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WhatsApp Image 2025 10 01 at 18.14.56 1Fernando Souza/Arquivo AdUFRJConheço Tanuri desde a juventude, passamos por poucas e boas, cada um no seu quadrado. Ele desde que ingressou na faculdade tornou-se cientista, eu um pouco mais velha integrante de uma turma cheia de sanitaristas, arrisquei uma trajetória não acadêmica. Durante os tempos de graduação frequentamos o laboratório “do Tanuri.” Conversávamos sobre mudanças no currículo da faculdade, queda da ditadura militar e como seria o Brasil democrático igualitário. Tanuri consolidou rapidamente uma carreira de pesquisador, muitos de nós que fomos trabalhar em instituições públicas de prestação de serviços de saúde voltamos para a UFRJ.
Nos reencontramos durante a epidemia de AIDS, em um contexto de tristeza, preconceito, revolta. A vida de nossos amigos, de amigos de amigos escapava por entre nossas mãos. Foram tempos de buscar alternativas de proteção contra os riscos de infecção, realizar diagnósticos, antever tratamento e sobretudo de solidariedade e confidencialidade. Comoção e pesquisas se misturavam. Tanuri talvez fosse um dos mais profundamente envolvidos com a tragédia, mas conseguiu pesquisar, compreender mecanismos de transmissão, viabilizar testes, participar ativamente do desenho do potente e ousado programa de AIDS do Brasil. Levou na bagagem para a África experiências nacionais para o controle da doença e na volta trouxe um conhecimento profundo e extenso sobre pobreza, guerras e emergências sanitárias.
Tanuri encarava os vírus sem raiva, temor excessivo ou desprezo. Nos ensinou a simplesmente respeitá-los. Uma visão de mundo, nada etnocêntrica. Pelo contrário, aprendemos que a vida de hospedeiros ou dos vírus decorre de interações mais ou menos favoráveis a ambos. Olhar, nada trivial para uma geração criada no berço da arrogância da supremacia da espécie humana. Como se sabe, durante a covid-19 nos alertou imediatamente sobre a disseminação no país e fez das tripas coração para impor racionalidade ao negacionismo e autoritarismo. Conseguiu. Mas o preço a pagar não foi baixo. A fúria anticientífica é em si fator de adoecimento.
Tanuri permaneceu sob o fogo cruzado da abominação extremista durante um longo período. Quando o Conselho Federal de Medicina me processou, por criticar uma entidade que propagandeou a cloroquina e difundiu fake news sobre vacinas, me defendeu veementemente.
Obrigada Tanuri, vida que segue com você para sempre.

LIGIA BAHIA
Professora do IESC e presidente eleita da AdUFRJ

WhatsApp Image 2025 10 01 at 18.14.57 1Conheci o Amilcar em 1977, no curso de Medicina da UFRJ. Era impressionante, pois desde o início da graduação ele sonhava em ser pesquisador. Mesmo no princípio do curso, ele buscava ir para o laboratório em todo intervalo que tinha. Um dos seus traços mais marcantes era a humildade. Ele tinha conhecimento enorme na sua área, era dos maiores nomes no mundo, mas jamais se colocou acima de qualquer pessoa. Ao contrário, era sempre muito aberto a aprender mais, muito curioso.
Amilcar trabalhou até instantes antes de ser intubado, já internado no hospital. Era uma pessoa muito sensível, solidária, sempre disposto a ajudar os colegas. Fez um trabalho fantástico na África, sobre o HIV.
É uma perda irreparável para a ciência brasileira e para a UFRJ. Amilcar era incansável e foi cedo de mais. Ele certamente teria muitas outras contribuições para este país. O Amilcar era um dos nossos grandes nomes que estão escritos no panteão de glória da UFRJ. Sem dúvidas, foi alguém que ajudou a fazer da UFRJ o que ela é hoje.

