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bandeira adufrjO atual ministro da Educação andava tão calado que muitos já tinham até esquecido seu nome. Sumido das manchetes, pouco afeito à superexposição de seu antecessor, deixava a sensação de que não tinha mesmo ninguém por ali. Depois da experiência traumática do pior ministro da história, eis que uma declaração sua nos faz lembrar que ele está lá, e com compromissos idênticos.
Temos em marcha, patrocinado pelo desgoverno federal, um triplo ataque às universidades públicas do Brasil: as nomeações por interesse político dos reitores, a reforma administrativa e o corte de recursos orçamentários. Tudo isso posto, as últimas declarações do ocupante da cadeira ministerial iluminam o conjunto da obra: o MEC não deve ter nenhum papel a desempenhar sobre a desigualdade social, não é uma política correta incentivar pobres a entrarem na universidade, quem cuida da educação no Brasil são os estados e municípios. Embora cause estranheza por sua completa abstenção em torno dos mais graves problemas da educação nacional, temos ali coerência de sobra. Ele não está lá para enfrentar nenhum problema relevante. É um mero operador do projeto bolsonarista: destruir tudo isso que está aí.
Conforme avançam as propostas governamentais, vamos delineando o quadro de modo mais completo: a reforma administrativa compromete muito mais do que a nossa estabilidade de servidor público. Ela abre a porteira para uma multiplicidade de vínculos empregatícios e para a consolidação do uso ideológico da máquina estatal. Desprovida de seus mais altos objetivos republicanos, essa máquina será mera reprodutora de privilégios e desigualdades. Os ganhos, ainda que pequenos, alcançados com a Constituição de 1988, estão sendo destroçados. Os privilégios e distorções serão poupados, como têm sido em todas essas reformas, principalmente as da previdência e a trabalhista. O discurso oficial se alimenta da desigualdade e do justo sentimento de que precisamos enfrentar os grandes salários, as vantagens excessivas e a ineficiência para apresentar mudanças que não só não resolvem esses problemas, como os acirra.
O que temos a esperar? Os atos de sempre, as campanhas, a mobilização. Mas também a confiança em nosso próprio trabalho e naquilo que produzimos. E principalmente, por aquilo que significamos para a sociedade. Tanto a reforma administrativa quanto os cortes orçamentários ainda não se consumaram. Há uma verdadeira batalha a ser travada no Congresso Nacional, não nos furtemos a ela.
Nos próximos dias, será realizado em Brasília o 9º Conad, Conselho Nacional das Associações de Docentes de todo o país. Serão marcadas as eleições para a renovação da diretoria do Andes–SN. Também será discutido um plano de lutas para dar respostas a esse quadro. Não esperamos que, num passe de mágica, possamos reverter o quadro de baixa mobilização e pouca adesão ao movimento docente nacional, mas podemos ousar propor um novo despertar, uma retomada vigorosa do que fomos nas décadas da redemocratização, quando a nossa entidade nacional tinha uma forte inserção nos grandes debates nacionais. Podemos ser mais do que temos sido, podemos ir além do que temos ido. Nossos votos são para que o Conad consiga encontrar o caminho justo e as melhores propostas. Que tenhamos a lucidez necessária para isso.

Diretoria da AdUFRJ

A “Nova Administração Pública” proposta pelo governo Bolsonaro retrocede ao que havia de pior na organização do Estado brasileiro. Divulgado em ritmo de campanha sistemática contra o funcionalismo, o projeto desinforma e deforma o papel do servidor. Especialistas alertam que o fim da estabilidade para a maioria das carreiras vai estimular a submissão dos funcionários públicos aos interesses de quem estiver no poder, com aumento dos casos de corrupção. A reforma amplia as distorções, e, assinada pelo ministro Paulo Guedes, lança novas “granadas” nos bolsos dos atuais e futuros servidores, que perdem — ou ficam ameaçados de perder — mais direitos. AdUFRJ cobra reação unitária e nacional contra as medidas

