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Fotos: Alessandro CostaOs poderosos versos da ópera moçambicana “O Grito de Mueda”, cantados pelo Grupo Brasil Ensemble da Escola de Música, emolduraram o lançamento do ecossistema de divulgação científica da UFRJ, nesta quarta-feira (5), na Casa da Ciência da UFRJ, em Botafogo. O carro-chefe do projeto é a revista bimestral Minerva, de 60 páginas, cujo primeiro número foi distribuído aos convidados. A iniciativa é coordenada pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PR-2).
“A revista Minerva é um convite aos pesquisadores da UFRJ para que contem as suas histórias. Quero que com ela a UFRJ se mostre mais para o público externo e também para nós mesmos”, convocou o pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa, professor João Torres, na abertura do lançamento.
O editor-chefe Paulo Rossi e o editor de Arte, André Hippertt, apresentaram aos convidados não só a revista, mas toda a gama de produtos e ações do Ecossistema Minerva. Entre essas iniciativas estão uma versão infantil da revista (a Minervinha), um portal na Internet, um banco de fontes de pesquisadores da UFRJ e um podcast, entre outras. A matéria de abertura da primeira edição da revista aborda a escolha da deusa Minerva como símbolo da UFRJ, uma história que começou em 1925.
A principal atração da cerimônia de lançamento foi um bate-papo com os pesquisadores Luiz Davidovich, do Instituto de Física, e Tatiana Sampaio, do Instituto de Ciências Biomédicas, mediado pelo reitor Roberto Medronho. Ambos falaram não apenas sobre suas pesquisas, mas sobretudo sobre suas trajetórias na UFRJ e o cotidiano em laboratórios e salas de aula. A pesquisa de Tatiana sobre a polilaminina, com promissor potencial regenerativo do sistema nervoso periférico, é tema de reportagem na edição de estreia da revista Minerva.
Confira abaixo mais alguns registros do lançamento da revista.



‘Ninguém vai impedir/A universidade agora é trans e travesti/E não-bi-ná-rie!”. Com esse animado canto, dezenas de estudantes saudaram a aprovação das cotas para pessoas trans na UFRJ em uma lotada e histórica reunião do Conselho Universitário do último dia 30. A política afirmativa reserva, no mínimo, 2% das vagas para cada curso e turno de graduação ou programa de pós-graduação stricto sensu.
Para a graduação, a medida valerá já para o próximo Sistema de Seleção Unificada (SiSU), com entrada de estudantes para 2026. Quando o índice aplicado sobre a oferta de vagas resultar em número fracionado, será adotado o número inteiro imediatamente superior.
A mesma regra será utilizada nos editais da pós-graduação, mas ainda haverá uma regulamentação pelo Conselho de Ensino para Graduados (CEPG). A pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa informou à reportagem que a Resolução CEPG nº 118/2022, sobre ações afirmativas, precisará ser revisada.
A aprovação das cotas trans acabou se tornando uma resposta simbólica da universidade à maior chacina da história do Rio de Janeiro, dois dias antes. “É inadmissível que o Estado só entre na favela com política de morte. Nunca entra com equipamento de saúde, de cultura, de educação. Quando a gente fala de cotas trans, a gente fala exatamente sobre acesso à saúde, cultura, educação e arte. A gente fala sobre viver e viver bem”, afirmou a conselheira discente Arthura Rocha, primeira representante trans da história do Consuni. “A gente defende a ação afirmativa porque queremos que a favela esteja aqui dentro da universidade. E não na mira do fuzil”, completou.
Arthura avalia que as novas cotas, além de ampliar a diversificação do corpo social da UFRJ, também poderão levar a um aumento de representatividade nos colegiados e cargos de poder da instituição. “Sou a primeira pessoa trans, travesti e não binária a ocupar este conselho. E, provavelmente, não serei a última. Espero não ser a última”, disse. “Consigo imaginar facilmente uma UFRJ com cada vez mais professores e técnicos trans, travestis e não binários. Inclusive uma reitoria, quem sabe?”, questionou.
A votação chamou atenção de fora da universidade. Primeira mulher trans eleita para a Alerj e primeira doutora trans formada pela UFRJ, Dani Balbi compareceu à reunião para falar aos conselheiros. “A adoção de cotas trans é fundamental para a vida dessas pessoas. E a qualidade da universidade melhora, quanto mais diversa ela é. Novas linhas de pesquisa surgirão a partir da diversificação do corpo social desta universidade”, disse.
Depois, em suas redes sociais, a deputada comemorou o resultado: “Essa é mais uma vitória da luta por uma educação verdadeiramente inclusiva. Seguimos firmes, com coragem e esperança, para que todas, todos e todes tenham oportunidades e mais direitos”, afirmou.