Roberto Medronho,
reitor da UFRJ

Amilcar se formou em 1982, ano que ingressei como aluna na UFRJ, então somente o conheci quando eu fazia iniciação científica e ele, mestrado. Lembro dele dessa época, dos laboratórios do subsolo do CCS, fazendo pesquisa, nos revezando pra utilizar equipamentos. Amilcar se envolveu muito com a questão do HIV a partir de 1985. O HUCFF era referência para pacientes de HIV. Nessa época, ele migrou sua atuação para a área de virologia e se tornou referência no mundo. No dia a dia, Amilcar era exemplo para todos nós. Tanto que, quando veio a pandemia de covid-19, eu não tive nenhuma dúvida. Era reitora da UFRJ e o procurei imediatamente. Falei que precisaríamos de testes, que logo seríamos demandados. Foi o que realmente aconteceu. Quando a pandemia chegou ao Brasil, o Amilcar já estava com o laboratório todo pronto para fazer os testes padrão ouro. Além de ser brilhante em sua área, Amilcar era muito generoso. Ele não deixou o laboratório nenhum dia durante a pandemia. Tinha um DNA UFRJ raiz. A gente perdeu essa figura tão forte na nossa universidade. Uma pessoa muito querida que sempre ensinou tanto. Seu grande legado continuará.

Denise Pires de Carvalho,
presidenta da Capes e ex-reitora da UFRJ

O professor Titular Amilcar Tanuri ingressou como docente no Instituto de Biologia em 1987, rapidamente destacando-se pela grande qualidade de seu trabalho e liderança. Era consultor da WHO, da Rede da Organização Mundial da Saúde, coordenador da Faperj, associated research scientist na Columbia University, e consultor da área de laboratório do Ministério da Saúde. Amilcar tinha profunda empatia com o sofrimento humano e fez um ótimo trabalho na África, por meio da iniciativa do CDC de Atlanta, EUA, no Presidential AIDS Initiative, estabelecendo laboratórios para o acompanhamento da epidemia da AIDS. Mais recentemente, realizou importantes trabalhos com os vírus Zika e covid-19. Em tempos de negacionismo, lutava pelo uso da ciência contra a pandemia. Sempre com seu inseparável chapéu, Amilcar era um exemplo de dedicação e inteligência, inspirando gerações de pesquisadores. Era também pessoa com ótimo senso de humor, coisa tão importante em nossos ambientes muitas vezes tão estressantes. Fará muita falta, mas permanece o seu enorme legado para a UFRJ e para o mundo. 

Antonio Solé,
professor do IB e diretor da AdUFRJ

Amilcar esteve à frente de um grande projeto de massificação dos testes de HIV em Moçambique. Quando chegou ao país em 2001, apenas 300 testes eram feitos anualmente. No primeiro ano de atuação, foram atendidas 110 mil pessoas. Em 2013, já eram feitos dois milhões de testes no país. Foi um dos coordenadores da investigação do grande surto de febre hemorrágica em Angola, incluindo o vírus ebola. Era um cientista do mundo e deixou seu legado também para o nosso país. Durante a pandemia, foi presença nas emissoras de TV, combatendo o negacionismo que era patrocinado pelo governo Bolsonaro. Era um ser humano com grande poder de agregação, profundamente conhecedor das vulnerabilidades da nossa população e do continente africano. Ao chegar no laboratório no CCS, sempre ia tomar com sua equipe um café nos quiosques do bloco, como fazia desde o final dos anos 80.

