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charlotte"É com enorme pesar que informarmos o falecimento da professora Charlotte Emmerich, uma das pioneiras da Linguística no Brasil. Nossa muito querida Charlotte Emmerich, professora titular aposentada do Museu Nacional/UFRJ, dedicou-se ao estudo das línguas indígenas e às questões indígenas. Também organizou amostra sobre o português de contato dos índios do Parque Nacional do Xingu, tendo como trabalho seminal sua tese de doutorado, na década de 1980, considerada o marco inicial da Sociolinguística Indígena. Participou da fundação do Grupo de Pesquisas PEUL (Programa de Estudos sobre o Uso da Língua). Incansável, publicou recentemente livro com material linguístico inédito e raro sobre a língua Yawalapiti, coletado há mais de quarenta anos." (Nota de pesar do Programa de Estudos sobre o Uso da Língua - UFRJ)

WhatsApp Image 2020 10 16 at 16.55.53Ensinar e reinventar o ensino nas salas de aula presenciais e virtuais. Pesquisar com excelência apesar das dificuldades orçamentárias. Compartilhar o conhecimento em projetos de extensão. Contribuir para a formulação de políticas públicas e assumir a gestão da universidade. Estas são algumas tarefas que, ao longo da carreira, em maior ou menor grau, fazem parte do cotidiano do professor universitário. Um profissional que hoje é atacado diuturnamente por um governo que despreza a educação e a ciência. Para enfrentar tantos desafios, os educadores brasileiros reiventam o tempo, e após uma jornada muito superior às 40 horas contratadas, ainda se desdobram no exercício da cidadania, lutam por direitos e por um mundo melhor.
“Nós estamos enfrentando uma situação de grande descrédito na ciência. Isso é um problema muito sério para o professor universitário”, afirma Celso Ferreira Ramos Filho, da Faculdade de Medicina. As palavras vêm carregadas da sabedoria de quem começou a lecionar há 46 anos.
Celso cita o livro “O Mundo Assombrado pelos Demônios: A Ciência Vista Como Uma Vela No Escuro” do astrofísico americano Carl Sagan (1934-1996) como um exemplo muito atual a ser seguido. A obra apresenta o método científico como forma de combater argumentos místicos ou pseudocientíficos. Algo que o professor observa nos recentes movimentos antivacina ou na defesa do terraplanismo.  

PESQUISA
Uma das formas de fazer o bom combate científico é com trabalho duro. O professor Fernando Duda, da Coppe, atendeu à reportagem em pleno feriado de 12 de outubro. Descansando? Não, escrevendo um artigo em colaboração com um colega que mora no Japão. “Na pesquisa, é importante ficar muito ligado no que está acontecendo, mas a gente precisa fazer as coisas acontecerem”, recomenda. “Requer muita atenção, colaboração, mas não para você ficar submisso ao que vem de fora”, ensina. “A inspiração é importante, mas é muito mais transpiração”.
Integrante do programa de Engenharia Mecânica, nota 7 na avaliação da Capes, Duda deixa claro como funciona a dedicação docente: “Temos responsabilidade com o programa, com a Coppe, com a Poli, com a UFRJ. Mas essa é responsabilidade é natural. Gosto de ensinar e pesquisar”.
     
EXTENSÃO
A professora Angela Santi, da Faculdade de Educação, enxerga na extensão uma forma  efetiva de trazer a sociedade para o lado da universidade. Ela coordena o projeto Imagem, Texto e Educação Contemporânea (ITEC), com a colega Aline Monteiro. A iniciativa articula as transformações culturais com o trabalho escolar. “Nesse momento em que a universidade está sendo colocada em questão, isso se torna estratégico”.
      
POLÍTICAS PÚBLICAS
 Em alguns casos, não basta levar o conhecimento para fora dos muros da universidade: o professor também pode sacrificar a rotina acadêmica e se doar à formulação de políticas públicas. A professora Esther Dweck, do Instituto de Economia, trabalhou no extinto Ministério do Planejamento e no Senado, entre 2011 e 2016. “A relação entre Academia e a formulação de políticas públicas é superimportante porque o timing de cada coisa é muito diferente”, relata.
Na universidade, existe um tempo maior para reflexão; no governo, as demandas imediatas praticamente impedem o estudo.  
“É uma interação de mão dupla. Para a Academia, também é bom ver as demandas práticas do dia a dia. Depois que voltei, mudei bastante minha forma de dar aula, minha agenda de pesquisa”, explica Esther. Outro fator que estimulou a empreitada da docente por Brasília foram os exemplos de referências como Maria da Conceição Tavares, ex-deputada federal, e Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES, que também “mantiveram um pé na UFRJ e outro na atividade pública”.