CONTRA A VIOLÊNCIA
Por 16 anos consecutivos, o Brasil é o país que mais assassina pessoas trans e travestis no mundo. O triste dado foi lembrado, entre outros conselheiros, pela pró-reitora de Graduação, professora Maria Fernanda Quintela, para justificar a aprovação das cotas trans. “A UFRJ contribuirá para o enfrentamento de um quadro comprovado de exclusão e violência, documentado pelos principais observatórios de direitos humanos do Brasil”.
A medida teve o apoio também da pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa. O pró-reitor João Torres informou que o Conselho de Ensino para Graduados aprovou uma carta de apoio às cotas para pessoas trans — e também para quilombolas e refugiados — nos programas de pós da universidade, no fim do ano passado. “A oferta de vagas para pessoas trans, quilombolas e refugiados na pós-graduação representa avanço significativo na democratização do ensino e na promoção de uma universidade de excelência verdadeiramente plural e acessível a todos”, diz um trecho do documento lido pelo dirigente.
“Cotas para pessoas trans no ingresso da UFRJ representa uma resposta ética, democrática e constitucional a um contexto real de exclusão”, reforçou o reitor Roberto Medronho. “Tal política não garante apenas o acesso, mas expande direitos, fortalece a universidade e promove uma sociedade mais justa e plural”.
“Estou muito feliz e orgulhoso”, disse Medronho logo após a votação. Mas fez um alerta. “A luta não acabou. Está começando agora. Teremos muita resistência no nosso corpo social também. Da sociedade, vocês já estão vendo a quantidade de haters no post da universidade. É o início de uma longa jornada pela reparação e inclusão das pessoas trans na UFRJ”, concluiu.
COMO VAI FUNCIONAR?
No acesso aos cursos de graduação, as pessoas trans contempladas serão aquelas que tiverem cursado o ensino médio integralmente em escola pública ou em escola comunitária que atua em educação do campo, conveniada com o poder público.
- O índice de 2%, já adotado por outras universidades, é baseado em estimativas de pessoas trans na população brasileira. Na UFRJ, o percentual será reavaliado pelo Conselho Universitário a cada dez anos ou de acordo com os dados mais recentes do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
- A reserva de vagas para pessoas trans não vai afetar o quantitativo das demais políticas afirmativas previstas em lei. A pessoa trans concorrerá, concomitantemente, às vagas reservadas e às vagas destinadas à ampla concorrência. A vaga reservada a pessoas trans não ocupada por ausência de candidato habilitado, em determinado curso, turno e local de oferta, será remanejada para a ampla concorrência.
- Poderá concorrer às vagas reservadas à pessoa trans aquela que autodeclarar essa identidade no ato da inscrição, devendo validar essa condição posteriormente com documentação que será definida pela Superintendência Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Acessibilidade (SGAADA).
- A comprovação da elegibilidade à vaga reservada a pessoas trans e sua ratificação será realizada por Comissões de Validação das Ações Afirmativas instituída pela Reitoria da UFRJ e será disciplinada no edital do processo seletivo.
- A nova resolução foi publicada no Boletim da UFRJ no dia 3 e pode ser consultada, na íntegra, pelo site do Conselho Universitário.
Foto: Alessandro CostaA atuação profissional e política do jornalista Vladimir Herzog e a dimensão de seu assassinato para a construção da resistência democrática contra a ditadura militar no Brasil nortearam os debates do seminário “50 anos por Vladimir Herzog”, realizado no sábado (1º), na Associação Scholem Aleichem (ASA), em Botafogo, Zona Sul do Rio. O evento marcou os 50 anos da morte de Vlado, e foi organizado pela ASA e pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos (NIEJ) da UFRJ, com apoio da AdUFRJ.
Ao abrir os trabalhos, o professor Michel Gherman, 2º vice-presidente da AdUFRJ e pesquisador do NIEJ, traçou um paralelo entre o caso Herzog e as mais de 120 mortes na operação policial nos complexos do Alemão e da Penha, no último dia 28. “A execução extrajudicial dessas 120 pessoas, 50 anos depois do assassinato de Herzog, nos leva a refletir sobre os limites da violência do Estado brasileiro contra a nossa população desde o período escravocrata”, comentou.
Na mesa de abertura, as historiadoras Maria Paula Nascimento Araujo (UFRJ) e Esther Kuperman (Colégio Pedro II) lembraram que a morte de Herzog ocorreu num contexto em que a esquerda brasileira fazia a autocrítica da luta armada e iniciava a organização dos movimentos sociais. “Foi um momento de efervescência política, desde a reorganização dos sindicatos até o surgimento da imprensa alternativa”, lembrou Maria Paula.