Hélio de Mattos,
professor da Faculdade de Farmácia

A ciência que salvou vidas

n Amilcar ligou e disse: “vamos fazer os testes?” Eu relutei. O laboratório não estava preparado para testes em humanos, não tínhamos essa expertise e estrutura, mas ele tinha razão. Era uma emergência sanitária, as pessoas PRECISAVAM da universidade. Em uma semana estávamos preparados. A resposta rápida dele salvou centenas de vidas em Macaé e transformou a cidade em um exemplo de resposta científica e solidária à pandemia de COVID-19.
Amílcar Tanuri nos deixou no dia 26 de setembro de 2025. Perdemos nossa referência em saúde pública e sobre o papel da universidade: produzir conhecimento capaz de trazer mudanças para a população. Defensor do SUS, Tanuri mostrou que a ciência e a universidade pública podem — e devem — estar a serviço do coletivo.
Sua partida deixa uma lacuna imensa na ciência brasileira, mas também um legado que precisa ser lembrado e celebrado — especialmente em Macaé, onde sua atuação mudou a forma como enfrentamos crises sanitárias.Sob sua liderança, o NUPEM/UFRJ implantou, em 2020, um laboratório de testagem que realizou mais de 15 mil exames moleculares em apenas cinco meses, alcançando mais de 2% da população local. O impacto foi imediato: a cidade registrou uma taxa de letalidade de apenas 1,8%, contra 10,6% na capital no mesmo período. Esse feito histórico só foi possível pela soma de esforços entre sociedade, comunidade científica e a visão pioneira de Tanuri.Seguiram-se outras conquistas importantes para Macaé providas por Tanuri e seu grupo: acesso aos primeiros testes de antígeno específicos para SARS-CoV-2, o estabelecimento de uma vigilância genômica, mais de 30.000 exames sorológicos para pesquisa de anticorpos e, posteriormente a avaliação da eficácia das vacinas aplicadas na população local, além do acompanhamento da população e desenvolvimento de estratégias de tratamento pós-Covid.
Dessas bases nasceu o LIDEN (Laboratório Integrado de Doenças Emergentes e Negligenciadas), uma parceria entre a Prefeitura de Macaé, instituições públicas (MPF, MPT, UFRJ, FAPERJ, CNPq) e privadas (Unimed Costa do Sol, Hospital São João Batista, empresas de petróleo).O NUPEM se consolidou como centro estratégico de vigilância epidemiológica e inovação científica no Norte Fluminense.
A trajetória de Tanuri ecoa a de Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, sanitaristas que mudaram os rumos da saúde pública no Brasil. Como eles, uniu ciência, compromisso social e ação concreta em defesa da vida.Infelizmente, Amilcar Tanuri não viu a assinatura de um novo convênio que propôs com a Prefeitura de Macaé, voltado ao estudo do vírus Oropouche, uma ameaça emergente no país. Por aqui continuaremos. Temos o compromisso de continuar e em breve o acordo deverá ser assinado, dando continuidade ao compromisso com a comunidade.
A despedida de Amilcar Tanuri nos lembra que a ciência exige perseverança, apoio institucional e continuidade. Seu legado — como o de Cruz e Chagas — ensina que investir em ciência é investir na vida.

