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WhatsApp Image 2021 11 26 at 18.11.11Um dos maiores especialistas em violência urbana do país perdeu a conta de quantas chacinas já foi convocado para comentar ao longo de sua trajetória acadêmica. Michel Misse, professor do IFCS e coordenador do Núcleo de Estudos em Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ, não esconde a perplexidade ao acompanhar os relatos sobre o assassinato de nove pessoas no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no último final de semana. Os corpos foram abandonados no mangue e retirados pelas famílias, que relataram graves marcas de tortura.
Misse acredita que a chacina do domingo seja uma ação para vingar o sargento Leandro Rumbelsperger da Silva, de 38 anos, assassinado no sábado, dia 20. “Tem todos os indícios. Esse é o padrão de setores da polícia, tanto Militar quanto Civil, que já praticam esse tipo de retaliação e chacinas no Rio de Janeiro há décadas”, afirma o pesquisador.
Na quarta-feira, 24, saíram os laudos periciais realizados nos corpos resgatados. As análises indicam fraturas em crânio e tiros nos olhos, costas, braços e pernas. Uma das vítimas, Kauã Brenner Gonçalves Miranda, de 17 anos, foi executado com nove tiros: “um no peitoral esquerdo; um no peitoral direito; três na parte de cima da coxa direita; um na parte interna da coxa direita; um na parte de fora do terço inferior da perna direita”. Já o laudo de Igor da Costa Coutinho, de 24 anos, indica “face destruída e tiro no braço esquerdo” e aponta como causa da morte “traumatismo cranioencefálico”.
Das nove vítimas, apenas duas foram alvejadas com um único disparo: Igor e Douglas Vinícius Medeiros da Silva, de 27 anos. As outras sete foram atingidas com três tiros ou mais. Os laudos reforçam a tese de execução sumária e ação motivada por vingança. Em entrevista ao Jornal da AdUFRJ, o pesquisador analisa mais este massacre.

Jornal da AdUFRJ - A chacina do Complexo do Salgueiro foi retaliação pela morte do policial?
Michel Misse - Tem todos os indícios. Esse é o padrão de setores da polícia, tanto Militar quanto Civil, que já praticam esse tipo de retaliação e chacinas no Rio de Janeiro há décadas. Observa-se que há conexões com milícias, o que torna o ato ainda mais grave. E piora porque há a proibição do ministro (Edson) Fachin, do Supremo Tribunal Federal, de operações dessa natureza na pandemia, mas eles usam o critério de ordem pública, um critério que nunca foi regulado por ninguém, para justificar as ações. É com pesar que mais uma vez comento a mesma coisa há 50 anos, sem mudanças nesse panorama.

O senhor comentou sobre possível envolvimento de milícias.
Há notícias de que um dos líderes das milícias do Rio, cabo Ronny Peçanha de Oliveira, comemorou nas redes sociais a chacina, dando a entender que eles participaram também. Ele, que está preso, tem acesso às redes sociais. (Perfil no Twitter atribuído ao cabo comentou: “Fizemos uma ‘baguncinha’ no Salgueiro”. A polícia investiga)

As famílias relatam sinais graves de tortura, o IML chegou a orientar que a identificação de alguns corpos fosse realizada do tórax para baixo, por conta da desfiguração do rosto, mas a polícia nega que tenha cometido tais atos. Até quando ações dessa natureza serão permitidas no Rio de Janeiro?
Isso vai continuar enquanto as principais autoridades da área continuarem negando. Ao invés de as autoridades investigarem o que aconteceu, pedirem as armas dos policiais envolvidos e afastá-los, continuam negando a gravidade dos crimes cometidos. Enquanto esse procedimento continuar, elas estão incentivando, ainda que indiretamente, mesmo que sem a intenção, a continuidade dessas práticas

Os corpos foram jogados no mangue e retirados pelas famílias, diante da demora de o Estado fazer este trabalho. Com isso, cenas de crimes foram desfeitas. O senhor acha que será mais um caso em que os agentes não serão responsabilizados?
Tudo indica que sim. Vamos aguardar. O Ministério Público está assumindo a investigação junto com segmentos da Polícia Civil. Temos alguma esperança, como ainda mantemos em relação ao Jacarezinho, mas também naquele caso (em 6 de maio) ainda não houve conclusões. Infelizmente, o histórico nos indica uma expectativa nula de que haja esclarecimento.