Os historiadores Daniel Aarão Reis (UFF) e Dulce Pandolfi (FGV) dividiram com o jornalista Luiz Carlos Azedo a mesa “Herzog: um catalisador na luta pela democracia”. Azedo lembrou a perseguição ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), ao qual Herzog se filiou nos anos 1970, feita pelo governo do general Ernesto Geisel a partir de 1973.
A terceira mesa abordou as relações entre a identidade judaica de Herzog e sua atuação política. Para Michel Gherman, o antissemitismo tem forte ligação com a perseguição aos comunistas pelo regime militar. “A figura de Vladimir Herzog não está na gramática política do inimigo do Estado. Era uma pessoa ligada ao Partido Comunista, mas que não teve atuação na luta armada. Sua morte reafirma a ligação do antissemitismo com o regime militar”, disse o professor. A advogada Flora Strozenberg concordou: “Tenho 81 anos, e milito desde os 11. A morte de Herzog foi muito ligada ao antissemitismo”.
Vladimir Herzog foi assassinado no antigo prédio do DOI-CODI, em São Paulo, em 25 de outubro de 1975. Ele era então diretor de Jornalismo da TV Cultura e tinha 38 anos. Em 1978, o juiz Márcio José de Moraes condenou a União pela prisão ilegal, tortura e morte de Herzog. Somente em 2009 o Estado brasileiro reconheceu oficialmente que Herzog fora assassinado sob tortura.
A FORÇA DA SAUDADE Goiana de Anápolis, Ana Luiza encantou a plateia lembrando o clima de sua terra - Fotos: João LaetEla começou falando da saudade que sente da mãe, da comida e do clima de sua terra natal. Passou então a descrever os males causados à atmosfera pelo gás carbônico, que qualificou como “o vilão do efeito estufa”. Mas que também pode ser um herói, desde que capturado e reintroduzido na cadeia industrial, reduzindo os efeitos das mudanças climáticas. E tudo isso em exatos 2m49s.
A dona desse feito admirável é a doutoranda Ana Luiza Ribeiro Gomes, goiana de Anápolis, de 25 anos, aluna do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos Químicos e Bioquímicos da UFRJ. Com a apresentação de sua tese sobre o desenvolvimento de materiais para captura de CO2, ela foi a vencedora da área de Engenharias, Ciências Exatas e da Terra da primeira edição do concurso “3 Minutos de Tese” na UFRJ. A final, disputada por 21 doutorandos em três grandes áreas do conhecimento, lotou o Auditório Horta Barbosa, no CT da Cidade Universitária, na tarde de quinta-feira (30).
Ao lado de Loreena Klein, primeira colocada na área de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde, e de Wanessa Machado, na área de Ciências Humanas, Ana Luiza levou um prêmio de R$ 5 mil e a certeza de que todo o esforço de sair de Anápolis com 18 anos para iniciar a graduação da UFRJ valeu a pena. “Esse prêmio representa uma luta de anos, e sei que essa pesquisa que desenvolvo vai trazer um retorno para a sociedade, não só para a academia. Sinto muita saudade da minha terra, mas fiz uma escolha e tenho o apoio da minha família”, disse Ana Luiza.
Coordenadora do FCC, professora Christine Ruta
PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO
Inspirado no modelo internacional criado pela Universidade de Queensland, na Austrália, o 3MT está hoje presente em mais de 85 países. Na UFRJ, o concurso foi realizado em parceria com o Fórum de Ciência e Cultura (FCC) e a Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PR-2). Foram 237 inscritos. Em apenas três minutos, os participantes tiveram de explicar no palco a sua tese de doutorado, para avaliação de um corpo de jurados e da plateia, que deu notas de 5 a 10 por meio de um sistema digital.
Emocionada diante da presença de alunos de três escolas públicas — Colégio Pedro II (Campus Realengo), CIEP Ernesto Che Guevara, de Belford Roxo (RJ) e Escola Estadual Marechal Zenobio da Costa, de Nilópolis (RJ) —, a coordenadora do FCC, professora Christine Ruta, disse que o projeto é uma
CRIATIVIDADE Loreena venceu comparando a visão a uma cozinhacelebração à Ciência e à Educação: “O concurso reafirma o papel público da UFRJ como produtora e difusora de conhecimento. Que essa juventude que está aqui hoje possa se inspirar nesses jovens cientistas e venha para a universidade”.