Rodrigo Nunes da Fonseca
e Cíntia Monteiro de Barros,

professores do Instituto NUPEM/UFRJ

WhatsApp Image 2025 10 01 at 18.14.57 3Foto: Erik SeixasAs restrições orçamentárias das universidades federais e das instituições nacionais de pesquisa foram o principal tema de uma audiência pública realizada no último dia 24 na Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados, em Brasília. Proposto pela deputada federal Ana Pimentel (PT-MG), a partir de uma sugestão do Observatório do Conhecimento (OC), e conduzido pela deputada federal Lenir de Assis (PT-PR), o debate evidenciou a situação financeira crítica das instituições. No mesmo dia, o OC lançou Balanço Anual do Orçamento do Conhecimento, com base nos dados do Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2026 (veja mais informações sobre o documento na página 6).
A presidenta da AdUFRJ e coordenadora do OC, professora Mayra Goulart, participou do debate e destacou o papel fundamental que as universidades federais desempenham na produção de conhecimento e na defesa da democracia. “Entendemos que a docência e a pesquisa não são atividades missionárias, mas esforços que demandam recursos e devidas condições de trabalho. Nos últimos tempos, as universidades têm sido um espaço de resistência ao autoritarismo político e cultural. Nelas, o pluralismo e a diversidade de pensamento não são apenas princípios abstratos, mas condições estruturantes para a produção de conhecimento e para a formação cidadã. São redutos de liberdade e de pensamento crítico”, observou Mayra em sua fala inicial.
A necessidade de mecanismos estáveis de sustentação financeira das federais foi também pontuada pela professora: “O conhecimento é a alavanca que transforma desafios em soluções. E isso só se sustenta com investimento contínuo e estratégico. Parece óbvio, mas as universidades sofreram ataques com os discursos negacionistas e com sufocamentos financeiros. Durante os governos Temer e Bolsonaro houve reduções drásticas em nossos orçamentos, e isso foi fortemente denunciado pelo Observatório do Conhecimento”
Na audiência pública, a professora Fernanda Sobral, emérita da UnB e conselheira da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), pontuou que, para exercer o papel destacado pela coordenadora do OC, as universidades precisam ter fontes sustentáveis de financiamento. “É urgente a adoção de políticas públicas sólidas e de longo prazo para o financiamento da educação superior no Brasil. Não basta ter apenas suplementações pontuais”, defendeu a professora.
Segundo Fernanda, a SBPC vem monitorando as reduções orçamentárias do Ministério da Educação (MEC) desde 2016. “As 69 universidades federais brasileiras, que atendem a aproximadamente 1,3 milhão de estudantes, enfrentam dificuldades com a redução orçamentária. O MEC atribui a situação à redução de verbas dos anos anteriores e observa que, na gestão atual, os recursos destinados às instituições tiveram um aumento de 22%. Mas a descida é galopante e permanece a necessidade de ampliação do orçamento”, disse a conselheira da SBPC.
Representante da Associação Nacional dos Pós-graduandos (ANPG), Gabryelle Cardoso chamou a atenção para a defasagem nos valores das bolsas de pós-graduação no país como um fator de desestímulo à continuação dos estudos dos graduandos. “As bolsas de mestrado e doutorado estão num quadro de defasagem, com só um reajuste, em 2023, nos últimos 13 anos. Isso contribui diretamente para a evasão e a queda na procura pela pós-graduação stricto sensu”, disse ela. De acordo com a ANPG, há hoje 1,7 milhão de pós-graduandos no país, mas apenas 325 mil no stricto sensu (mestrado e doutorado). Os outros (1,3 milhão) estão na modalidade lato sensu (especializações e MBAs).
Já o representante da Andifes, Evandro Rodrigues de Faria, centrou sua fala na queda gradativa do orçamento das universidades federais nos últimos 15 anos, com exceção de 2021 e 2022. “Isso se reflete, por exemplo, na defasagem tecnológica das federais, o que torna nossos cursos pouco atrativos para muitos estudantes e causa evasão. Às vezes, nossos alunos têm que ter aulas com equipamentos das décadas de 1980 ou 1990, em contraponto a equipamentos de última geração de faculdades privadas”, disse Faria.
Presente ao debate, a professora Márcia Abrahão, ex-presidente da Andifes e ex-reitora da UnB, defendeu uma legislação que garanta financiamento permanente às universidades e institutos federais. “Algo semelhante ao que há nas universidades estaduais paulistas, que têm uma previsibilidade orçamentária anual. Todos os anos nós ficamos nessa situação de ter um orçamento que oscila de acordo com o governo da ocasião. No governo Bolsonaro, por exemplo, nós vivemos a pior situação, e não podemos esquecer para que não se repita. Neste governo Lula, nós temos espaço para construir uma proposta de financiamento permanente ao Congresso”, destacou Márcia.
O debate contou também com representantes do Andes-SN (Diego Marques), do Proifes-Federação (Raquel Nery) e da UNE (Bianca Borges). “Fico feliz de ver aqui o movimento sindical representado aqui pelo Proifes e pelo Andes. É muito importante atuar juntos e superar qualquer divergência interna, mostrando que o que nos aproxima é muito maior do que o que nos afasta”, saudou Mayra Goulart.
Em sua fala final, a presidenta da AdUFRJ falou do contexto político: “A universidade é um projeto social e de mundo. E isso incomoda. Porque é um projeto onde mulheres falam, em que LGBTQIA+ falam, em que classes populares falam, e ganham na universidade mobilidade social e recursos para contestar as opressões. O jovem sai da universidade empoderado. Temos que aproveitar esse momento. A gente derrubou a PEC da Blindagem, fizemos manifestações em todo o país. É importante continuar, as ruas são nossas. O Brasil está ensinando ao mundo que não se combate autoritarismo com mais autoritarismo, mas sim com inclusão, com democracia, com felicidade”.

