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Diretoria da AdUFRJ (2019-2021)

WhatsApp Image 2020 10 24 at 00.24.11Chegamos a outubro de 2020 com algumas vitórias, mas nada que nos autorize alguma comemoração. O Future-se, versão 1 e 2, continua em alguma gaveta do Congresso. As sucessivas tentativas de cortes salariais do funcionalismo não vingaram, assim como as tentativas de não aprovar o FUNDEB foram rechaçadas. Hoje, uma liminar contém a fúria intervencionista do governo na escolha dos reitores das universidades. Mas esses exemplos apenas servem para nos lembrar que se esse governo não conseguiu fazer tudo o que queria, o estrago que já está fazendo com o desmonte do Estado brasileiro, a desestruturação de áreas estratégicas, a irresponsabilidade sanitária, o horror com a política ambiental é grande o suficiente para termos a certeza que não poderemos descansar tão cedo. O Projeto de Lei Orçamentária – PLOA – que regerá o orçamento de 2021 será desastroso para as universidades. As restrições orçamentárias que estão previstas, aliadas à desastrosa Reforma Administrativa, terão sobre as universidades um efeito tão ou mais devastador do que aquele previsto no malfadado Future-se. Estamos lidando com um governo que nos trata como inimigos, e por isso mesmo, nossa ação em âmbito nacional nunca foi tão importante. Desde que tomamos posse, temos atuado e fortalecido todos os fóruns tradicionais do ANDES, enviamos a maior delegação de nossa história ao congresso da entidade, estivemos nos CONADs convocados virtualmente durante a pandemia, e estamos participando das eleições para a sua diretoria. Mas continuamos a apostar também em novas articulações, que não dispersem forças nem disputem espaços com as entidades representativas, mas que nos ofereçam novas possibilidades de intervenção no debate nacional. Por isso, fortalecemos a atuação do Observatório do Conhecimento, criado em 2018, como espaço de diálogo e convergência de agendas e lutas com outras ADs, junto às entidades científicas, movimentos sociais da educação, frentes parlamentares aliadas. Conseguimos nos inserir em articulações nacionais no Congresso como o recente ato em defesa do orçamento para a Educação e também nas redes, com o tuitaço que marcou o primeiro ano de Weintraub no MEC, em 7 de abril, quando a hashtag criada pelo Observatório “#piorministrodahistoria” foi trending topic no Twitter. Também marcamos presença no 15 de maio virtual, que foi marcado pela vitoriosa pauta do #AdiaEnem, onde realizamos diversas projeções pela cidade.

Para além das pautas tradicionais e enfrentamentos nacionais, e apesar das restrições que a vida virtual nos tem imposto, fizemos um grande esforço para pautarmos questões já nem tão novas, mas que ainda reclamam uma atenção maior de todos nós. Foram os debates que organizamos durante o Festival do Conhecimento, o CineAdUFRJ, as Pílulas Antimonotonia e agora o nosso recém-lançado Café com Ciência e Arte, programa na Rádio UFRJ, que estreiou no dia 16 de outubro. Também fizemos um esforço de aproximação com a SBPC, especialmente na Marcha pela Ciência, #Pactopelavida, no dia 7 de maio, quando a TV AdUFRJ transmitiu toda a programação regional da SBPC.   

Mas nada nos atingiu de forma mais dramática do que a suspensão das atividades presenciais, em especial, as atividades didáticas. Acompanhamos essas discussões em todas as instâncias em que nos foi possível estar, organizamos debates públicos, reuniões plenárias com docentes, assembleia. A implantação do PLE – período letivo excepcional – se deu de forma muito heterogênea, gerando um quadro de disparidades internas muito acentuadas, dificultando enormemente a definição do calendário para os períodos regulares. O ensino remoto, implantado mundialmente com a pandemia, ainda precisará de muita discussão entre nós. Na iniciativa privada, sustentado por poderosos interesses econômicos, tem significado superexploração e precarização das relações de trabalho. Entre nós, após esses primeiros meses de experiência com o PLE, já sentimos a sobrecarga e a dificuldade da transposição de nossas aulas presenciais para a forma remota. Não é uma operação simples, e para aqueles que desejam manter a qualidade de seu trabalho, o esforço é bastante significativo. Mas ao mesmo tempo, esse longo e tortuoso processo, que nenhum de nós escolheu viver, mas que a fatalidade fez com que atravessasse o nosso caminho, poderá nos obrigar a debates que há muito estavam adormecidos e que hoje reclamam respostas mais consistentes. Quais são os ganhos que as ferramentas tecnológicas podem oferecer para o processo de formação dos nossos estudantes? Como poderemos nos apropriar de forma o mais construtiva possível de tudo isso? Como essas experiências poderão repercutir no nosso trabalho presencial?

