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A produção industrial brasileira parou no tempo diante do desenvolvimento tecnológico e da inovação internacional. A observação foi feita pelo professor David Kupfer, diretor do Instituto de Economia, no dia 21, durante a quarta aula do curso “Interpretações sobre o Brasil Contemporâneo”. Promovido pela Adufrj, o ciclo de palestas ocorre duas vezes na semana, até 24 de outubro. Especialista em economia industrial, Kupfer mostra que os países avançam mudando sua estrutura produtiva. “Mas a brasileira está mais ou menos igual nos últimos 30 anos”, afirmou. Faltam planejamento, investimento em conhecimento e, sobretudo, “coesão social” em torno de um projeto de nação sintonizado com o futuro. Para o docente, a experiência internacional mostra que os setores mais compatíveis com aumento da riqueza de um país são aqueles que agregam mais tecnologia: “O que traz desenvolvimento não é indústria, mas um tipo particular de modelo industrial”, destacou. “É a inovação que garante uma estrutura produtiva capaz de trazer movimento à economia, distribuição de riqueza e bem estar à população”. A chave para o desenvolvimento, para o docente, não está na matriz produtiva. E sim na estratégia industrial tecnológica. “Inovar não quer dizer trocar a indústria têxtil pela indústria de celulares”, disse. “A tecnologia não está no produto, mas na natureza do processo produtivo. Eu posso ter uma industria têxtil com conteúdo tecnológico elevado e uma indústria de celulares sem conteúdo tecnológico, o que a gente chama de maquiladora”. Na visão de Kupfer, “a retórica política já incorporou o conceito inovação”. Mas, na prática, prevalece uma “rigidez estrutural”, com setor ainda desorganizado e desaparelhado. “Essas precondições não vão surgir espontaneamente”, advertiu o docente. Enquanto isso, a indústria, que já representou mais de 20% do PIB, hoje atinge 12%. Acompanhe todas as aulas aqui: https://bit.ly/2DDzpGg    

A Educação não é uma panaceia para a redução dos níveis de pobreza ou desigualdade no Brasil. Mesmo que fosse, seus resultados não seriam imediatos. A conclusão é de um estudo recente dos pesquisadores Marcelo Medeiros (Ipea, UnB), Rogério Barbosa (USP) e Flavio Carvalhaes, da UFRJ. “Mas isso não quer dizer que as políticas educacionais são irrelevantes. Pelo contrário”, apressa-se em dizer o professor Flavio, pesquisador do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Qual é a novidade deste trabalho? Nas pesquisas, é normal perguntar o que aconteceu. Este estudo tenta entender o que teria acontecido com os padrões de desigualdade e pobreza do país, se tivéssemos feito investimentos educacionais maciços na população. Como não podemos projetar o futuro, fomos para o passado, no qual sabemos qual era a população, a inflação, a taxa de mortalidade etc. Utilizamos os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e os Censos de 1991, 2000 e 2010 do IBGE. Qual foi a metodologia? Simulamos que todos os nascidos a partir de diferentes marcos temporais, começando por 1956, vão conquistar diferentes níveis de escolaridade. Do secundário completo até o doutorado. Como a renda não é afetada só por um diploma, buscamos controlar outras variáveis, como região de moradia, sexo ou grupo racial. Também simulamos quanto a economia precisa crescer para absorver um maior número de pessoas qualificadas. Mas, por exemplo, ao conceder no mínimo a educação secundária para todos os nascidos a partir de 1994, o índice de Gini só teria caído dois pontos percentuais em relação ao registrado efetivamente em 2010. Por que os índices de pobreza e desigualdade não caíram muito? Há uma inércia demográfica. O impacto da política de expansão da educação é muito lento pela composição populacional anterior. Levaria décadas para expandir as habilidades de toda a força de trabalho do país. A taxa de desigualdade só começa a diminuir um pouco mais quando simulamos o máximo de escolarização ofertado desde muito tempo atrás. O estudo é um banho de água fria nos que apostam na Educação como saída da crise? A experiência internacional mostra que é muito difícil um país atingir um padrão de estrutura produtiva com intensidade tecnológica sem fazer investimentos na educação. Em uma perspectiva atenta à distribuição de oportunidades, a educação é o processo por excelência na superação de barreiras relacionadas às origens sociais do indivíduo, como região ou grupo racial. Só isso é motivo suficiente para que o investimento em Educação não seja relativizado.