WhatsApp Image 2021 11 26 at 18.11.13Foto: Fernando Souza/Arquivo AdUFRJOito anos após uma longa e difícil jornada de debates que dividiu a comunidade acadêmica, a adesão da UFRJ à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) voltou ao Conselho Universitário, no último dia 23. O relator do processo, professor e decano do CT, Walter Suemitsu, defendeu a abertura de negociações com a empresa.
Um dos argumentos centrais do seu parecer é a posição de diretores do CCS, favoráveis à contratação da empresa para aliviar a profunda crise dos hospitais da UFRJ. “Escutei ambos os lados. Eu me reuni com os diretores dos hospitais, com o coordenador do Complexo Hospitalar, e também com o movimento Fora Ebserh”, ressaltou o decano Walter Suemitsu.
“Há quase dez anos, este debate é feito. Qual é o projeto alternativo à Ebserh até o momento? E qual a urgência de pautar Ebserh correndo aqui?”, criticou Igor Alves. O representante da Associação dos Pós-graduandos, considerou que faltavam dados para sustentar as duas posições. “Estão faltando os números, o problema real. O debate da gestão, na opinião da APG, vem depois que a gente entender os reais problemas do hospital universitário”.
Depois de quase quatro horas de acalorado debate, quatro conselheiros pediram vistas do processo, o primeiro deles o professor Nelson Braga, da Física. O ponto retornará ao colegiado em sessão já convocada para o dia 2.

DEBATE
A reunião de terça-feira foi virtual, mas integrantes do movimento Barrar a Ebserh ocuparam presencialmente o salão do Consuni com faixas de protesto e alguma aglomeração, o que foi muito criticado por docentes do CCS, entre eles a professora Ligia Bahia, médica e ex-vice-presidente da AdUFRJ. “Estamos ainda em um contexto epidemiológico que requer respeito às regras sanitárias. Vocês estão pondo pessoas em risco e a si próprios também”, escreveu no chat da transmissão, no Youtube.
Os técnicos e estudantes reivindicaram o retorno das reuniões presenciais do Consuni. A proposta não foi acatada pela reitoria, em função das questões de biossegurança.
Representante dos técnicos-administrativos, Roberto Gambine disse que a convocação da sessão para o dia 23 não permitiu a conclusão de um parecer alternativo ao do professor Walter. “Todos nós aqui estamos imbuídos de encontrar a melhor solução para os nossos hospitais. Estamos fazendo esse esforço de formulação. Justamente por isso, estamos solicitando ao conselho que permita trazer a nossa avaliação, de forma organizada, que contribua para o debate”.
Já o representante dos professores titulares do CCS, professor Roberto Medronho, recordou o histórico de discussão da Ebserh na UFRJ. Ele lembrou que o assunto fratura a universidade desde 2013, quando o tema foi retirado de pauta em uma sessão turbulenta que terminou em pancadaria e registros policiais. De lá para cá, a empresa passou a administrar 40 hospitais em todo o país e a UFRJ optou pelo modelo de criação do Complexo Hospitalar.
“O Complexo foi constituído e os nossos graves problemas não foram resolvidos”, disse Medronho, acrescentando que os conselheiros proponentes em 2013 da chamada proposta alternativa à Ebserh se elegeram para a reitoria pouco tempo depois, entre eles Gambine, pro-reitor de Planejamento na gestão do ex-reitor Roberto Leher. “Eles tinham os instrumentos concretos para fazer valer esta proposta alternativa à Ebserh. E não fizeram. E não foi porque não quiseram. Foi porque há um entrave no modelo da gestão ”.
O diretor do Hospital Clementino Fraga Filho, Marcos Freire, também participou do debate. “Estamos vivendo os mesmos problemas dez anos depois. Ebserh não é uma bandeira político-partidária. Não foi esse governo que criou. Foi lá atrás. É uma empresa pública. Não tem nada de privatização”, afirmou.
Também no chat da transmissão do Consuni no Youtube, o professor Pedro Lagerblad de Oliveira, do Instituto de Bioquímica Médica e ex-diretor da AdUFRJ, alertou para uma questão trabalhista. Observou que ser contrário à Ebserh seria, na prática, defender o trabalho precário atualmente exercido por cerca de mil funcionários extraquadros em todo o Complexo Hospitalar, que não possuem qualquer garantia trabalhista.
 