Estamos apenas iniciando uma longa caminhada a respeito dessas questões. Há um complexo e diversificado universo de questões que estão a exigir de nós melhores respostas. Há uma pauta clara de reivindicações nacionais que precisam ser encaminhadas, pois não é possível que tenhamos que arcar com todos os custos dessas atividades. No âmbito da UFRJ, ainda será preciso definir como todo esse período irá impactar a avaliação de desempenho e as nossas promoções e progressões. E a carga horária, como será computada? E as pessoas – em sua maioria as mulheres – que se desdobram no cuidado de familiares, especialmente as crianças que estão em casa, também privadas das suas atividades escolares? Como estão sendo os processos de avaliação?

Enfim, não poderemos nem mesmo nos dar ao luxo de fazermos uma pausa para o balanço. Vamos seguindo com a imagem que também já virou lugar comum nessa pandemia: estamos trocando o pneu com o carro andando, ou consertando o avião em pleno voo. Recolhemos um pouco do que fizemos até agora, que aliás foi bastante. Na verdade, foi o possível, mas o momento é de tal gravidade que reconhecemos que não foi tudo que precisávamos fazer... É certo que podemos fazer ainda mais, mas dependemos que isso seja uma decisão de todos. A rigor, esse balanço tem um único objetivo, que é ressaltar o quanto ainda poderemos fazer. E o quanto ainda precisamos da AdUFRJ presente na vida da universidade. Contamos com a participação de todos!

O fascínio pela arte de ensinar une Erasmo Ferreira, com décadas de bons serviços prestados à Educação, e o jovem Rodrigo Leite, que acaba de iniciar sua caminhada como docente na UFRJ.

TRADIÇÃO

Mestre de várias gerações, Erasmo Ferreira ainda guarda brilho no olhar ao falar de Ciência: “Uma trincheira para a cultura”

WhatsApp Image 2020 10 16 at 16.05.57Professor ErasmoTormento para muitos professores em tempos de pandemia, a adaptação ao ensino remoto não é um problema para Erasmo Ferreira, de 90 anos, emérito do Instituto de Física. “Já passei pelo problema de adaptação a novas tecnologias quando fiz meu doutoramento, em 1958”, lembra.
“O computador foi inventado quando eu estava fazendo meu doutoramento. Faço muita computação de primeiro nível porque esse foi meu instrumento de trabalho sempre”, explica. Erasmo foi um dos primeiros usuários do equipamento, enquanto estudava no Imperial College of Science and Technology, em Londres.
Em 1961, só havia dez físicos com doutorado no Brasil. “Estive na fase de formação dos institutos. Trabalhei muito para essa construção, para a formação de pessoal, para a ligação de comunidades científicas, procurando trazer as fronteiras científicas para todas as pessoas que trabalhavam em Física aqui”, diz. Hoje, o país forma 300 doutores em Física por ano. “Essa criação do ponto inicial até ao ponto em que os institutos são formados e funcionando bem é o meu legado”, afirma.

NA ATIVA
Após o doutorado na Inglaterra e um período na Venezuela, Erasmo se torna professor da PUC-Rio, em 1967.  O docente trabalhou 27 anos como professor na instituição privada, mas sempre acompanhando o Instituto de Física. “Participei no desenvolvimento do Fundão, puxando professores para serem contratados, participando em bancas de pós-graduação”, conta. “Até que no ano 1994, vim para o Fundão junto com 11 colegas”. Nessa época, a PUC enfrentava dificuldades financeiras para manter grandes grupos de pesquisa.
Hoje em dia, o docente de 90 anos participa das atividades acadêmicas num nível mais restrito e específico no instituto. “Nos seminários de grupo, no colóquio, que é global, ou com os estudantes que estão fazendo mestrado e doutorado na minha linha de trabalho. Participo ativamente, ouvindo e falando”, conta.  