FAMÍLIA E MILITÂNCIA
Antes da pandemia, todo professor levava trabalho para casa: leitura, produção de artigos, correção de provas. Normal. Com a pandemia, quase todo o trabalho se mudou para o ambiente doméstico — experimentos em laboratórios continuaram, principalmente na área da Saúde.
José Roberto da Silva, professor do Nupem, é casado e tem dois filhos. O adolescente é portador de necessidade especial. “Em alguns momentos, temos de intermediar a aula dele. No período normal, havia uma mediadora que participava com ele das atividades. É uma tarefa prazerosa, mas dá trabalho”.
Outra tarefa trabalhosa é a militância docente. Há 41 anos, a AdUFRJ organiza a defesa da educação pública e dos direitos dos professores da UFRJ. Sem afastamento dos afazeres acadêmicos, os diretores e militantes do movimento docente dedicam grande parte do seu tempo disponível para o bem do coletivo. “Representamos docentes (todos produtores e transmissores de  conhecimento)  que votam em diferentes partidos, acatam valores comportamentais variados etc. E mais: dedicam-se a saberes heterogêneos, adotam teorias rivais. É desafiadora a construção de uma pauta comum em meio a tanta diversidade”, afirma a professora Maria Lúcia Werneck Vianna, presidente da associação entre 2017 e 2019.

ENSINO E GESTÃO
O desafio da professora Nadir Ferreira Alves e dos colegas do curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação, aprovado em 2005 no Consuni, não é incomum para muitos na UFRJ: ensinar sem a devida infraestrutura. “Sabe aquele ‘esqueleto’ ao lado da Faculdade de Letras? A promessa era que em 2012 a gente iria para aquele prédio. Estamos ‘temporariamente’ na Faculdade de Letras desde então”, afirma. “Nosso sonho é ter nosso canto”, completa.
A docente ingressou na universidade em 2011 e, desde o início, assumiu a função de coordenação da expansão do curso para a Cidade Universitária. “Hoje, estou como vice do chefe de departamento. Desde que entrei na UFRJ, me vi dividida entre a docência e a gestão”.  Mas o corpo docente é um só para o Fundão e para a Praia Vermelha. “Damos aula nos dois campi. É bastante cansativo”.
Mas todo o esforço é compensado por conquistas que não ganham tanta visibilidade. Na primeira turma da expansão, havia um aluno autista. “Fizemos um trabalho diferenciado com ele. Ele realizava prova oral, pois tinha uma memória gigantesca. Mas tinha muita dificuldade de análise na escrita”. A cada renovação de semestre, era feita uma reunião com a mãe. Com um acompanhamento cuidadoso e sem forçar muitas disciplinas por período, o aluno se formou em 2016. “Esse desafio da infraestrutura de maneira nenhuma impediu o corpo docente formar bons profissionais. Tenho muito orgulho disso”.

IMG 20201010 WA0021Ministro Edson FachinNotícia esperançosa para a autonomia universitária. O ministro do STF Edson Fachin deferiu liminar que impede a intervenção do governo na escolha dos reitores das universidades federais. A decisão, proferida nesta sexta-feira (9), diz que a indicação do presidente da República deve se ater aos nomes da lista tríplice; respeitar integralmente o procedimento e a forma da organização da lista pela instituição universitária; e recair sobre o docente indicado em primeiro lugar. Desde o início do mandato, Bolsonaro já interveio nas eleições de 14 universidades e institutos. Ainda na sexta, o ministro Ricardo Lewandowski acompanhou o voto de Fachin.  
A sentença não é definitiva. Até 19 de outubro, os outros nove ministros da Corte também deverão se manifestar sobre a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 6565) ajuizada pelo Partido Verde e que contou com a União Nacional dos Estudantes (UNE), como interessada na questão. A peça questiona o poder do presidente nas últimas nomeações. Se pelo menos mais quatro ministros acompanharem o voto do relator do processo, o ministro Fachin, o governo será obrigado a nomear os reitores indicados em primeiro lugar nas listas tríplices. O presidente da UNE, Iago Montalvão, comemorou em seu perfil no Twitter. “O Ministro Edson Fachin, relator da Ação Direta de Inconstitucionalidade contra as nomeações antidemocráticas de Bolsonaro para reitorias das universidades federais, proferiu seu voto defendendo que o mais votado seja eleito. Um passo importante!”.

