mas é com esses atos que colocamos conteúdo na palavra democracia. Democracia são as cotas na graduação, é a esperança, é a construção de pactos sociais que nos possibilita sonhar com dias melhores”, expressou Natália Trindade, da Associação dos Pós-Graduandos da universidade.
Depois do evento no IFCS, os manifestantes seguiram em direção à Candelária para se somar ao ato que reuniu três mil pessoas no Centro.
Vice-presidente da AdUFRJ e diretora executiva do Observatório, a professora Mayra Goulart foi uma das debatedoras. “Queremos aumentar os processos de reflexão sobre a questão da pluralidade, sobre a importância de discutir a sub-representação das mulheres na ciência, na universidade, principalmente em cargos de destaque, em espaços de produção de Ciência e Tecnologia”, destacou. “Quando a gente exibe o documentário e faz rodadas de debates sobre isso, a gente cumpre o propósito que é o chamamento à reflexão sobre esses dilemas”. Até agora, já foram feitas dez exibições em universidades, escolas e museus de nove cidades.
Uma dessas informações é que o país precisa ampliar sua capacidade de testagem para combater o monkeypox. “Do ponto de vista do diagnóstico molecular, a testagem está concentrada em quatro lugares de referência. No caso, a UFRJ; o Adolfo Lutz, em São Paulo; a UFMG; e a Fiocruz. É claro que a gente precisa expandir isso”, afirmou a professora Terezinha Castiñeras, diretora do Núcleo de Enfrentamento e Estudos em Doenças Infecciosas Emergentes e Reemergentes (Needier/UFRJ). “Mas o grande salto será quando a gente conseguir ter um teste rápido, que promova uma medida rápida de isolamento, de avaliação de contactantes. Aí sim vamos ter melhores resultados”, completou a docente.
Os especialistas também alertam que não pode haver preconceitos no controle da doença. O vírus hoje está mais espalhado entre homens que fazem sexo com outros homens, mas todas as pessoas de todas as idades estão suscetíveis à varíola dos macacos. “Isso remonta aos anos 80, quando houve o início do HIV. Ficou o estigma de ser uma praga gay. Foi algo completamente errado que só atrapalhou o controle da doença. Se o vírus entra por uma população ou grupo que tem relações entre si, demora a ‘vazar’ para outros”, esclareceu o professor Amilcar Tanuri, chefe do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia.
O docente observou que o vírus circulante no Brasil já é diferente dos encontrados na África. “Nosso vírus sofreu uma evolução disruptiva. Ou seja, adquiriu uma mutação drástica. Isso faz com que tenha boa transmissão entre as pessoas e uma letalidade menor, por enquanto. Vamos saber mais a longo prazo”, alertou.
A característica de transmissão por um tempo maior do que outros vírus similares é outra preocupação dos especialistas em relação ao monkeypox, que causa lesões na pele. A infecção ocorre mesmo quando as bolhas do paciente se rompem e dão lugar a crostas. “Na varicela ou catapora, a gente fala que a lesão com crosta já não transmite mais. Neste caso, não. A fase crostosa desta doença transmite”, explicou o professor Rafael Galliez, da Faculdade de Medicina. Um paciente pode infectar outras pessoas por até 40 dias, aproximadamente. A contaminação ocorre por contato pele a pele ou com material contaminado ou por gotículas.
A doença, descoberta nos anos 1970 em crianças, se expressava com muitas bolhas na pele, que surgiam todas ao mesmo tempo, acompanhadas de mal-estar e febre. Mas o padrão mudou. “O que a gente começou a ver: lesões únicas, às vezes em região genital; às vezes, em mucosa oral; lesões que apareciam em diversas ordens. Ou seja, muito mais parecida com a catapora do que com a varíola tradicional”, informou o docente. “E também a ausência de sintomas importantes: de mal-estar, de febre. Esse padrão é diferente do que a gente vinha estudando”.
Um alento é que já foram criadas vacinas antivariólicas eficazes. O problema é que elas não estão mais disponíveis em grande escala. A varíola humana foi erradicada no mundo em 1980 e a vacina contra a doença parou de ser aplicada no Brasil em 1979. “A maior parte da população afetada está na faixa de 38 anos. Isso nos dá uma sinalização de que há uma proteção funcionando para quem foi vacinado. Pelos dados que temos no momento, a população vacinada não será prioridade”, afirmou a professora Clarissa Damaso, que lidera o grupo de trabalho da UFRJ para o enfrentamento da doença, composto em maio deste ano.
A recomendação da OMS é vacinar preventivamente profissionais de saúde e de laboratórios que estão lidando com o vírus e os contactantes dos infectados. A OMS diz que os riscos e benefícios da vacinação direcionada também devem ser avaliados para grupos vulneráveis, como pessoas imunossuprimidas, crianças e mulheres grávidas. Ainda não existe imunizante no país. “Não há vacina para todo mundo. Os fabricantes não tinham previsão de produção para uma doença que afetasse o mundo todo”, observou Clarissa. (Kelvin Melo)
“Mulher negra, favelada, LGBTQIA+ e defensora dos Direitos Humanos. Vereadora do Rio de Janeiro, eleita com 46.502 votos, brutalmente assassinada em 14 de março de 2018 por lutar por uma sociedade mais justa”, diz a placa aos pés da estátua inaugurada quarta-feira (27) em homenagem a Marielle Franco. A obra, feita de bronze em tamanho real, fica no Buraco do Lume, na Praça Mário Lago, área do Centro onde a parlamentar costumava conversar com eleitores.