DESPERTAR
A vocação para a pesquisa surgiu com um professor de Química do Colégio Batista, na Tijuca. “Era um catedrático da Faculdade Nacional de Filosofia, o que era uma coisa rara no ensino médio. Era Ciência pura, fundamental. Fiquei fascinado”, explica. O docente se graduou em Química Industrial pela Escola Nacional de Química, na antiga Universidade do Brasil, em 1952, e como Bacharel em Física pela Faculdade Nacional de Filosofia, em 1954.
Ouvir o mestre de tantas gerações é também fazer um passeio pela história da educação superior no país. Erasmo recorda que, apesar das dificuldades financeiras e políticas dos anos 1960, a Reforma Universitária de 1968 ajudou a estruturar a vida acadêmica. “Foi criada a carreira universitária e, principalmente, mantiveram os docentes com um salário em tempo integral. Antes, era um salário episódico de oito horas”, explica.
 
LIÇÕES DE VIDA
Para o sorridente senhor, quem está na Física e quer estar nas fronteiras do conhecimento deve se jogar de corpo e alma. “Durante esse tempo todo da minha vida profissional, ela ofereceu muitas aventuras. Tudo muito coerente e muito sólido, com altos e baixos”, comemora.
Com tanta experiência, a mensagem do mestre para os mais jovens é ter fé na Ciência. “A gente está vendo isso no Brasil, no tratamento dos problemas que a gente tem, seja na preservação do ambiente ou sobre a pandemia, a Ciência quer ser ouvida”, diz. “Preservar a Ciência como uma trincheira para a cultura e para o desenvolvimento do conhecimento é necessário. Isso é feito com trabalho. A Ciência não é feita de ideia genial, não”, conclui.

FUTURO

'Calouro’ dos docentes tem sede de saber: “Ainda tenho muito para aprender e para viver dentro da universidade”

WhatsApp Image 2020 10 16 at 16.06.011Professor RodrigoCom apenas 27 anos, Rodrigo Leite é o professor mais novo da UFRJ. “Ser o mais jovem para mim é uma boa notícia, porque significa que eu ainda tenho muito para aprender e para viver dentro da universidade”, comemora.
Rodrigo tomou posse do concurso para Professor Adjunto de Finanças do Instituto Coppead em dezembro de 2019. Passou na primeira tentativa, sem experiências prévias na instituição.  “Fiz o último vestibular da UFRJ em 2011. Fui o primeiro colocado para Ciências Contábeis. Passei em quarto na UERJ, e preferi ir para lá”, conta. Depois, realizou mestrado e doutorado na FGV em apenas quatro anos.
Questionado sobre a escolha por outras instituições, Rodrigo é categórico. “Simplesmente bolsa. Como eu estudei no Colégio Pedro II, entrava por cota de escola pública na UERJ. Todos os alunos cotistas de lá ganham bolsa e era mais perto da minha casa. Ir para a Urca era muito mais distante para mim, que morava em Bangu. E na FGV foi bolsa também”, explica o jovem docente.  
Rodrigo ingressou na UERJ em janeiro de 2011, com 17 anos. Fez a graduação dos 17 aos 20 anos, com 21 anos terminou o mestrado e aos 22 passou no concurso para professor assistente na estadual e começou o doutoramento na FGV. “É uma mistura de sorte com um tipo apressado, que eu sempre fui”, define. “A sorte é que a minha área é relativamente tranquila de concurso. Às vezes, apenas oito pessoas disputam a vaga”, diz.
Mas o jovem dá um conselho para quem resolve trilhar o caminho da Academia. “A pessoa tem que ser focada durante esse período da pós-graduação, se ela puder focar só nisso para terminar o mais rápido possível. Tem que pensar que é uma fase”, afirma.
Para ele, um grande problema da pós-graduação é que os alunos muitas vezes se sentem inseguros com o futuro. “Qualquer processo transitório dá muita ansiedade. Mas faça o seu melhor e sempre fique atento às oportunidades. Todas as oportunidades que apareceram para mim eu tomei e procurei fazer o máximo possível”, revela.
Além de ser o professor mais jovem, Rodrigo também foi eleito para o Consuni, o colegiado deliberativo máximo da UFRJ. “Eu participei dessa tomada de decisão do calendário acadêmico. Foi muito desafiador porque não era só lecionar a distância, mas também pensar em como a universidade deveria lecionar a distância”, conta.
“Não sei se eu inspiro, mas sou simplesmente uma evidência de que, com esforço, se consegue chegar a grandes objetivos. Vim de escola pública municipal, fiz a prova do Pedro II e passei, o que é um diferencial”, lembra. Mesmo com todas as dificuldades de morar no subúrbio, o professor contava com um apoio fundamental dentro de casa. “Meu pai e minha mãe sempre me deram todo o suporte que poderiam. Tivemos momento de dificuldade, mas nada chegou a me prejudicar no estudo”, explica.

