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WhatsApp Image 2022 11 04 at 18.43.25 1Foi uma batalha árdua, extenuante, histórica. E a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nos traz um misto de alívio e orgulho. Alívio pela certeza de que a educação pública voltará a ser respeitada, depois de tão atacada e menosprezada pelo governo Bolsonaro. E orgulho porque nossa diretoria foi fiel a um compromisso assumido ainda em sua campanha à AdUFRJ — o de apoiar o candidato do campo democrático com mais chances de derrotar Bolsonaro —, e se engajou de várias formas no esforço coletivo da sociedade civil para eleger Lula.

Não foi uma caminhada fácil. Enfrentamos o imobilismo do Andes, que assumiu uma inexplicável posição de neutralidade no primeiro turno, e que só veio se juntar à campanha em apoio a Lula no segundo turno. Encaramos cortes sucessivos de orçamento que levaram a UFRJ a negociar contratos e pagamentos para continuar funcionando. E fomos às ruas em 18 de outubro para protestar, com ações no Rio e em Macaé. Mas vencemos tudo isso. E é também com orgulho que resumimos, nas páginas 4 e 5, toda essa trajetória de nosso sindicato em defesa da universidade pública e da democracia, simbolizada pela vitória de Lula.

Temos muito trabalho pela frente. O presidente eleito terá de reconstruir o país, esfacelado em tantas frentes pelo desgoverno Bolsonaro. O que nos enche de esperança é a centralidade que a área de Educação voltará a ter no âmbito federal. Em seu discurso da vitória na Avenida Paulista, no domingo (30), Lula reafirmou esse compromisso: “Educação não é gasto. É investimento no futuro”. Nossa matéria da página 3 aborda as expectativas de entidades como a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) pelo diálogo com o futuro governo.

Diálogo é também o que se espera da relação de Lula com os governadores eleitos em outubro. Sobretudo com aqueles que apoiaram Bolsonaro, como Cláudio Castro, no Rio; Tarcísio de Freitas, em São Paulo; e Romeu Zema, em Minas Gerais. Em entrevista na página 6, a cientista política Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ, analisa o cenário político pós-eleições com o foco na relação entre o governo federal e os estaduais.

Na página 7, trazemos a cobertura sobre o Consuni Extraordinário desta quinta-feira (3). E, na página 8, registramos a confraternização dos docentes promovida pela AdUFRJ em comemoração à vitória de Lula, no Fórum de Ciência e Cultura. O nome do encontro não poderia ser mais apropriado: Festa da Democracia.
Boa leitura!

Foi muito mais do que uma confraternização. Os professores da UFRJ lavaram a alma e celebraram com alegria e esperança a vitória de Lula. O encontro, na noite de quinta-feira, 3, no Fórum de Ciência e Cultura, reuniu docentes de várias gerações. Todos trabalharam intensamente pelo fim do atual desgoverno e pelo retorno da civilidade, do respeito à ciência, à cultura e aos direitos humanos. Um brinde aos novos tempos!!

WhatsApp Image 2022 11 04 at 18.43.27 2

DJI 0144Foto: Diego Mendes/Arquivo AdUFRJNa semana política mais importante da história recente do país, o Jornal da AdUFRJ foi surpreendido com severos e inverídicos ataques da direção da Escola da Educação Física e Desportos (EEFD). Em carta aberta divulgada em 24 de outubro, a diretoria da unidade, professora Kátya Gualter e professor Alexandre Palma, classificam como “fake news” uma nota produzida pelo jornal e veiculada na edição 1.242, de 26 de agosto. O assunto era o projeto do novo centro multicultural da Praia Vermelha, apresentado pela reitoria no Conselho Universitário daquela semana. A última frase da nota de rodapé, inteiramente baseada em apuração realizada no Consuni, informa que o campo de futebol da Praia Vermelha, local destinado a receber o novo espaço cultural,“abriga dois projetos de extensão e é recorrentemente alugado pelo Botafogo”.
O jornal, em nenhum momento, afirma que a direção da EEFD aufere lucros com o aluguel do espaço, nem mesmo cita quem seriam os responsáveis pelo eventual – e citado no colegiado superior da universidade – aluguel do campinho.
Este veículo preza pela informação de qualidade e responsabilidade social. E reitera que não pratica veiculação de notícias falsas sem fundamento ou apuração prévia.

WhatsApp Image 2022 11 04 at 18.43.26ENTREVISTA I MAYRA GOULART, CIENTISTA POLÍTICA E VICE-PRESIDENTE DA ADUFRJ

Com governos estaduais de esquerda basicamente restritos ao Nordeste, como será a relação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com os novos governadores? Sobretudo com apoiadores de Jair Bolsonaro em estados estratégicos, como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro? Essa é uma das questões abordadas nesta entrevista pela cientista política Mayra Goulart, professora do IFCS/UFRJ, vice-presidente da AdUFRJ e coordenadora do Observatório do Conhecimento e do Laboratório de Eleições, Partidos e Política Comparada. Segundo ela, Lula não deverá ter dificuldade de diálogo com os governadores eleitos de direita e centro-direita. “Boa parte dos governadores de direita deve adotar uma postura ou menos beligerante ou mais adesista para atuar em conformidade com o governo federal”, acredita a professora. Ela também fala sobre a nova composição da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, a relação da Casa com o governador reeleito Cláudio Castro e a necessária reorganização da esquerda no território fluminense.