Para o cientista político, caso o PT deseje buscar um eleitorado de centro que garanta a vitória no segundo turno, Fernando Haddad terá de sinalizar que possui autonomia decisória Ainda não temos como avaliar se o Partido dos Trabalhadores acertou na tática de anunciar “tardiamente” o nome de Fernando Haddad como candidato à Presidência da República. Toda estratégia depende de seu resultado. Uma estratégia só é vitoriosa se, ao final, for bem sucedida. O Partido dos Trabalhadores agiu como um partido hegemônico procurando manter a predominância no campo eleitoral e ideológico que ele acha que é seu. Neste sentido, ele bloqueou a possibilidade de outras candidaturas concorrentes nesse campo. É claro que, do ponto de vista dessas candidaturas, fundamentalmente a de Ciro Gomes, a estratégia foi “sufocante”, podemos falar assim. O PT fez diversos acordos nos estados com o intuito de manter uma candidatura hegemônica à presidência. Alguns apontam que se o PT não tivesse feito este movimento internamente – de lançar uma candidatura própria – e apoiasse um candidato que já tivesse se colocado, como o Ciro Gomes, que é de um campo bem próximo ao seu, o partido sofreria uma desagregação interna. Uma espécie de autofagia. Este é um cenário possível. Então, ele bloqueou qualquer possibilidade de aliança com um “cabeça de chapa” externo. O segundo ponto a ser analisado em relação à candidatura de Fernando Haddad é a capacidade de transferência de votos. Dilma Rousseff não herdou o percentual de votos que Lula teve em nenhuma das duas eleições, em nenhuma região do país, inclusive no Nordeste, que é considerada, ainda hoje, uma área onde o nome do Lula aparece com muita força. Então, é bastante provável que Haddad não chegue nem no patamar de Dilma no primeiro turno. A ideia de manter Lula candidato, mesmo preso, apenas reforça certo “messianismo” que já existia. O “Lulismo” já era um fenômeno nacional desde a saída de Lula da Presidência da República. A dramaticidade da prisão, portanto, não o cria. Não há, aí, uma novidade. O que é uma novidade, num certo sentido, é que os adversários da candidatura do PT não levaram em conta a força do Lulismo em suas estratégias de campanha. Este fenômeno segue resistindo, a despeito de todos os resultados negativos do governo Dilma. É possível imaginar, também, que o PT não lançou antes outro nome porque sentia que qualquer pessoa seria bombardeada por inquéritos policiais, como foi o exemplo do Jaques Wagner. Então, pode ter sido um mecanismo de defesa do partido: lançar o Lula, que já está preso, para ganhar tempo até a escolha do seu candidato definitivo. Manter Lula candidato sinalizava que ocorreria uma substituição. Se pensarmos na imagem, em alguns momentos, o Haddad faz questão de aparecer com máscaras do Lula. A ideia é de sinalizar a “passagem de bastão”. Ele tinha que ser “ungido” na convenção do partido como vice do Lula para que essa transmissão ocorresse. Entretanto, é importante assinalar um aspecto. Caso, Haddad e o PT desejem buscar um eleitorado de centro que lhes garanta uma vitória no segundo turno, Haddad terá que sinalizar que possui autonomia decisória. Que é capaz de tomar decisões sem consultar Lula, e, mais, revelar que possui opinião própria sobre assuntos relevantes. Em particular, que pensa e decide distintamente da presidente do partido. Este movimento de autonomia tem que ocorrer de maneira clara, mas sem romper com o Lulismo. Até porque não há chances de vitória fora dele. Há grandes possibilidades de que tal movimento lhe traga votos de setores que não desejam Bolsonaro e que pretendem votar nulo num segundo turno, mas que aceitariam votar num candidato do PT, que, no entanto, possua pensamento próprio. Sem dúvida que é um movimento complexo e delicado, mas que talvez ofereça a Haddad votos importantes. Tanto Haddad como Bolsonaro precisam fazer política. Bolsonaro precisa convencer que não é o candidato do ódio, precisa apagar vídeos, declarações etc que tragam esta imagem. Uma ação que o stalinismo e as ditaduras em geral sabem fazer, reescrever o passado. Resta saber se os eleitores vão aceitar. Haddad precisa fazer um movimento que lhe garanta a força do lulismo e, que ao mesmo tempo, sinalize sua capacidade decisória. Ivo Coser Cientista Político e coordenador do Núcleo de Teoria Política da UFRJ