EXPERIÊNCIA NA SALA DE AULA
“Não tem como gostar do ensino remoto”, opina o professor. “O ensino presencial é muito superior. Nós, seres humanos, precisamos ter o convívio social.  A distância não é o ideal para ninguém, nem professor nem aluno”, diz. Contratado no final do ano passado, Rodrigo ainda não esteve em contato com os alunos da graduação.  “A turma que eu daria na graduação foi para outra professora, porque ela dá aula no segundo semestre”, explica. Ele lecionou duas disciplinas na pós-graduação e utilizou a plataforma Zoom. “Foram muito boas, os alunos se esforçaram bastante e fiquei impressionado com a seriedade deles”, lembra.
Para Rodrigo, uma coisa interessante em ser um jovem professor é conseguir entender o que os alunos passam. “A gente consegue conversar também. É um desafio porque nós, como professores, temos que ter uma postura em sala de aula. Quando você tem a mesma idade dos estudantes, você tem que trabalhar bem essa postura para que as pessoas prestem atenção e se dediquem”, reflete.

apintocardosoAlexandre Pinto CardosoA gestão acadêmica de qualquer instituição de ensino superior inclui processos que envolvem toda a comunidade (coordenadores, docentes, funcionários técnico-administrativos e discentes): planejamento, atividades curriculares e administrativas, atenção aos alunos, organização dos professores, avaliação da instituição, regulamentos e normas, entre outros.
É de responsabilidade da alta gestão ou do governo oferecer aos seus alunos uma instituição com recursos suficientes para promover um ensino de qualidade, que acompanhe as mudanças e tendências da educação em todos os níveis.
Ao longo da carreira de professor, tive duas experiências de gestão macro, em condições muito distintas: a primeira como reitor, entre 1989 e 1990, no alvorecer da Nova República, onde a ebulição das conquistas democráticas refletia intensamente no ambiente acadêmico de muitas maneiras. Uma delas na possibilidade de escolha dos seus dirigentes após consulta à comunidade.
 O modelo de Universidade que gostaríamos de ter entrou vivamente em pauta. A assunção ao cargo máximo da nossa Instituição se deu em substituição ao Professor Horácio Macedo em momento de grandes debates de ideias e o grande desafio (meu desafio) foi evitar a fragmentação que, a nosso ver, poderia ter levado a UFRJ ao cadafalso, tendo em vista as paixões envolvidas na defesa de cada uma das teses naquela ocasião.
Entregamos a Universidade incólume ao nosso sucessor. E mencionamos esta experiência para destacar um atributo absolutamente necessário àqueles professores que são levados à posição de gestor: gerenciar conflitos.
A experiência acima mencionada, que merece profunda análise e reflexão para todos nós da UFRJ e de outras Instituições federais de ensino superior (IFES) repercute ainda hoje, mas não será tratada neste artigo.                                                                                                  
A experiência na reitoria foi importante para assumir a gestão do Hospital Universitário em 2006.
Circulam pelo hospital estudantes de vários cursos, que requerem instalações adequadas, professores exigentes, funcionários técnicos-administrativos e a razão de ser de qualquer Hospital: as pessoas doentes.                                                                                                             
Cada um com sua visão e expectativa particulares desta Unidade. É uma organização complexa - atravessada por múltiplos interesses - que ocupa lugar crítico na prestação de serviços de saúde, lugar de construção de identidades profissionais, com grande reconhecimento social.
É também um equipamento de saúde em processo de redefinição, pois, no âmbito público e no privado, estão em debate seu papel e seu lugar na produção do cuidado, em busca de qualidade, integralidade, eficiência e controle de custos.                                 
Estão em debate, então, as expectativas de gestores e usuários em relação ao hospital.
Um Hospital funciona todos os dias do ano e seus dirigentes não descansam quando vão para casa ou estão de férias. As unidades acadêmicas que utilizam as instalações como campo de prática, muitas vezes, não são solidárias completamente na missão assistencial, mas altamente demandantes às suas necessidades.                                                                                                   
As reivindicações corporativas chegam à mesa do diretor para serem implementadas, por vezes, com sérias repercussões nas atividades assistenciais que acabam por repercutir no ensino e pesquisa. Como exemplo, a assunção pela Universidade das 30 horas semanais de trabalho, que reduziu horas trabalhadas per capita, esvaziando postos de trabalho sem a reposição necessária.
O hospital é um ser vivo com movimentos ora de crescimentos em certas áreas, retração em outras. O dirigente não dispõe de agilidade para este atendimento, mas é cobrado pela ausência de resultados.
Os recursos de capital e investimento oriundos do MEC são escassos e intermitentes. Temos que permanentemente recorrer a editais para incorporação tecnológica para superar o grande hiato a que estamos submetidos com orçamentos restritivos, cada vez mais restritivos. Cito como exemplo não termos ainda a possibilidade de ofertarmos aos nossos alunos de pós-graduação lato sensu o treinamento em cirurgia robótica
Os recursos  de custeio são oriundos da prestação de serviços ao SUS em um modelo diferenciado, mas longe de atender às necessidades para o melhor cuidado dos pacientes.
Os entraves burocráticos conspiram contra uma gestão rápida e eficaz. Uma assistência jurídica distante adiciona tempo na tomada de decisão.
Neste oceano de dificuldades, além de conhecimento específico do que se propõe a administrar, da habilidade de gestão de conflitos, deve o gestor entender que o Hospital de Ensino é o espaço da cooperação entre os vários atores e que é absolutamente necessário transitar bem pelos vários segmentos que integram seu corpo social para obter adesão da maioria aos projetos institucionais e ter ousadia e amor suficientes para assumir o desafio.
Este foi meu maior desafio.