Kelvin Melo e Kim Queiroz

Mal elaborada, baseada em dados falsos e vai piorar o serviço público. É desta forma que professores e pesquisadores avaliam a reforma administrativa proposta pelo governo Bolsonaro e recheada de ataques aos direitos de servidores federais, estaduais e municipais.
 Não para todos, é verdade. De antemão, a reforma administrativa do governo Bolsonaro exclui militares, magistrados, procuradores, promotores e parlamentares. “Existem algumas distorções no serviço público. Mas esta reforma amplia as distorções. Atinge setores que ganham pouco e preserva setores que ganham muito”, afirma o professor e diretor da AdUFRJ Felipe Rosa. “Bolsonaro isentou quem vai aprovar a reforma, que são os parlamentares, e quem vai julgar a reforma, que são os juízes”, completa.
WhatsApp Image 2020 09 26 at 11.52.06Produzido pelo IPEA, o Atlas do Estado Brasileiro mais recente comprova o argumento. No Executivo Federal, a média salarial de 2017 não alcançava R$ 3,9 mil; o que equivale a 65% do ganho médio do Legislativo, de R$ 6 mil; que é metade da média no Judiciário, de R$ 12 mil. E a reforma tira da mesa justamente a elite da elite. Para os demais funcionários públicos, incluídos os do Judiciário e do Legislativo, a dureza da lei: contratações precárias e desconstitucionalização de direitos.
Mas a “nova administração pública” também terá uma camada um pouco mais protegida. A reforma vai considerar como estáveis apenas os servidores dos chamados cargos típicos de Estado. O texto da PEC 32 não diz quais, mas a especulação é que um reduzido grupo, como auditores, policiais federais e funcionários do Banco Central, por exemplo, seja enquadrado nesta categoria.
A mudança representaria um erro grave para a organização do Estado, segundo Ana Luísa Palmisciano, assessora jurídica da AdUFRJ. “A estabilidade é uma forma de proteger o servidor em relação aos interesses das gestões federal, estaduais ou municipais. Que não é benéfica só para ele, mas para toda a coletividade. Ele poderá exercer aquela função com independência”, defende. “Ainda não sabemos quais serão as carreiras típicas de Estado. Não há garantia de que os docentes serão incluídos”.
E, diferentemente do que argumenta o governo para justificar o fim da estabilidade, não é difícil desligar maus servidores do serviço público. As demissões podem ocorrer por sentença judicial transitada em julgado, por processo administrativo disciplinar ou por avaliação de desempenho. “A lei nº 8.112, do Regime Jurídico Único, estabelece as penalidades. Entre elas, a demissão”, diz Ana Luísa.
A proposta cria outros regimes de contratação de servidores. E o “vínculo de experiência” surge como uma etapa do concurso público, que será de dois anos para os cargos típicos de Estado e de um ano para os cargos “por prazo indeterminado” — aqueles que perdem a estabilidade. Se o servidor em “experiência” não atingir “desempenho satisfatório” e classificação final dentro do quantitativo previsto no edital, será desprezado. “Na prática, parece uma forma de a administração pública utilizar estes servidores de uma forma precarizada”, avalia a advogada. WhatsApp Image 2020 09 26 at 11.52.061
A perda de estabilidade conjugada com a disputa pelo cargo, ainda durante o “vínculo de experiência”, pode favorecer uma política de compadrio. “Principalmente nas localidades menores, em que o prefeito tem grande influência. Imagine um professor, num período desses de experiência. Ele terá realmente a liberdade de cátedra para falar sobre a administração do município? No estágio probatório atual, as pessoas já não se sentem confortáveis”, observa a assessora jurídica.
Pior. A reforma pode estimular a corrupção. “Os governos vêm e vão, passam. E o servidor de carreira está ali, garantindo o funcionamento do Estado. Se passar essa Emenda, o governante de plantão é que vai montar a turma dele”, explica Maria Lucia Fattorelli, coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida. “O Regime Jurídico Único está sendo destruído nessa PEC 32. As carreiras estão sendo destruídas. Então, o governante de plantão vai chamar a turma dele, e essa turma vai estar vinculada àquele governante, não ao funcionamento do Estado. Vocês já imaginaram o espaço que isso vai abrir para a corrupção? Para as famosas rachadinhas que estão aí em moda?”, questiona.
A reforma também cria o vínculo por prazo determinado, para necessidades específicas, como ocorre com os atuais professores substitutos. E os novos cargos “de liderança e assessoramento” vão corresponder não apenas aos atuais cargos em comissão e funções de confiança — haverá substituição gradual —, mas também a outras posições “que justifiquem a criação de um posto de trabalho específico com atribuições estratégicas, gerenciais ou técnicas”.
Outro problema da PEC 32 é desconstitucionalizar uma série de direitos, como política remuneratória e de benefícios ou progressões e promoções. “A retirada do direito se torna mais simples”, alerta a advogada.
Os dramas trabalhistas não se encerram por aí. O discurso governamental de que os direitos dos atuais servidores não serão afetados pela reforma administrativa não combina com um dos artigos da PEC que diz “exceto se houver alteração ou revogação da referida lei”, alerta Ana Luísa. A advogada dá como exemplo as férias de 45 dias dos professores, previstas na lei da carreira — a reforma quer impedir qualquer período de descanso superior a 30 dias no serviço público. Se a lei nº 12.772 for alterada neste dispositivo, todos serão prejudicados.