ADUFRJ
A diretoria atual da AdUFRJ está atenta à tramitação da proposta no Consuni. “O compromisso da nossa gestão é com o debate, amplo e diverso, sobre todo e qualquer tema. Particularmente em relação à Ebserh, o sindicato realizou, na semana passada, um debate com docentes que defendem posições opostas. Foi uma discussão rica e esclarecedora, e vamos continuar nesse caminho”, resumiu o professor João Torres, presidente da AdUFRJ.

FERNANDO HADDAD DEFENDE ADESÃO DA UFRJ

O debate sobre a adesão à Ebserh ultrapassou os muros da UFRJ. Um áudio de Fernando Haddad,  ex-ministro da Educação, circulou entre os conselheiros do Consuni. Ele afirmou ter preparado o depoimento a pedido de colegas da UFRJ para fazer o contraponto a fake news de privatização dos hospitais, via Ebserh. Foi sob sua gestão (2005-2012) no MEC que a empresa foi criada em 2011.
“Nós criamos a Ebserh com a finalidade de reestatizar os hospitais públicos universitários. Estava acontecendo uma privatização dos hospitais mediante um expediente que era usar as fundações de apoio para contratar pessoal sem nenhuma transparência, sem orçamento definido na forma da lei”, afirmou. “Criamos uma empresa estatal, 100% pública, 100% SUS por lei”.
O ex-ministro argumenta que a adesão da UFRJ ajudará a transformar a Ebserh em um dos maiores complexos estatais de hospitais universitários do mundo em número de leitos, pesquisa e em campo de prática. “Basta consultar qualquer diretor de hospital que pertença à Ebserh. Vão ver que a autonomia está garantida, que a transparência está garantida”, disse.
Haddad observou que a criação da empresa  integrou reformas realizadas em sua gestão, como o Reuni, o Enem e as políticas afirmativas. Mudanças que sofreram “a mesma resistência do mesmo grupo reacionário, sectário, que tem dificuldade de entender a modernização e a progressão destes expedientes que dão mais segurança para a população e para o serviço público”.
“Se eu voltasse dez anos atrás, faria ainda com mais empenho à luz dos resultados que obtivemos em relação aos hospitais, que hoje vivem uma situação muito diferente daquela que encontrei quando assumi o Ministério da Educação em 2005”, disse. “Espero que tomem a melhor decisão”, concluiu Haddad.

EMÉRITO DIZ QUE CONTRATO VAI INTERFERIR NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