Alexandre Pinto Cardoso

Ex-reitor da UFRJ (1989-1990)
Ex-vice-reitor da UFRJ (1986-1989)
Ex-diretor-geral do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (2006-2009)

WhatsApp Image 2020 10 16 at 16.00.21Atividade do projeto ITEC, da Faculdade de EducaçãoA UFRJ contabiliza 1.871 ações ativas de extensão nas mais diversas áreas, desde divulgação cientifica para crianças até formação de músicos em comunidades. “A extensão materializa o trabalho da universidade, através de projetos que se capilarizam na sociedade, ”, afirma a professora Angela Santi, da Faculdade de Educação. Difícil encontrar melhor definição para uma das mais importantes atividades acadêmicas desenvolvidas pelos docentes.
Extensionista com muito orgulho desde 2010, Angela Santi  
acredita que a extensão mostra a importância da universidade para fora de seus muros e ajuda a angariar apoio da sociedade.
Algo estratégico no momento em que a instituição é tão atacada pelo governo. “Agora existe uma visibilidade da universidade pela pesquisa, porque vivemos uma situação de emergência. Mas, muitas vezes, a pesquisa fica um pouco fechada em si mesma, naquele grupo. A extensão acontece de fato com a sociedade”, argumenta.
O problema, segundo a professora,  é que nem todos valorizam a extensão como se deveria. WhatsApp Image 2020 10 16 at 16.00.211Angela Santi
A situação começou a mudar, nos últimos anos, com algumas medidas, como a resolução do Conselho Nacional de Educação, de 2018, de que as atividades de extensão devem compor, no mínimo, 10% do total da carga horária curricular estudantil dos cursos de graduação. “Há uma relação mais orgânica da comunidade universitária com os projetos de extensão”, afirma a professora da Faculdade de Educação. Todas as universidades devem adequar seus currículos à decisão do CNE até, no máximo, o fim de 2021.
A professora Mariana Trotta, da Faculdade Nacional de Direito, trabalha com extensão desde 2012. Coordena dois projetos, ao lado de outros colegas: um é o Núcleo de Assessoria Jurídica Popular Luiza Mahin, que assessora movimentos populares de moradia e de reforma agrária, como o MST. Agora, a iniciativa está engajada na campanha ‘Despejo Zero’, de proteção à moradia durante a pandemia. O segundo projeto é um curso de formação de Promotoras Legais Populares, criado na FND em 2016. Em diálogo com os movimentos feministas, o objetivo é fortalecer as mulheres na luta contra a violência.
WhatsApp Image 2020 10 16 at 16.00.20Mariana TrottaA docente reforça o papel da extensão, no momento em que a proposta de contrarreforma administrativa ataca as universidades públicas. “A extensão faz esse diálogo com a comunidade. Mostra a importância da universidade na vida das pessoas”.
Mariana avalia que ainda há entraves para o desenvolvimento das atividades de extensão, como o valor e o insuficiente número de bolsas. “Precisaríamos de mais incentivos nas políticas de extensão universitária”.