REAÇÃO DEVE SER UNITÁRIA
WhatsApp Image 2020 09 26 at 11.55.35Neuza Luzia, do SintufrjCoordenadora geral do Sintufrj, Neuza Luzia é enfática: “Essa reforma não está reformando. Está destruindo o Estado brasileiro. E o que é mais cruel: a propaganda que sustenta essa reforma diz que é para moralizar e modernizar o serviço público”, afirma.
Neuza chama atenção para o significado da convivência entre servidores de diferentes regimes, caso a reforma seja aprovada. “Não teremos mais um regime só. Isso é uma pulverização do Estado. Que, no limite, deixaria o servidor atual no limbo”, pondera. “O nosso desafio é fazer uma imensa campanha em defesa do Estado brasileiro”.
“Este governo dirigir uma reforma administrativa é muito preocupante. Pois Jair Bolsonaro, Paulo Guedes e companhia limitada não estão nem aí WhatsApp Image 2020 09 26 at 11.55.34Professor Felipe Rosapara o serviço público”, diz Felipe Rosa. O momento pede união e o diretor da AdUFRJ entende que a articulação junto aos parlamentares via Observatório do Conhecimento — rede de associações docentes formada para defender a universidade pública — pode ajudar na disputa contra o governo. “O principal agora é se articular nacionalmente”, afirma.