WhatsApp Image 2025 10 01 at 18.15.12 2As receitas previstas para universidades e institutos federais, Capes e CNPq, além de institutos de educação inclusiva, seguem insuficientes para o próximo ano. O chamado “Orçamento do Conhecimento”, calculado em R$ 17,29 bilhões, é 0,12% superior à proposta orçamentária (PLOA) deste ano, mas corresponde quase à metade do que era em 2014: R$ 32,51 bilhões, em valores corrigidos pela inflação.
As informações são do relatório produzido pelo Observatório do Conhecimento — rede de associações docentes coordenada pela AdUFRJ. O documento, cuja íntegra pode ser lida AQUI, foi divulgado dia 24, em audiência na Câmara dos Deputados (veja matéria ao lado).
“O governo Lula tem feito uma recomposição, mas em valores muito aquém dos necessários para recuperar o sistema federal de educação superior e de Ciência, Tecnologia e Inovação”, afirma a presidenta da AdUFRJ e coordenadora do Observatório, professora Mayra Goulart.
Contribui para este preocupante cenário o crescente peso atribuído às emendas parlamentares. Somente este ano, considerando apenas as universidades, elas totalizaram aproximadamente R$ 571 milhões. Em 2014, não passavam de
R$ 148 milhões, também em valores corrigidos pela inflação.
“Políticas públicas deveriam contar com custeio sólido entre os exercícios fiscais. No entanto, conforme já estamos destacando há algum tempo no Observatório, elas estão cada vez mais dependentes de recursos incertos”, diz Mayra.

UNIVERSIDADES
Para 2026, o governo planejou R$ 7,85 bilhões para o orçamento discricionário das universidades federais. Este valor equivale a 45,3% do que foi destinado há uma década.
Deste total, R$ 7,51 bilhões são para as despesas correntes. Ou seja, para o funcionamento do ensino, pesquisa e extensão, assistência estudantil e fomento das ações de graduação e pós-graduação. O número representa 65,87% das despesas correntes em 2014.
Já a parcela destinada a investimentos nas universidades praticamente desapareceu do orçamento do conhecimento, na última década. Em 2026, o valor previsto é de R$ 335,9 milhões, equivalente a apenas 5,67% dos investimentos em 2014 (ou R$ 5,92 bilhões). Números que se refletem na infraestrutura precária nas instituições, realidade bem conhecida da comunidade da UFRJ.WhatsApp Image 2025 10 01 at 18.22.08
A única rubrica que parece ter se salvado dos cortes, ao longo dos últimos anos, é a de assistência ao estudante do ensino superior. Houve uma redução média de apenas R$ 15,5 milhões entre 2014 e 2026. Se comparada à proposta orçamentária deste ano, a ação receberá até 2,94% a mais e ficará em
R$ 1,38 bilhão. Mas são números que enganam.
“No período, a universidade se expandiu e inseriu parcelas da sociedade que não tinham acesso à educação superior. O orçamento da assistência estudantil deveria aumentar, em vez de permanecer estagnado”, explica Letícia Inácio, economista responsável pelos estudos do Observatório do Conhecimento.
Em 2026, Capes e CNPq receberão, respectivamente, R$ 4,93 bilhões e R$ 1,57 bilhão, se não houver mudança na proposta do governo. A Capes até ganha um pouco a mais que o valor reservado na PLOA deste ano, de R$ 4,9 bilhões. Mas o CNPq sofre ligeira perda, pois a PLOA deste ano era de R$ 1,63 bilhão. Mas ambas agências ganharão bem menos que os R$ 10,83 bilhões e R$ 3,43 bilhões previstos em 2014.
Já os Institutos Federais têm vivido o mesmo processo de redução orçamentária das universidades, com uma recomposição lenta ao longo dos anos mais recentes. A PLOA do próximo ano reserva R$ 2,85 bilhões para o funcionamento destas instituições contra R$ 5,92 bilhões de 2014.