NÚMEROS
A pró-reitora de Extensão, professora Ivana Bentes, foi a convidada especial de uma das primeiras reuniões virtuais do Conselho de Representantes da AdUFRJ, após o início do isolamento social, em 6 de abril. A dirigente deixou claro que ninguém é obrigado a manter ações de extensão neste período de pandemia, mas que também era necessário dar resposta a novas propostas, muitas criadas em função da própria emergência de saúde pública.
Hoje, a UFRJ conta com 1.871 ações ativas de extensão. O número deve mudar, em função do processo de validação que ocorre até 31 de outubro. A pró-reitoria informa que, de acordo com resoluções do Conselho de Extensão Universitária, só poderão ficar ativas as ações a distância, durante o período de isolamento social. Atividades presenciais só serão autorizadas nos casos de prevenção e enfrentamento da Covid.

WhatsApp Image 2020 10 16 at 15.27.10Roberto LeherEm 2020, celebramos a responsabilidade dos educadores diante de uma sociedade em que a desigualdade social é infame, a universidade é lançada no teatro de operações da ‘guerra cultural’ da extrema direita e a democracia está por um fio. Parabenizar a profissão com palavras melosas não seria ético. O reconhecimento dos extraordinários logros dos docentes exige, categoricamente, uma perspectiva política.  
Nossa categoria tem realizado corajoso esclarecimento crítico sobre aspectos epidemiológicos, tecnológicos, clínicos e sociais da pandemia. Em ambientes virtuais, assumiu o compromisso de renuclear as/os estudantes para promover o acolhimento “ninguém solta a mão de ninguém” e dialogar sobre o que se passa no Brasil e no mundo. A universidade tornou-se um lugar das melhores esperanças no porvir.  
Todas as atividades descritas exigiram confrontos com o negacionismo, o irracionalismo, o autoritarismo e a lógica mortal do “darwinismo social”, em um contexto de celebração do AI-5, de ameaças de fechamento do Congresso e do STF, de mapeamento de professores antifascistas, de desqualificação da universidade, de nomeação de reitoras/es sem legitimidade, e de sufocamento orçamentário politicamente orientado das universidades, do aparato de C&T e do PNAES, promovendo apartheid no acesso aos ambientes virtuais.
Pensar politicamente o 15/10 tem consequências. A democracia admitida, de baixa intensidade, não comporta uma cultura cívica em prol de uma nação em que caibam todos os rostos humanos. Os que defendem que a educação pública deve formar cidadãos insubmissos, como exortou Condorcet, e praticam a liberdade de cátedra, são “os outros” a serem combatidos pela estética e prática do medo na autocracia vigente.
A cidadania política abrange a defesa dos direitos sociais e coerência com posturas de real solidariedade. A contrarreforma da previdência de 2003 extirpou os direitos dos novos docentes que perderam a aposentadoria integral; as mudanças na carreira em 2012 se deram às custas dos nossos colegas aposentados que, na prática, foram rebaixados na hierarquia da carreira. Após o golpe, nova “reforma” da previdência piorou as condições da aposentadoria e grande parte da Constituição está “em suspenso” com a EC 95/16. A reforma administrativa mira a estabilidade, a redução salarial, a titulação, a DE e o concurso público. Não é possível separar o cidadão do cientista e do professor: o docente terá que ter, em si, a força de sua condição cidadã.
A defesa da universidade envolve a combinação de atuação institucional com audaciosa atuação sindical. Indiferenciar a institucionalidade e a auto-organização dos docentes em seu Sindicato Nacional é um erro. A simbiose enfraquece as administrações que passam a ficar identificadas com correntes oficialistas, gerando divisões, e retira a seiva democrática do sindicato. A conivência da maioria do aparato sindical oficialista diante da contrarreforma da previdência em 2003 e do solapamento da luta pela garantia da paridade entre ativos e aposentados na nova carreira docente atesta o quão deletério pode ser o oficialismo.
A grave conjuntura exige fortalecer a autonomia do Andes-SN como condição para tecer coalizões ativas capazes de combater de modo sábio as ameaças da autocracia em curso e criar inventivas metodologias para enfrentar a maior ameaça que as nossas gerações já conheceram. E que desafios seriam mais estimulantes do que esses para celebrarmos uma categoria construtora da democracia?

Roberto Leher

Ex-reitor da UFRJ (2015-2019),
ex-presidente da AdUFRJ (1997-1999),
Professor titular da Faculdade de Educação

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