PROPOSTA NÃO MELHORA QUALIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS

A reforma administrativa apresenta erros básicos de formulação, informa o presidente da Associação Nacional dos Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental, Pedro Pontual.
A apresentação PowerPoint do ministério da Economia, no dia 3, diz que o objetivo da proposta é entregar serviços de qualidade para os cidadãos. Mas o diagnóstico é todo focado na parte fiscal. E, mesmo assim, sem nenhuma segurança. “Na exposição de motivos da PEC 32, o ministro Paulo Guedes escreveu e assinou que a PEC não possui impacto fiscal e orçamentário imediato. Diz que poderá, no futuro, reduzir os gastos”, observa Pedro. “Não existe nenhuma meta de melhoria da qualidade do serviço público”.
“Temos uma proposta que é uma ode à falta de planejamento. Que abre milhões de possibilidades para contratações temporárias. O que é contraditório com o argumento de que há um valor muito grande comprometido com folha de pagamento”, afirma.
WhatsApp Image 2020 09 26 at 12.00.08MINISTRO-CHEFE DA SECRETARIA-GERAL DA PRESIDÊNCIA, Jorge Oliveira entregou no dia 3 a proposta de PEC da reforma administrativa ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia - Foto: NAJARA ARAUJO/CÂMARA DOS DEPUTADOSPedro enxerga um propósito bem distante de melhorar o serviço público na PEC. “O que se procura fazer com essa reforma é permitir que o servidor público seja demitido sem justa causa. Porque nunca houve vedação constitucional ou legal para demissão de servidor com justa causa”.
Por outro lado, os atuais servidores ficam à deriva, em carreiras que serão extintas com o passar dos anos. “O artigo 2º nos coloca no quartinho do entulho e ficamos lá até o último de nós morrer. Não estão claras as garantias que ficam para este grupo”.
O especialista em gestão também criticou o trecho da PEC que permite ao chefe do Executivo “moldar” o Estado, por decreto, extinguindo cargos ou criando, fundindo e também eliminando ministérios e órgãos ligados à presidência.
“É bastante patrimonialista a compreensão de que as instituições da administração pública federal pertencem a um presidente e a ele devem se conformar. Não é assim que funciona”. Ele completa: “Nos EUA, em 2018, o Trump montou um grupo para estudar a fusão de dois ministérios, e esse grupo ainda está trabalhando nisso. Aqui é na canetada”, critica.
Coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lucia Fattorelli acrescenta que dados são manipulados para justificar a proposta. Na apresentação da Economia, dia 3, foi mencionado um suposto crescimento de 145% no gasto com pessoal ao longo dos últimos doze anos. “Isso é uma informação falsa. O governo coloca como se a inflação tivesse sido zero durante esse período”, aponta. Com a atualização dos dados, o resultado é completamente diferente. “Há 12 anos, o gasto com pessoal representava 4,54% do PIB. Em 2019, foi 4,34% do PIB, ou seja, caiu”, afirma Maria Lucia.

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WhatsApp Image 2020 09 21 at 13.52.46Cresceu para 14 o número de interventores nas universidades e institutos federais sob a chancela do governo Bolsonaro. Nesta semana, o presidente nomeou os candidatos que ficaram em terceiro lugar na disputa pelas reitorias da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ambos receberam votações pífias nos respectivos colégios eleitorais e também nas consultas internas junto a professores, técnicos e estudantes. E perderam em todos os segmentos.
Na Unifesspa, o reitor nomeado Francisco Ribeiro da Costa recebeu apenas 6,9% dos votos da comunidade. Já o professor Maurílio de Abreu Monteiro ficou em primeiro, com 84,4% dos votos. O Conselho Universitário local homologou o resultado por unanimidade. Na UFRGS, a situação foi um pouco diferente: a chapa do atual reitor, professor Rui Oppermann, perdeu no total de votos para a chapa da professora Karla Müller, mas ganhou a consulta pelo critério que atribui peso de 70% para os votos docentes. A chapa do nomeado Carlos Bulhões ficou bem para trás em qualquer cálculo. No Conselho Universitário, que formou a lista tríplice, o resultado apresentado é indiscutível: Rui obteve 45 votos contra 29 de Karla; Bulhões, que faz parte do colegiado, ganhou apenas três votos. Não houve brancos nem nulos.
O caso da UFRGS chama mais atenção por ser uma instituição maior, mais antiga e bem posicionada nos rankings acadêmicos. Antes do decreto de Bolsonaro publicado no Diário Oficial do dia 16, a universidade só havia sofrido uma intervenção desde a redemocratização: em 1988, ainda no governo de José Sarney. O mandato de Bulhões começa hoje, dia 21.
“Não nos surpreende, pois esta tem sido a marca do governo Bolsonaro, que escolheu as universidades públicas federais como inimigas”, avaliou o presidente da Adufrgs, professor Lúcio Vieira. O professor prometeu resistência do sindicato em defesa da UFRGS. “Ele não tem o reconhecimento da comunidade acadêmica para exercer o cargo”. No dia 17, um ato presencial organizado pelos estudantes em frente à reitoria — com orientações para cuidados com a saúde, na pandemia — marcou o início desta oposição.
WhatsApp Image 2020 09 21 at 13.50.02Professor BulhõesLúcio destacou uma declaração do candidato agora nomeado: durante um dos debates da campanha, Bulhões disse que deveria ser respeitado o resultado das urnas. “Devemos, sim, respeitar este resultado e que o primeiro seja nomeado. Qualquer coisa diferente disso, para mim, é uma especulação”, falou Bulhões, em vídeo gravado e enviado à reportagem. “Mas, acabado o processo eleitoral, ele imediatamente passou a articular com deputados da base do Bolsonaro e foi para a rádio defender sua nomeação”, lamentou o presidente da Adufrgs.
A atual reitoria criticou a medida de Bolsonaro por nota. “Contrariando a vontade manifestada pela comunidade na consulta realizada em 13 de julho e pela eleição do Conselho Universitário (Consun), o Governo Federal optou pela proposta amplamente derrotada para estar à frente da UFRGS nos próximos quatro anos. Ignorou, assim, os grandes avanços feitos nos últimos anos na construção de uma universidade de excelência acadêmica, plural e inovadora”. O texto observa que a instituição “ocupa, pelo oitavo ano consecutivo, a posição de melhor universidade federal do país, conforme avaliações do próprio MEC no Índice Geral de Cursos (IGC)”.
Questionada sobre a justificativa do presidente para contrariar a vontade da maioria das comunidades acadêmicas, a assessoria do MEC limitou-se a responder que a “nomeação de Reitor de Universidade e Instituto Federal é feita pela Presidência da República a partir de lista tríplice elaborada pelo colegiado máximo da instituição, conforme Lei Nº 9.192, de 21 de dezembro de 1995”.