Jornal da AdUFRJ — O PT do presidente Lula elegeu quatro governadores, todos no Nordeste, e conta com mais três governadores aliados do PSB, sendo dois deles também no Nordeste. Como você avalia essa correlação de forças nos governos estaduais, nos quais partidos de direita e centro-direita avançaram e a esquerda ficou restrita, basicamente, ao Nordeste?
É preciso dizer que a força centrípeta da Presidência da República é muito grande. É difícil ser um governador de oposição, uma vez que os estados dependem muito de repasses da União. Boa parte dos governadores de direita deve adotar uma postura ou menos beligerante ou mais adesista para atuar em conformidade com o governo federal. Acho que teremos essa atração do governo federal sobre os governadores.

Você prevê dificuldades de diálogo de Lula com governadores eleitos que são aliados de Bolsonaro, sobretudo em estados de peso, como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro?
O próprio Tarcísio de Freitas (governador eleito de São Paulo) já vem num processo de descolamento do radicalismo de Bolsonaro. A mesma coisa pode ser falada do Romeu Zema, reeleito em Minas Gerais. O Zema, embora possa ser tido como uma liderança bolsonarista, se descolou de Bolsonaro na pandemia e, mesmo no primeiro turno, fez uma campanha em que a relação com Bolsonaro ficou muito diminuída.

E em relação ao Cláudio Castro, governador reeleito do Rio de Janeiro?
Ele teve uma postura muito parecida com a do Zema. Só no segundo turno ele se assumiu propriamente bolsonarista, e mesmo assim de uma maneira muito secundária. Ele é muito mais um político da máquina, alguém que tem articulações com o Legislativo, com prefeitos e vereadores do interior do estado. O mesmo perfil do Zema. São figuras da dimensão local, que construíram a sua trajetória na localidade. O Zema é um símbolo da mineirice, ele joga com essa ideia. Então essas dinâmicas muito nacionais não serão um polo de atração sobre esses governadores.

Em relação ao Rio de Janeiro, a Assembleia Legislativa teve renovação de menos de 50%, e com perfil mais conservador. Juntos, o PL e o União Brasil elegeram 25 deputados estaduais. O PL, com seus 17 deputados, a maior bancada, mostra força para eleger o presidente da Casa. Como você avalia esse quadro, e que perfil deve ter esse futuro presidente da Alerj?
Sobre a renovação da Alerj, é preciso observar que, em alguns casos, o grau de renovação se deu dentro de um mesmo grupo político, de herdeiros políticos. Então não se pode falar em renovação nesses casos (veja box abaixo sobre a Alerj). Acredito que o Cláudio Castro vá apostar em um bom negociador para presidir a Alerj, talvez orientando o PL a escolher alguém com esse perfil. Um perfil conciliador, que seja capaz de fazer a política da governabilidade.

No caso do Rio de Janeiro, a esquerda foi derrotada em primeiro turno para o governo do estado por larga margem, e Lula teve menos votos que Bolsonaro no estado. O candidato do PL venceu na capital e em toda a Região Metropolitana, salvo Niterói. Como a esquerda pode se reorganizar no estado para as próximas eleições?
Acho que um ponto de reorganização da esquerda no estado do Rio é ocupar os postos mais locais, como prefeito, vereador. A esquerda tem que se enraizar, atuar mais na política local. Observando os dados da votação no estado, é interessante notar que locais em que você tem uma prefeitura mais de esquerda você tem, em comparação com municípios vizinhos, uma votação mais expressiva no Lula. Como, por exemplo, em Maricá, cuja prefeitura é comandada pelo PT, onde o Lula perdeu, mas mesmo assim teve muito mais votos proporcionalmente do que em Cachoeiras de Macacu, Itaboraí ou Rio Bonito (as três cidades são administradas por governos de direita).