O professor emérito Nelson de Souza e Silva representou o Movimento Barrar a Ebserh na UFRJ, durante o Consuni. “Estudo este problema da contratualização com a Ebserh há mais de dez anos. Trata-se de um contrato de gestão do Complexo Hospitalar e de Saúde com cessão de patrimônio e de pessoal da UFRJ, que é uma autarquia pública especial, para uma empresa estatal dependente, com personalidade jurídica de direito privado, prestadora de serviços hospitalares”, diz.
“Hoje, todos os hospitais das universidades que contrataram a Ebserh não são mais hospitais universitários. São hospitais da Ebserh, portanto, prestadores de serviços de saúde, pois esta é a função primordial da empresa pública de direito privado”, argumenta. A empresa é uma “estatal dependente” porque também recebe recursos do orçamento federal e, entre outras leis, é regida pela lei das sociedades anônimas.
O docente, professor titular da Faculdade de Medicina, observou que a adesão de um hospital universitário à Ebserh representa interferência no ensino, na pesquisa e na extensão em toda a universidade. “A empresa vai gerenciar os hospitais de acordo com os interesses de uma empresa, que, por definição, são interesses mercantis. Ela vende serviços e aufere recursos de outras fontes, até de aplicações financeiras. Uma autarquia pública especial autônoma, como a UFRJ, tem que atuar dentro do princípio constitucional da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”, disse. “A empresa, por exemplo, já está fazendo concursos para residentes. Os residentes não são mais da universidade, são da empresa. E assim é, e será, com todo o pessoal contratado por ela”.
O professor também questionou o argumento de que a Ebserh trará mais recursos para os hospitais, que hoje já recebem verbas do orçamento federal, do Rehuf (Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais) e do Fundo Nacional de Saúde. “Estes recursos agora vão para a empresa”, criticou. “Para que ela serve então? A lei que criou o Rehuf, sim, estava correta, pois aumentou os recursos para os HUs”, concluiu.

WhatsApp Image 2021 11 19 at 17.54.35Pedro Hallal, epidemiologista, ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas e um dos mais importantes analistas dos dados dramáticos da pandemia no Brasil, conheceu de perto os efeitos da falta de liberdade acadêmica. No ano passado, uma de suas pesquisas sobre a covid-19 foi censurada durante uma apresentação no Palácio do Planalto.
O caso é emblemático e retrata o clima de perseguição à Ciência no país. Para entender e traduzir esse cenário, o Observatório do Conhecimento criou a pesquisa “A liberdade acadêmica está em risco no Brasil?”. A ideia é medir a extensão do clima de cerceamento que ronda as universidades e o meio acadêmico.
O Observatório é uma rede que reúne sindicatos e associações de docentes de todo o país, entre elas a AdUFRJ. A pesquisa ainda está em curso e foi elaborada em parceria com o Observatório Pesquisa, Ciência e Liberdade da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e o Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo (LAUT).
O questionário da pesquisa está disponível para todos os docentes e pesquisadores de instituições de ensino do país até 15 de dezembro e pode ser acessado pelo link bit.ly/LibAcad. Desde o lançamento, em agosto, o formulário já foi respondido por 983 pessoas.
“Neste momento estamos buscando professores e pesquisadores do ensino superior público e privado para que possamos ter uma grande representatividade”, conta Fernando Cássio, professor da UFABC e diretor da ADUFABC, uma das entidades que fazem parte do Observatório do Conhecimento.
O questionário tem perguntas objetivas e discursivas, o que, na expectativa de Fernando, vai permitir uma análise mais profunda. “Será a primeira vez no país que alguém faz uma pesquisa desse tamanho, com esse alcance, para compreender como as pessoas entendem a liberdade acadêmica”, explica o professor.
Isto significa que mais do que elencar episódios de cerceamento da liberdade, o objetivo da pesquisa é analisar o cenário, avaliando o ambiente de pesquisa no Brasil. “O que a gente espera éWhatsApp Image 2021 11 19 at 17.55.49 descrever o fenômeno de uma forma um pouco mais precisa, identificar a sistematização nesse fenômeno”, diz Fernando. E para fazer este aprofundamento, a pesquisa usa o rigor científico. “Tudo se baseia em obtermos uma base empírica para discutir o fenômeno das ameaças à liberdade acadêmica no país. Uma pesquisa dessa envergadura tem que ser divulgada como aquilo que ela é, que é ciência”.