Integrante do corpo de jurados — assim como a vice-reitora Cássia Turci —, o reitor da UFRJ, professor Roberto Medronho, saudou a diversidade na produção de conhecimento da universidade. “Um antigo professor meu dizia que quem sabe explica de forma simples. E esse concurso estimula exatamente isso. Fiquei impressionado com a qualidade das apresentações e das pesquisas que desenvolvemos em várias áreas. Estamos aqui produzindo conhecimento para mudar a vida das pessoas”, pontuou o reitor.
DISPUTA ACIRRADA
Na área de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde, a doutoranda Loreena Klein venceu a disputa com sua tese sobre novas terapias para a reversão de perdas visuais graves, como a causada pelo glaucoma. Ela comparou o funcionamento da visão a uma cozinha, com chefes e ajudantes, e foi muito aplaudida pela plateia pela comparação, que tornou fácil o entendimento de um tema tão complexo.
“Achei incrível a iniciativa de passar conhecimento de uma forma didática, foi muito emocionante para mim comunicar meu trabalho dessa forma. Quero continuar comunicando a Ciência, dando aulas, palestras, levando-a a todas as pessoas”, disse Loreena, aluna do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas do IBCCF.
Já na área de Ciências Humanas, a primeira colocada foi Wanessa Machado, a última finalista a subir ao palco. Atriz e doutoranda do Programa de
TEATRAL A atriz Wanessa quer tornar lúdicas as aulas de Ciências Pós-Graduação em Educação, Gestão e Difusão de Biociências do IBqM, ela usou menos de três minutos para sua tese, que tem como objetivo elaborar um protocolo de formação de professores de Ciências para que integrem o teatro de forma simples e eficaz em suas aulas. Tudo a ver com o 3MT.
Diante da qualidade das apresentações dos 21 finalistas, a coordenação do concurso anunciou prêmios também para os segundos e terceiros colocados de cada área — respectivamente, R$ 2,5 mil e R$ 1 mil —, não previstos inicialmente. O corpo de jurados, cuja avaliação representava 70% da nota final de cada participante, contou com a participação de pesos-pesados da academia e da área da Educação, como Muniz Sodré, Paulo Baía, Nelson Maculan, Ricardo Medronho, Nedir do Espirito Santo e Eleonora Kurtenbach. Também integraram o júri a reitora do Colégio Pedro II, Ana Paula Giraux, o vice-reitor da Uerj, Bruno Deusdará, e o diretor de Programas e Bolsas da Capes, Luiz Pessan.
Para o pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa, professor João Torres, a participação dos técnicos da UFRJ na seleção dos finalistas foi fundamental. “Fiquei impressionado com o empenho dos técnicos, eles tiveram um papel de destaque nesse concurso”, disse o pró-reitor. Ele citou o exemplo do superintendente geral de Planejamento e Desenvolvimento da PR-3, George Pereira, que bateu um recorde: fez 121 avaliações das apresentações em vídeos dos candidatos.
O Conselho Universitário começou a votar neste mês de outubro as regras de progressão e promoção dos professores. O debate parece estar longe do fim: em duas sessões, os conselheiros conseguiram avançar em apenas 16 dos 65 artigos da proposta de resolução. Mas algumas decisões importantes para a vida funcional dos docentes já foram tomadas, como a volta das progressões múltiplas, a redução dos documentos comprobatórios de atividades, ampliação e detalhamento das ações de extensão e a valorização da orientação acadêmica.
Confira a seguir, alguns dos principais pontos definidos até o momento.
PROGRESSÕES MÚLTIPLAS
A revisão da resolução sobre o desenvolvimento na carreira docente é ampla, mas tem como ponto de partida uma sentença judicial favorável à AdUFRJ, do fim de 2023, para a volta das progressões múltiplas. O dispositivo garante ao professor o direito de “corrigir” seu posicionamento na carreira, mesmo quando não solicitou a progressão no período previsto. Ou seja, ele pode subir mais de um nível desde que tenha cumprido os requisitos de tempo e produção acadêmica.
As múltiplas já existiam na resolução do Consuni nº 08/2014, que ainda regula o tema na UFRJ, mas foram suprimidas em 2020, após parecer restritivo da Advocacia-Geral da União (AGU). No entanto, graças à ação judicial da AdUFRJ, elas voltaram a acontecer desde março do ano passado. Em cumprimento à sentença, o Consuni aprovou o retorno do dispositivo às regras internas.
MENOS BUROCRACIA
Fruto de muita negociação da AdUFRJ, outra conquista também estará garantida para os docentes na nova resolução: menos burocracia nos processos internos de progressão ou promoção. Quando o texto entrar em vigor, será dispensada a documentação comprobatória de titulação e das atividades que já tiverem sido apresentadas anteriormente em outras progressões e promoções, devidamente registradas nas Unidades ou Órgãos Suplementares.