AVALIAÇÃO DA ADUFRJ
A presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller, enxerga dois propósitos nas intervenções feitas pelo governo Bolsonaro. “Coloca em prática o projeto de controle ideológico da universidade e desestrutura seu corpo institucional”, afirma. “Quando ele nomeia os derrotados, cria um cenário de profunda animosidade da comunidade contra seus dirigentes. Isso leva a desagregação, tensionamentos internos. A ação é, antes de tudo, destrutiva”, completa.
A docente teme os prejuízos que a medida poderá causar às pesquisas científicas. “Não existe como construir um ambiente de produção de conhecimento, sem essencialmente ter um ambiente de liberdade”.
Eleonora ressalta que, para cumprir esta tarefa, Bolsonaro conta com professores que aceitam trair a própria comunidade acadêmica e o processo democrático para entrar na lista tríplice. “Ele precisa de pessoas que aceitem esse papel medíocre. São coveiros da sua própria história”, critica.

NOVAS INTERVENÇÕES?
As recentes intervenções reforçam as preocupações da comunidade acadêmica sobre as próximas nomeações que o presidente deverá realizar em breve. Uma delas, para a reitoria de outra instituição gigantesca: a Universidade de Brasília.
A chapa da atual reitora, professora Márcia Abrahão, venceu em todos os segmentos na consulta junto à comunidade. Pelos critérios de ponderação adotados no pleito, teve 54,01% dos votos contra 16,58% da chapa que ficou em segundo lugar. A consulta, no fim de agosto, foi organizada pela Associação dos Docentes da UnB (ADUnB), pelo Sindicato dos Trabalhadores da UnB (Sintfub) e pelo DCE Honestino Guimarães. O Conselho Universitário do dia 17 confirmou o nome de Márcia em primeiro lugar na lista tríplice com 85 votos - a segunda colocada teve apenas dois votos e a terceira somente um.