PARTICIPE
Para o presidente da AdUFRJ, João Torres, a pesquisa terá um papel importantíssimo no mapeamento das violações e ameaças à liberdade acadêmica e de cátedra no país. João convida todos os professores e pesquisadores da UFRJ para responder o formulário. “É importante lembrar que não é preciso ter sofrido qualquer perseguição para participar, e que os dados de todos os participantes estarão sob sigilo”, garante o professor. Para João, o trabalho também é importante por estar sendo feito em conjunto. “Queremos trabalhar mais com a SBPC, entidades científicas e outras entidades da sociedade civil, além dos sindicatos”.
“A divulgação dos resultados será em março, e estamos preparando uma série de ações para este momento”, conta João, adiantando que o Observatório planeja a realização de uma audiência pública no Congresso Nacional sobre o tema, pensando em propostas legislativas que garantam a liberdade acadêmica e a autonomia do docente.
Para Maria Filomena Gregori, professora da Unicamp e coordenadora do Observatório Pesquisa, Ciência e Liberdade, a amplitude da pesquisa ajudará também a encontrar casos em que o próprio professor ou pesquisador se censurou. Segundo ela, o governo criou um cenário de insegurança para os pesquisadores que estudam temas que vão contra a agenda do Planalto.
“Há uma série de restrições de natureza institucional nas agências de fomento e nas institucionalidades que se ligam à pesquisa e à ciência no Brasil, como também há restrição direta de financiamento, ameaças de suspensão de bolsa”, analisa. Nesse ambiente, os próprios pesquisadores evitam propor trabalhos sobre temas considerados sensíveis ao governo. “Temos uma insegurança muito grande sobre que temas de pesquisa poderiam sofrer algum tipo de censura”, resumiu.

VÍTIMA DE PERSEGUIÇÃO
Professor da USP, Conrado Hubner Mendes é mais uma vítima de censura. Ele é alvo de ação penal, processo administrativo e inquérito policial por críticas publicadas em sua coluna na Folha de São Paulo e no seu perfil no Twitter, ao ministro Kássio Nunes, do STF, ao procurador-geral da República Augusto Aras e ao ex-ministro da Justiça André Mendonça. “A liberdade acadêmica não se esgota dentro do espaço da universidade e da publicação acadêmica”, analisa Conrado.
“A pesquisa é importante para conhecer o que está se passando no ambiente institucional onde deveria existir a liberdade acadêmica. Esse tipo de fotografia é muito importante para qualquer liberdade, para qualquer direito fundamental e para a democracia em geral”, defende o professor, lembrando que o governo Bolsonaro trata as escolas e universidades como lugares de doutrinação. “É um momento de tensionamento da sala de aula, da produção de conhecimento, da busca de produção da verdade e da busca de produção da imaginação, da criação, da transformação”, pondera.

WhatsApp Image 2021 11 19 at 17.54.37Ajudar a derrubar a liminar que impôs o retorno presencial imediato das aulas na UFRJ. Este é o objetivo de um pedido protocolado pela AdUFRJ junto ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região, na manhã do dia 18.
No documento, o sindicato requer a participação no processo como terceiro interessado na questão. A AdUFRJ também cobra a suspensão, em caráter de urgência, da decisão do desembargador Marcelo Pereira da Silva. Não há prazo definido para apreciação do pedido.
O pedido da Adufrj se soma ao recurso apresentado, dia 9, pelas instituições de ensino do Rio de Janeiro – além da UFRJ, outras universidades, institutos federais e o Colégio Pedro II são citados na ação.
“Essa é a versão dos professores da UFRJ sobre o retorno das aulas. Nossa visão é diferente da reitoria”, explica o professor João Torres, presidente da AdUFRJ. “Vamos levar nossas especificidades. Nossa questão é trabalhista. Entendemos que esta situação foi criada fora da universidade, mas, como afeta os professores de uma forma muito direta, resolvemos agir”, completou.
Caso a solicitação do sindicato seja aceita, existe a possibilidade de novas informações serem incorporadas e levadas ao TRF. “Vamos recolher contribuições no Conselho de Representantes do dia 22”, observa João. O presidente da AdUFRJ destaca que todos os professores desejam retornar ao trabalho presencial, mas de forma segura e responsável.