REGRAS RESTRITIVAS
As regras fiscais de execução orçamentária, restritivas desde o governo Temer, são outro obstáculo. Há pisos constitucionais de repasses para Educação e Saúde, mas não existem mecanismos legais para proteger os recursos específicos da educação superior, por exemplo. “Temos feito algumas pesquisas que vão na direção de estabelecer um mínimo de repasse com base em um percentual da arrecadação, como acontece nas estaduais paulistas. É um debate muito difícil porque a posição dos parlamentares e até do governo, no geral, é contrária à indexação das despesas da educação à arrecadação”, lamenta Letícia.
Enquanto não há uma mudança estrutural do orçamento do conhecimento, a comunidade volta suas preocupações para a votação do orçamento 2026, o que deve ocorrer até 22 de dezembro. “Até lá, o Observatório continuará pressionando o parlamento em defesa das universidades e da pesquisa nacionais”, afirma Mayra.

CAPES RESPONDE
Presidenta da Capes, a professora Denise Pires de Carvalho atribui a queda do orçamento da agência à extinção do “Ciência sem Fronteiras”, considerando o início da série estudada pelo Observatório. De acordo com os dados enviados à reportagem, o programa de incentivo à internacionalização chegou a representar R$ 1,8 bilhão da dotação da Capes em 2014 e
R$ 3,2 bilhões em 2015.
A professora destaca o trabalho de recomposição orçamentária da agência pelo atual governo, iniciada com a negociação da Emenda Constitucional da Transição. A legislação viabilizou recursos novos para a agência logo no primeiro ano da gestão Lula. “Em 2023, o orçamento teria sido muito menor”, disse.
Desde então, a dotação da Capes tem superado os
R$ 5 bilhões, contra R$ 3,5 bilhões do último ano do governo Bolsonaro.
Já em relação às universidades, Denise esclarece que a redução se dá após a conclusão do programa de reestruturação e expansão das universidades (Reuni). “No caso das universidades, até 2017 havia verba que terminou, obviamente, após as inaugurações”, completa.
O Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação não respondeu ao questionamento da reportagem até o fechamento desta matéria.

17 09 2025 Lançamento da terceira edição de educadores no Brasil 4Fotos: Alessandro Costa‘O que tornou sua trajetória admirável foi a persistência na defesa da democracia e da educação para a democracia, que constituiu o motivo central de devotamento da sua vida, apesar das rupturas que lhe foram impostas pelas conjunturas políticas de 1935 e 1964. Essa defesa não foi apenas apaixonada: foi polida por uma filosofia da educação e uma compreensão aguda da história da sociedade brasileira; foi iluminada pela sua imaginação pedagógica”.
Esse é um trecho do verbete dedicado ao educador baiano Anísio Teixeira (1900-1971), escrito pela pesquisadora Clarice Nunes, um dos 186 perfis abordados na 3ª edição do “Dicionário de Educadores no Brasil — da Colônia aos dias atuais”, lançado no último dia 17 pela Editora UFRJ. Em tempos de ataque à soberania nacional, a obra de 1.236 páginas é um mosaico da construção do pensamento brasileiro no campo da Educação e de seu papel na consolidação da democracia.
“Nesse momento em que a gente tem que reivindicar a soberania do nosso país, ter a história do pensamento educacional brasileiro sistematizada a partir da Faculdade de Educação é um grande marco. Há vários educadores brasileiros perfilados nessa obra que muitos de nossos próprios estudantes não conhecem. É uma fonte de pesquisa riquíssima sobre a evolução das ideias pedagógicas no Brasil. São autores que viveram aqui e pensaram a nossa realidade”, atesta a professora Ana Paula Moura, diretora da Faculdade de Educação (FE) da UFRJ.WhatsApp Image 2025 09 24 at 20.16.55 7LANÇAMENTo do livro: Libânia Xavier, Osmar e Maria de Lourdes Fávero em 17 de setembro