Para o professor do IFCS, governo não explica por que é necessário investir "em equipamentos que vêm sendo comprados, em inútil quantidade, sem que o enfrentamento da violência tenha alcançado resultados elogiáveis" Alguém me recordou recentemente uma irônica teoria do prof. Mario Henrique Simonsen. Essa teoria afirma que, no Brasil, pratica-se uma epistemologia da indução invertida (ou coisa que o valha). Segundo essa teoria, repete-se infinitamente, com as mesmas condições, uma experiência que sempre dá errado, na expectativa de que algum dia, quem sabe?, se evidencie que dará certo. Evidentemente o professor ironizava uma certa tendência de nossas elites a repetir escolhas que comprovadamente não funcionam, numa espécie de pragmatismo às avessas. Na área de segurança pública, contra todos os diagnósticos especialistas, a teoria da indução negativa vem sendo repetida ad nauseam. Os jornalões desta semana noticiaram que o general Braga Netto, comandante da intervenção federal no Rio de Janeiro, informou que, sete meses após o seu início, estão sendo comprados 3.605 veículos, mais de 30 mil armas, um milhão de projéteis, 24 mil coletes à prova de balas, 7 mil equipamentos de proteção individual e 268 mil peças de uniformes para as polícias. Criticou, com razão, os emperramentos da lei das licitações (a célebre lei 8.666 – a besta do apocalipse!, outro exercício da teoria da indução negativa) que, segundo ele, explica o atraso no processo de aquisição dessa arsenal de guerra. Mas o general não explica por que é necessário investir cada vez mais em equipamentos que vêm sendo comprados, em inútil quantidade, há mais de meio século, sem que o enfrentamento da violência tenha alcançado resultados elogiáveis. Curiosamente, a se crer nos dados, a única coisa que deu razoavelmente certo na política de segurança pública no Rio de Janeiro neste meio século, foi a criação das chamadas UPPs. Com todas as críticas e problemas reconhecidos pelos especialistas, não foi o aumento do arsenal, mas a presença policial regular em algumas comunidades, junto com a política de metas de redução de homicídios, os responsáveis pela significativa redução dos homicídios e das mortes de civis e de policiais em suposto confronto entre 2009 e 2013. O fim programado das UPPs deveu-se à crise fiscal do Estado, mas, nas favelas, também aos erros repetidos de policiais dessas áreas, entre os quais a tortura e morte de Amarildo, o nome do trabalhador que se transformou em símbolo do início do fim das UPPs. A intervenção federal na área de segurança pública, uma inovação que preservou o governador eleito mas não o seu secretário de segurança chegou, como se sabe, sem projeto anterior, sem planejamento, sem nada. Um “abacaxi” para os militares que, cumprindo ordens emanadas de cima, atracaram na baía de Guanabara sem saber muito bem por onde começar. Havia expectativas positivas nas classes médias e expectativas, digamos, preocupadas, nos setores populares, entre cidadãos que ainda não se habituaram com as investidas militarizadas que duram também meio século em seus bairros, sem maiores resultados. O assassinato de Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes assinalaram, desde o início, que a intervenção federal seria mais do mesmo. A compra de todo esse arsenal, sem que se tenha alterado qualquer indicador