DEFESA DA AUTONOMIA
A AdUFRJ elenca uma série de argumentos para questionar a decisão do desembargador. O primeiro é o grave risco à saúde. “Não há comprovações de que serão assegurados: o fornecimento aos integrantes da categoria de produtos de higiene e limpeza (sabão, álcool em gel, máscaras), assim como os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), de Proteção Coletiva (EPCs), desinfecção dos materiais de uso coletivo, além de condições para assepsia nas unidades, considerando abastecimento regular de água, limpeza e rede de esgoto em pleno funcionamento”, diz um trecho. “Ou seja, estão ausentes condições de segurança de trabalho, em razão da falta de condições sanitárias, salubres de trabalho, em meio à pandemia”.
O sindicato acrescenta que a decisão de retorno presencial imediata viola o princípio constitucional da autonomia universitária. “A UFRJ já apresentou plano de retorno seguro considerando suas especificidades estruturais e orçamentárias. Contudo, o plano não contempla a possibilidade de retorno imediato diante da complexidade que envolve esse retorno e diante da existência, ainda, da pandemia da covid-19”.
Outro problema apontado é o desrespeito à gestão democrática do ensino. “A gestão e o ‘fazer coletivo’ estão inegavelmente desconsiderados nas determinações de retorno presencial imediato que ignorou, por completo, a construção coletiva de retorno seguro feita pela UFRJ através de seus órgãos colegiados”.
Advogada da AdUFRJ, Ana Luísa Palmisciano chama atenção para as várias manifestações contrárias à decisão do desembargador. Além do recurso do sindicato e das instituições de ensino, as entidades nacionais de servidores (Andes, Fasubra,
Sinasefe e Sindscope) também ingressaram com um recurso no dia 12. E ainda há os embargos declaratórios do procurador do MPF, solicitando esclarecimentos sobre a aplicação da sentença (leia mais abaixo). “Isso demonstra a necessidade urgente de se rever uma decisão que determinou um retorno tão abrupto sem considerar todas as particularidades e vulnerabilidades das instituições”, afirma Ana.

ENTIDADES NACIONAIS TAMBÉM QUEREM PARTICIPAR DO PROCESSO

As entidades nacionais dos servidores da educação também ingressaram com um pedido para participar do processo que determinou o retorno presencial das aulas nas instituições federais de ensino do Rio.
Andes, Fasubra, Sinasefe e Sindscope querem impedir a volta dos professores e técnicos às atividades presenciais enquanto perdurar o estado de emergência de saúde pública e de calamidade pública em decorrência da pandemia da covid-19. “Ou, se anterior, enquanto não ocorrer a massiva imunização da população brasileira através da vacinação”, diz o documento.
A decisão do desembargador tem como base a ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal. Os procuradores do MPF argumentam que o “ensino remoto não mais se justifica”, diante do avanço da vacinação contra a covid-19 no estado. E que a permanência desta situação configuraria uma violação do direito à educação dos estudantes. As entidades nacionais discordam: “Evidentemente, não há que se falar em violação ao direito à educação uma vez que o acesso a este direito social fundamental só pode ser discutido em um contexto no qual a sua garantia não represente, por óbvio, risco real à vida e à saúde humanas”, assinala outro trecho do recurso.
O documento também emprega o princípio constitucional da autonomia para se contrapor à liminar: “Não se pode admitir que a interpretação de membros da Procuradoria da República no Estado do Rio de Janeiro sobressaia, ainda que via endosso do Poder Judiciário, sobre a autonomia gerencial de sete instituições federais de ensino e suas respectivas comunidades acadêmicas – eis que as decisões relacionadas às medidas profiláticas para a Covid-19 são tomadas com atenção ao princípio da gestão democrática do ensino através dos órgãos deliberativos máximos de cada unidade”.
EMBARGOS
DECLARATÓRIOS
O desembargador Marcelo Pereira da Silva abriu prazo de 10 dias para as instituições de ensino se manifestarem sobre os chamados “embargos declaratórios”, solicitados pela Procuradoria Regional Federal da 2ª Região. O dispositivo jurídico representa um pedido de esclarecimentos sobre a aplicação da sentença.
A iniciativa foi fruto de uma reunião entre o procurador Paulo Fernando Corrêa e entidades representativas de professores (a AdUFRJ, entre elas), técnicos e estudantes, na semana passada. “É muito importante trabalhar unitariamente com os outros sindicatos e demais forças políticas em defesa da universidade”, ressalta o presidente da AdUFRJ, João Torres.
Já o recurso apresentado pelas reitorias das universidades, institutos e Pedro II segue aguardando análise do desembargador.