PESQUISA DENSA
Organizado por Maria de Lourdes de Albuquerque Fávero, Jader de Medeiros Britto (1931-2024) e Osmar Fávero, o dicionário é fruto de um longo trabalho de pesquisa. A primeira edição, com 74 verbetes e 496 páginas, foi publicada pela Editora UFRJ em convênio com o MEC/Inep, em 1999. Em 2002, a segunda edição já contava com 144 verbetes e 1.088 páginas. Mais de duas décadas se passaram até a consolidação dessa 3ª edição, que é dedicada ao professor Jader de Medeiros Britto, falecido em 2024, e que agora teve seu nome incluído entre um dos biografados — todos já falecidos. Britto foi assistente de pesquisa do professor Anísio Teixeira.
“Foi um trabalho desafiador, começamos em 2023 a organizar a 3ª edição, e tenho que registrar o apoio inestimável da pesquisadora Helena Ibiapina, sem o qual não teríamos conseguido avançar. Acompanhei as três edições do dicionário e posso dizer que o compromisso dos organizadores com essa pesquisa é algo que emociona toda a equipe da Editora UFRJ. Infelizmente, no meio do caminho perdemos um dos organizadores, o professor Jader Britto, que sempre esteve presente”, lembra Fernanda Ribeiro, diretora adjunta da Editora UFRJ. O reitor Roberto Medronho e a vice-reitora Cássia Turci participaram do lançamento.
Além dos três organizadores , o livro conta com a participação de outros 175 autores de verbetes, num gigantesco processo colaborativo. Uma das autoras é a professora Libânia Nacif Xavier, titular da FE e especialista em História da Educação. “É um trabalho de referência para o desenvolvimento da pesquisa educacional. Há biografias de vários educadores De José de Anchieta a Paulo Freire, de Rui Barbosa a Darcy Ribeiro, passando por nomes como Amaro Cavalcanti, Benjamin Constant, Bertha Lutz, o padre Antonio Vieira, Florestan Fernandes, dom Hélder Câmara e Maria Yedda Linhares, o dicionário cobre desde os tempos do Brasil Colônia aos dias atuais, mas se debruça mais fortemente sobre o período entre a década de 1920 e os vinte primeiros anos do século XXI. Cada verbete traz dados da história pessoal, formação acadêmica, atividades profissionais, matrizes de pensamento, produção científica e propostas apresentadas pelos educadores para enfrentar situações desafiadoras da realidade brasileira.
Várias fontes históricas para o estudo da Educação utilizadas pelos autores estão armazenadas no Programa de Estudos e Documentação Educação e Sociedade (Proedes), da FE/UFRJ, criado por Maria de Lourdes Fávero, que dá nome à principal sala de arquivos. “Essa obra foi praticamente concebida aqui no Proedes, temos a guarda da documentação proveniente da produção do dicionário. Fui bolsista de iniciação científica da professora Maria de Lourdes, que chamamos de Lurdinha, ela foi também minha orientadora de mestrado. Esse dicionário se deve muito ao árduo trabalho dela em pesquisa histórica, inclusive como criadora do Proedes”, enaltece a professora Ana Lúcia Fernandes, coordenadora do programa.

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