Consuni da UnB reelege reitora com 96% dos votos

Ana Beatriz Magno

WhatsApp Image 2020 09 21 at 13.50.021Professora Márcia - Foto: ARQUIVO/DIVULGAÇÃO/UNBEm sessão histórica, na última quinta-feira,17, o Conselho Universitário da Universidade de Brasília reelegeu a professora Marcia Abrahão Moura para a reitoria da UnB pelos próximos quatro anos. Com 85 votos, a docente do Instituto de Geociências obteve 96% da preferência do colégio eleitoral. A segunda colocada, professora Olgamir Amância Ferreira, recebeu 2 votos e a terceira, Germana Henriques Pereira, do Instituto de Letras, obteve um voto. Houve, ainda, uma abstenção.
Os nomes das três professores, com as respectivas votações, já foram enviadas ao Ministério da Educação. Por lei, o presidente da República pode nomear qualquer um dos nomes da lista tríplice. Até a gestão de Bolsonaro, no entanto, os presidentes respeitavam a democracia universitária e indicavam o primeiro colocado, tanto nas votações dos Conselhos Universitário quanto nas respectivas consultas à comunidade acadêmica – uma das raras exceções ocorreu na UFRJ em 1998, com a nomeação do interventor José Henrique Villena, terceiro colocado e nomeado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.
Reitora que, na consulta à comunidade, venceu no primeiro turno nas três categorias, Marcia se cercou todos os cuidados para garantir a institucionalidade do processo. O Conselho Universitário de quinta-feira, com composição de 72% de docentes, 10,8% de técnicos e 17,2% de estudantes, foi coordenado pelo conselheiro e professor mais antigo em exercício na UnB, Volnei Garrafa. Procurador de carreira da Advocacia-Geral da União e procurador-chefe da universidade, Tiago Coutinho de Oliveira acompanhou toda a sessão. Outros dois experientes procuradores federais também participaram.
Todos os votos foram gravados e feitos com imagem de vídeo. “Essa votação é o reconhecimento de nosso trabalho, sério, de excelência e inclusão. Me comprometo, nos próximos quatro anos, a seguir defendendo a UnB, a autonomia universitária e honrando o legado de nossos fundadores. Hoje, nesta reunião histórica, a comunidade mostrou estar unida e o Consuni reafirmou o compromisso da UnB com a democracia”, disse a reitora Márcia Abrahão.

Intervenção fere a legimitidade e coloca em risco a governabilidade

WhatsApp Image 2020 09 21 at 13.50.022Por 38 votos a nove, os reitores das universidades federais decidiram escrever carta de repúdio à nomeação de interventores nas reitorias. O documento defende a autonomia universitária e a legitimidade das escolhas da comunidade acadêmica. Aprovado na reunião da Andifes na manhã de sexta-feira, 18, o texto será enviado ao Ministro da Educação e ao presidente Bolsonaro.

A reunião foi tensa. Sob a liderança do reitor da Universidade Federal do Ceará, professor Cândido Albuquerque, terceiro colocado na eleição da UFC e nomeado por Bolsonaro em agosto, os defensores da intervenção alegaram que a escolha está garantida em lei. Do outro lado, a diretoria da Andifes alegou que a questão legal não é suficiente para garantir a legitimidade do mandato dos interventores e sustentar a democracia interna das instituições.

Um dos argumentos mais fortes contra a intervenção foi do representante da UFRJ, professor Carlos Frederico Leão Rocha. “O caso da UFRGS é exemplar. O reitor nomeado teve apenas três votos no Consuni, sendo um dele próprio. Que representatividade ele terá para garantir a institucionalidade da universidade num contexto de tamanha crise orçamentária ? Haverá, com certeza, uma crise de legitimidade. Não é só uma questão da democracia interna. É da governabilidade”, ponderou o vice-reitor.

As entidades nacionais representativas da comunidade acadêmica – Andes, UNE, Fasubra, APG e SBPC – também participaram do encontro.

A diretoria da AdUFRJ convoca os docentes sindicalizados a participarem da Assembleia Geral, que ocorrerá de maneira virtual, na próxima terça-feira, dia 22 de setembro. O encontro será realizado por meio da plataforma Zoom. A pauta inclui eleição para a diretoria do Andes e escolha de delegados para o 9º Conad Extraordinário.
Participe!
Data: 22/09
Hora: de 13h30 às 18h