WhatsApp Image 2021 11 19 at 17.54.35 1Bandejão central reduziu sua capacidade para 177 lugares para manter distanciamento entre usuários - Fotos: Fernando SouzaA universidade segue em seu propósito de oferecer o retorno mais seguro possível, mas essa volta ainda acontece no escuro. Mais de 42 mil estudantes se inscreveram para disciplinas de graduação neste semestre letivo, mas ainda não se sabe quantos efetivamente voltarão aos campi. Cada unidade organiza de uma maneira essa volta, de acordo com suas especificidades. No edifício da Faculdade de Letras, por exemplo, as aulas presenciais voltarão na próxima semana. “A Letras vai ocupar dois dias. Os outros três dias serão divididos entre EBA, IPPUR, FACC e GPDES”, explica a diretora Sonia Reis, em referência às demais unidades que compartilham as instalações.
Em esquema de revezamento, todas as turmas da Letras vão utilizar 32 salas consideradas aptas e possíveis de serem higienizadas com frequência. “Temos 4,2 mil alunos. Todos têm direito a ter contato com o professor”, afirma Sonia.
Os espaços mapeados e classificados quanto ao risco de exposição e transmissão do Sars-Cov-2 (veja abaixo) são outro ponto de interrogação, já que a universidade sabe quantos foram classificados, mas não sabe o total de ambientes classificáveis.
Outra preocupação é em relação à alimentação. A UFRJ só aumentará a oferta de refeições nos bandejões a partir de dezembro. Subirá de 36,8 mil para até 166,5 mil refeições mensais. Antes da pandemia, o RU central disponibilizava 560 lugares para refeições simultâneas. Agora são oferecidos 177 lugares. “Temos a expectativa de poder voltar a receber um número maior de pessoas, com refeições saudáveis e de qualidade”, conta Renata Machado, coordenadora geral do Sistema de Alimentação da UFRJ. Para acessar o restaurante é obrigatória a apresentação do comprovante de vacinação contra a covid-19.
O transporte é outra questão. “Ainda está muito difícil chegar à universidade. O bilhete único não voltou, as linhas estão sem horário regular, quem precisa de BRT só consegue chegar de parador”, reclama Stefanie Camargo, aluna da Microbiologia.WhatsApp Image 2021 11 19 at 17.54.35 2FROTA DE ÔNIBUS só será ampliada em 15 de dezembro
Marcos Maldonado, prefeito da Cidade Universitária, conta que todas as linhas de ônibus regulares voltaram a circular no Fundão. Quase todas com intervalos normalizados, à exceção do 485, único ônibus que liga o campus à Zona Sul. “A linha voltou de meia em meia hora. Conversamos com a Secretaria Municipal de Transporte e eles vão diminuir o intervalo conforme a demanda aumentar”.
Apenas sete micro-ônibus atendem à demanda interna da universidade. O atual contrato de transporte foi celebrado de forma emergencial e se encerra no dia 14 de dezembro. A partir do dia 15, um novo contrato fornecerá dez ônibus (podendo chegar a 13) para transporte dentro do Fundão e intercampi. “Conseguiremos transportar de 35 a 40 pessoas em cada veículo”, afirma o prefeito.
(Colaborou Kelvin Melo)