Na Alerj, às vezes renovação é sinônimo de continuidade

Dos 70 deputados eleitos em 2 de outubro, 32 são novatos, o que representa uma renovação de 45,7%. Ao menos em tese. Como observado pela professora Mayra Goulart, muitos novatos representam grupos — ou famílias — tradicionais na política fluminense. O que se configura, na verdade, em continuidade, e não em renovação.
O deputado estadual eleito Douglas Ruas (PL), com seus 175.977 votos, é um bom exemplo. Policial civil, ele é filho do prefeito de São Gonçalo, Capitão Nelson (PL), que é policial militar reformado. A influência política do pai foi determinante para que Douglas fosse o mais votado de São Gonçalo para a Alerj.
Outro bom exemplo no campo da direita é Guilherme Delalori (PL), que teve 114.155 votos. Policial militar, ele é irmão do prefeito de Itaboraí, Marcelo Delalori. Vinicius Cozollino (União Brasil), também se encaixa nesse perfil: ele é primo do prefeito de Magé, Renato Cozollino, e foi secretário de Fazenda e de Governo da cidade. Mesmo caso de Renato Miranda (PL), irmão do prefeito de Mesquita, Jorge Miranda. Ele foi secretário municipal de Governança de Mesquita.
Ainda no campo da direita, o sobrenome foi fundamental para a eleição de Giselle Monteiro (PL). Irmã do ex-vereador Gabriel Monteiro, que foi cassado por uma série de acusações e impedido de concorrer a deputado federal, ela teve 95.028 votos. Também do PL, o novato Cláudio Caiado é irmão do presidente da Câmara do Rio, Carlo Caiado. Aos 69 anos, o também novato Otoni de Paula Pai (MDB) se elegeu fazendo campanha junto com o filho, Otoni de Paula, um dos mais fiéis escudeiros de Jair Bolsonaro.
A esquerda também tem um representante da continuidade entre os novatos. Andrezinho Ceciliano (PT), filho do atual presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), é o mais jovem eleito, aos 24 anos.

WhatsApp Image 2022 10 28 at 08.29.53 2Guerra nas redes sociais, conservadorismo entre as mulheres mais pobres, gestão do Congresso conservador e o discurso anti-PT. Especialistas debateram um pouco de cada tema no evento “Eleições de 2022: balanços e perspectivas sobre uma democracia ameaçada”, ciclo de debates organizado pelo Laboratório de Eleições, Partidos e Política Comparada (LAPPCOM), no dia 27.
“Nosso objetivo aqui é debater e levarmos muitos argumentos para os três dias que temos para decidir a eleição”, disse a vice-presidente da AdUFRJ e coordenadora do LAPPCOM, professora Mayra Goulart. A atividade ocorreu na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
A professora Moema Guedes (UFRRJ) destacou que o conservadorismo entre as mulheres é maior do que pode parecer ao senso comum. A conclusão da docente é resultado da aplicação de questionários sobre temas de igualdade de gênero. Ela ressaltou a importância de estabelecer o diálogo com esse conservadorismo, entendendo suas demandas. “A extrema direita soube dialogar com o conservadorismo de mulheres mais pobres e de classe média. É preciso entender, sem diminuir as pautas feministas”, observou.
O professor Theófilo Rodrigues (Uerj) questionou a estratégia adotada pelo deputado federal André Janones (Avante-MG) nas redes sociais para a campanha de Lula e o embate com o bolsonarismo. “O que será da esfera pública brasileira se o debate público for, daqui para frente, como está sendo nesse segundo turno?”
Theófilo também chamou atenção para a crise do chamado presidencialismo de coalizão, com orçamento secreto. “Como Lula, se eleito, vai lidar com o Congresso nesse novo presidencialismo de coalizão?”, indagou.
Já o professor Darlan Ferreira Montenegro (UFRRJ) tratou da transformação do debate nacional a partir da Lava Jato. “Construiu-se um discurso, a partir da Lava Jato, que criou uma hegemonia da direita no Brasil”, explicou o professor Darlan. Isso e o desgaste do PT depois de quatro eleições consecutivas. Mesmo assim, Lula seria eleito em 2018, se não tivesse sido preso”.
DISCURSO PUNITIVISTA
Até 2014, os grandes temas das eleições eram economia e administração pública. “Em 2014, começa a Lava Jato, e ela transforma o debate nacional. E a força do PT só foi desconstruída com esse discurso punitivista contra a corrupção”, aprofundou. “O discurso da criminalização do PT não é o único da direita. A extrema-direita faz tudo para qualquer coisa estar no centro do debate, e não a economia”, apontou o professor.
A extrema-direita, segundo Darlan, adota a estratégia de manter a discussão onde ela é hegemônica. “O eixo do fascismo no Brasil desde a redemocratização está na segurança pública. É o vetor do fascismo. A questão central dele é que bandido e pobre têm que ser tratados na porrada. E eles transplantaram esse debate para a esfera nacional, pregando no Lula a imagem de bandido”. Bolsonaro, explica o professor, é um excelente vetor para esse discurso violento punitivista.
“O Congresso é ruim para o Lula, mas não existe Congresso de oposição no Brasil. A resistência à direita bolsonarista vai manter um núcleo ideológico barulhento”, avaliou o professor Darlan. Mas alertou que, com Bolsonaro na presidência, a composição no novo parlamento pode ser catastrófica.
Após o fechamento desta matéria, mais duas mesas completariam o ciclo de debates na Rural.

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