de qualidade de gestão, sem qualquer alteração nas repetidas e inúteis operações policiais, que deixam mortos entre crianças e trabalhadores e um rastro de ódio entre os populares, o continuado aumento de homicídios, morte de civis e policiais, crimes violentos contra o patrimônio público e privado, expansão da atuação de milícias (agora inclusive contra pescadores na baía de Guanabara e na baía de Angra dos Reis) e a endêmica corrupção policial – tudo isso só vem comprovar a persistente crença na teoria da indução invertida, para glória de seu insigne formulador, o finado professor Simonsen. Que o eleitor pense nisso, antes de continuar a aplicar a mesma teoria nas urnas. Michel Misse Professor titular do Departamento de Sociologia do IFCS-UFRJ e coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ

Instituição realizou atividades ao ar livre, na Quinta da Boa Vista. Exposições fizeram parte da campanha #MuseuVive e integraram a 12ª Primavera dos Museus Depois do incêndio que destruiu cerca de 90% do seu acervo no início do mês, o Museu Nacional realizou uma exposição, nos dias 22 e 23 de setembro, com o objetivo de mostrar à população parte das coleções que sobreviveram à tragédia. “O Museu Vive! Não é apenas uma hashtag. Estamos trabalhando todos os dias, intensamente. Queremos aproximar mais a população de todo o conhecimento acumulado nesta instituição”, comentou Matheus Ferreira, do Laboratório de Antropologia Biológica. O evento fez parte da 12ª Primavera dos Museus, uma temporada cultural que mobiliza centenas de instituições do país na estação das flores. Este ano, o tema era "Celebrando a Educação em Museus". O parque da Quinta da Boa Vista estava lotado. Famílias aproveitaram o final de semana ensolarado e conheceram mais sobre as pesquisas realizadas no Museu Nacional. “As crianças se divertem. Elas não tiveram oportunidade de conhecer o museu lá dentro”, contou Ingrid Santos, mãe da Nathaly, de 3 anos. “Estou com minha filha e sobrinhos numa festinha que acontece no gramado. Mas sabíamos que estava acontecendo esse evento aqui. É importante saber o que é feito no Museu Nacional”. Luzia esteve presente. Pelo menos a recriação do crânio de 12 mil anos feita por uma impressora 3D a partir de imagens de tomografias computadorizadas. O público pôde manusear a peça e entender como foi encontrado no Brasil o fóssil humano mais antigo da América. Uma parte da coleção didática da Sessão de Assistência ao Ensino (SAE) encantava a criançada. Aves e mamíferos empalhados faziam brilhar olhos de crianças e adultos. “Vejo esse movimento como um resgate, de certa maneira, da memória do Museu e do que temos para mostrar. O que importa é a interação e reação das pessoas diante do conhecimento novo”, comemorou Caio Felipe Mendes, da SAE. Professor do programa de pós-graduação em Zoologia, Paulo Buckup explicou o objetivo do evento. “A atividade de hoje é uma pequena mostra do que realizamos todo ano no aniversário do Museu Nacional”. Ele mostrou um exemplar de peixe-boi, que integra a coleção do Museu Nacional desde o início do século XX. “Este é um dos primeiros exemplares do Museu. Ele esteve na exposição permanente e estava salvaguardado no prédio anexo, que permanece intacto. Depois de 20 anos fora de exibição, trouxemos ao público uma das peças que fará parte da coleção do museu, assim que for reconstruído”. A exposição das peças ao ar livre, para Buckup, tem um caráter pedagógico. “Mesmo depois de uma destruição tão grande como foi o incêndio, ainda temos energia para seguir fazendo ciência. Para aprender e ensinar. Para realizar exposições públicas significativas”, comemorou. A diretora da Adufrj, professora Tatiana Sampaio, ficou encantada com o evento: “Foi incrível. Foi um domingo de conhecimento”, disse.

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