Ainda não temos a dimensão da tragédia que tomou conta do país. O fogo que devastou o Pantanal abriu uma grande ferida no coração do Brasil, que não cicatrizará tão cedo. As mortes sem despedidas pela Covid-19 também não. Além disso, nos assombra o fato de que jamais poderemos contabilizar o quanto dessas mortes poderiam ter sido evitadas, quantos quilômetros poupados, quantos animais seriam salvos, se fossem outros os ocupantes do Palácio do Planalto.
No caso das universidades públicas, arma-se também um desastre de grandes proporções, que pode aniquilar um patrimônio cultural da maior importância, que poderá ser o fim do sonho de muitas gerações e irá interromper investigações científicas da maior relevância. Três ações do governo demonstram que a retórica anticientífica e as campanhas de difamação das universidades não ficarão só no papel. Elas terão consequências práticas, que ameaçam os pilares estruturantes da vida universitária, que são a liberdade acadêmica e a autonomia científica para a produção do conhecimento e a formação das novas gerações.   
A primeira delas é a nomeação sistemática de candidatos derrotados nas listas tríplices para a reitoria das instituições federais de ensino. Embora seja uma prerrogativa legal, ao lançar mão dela de forma generalizada, o governo cria um clima de animosidade e instabilidade institucional, com dirigentes que carecem de legitimidade política entre seus pares e que devem obediência apenas ao governo que os nomeou. O caso mais gritante foi a recente nomeação do candidato que recebeu apenas 3 votos no conselho universitário da UFRGS para compor a lista em terceiro lugar. Só há um projeto que pode sustentar esse desatino: o de paralisar e desestruturar a vida institucional de uma das melhores e mais importantes universidades do país.
A segunda ação do governo já foi detalhada nas edições anteriores do nosso jornal: o corte linear para as universidades de 16,5% no Projeto de Lei Orçamentária Anual – PLOA – para 2021. Além do corte direto no orçamento das universidades, há as perdas nas áreas de fomento à pesquisa, da CAPES e do CNPq. Em ato virtual realizado no dia 17, parlamentares que atuam em diversas frentes pela educação denunciaram que não se trata da falta de recursos, uma vez que o governo deixou de executar parte considerável do orçamento de 2020.
A terceira, lançada há poucos dias, é a reforma administrativa, que não trata de nenhum problema real da administração pública, mas que concentra ainda mais poderes na mão no do governo e amplia as possibilidades de aparelhamento político com contratações sem concurso público para cargos de “assessoramento e liderança”. A reforma repete a fórmula que há anos vem retirando direitos dos servidores públicos: alardeiam grandes campanhas contra os privilégios de servidores públicos, aqueles que no passado foram chamados de marajás, criam um ambiente propício em meio a uma população desassistida pelo Estado, e assim implementam uma reforma que mantém os privilégios dos altos cargos, em especial dos magistrados e militares, para cobrar a conta da maioria dos servidores que atuam nas áreas da saúde e educação, fragilizando ainda mais a assistência à população.
A combinação dessas três ações – a desestabilização da vida institucional, o estrangulamento financeiro e fragilização do vínculo de servidor público, ameaçado pelo fim da estabilidade – coloca a universidade diante de uma ameaça real de destruição das condições de sua existência tal como a concebemos nas últimas décadas. Teremos dirigentes obedientes a um governo que pouco ou nada respeita da produção científica mundial, em condições de preencher ainda mais cargos de confiança com quadros despreparados e sem qualificação e com novos instrumentos de coerção para coibir e silenciar uma comunidade que também já não terá condições de acessar financiamento para suas pesquisas.
Sim, somos o alvo. A diferença é que esse incêndio nós poderemos evitar. Apesar das perdas e dificuldades que enfrentamos ao longo desse ano, fomos capazes de impor algumas derrotas importantes para o governo, como a segunda versão do Future-se que até hoje não conseguiu decolar, a MP 979, que permitiria a nomeação pro-tempore de reitores mas que foi devolvida pelo Congresso Nacional, e a histórica votação do FUNDEB. Não daremos descanso aos deputados e senadores, partiremos para campanhas, iremos às ruas se necessário, porque defender a Universidade Pública significa defender a vida, a democracia e o nosso futuro enquanto nação.

Diretoria da AdUFRJ

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