O VOTO
IMG 20201010 WA0022“O uso de poder discricionário para, sem justificativa razoável, romper com a ordem de indicações, representa
ingerência que afeta a universidade em sua capacidade de se autorregular enquanto autarquia especial”, escreveu Fachin em seu voto. “A nomeação não é instrumento de gestão porque não deve ser veículo de ingerência”, completa, em outro trecho.
Para Fachin, autonomia universitária também não é sinônimo de soberania. E elenca os dispositivos que o governo possui para fiscalizar as atividades acadêmicas. “Na forma do art. 74 da CRFB/1988, a Controladoria Geral da União poderá fiscalizar a aplicação de verbas federais no contexto universitário. Também está plenamente legitimada, de um ponto de vista constitucional, a função reguladora exercida pelo Ministério da Educação (MEC) em sede de graduação e pós-graduação no país”.
Os efeitos da liminar são válidos a partir da data de protocolo da ADI no Supremo, em 22 de setembro. Ou seja, não modifica a situação nas universidades onde já ocorreram as intervenções. Mas faz uma sinalização positiva para 13 instituições que aguardavam a decisão do presidente, além da Universidade Federal do Pará — que teve o processo devolvido pela Casa Civil (leia mais abaixo).
A decisão do ministro Fachin respalda posicionamento divulgado pela associação nacional dos reitores das federais (Andifes), em 21 de setembro. “A Andifes, em reunião do seu Conselho Pleno, realizada no dia 18 de setembro de 2020, ouvindo também as entidades que representam os docentes, os técnicos administrativos, os estudantes e a comunidade científica, deliberou por reafirmar sua posição em favor da nomeação como reitor da universidade federal, pelo Sr. presidente da República, do primeiro colocado na lista tríplice”.

INTERVENÇÃO EM 14 UNIVERSIDADES E INSTITUTOS
 
Fachin concedeu a liminar dez dias depois de o ministro da Educação, Milton Ribeiro, admitir que não entende a importância da democracia interna para o funcionamento das universidades. Em entrevista ao portal bolsonarista Brasil sem Medo, divulgada no dia 29, disse: “No caso das listas tríplices das universidades, vamos seguir exatamente o que diz a lei: a palavra final é do presidente da República. Se ele escolhe sempre o nome mais alinhado com o governo, é isso que nós vamos defender”. A política de confronto com a comunidade acadêmica já resultou em 14 intervenções no comando de universidades e institutos federais. E em tensos processos eleitorais. Confira o “interventômetro”.
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Elas & Eles ensinam, pesquisam, inspiram, formam e transformam. Num tempo sombrio em que educar é o verbo combatido pelo governante de plantão, homenagear a docência é lembrar que professoras e professores desenham o futuro com as tintas da ciência, da arte e da democracia. Neste 15 de outubro, o Jornal da Adufrj resgata o cotidiano de educadores que, como o centenário sociólogo Florestan Fernandes, fizeram do ofício um acúmulo de predicados inspiradores.

E Viva o 15 de outubro!

121666574 2279407658850376 8500937075799252829 nNós queríamos que este fosse um jornal só de celebração de nossas vidas. Um jornal que nos contasse inteiros e felizes. Porque integrar o quadro permanente de uma universidade pública não é um emprego apenas. É uma escolha de vida. A longa formação, os concursos que são verdadeiras maratonas, a sobreposição de diversas tarefas, o permanente processo de avaliação a que somos submetidos, enfim, um cotidiano de grande envolvimento e dedicação, que contrasta com o senso comum de que trabalhamos menos porque damos menos quantidade de horas de aulas do que professores das universidades privadas e do ensino básico. Essa percepção, ainda muito arraigada na sociedade, tem sido vergonhosamente utilizada para esvaziar e diminuir o papel que desempenhamos na sociedade. Desde sempre, a educação foi um problema para o Brasil, com suas universidades muito jovens e que serviam a uma pequena parcela da população. Mas pela primeira vez estamos enfrentando um governo que nos nomeia como se fôssemos inimigos, alvos a serem abatidos numa guerra declarada.
De fato, a universidade é quase um mundo à parte, com suas regras muito específicas e um modus operandi bastante diferenciado, no qual convivem rituais bastante tradicionais e novíssimas fronteiras do conhecimento, num complexo funcionamento de estruturas colegiadas. Ela é, de certa forma, opaca para quem a vê de fora e desconhece seus princípios estruturantes. Mas não é isso que incomoda aos poderosos de plantão. É que sua hierarquia e seu sistema de poder não obedecem completamente à lógica mercantil e de imediata utilidade. É preciso haver alguma insubmissão ao mundo tal como ele existe, uma persistente dúvida, um desejo latente de ir além do real, para que a produção do conhecimento se realize. Não existe universidade sem liberdade, não existe pesquisa onde não há dúvida, não existe educação sem transformação.
Esse ambiente foi criado e sustentado por muitas gerações de professores, e há muitas dissensões internas, embates vigorosos e, muitas vezes, devastadores. Mas é dessa diversidade que retiramos nosso vigor e é ela que buscamos celebrar nesse 15 de outubro: nossas múltiplas funções e nossas perspectivas tão diferenciadas sobre o que fazemos e como fazemos. Que sejamos nós vitoriosos nesse nosso dia, sejamos cientistas, artistas, intelectuais, administradores, militantes. Professemos nosso amor ao conhecimento, à liberdade e à educação, de todos os modos e de todas as formas.