Ou seja, vai acabar o suplício enfrentado pelos professores de muitas unidades que, mesmo há muito tempo na universidade, são obrigados a apresentar documentos como a portaria de nomeação ou a prova de titulação.
SEM CONFERÊNCIA
Até o momento, o ponto mais polêmico foi a supressão da conferência pública que a universidade exigia para o docente se tornar Titular.
“Quem tem medo da conferência?”, questionou o representante dos Titulares do CCS e ex-diretor da AdUFRJ, o professor AntonioSolé, na sessão do Consuni de 9 de outubro. “Nós, professores, adoramos falar. E você escolhe sobre o que vai falar. Em nome da autonomia universitária, temos que manter a proposta da CLN (Comissão de Legislação e Normas do Consuni, que defendia a manutenção da conferência)”.
Decano do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, o professor Vantuil Pereira posicionou-se contra a conferência, com base na lei 12.772, da carreira. “A regra garante o direito ao professor de chegar ao topo da carreira. Não cabe à universidade estabelecer impedimento ou barreira para este professor. No caso, a conferência é isso”, disse.
A proposta de eliminação da conferência passou por 20 votos contra 19 e três abstenções.
ORIENTAÇÃO VALORIZADA
A nova resolução inclui a avaliação de orientação e acompanhamento acadêmicos dentro das atividades de ensino de graduação, para efeito da progressão e promoção. O objetivo é valorizar as ações dos professores junto aos estudantes em sua trajetória nos cursos: por exemplo, o aconselhamento de em quais disciplinas o estudante deveria se inscrever em determinado período. Ou seja, uma tarefa diferente da orientação de iniciação científica, de trabalhos de fim de curso, de monitorias ou tutorias, que já constava da resolução de 2014.
AVALIAÇÃO DISCENTE
A avaliação da orientação acadêmica recém-aprovada será mais um elemento da avaliação discente dos professores. Na versão atual, os estudantes se limitam a avaliar o desempenho em sala de aula dos docentes (didática, conteúdo, avaliação). “É uma sinalização para toda a universidade de que a orientação acadêmica é importante”, afirma a professora GeorgiaAtella, superintendente-geral de Graduação. Para a dirigente, a mudança valoriza a uma atividade que pode ajudar a combater a retenção e evasão na UFRJ.
A nova resolução prevê que esta avaliação discente seja centralizada, via Sistema de Gerenciamento Acadêmico (Siga). Mas que, na ausência desta ferramenta, as unidades organizem sua própria forma de participação dos estudantes.
A ferramenta centralizada já existia no texto de 2014, mas não era utilizada pelos alunos. A pró-reitoria de Graduação informa que o módulo foi desativado no primeiro semestre de 2023. “O instrumento de avaliação estava desatualizado, necessitando de uma reestruturação. Um questionário bem formulado é crucial para capturar a qualidade real da atividade docente”, diz Georgia.
“Devemos demonstrar aos estudantes que o feedback deles é uma ferramenta importante para o aprimoramento contínuo, para nós e para as futuras gerações de estudantes”, completa a superintendente. O formulário desta nova avaliação ainda será elaborado, e não há um prazo para implantação.
EXTENSÃO DETALHADA
O novo texto amplia e detalha as atividades de extensão que contam para o relatório apresentado para a progressão ou promoção. A pró-reitora de Extensão, professora Ivana Bentes, avaliou de forma positiva as mudanças. “O professor quer ver a atividade que ele faz descrita ali”, diz, ressaltando que todas as ações devem continuar sendo registradas no SIGA após aprovação nos colegiados das unidades.
A resolução de 2014, por exemplo, prevê apenas a orientação de bolsistas de extensão. Já o texto em tramitação no Consuni acrescenta a orientação de estudantes extensionistas devidamente matriculados no RCS (requisito curricular suplementar) de Extensão ou inclusos no cadastro da ação de extensão como membro de equipe. “A gente sabe que a maioria dos extensionistas não tem bolsa. Foi um avanço reconhecer e valorizar essa orientação”, diz Ivana.
Também poderão constar do relatório as prestações de serviços em extensão. A modalidade, prevista pelo Conselho Nacional de Educação, ainda não havia sido regulamentada na UFRJ. A aprovação aconteceu no Conselho de Extensão Universitária do último dia 29. “Ela segue todos os princípios das demais atividades de extensão, como o caráter público e gratuito”, explica Ivana. “A prestação de serviços deve estar disponível no SIGA já em 2026 para cadastro”, completa.