Mais de 400 ambientes da UFRJ oferecem risco médio de contaminação

A intervenção da Justiça atropelou o planejamento de retorno presencial da UFRJ. A intenção da universidade era mapear todos os espaços físicos da instituição e avaliar o risco sanitário de cada um. Para isso, um grupo multidisciplinar de profissionais criou um aplicativo que monitora as condições de cada ambiente. Até o fechamento dessa edição 1.713 espaços foram classificados por meio da plataforma “Espaço Seguro UFRJ”. A maior parte (1.159) se concentra entre espaços que oferecem risco baixo ou médio e exposição baixa ao Sars-Cov-2. Outros 418 ambientes foram classificados como de risco médio e exposição média ao vírus.
A avaliação inclui salas de aula, laboratórios e setores administrativos da universidade. A reitoria, no entanto, não sabe quantos espaços ao todo a UFRJ possui. “É uma instituição muito grande. Sabemos a situação que cada unidade está nos enviando, mas não sabemos quanto isso representa do total de áreas”, explicou a professora Fátima Bruno, responsável pelo GT pós-pandemia, grupo criado para planejar com antecedência e segurança o retorno. “Fomos atropelados pela determinação da Justiça”.
Agora, as fases 4 e 5 desse retorno se sobrepõem: a volta gradativa aos campi e a expansão do retorno presencial. Até o momento, nenhum espaço combina risco elevado e exposição alta ao vírus. Sete espaços são de risco médio e exposição alta; 30, de risco elevado e exposição baixa e 99 são de risco elevado e exposição média. Para cada um deles, um tipo de equipamento de proteção individual é necessário, conforme preconizado no Guia de Biossegurança da UFRJ. Pelo site https://espacoseguro.ufrj.br/dados é possível saber quantos espaços foram classificados por centro, por edifício, por campus e por unidade.
Para complementar as diretrizes para o retorno presencial, o GT Pós-Pandemia também publicou um documento sobre a estratégia de testagem da comunidade acadêmica da UFRJ. Elaborado pela professora Terezinha Marta Castiñeiras, coordenadora do Centro de Testagem Diagnóstica da UFRJ, o texto elenca as possibilidades de testes de covid-19 para professores, técnicos e estudantes da universidade.
A primeira delas é a testagem de indivíduos sintomáticos. Para esses casos, será necessária a imediata comunicação à chefia imediata ou coordenação de curso. O indivíduo com suspeita poderá realizar o agendamento diretamente pelo site do CTD: https://agendamento.coronavirus.ufrj.br. Outra possibilidade é a “testagem direcionada em exposição crítica”, que poderá ser realizada em pessoas que tenham sido expostas à situação de alto risco de transmissão em contexto acidental. A terceira forma é a “testagem periódica para grupos prioritários”, que envolve situações de alta exposição, como laboratórios que manipulam amostras do vírus, alas hospitalares de tratamento à covid-19 ou áreas de testagem.
Há, ainda, a possibilidade de testagem “pré-exposição para grupos” que estejam envolvidos em atividades de confinamento, como acontece com viagens para trabalhos de campo, por exemplo. Neste caso, haverá análise da situação pela equipe do CTD. Sendo verificada a necessidade, o grupo será testado entre 24 e 48 horas antes do deslocamento. Após o retorno, o documento recomenda a testagem para pessoas com sintomas. Em caso positivo, todos os expostos serão também testados.
Por fim, familiares de pessoas que sejam confirmadas com diagnóstico positivo poderão ser testados para investigação e controle da doença. Neste caso será necessário um encaminhamento formal ou autorização prévia da coordenação do CTD. Será possível enviar e-mail com a solicitação para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

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