Diretoria da AdUFRJ

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No momento em que a educação pública no Brasil é ameaçada pelo corte de verbas e pelos ataques à Ciência, à autonomia universitária e à liberdade de expressão, o ofício de ensinar ganha um caráter ainda mais nobre, de resistência e construção. As palavras do mestre Anísio Teixeira não nos deixam esquecer que sala de aula é lugar onde se respira e se celebra a democracia.

 

bandeira adufrjO triplo ataque do governo, com a nomeação de reitores sem representatividade, cortes orçamentários e reforma administrativa, se for bem-sucedido irá desfigurar completamente a universidade pública brasileira. Mas, aqui e ali surgem indicativos de que o jogo ainda está sendo jogado e que precisamos armar melhor o time e afinar a nossa estratégia, colocando em campo nossos melhores jogadores e convocando a torcida para fazer aquela pressão. Até um improvável juiz parece querer agora apitar a nosso favor.
A impressão é que estamos diante de um inimigo poderoso, mas com uma política de efeitos tão devastadores que nos parece impossível de ser implantada. Isso explica um pouco da nossa dificuldade em armar um enfrentamento mais decisivo: um misto de cansaço, descrença e alguma confiança de que o pior não vai acontecer, e que sairemos dessa, como de outras vezes. Não deixa de ter uma certa sabedoria, em tempos difíceis como os de hoje, é preciso poupar energia e guardar o que nos resta para os momentos de decisão, aqueles que realmente importam. Mas não tenhamos dúvidas: se o campo ficar livre, eles vão partir para cima. Ao que tudo indica, a reforma administrativa é uma batalha para o ano que vem. A Lei Orçamentária para 2021 é urgente, e não podemos descuidar dela. Na verdade, nesse caso, a pauta principal é derrotar o chamado “teto de gastos”, que nada mais é do que uma grande mentira repetida de modo incansável até virar verdade. Desmantelar o Estado, e convencer a população de que ele é uma massa falida e impotente, é um recurso antigo, que de forma sistemática e insistente, garante a concentração de renda e a desigualdade social do país. Políticas de “austeridade” são invocadas, mas a resultante por aqui é sempre mais privilégios e mais sucateamento dos sistemas públicos de saúde e educação.
Num cenário de tal modo adverso, precisamos cuidar de nós mesmos. Não podemos nos entregar às batalhas internas como se fossem o nosso último gesto. As discussões que foram travadas no CEG e na última sessão do Consuni podem nos deixar importantes lições, para que não percamos o fio principal que deve nos conduzir nesse momento. Muitas vezes, ganhar uma votação pode não ser o mais importante, principalmente quando o que nos espera logo ali são desafios ainda maiores. Mas a grande pergunta é: até onde cada um de nós está disposto a ceder para que se preserve inteiro o nosso tecido social? Ou ainda, até onde podemos ir sem esgarçar demais nossas relações? Essa pergunta devemos nos fazer todos os dias. Em especial aqueles que ocupam nesse momento postos de comando ou de representação. A decisão de estabelecermos o diálogo não é simples, porque ele jamais existirá como decisão unilateral. Para que o diálogo se estabeleça é preciso que se compartilhe com o outro o mesmo desejo. A democracia não é um exercício abstrato, não é uma narrativa e nem mesmo um mero conjunto de regras a serem respeitadas. Ela é um processo vivo, composto de atos, procedimentos, condutas que escolhemos. É preciso haver correspondência entre intenção e gesto, generosidade na escuta e reconhecimento dos próprios limites. E alguma dúvida faz bem também. Não estamos vivendo as melhores condições para que isso se dê, seja por conta do desgoverno que compromete a saúde de nossa sociedade, seja por conta da crise sanitária que se estabeleceu com a pandemia da Covid-19. Mas se não podemos escolher em quais as condições enfrentaremos a realidade, ao menos não iremos abrir mão do modo como escolhemos passar por tudo isso: juntos, juntos pela universidade.

Diretoria da AdUFRJ

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